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Representações de Gênero e de Professor/a em Goiás

CAPÍTULO V – REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NO AEE

5.1 Representações de Gênero e de Professor/a em Goiás

Têm outras...O que que as pessoas costumam pensar em relação à função de professor?

Diana: Olha, as pessoas quando eu comento, elas se espantam. Elas têm

medo sabe? Dessa profissão. Porque mudo muito de um tempo pra cá. Tem mudado muito, né, o relacionamento dos alunos com os professores. É... Eu falo assim, como experiência, que assim, não tem mais aquele respeito que se tinha antigamente, né. Não tem mais aquele respeito pelo professor.

Professor, já era! Antigamente, era segundo, como se fosse segundo pai, né.

A professora, nossa! Você tem que obedecer assim como você obedece seu pai e sua mãe. Então, as pessoas, elas têm um receio, têm um medo dessa profissão. Porque ta acontecendo tanta coisa, tanta violência, né, com os professores e enfim, é uma profissão que não é, é uma profissão muito bonita, mas é uma profissão que tem causado pavor nas pessoas. (risos) Diana estabelece um conjunto de escolhas lexicais ligadas à profissão: “espantam”, “medo”, “receio”, “violência”, “pavor”. Essas palavras caracterizam o fazer docente, explicitando sentimentos ligados à profissão, situando-a como perigosa, mas principalmente, colocando a figura do/a professor/a como desamparado/a e desprotegido/a ante a violência com que as escolas lidam. Diana trabalha numa escola do interior de Goiás, localizada no Entorno Norte de Brasília. Sua escola é relativamente pequena, possui onze salas de aula, e ela leciona no 6º ao 9º anos matutino. No turno matutino, há uma característica de recepcionarem alunos/as mais jovens, mas ela não se sente tranquila. As representações sobre a identidade docente é de pouco poder e pouco prestígio.

Pela utilização do pronome demonstrativo “dessa” ligado à profissão e o artigo indefinido em “uma profissão” ela marca o distanciamento de sua identificação com o fazer docente. O distanciamento promove a não adesão, a não identificação. Não é “a” profissão, nem a “minha profissão”, mas “uma”, como se falasse do trabalho de outra pessoa, ou de algo não muito valorizado. A professora reconhece que se trata de um trabalho que deveria ser valorizado, uma função nobre em “uma profissão muito bonita”, porém que tem sofrido um processo de precarização ao ponto de os demais membros da sociedade repudiarem o trabalho como em “uma profissão que tem causado pavor nas pessoas”. Note que “uma profissão” ocorre no início da sentença, posição de tema, o dado antigo, o que já se sabe. A locução verbal “tem causado” modaliza a força do enunciado, modificando o sentido de causalidade. A profissão está numa situação esdruxula que não causa pavor, mas “tem causado”. A segunda parte da oração contém o dado novo, o item com valor de informatividade – “pavor nas pessoas”. O pavor é o rema, o comentário que o enunciado traz. A estrutura passiva coloca as pessoas na condição estática. Elas não possuem ação própria, mas sofrem os efeitos da prática educacional. Não são as pessoas que têm se escandalizado com a profissão, mas a docência é que tem provocado estranhamento. De uma situação inicial de poder – “Você tem que obedecer assim como você obedece seu pai e sua mãe” ao total desencanto em “Professor, já era”.

Diana é uma professora relativamente jovem, aos 29 anos fala de um momento na prática educacional em que havia valores positivos relacionados à educação. Na década de 80, ela ainda pôde vivenciar quando estudante, o respeito e a autoridade que os/as mestres tinham no contexto escolar. Esse tempo está marcado pelo advérbio “antigamente”. Relacionado a essa perspectiva de valor em um tempo distante, ela contrasta esses dois períodos, o de antigamente e o de agora, reproduzindo uma fala de seu contexto atual “Professor, já era” que de certa forma, confirma seu posicionamento de que houve um tempo em que a função fora nobre.

Na entrevista da Professora Diana, verificamos que dois discursos emergem de sua fala: o discurso tradicional de gênero, que relaciona família à docência, associando a função de professor/a ao papel de pai e mãe, ligada aos termos “respeito” e “obedece”. O modal deôntico “tem que obedecer” é tanto uma obrigação moral como um costume, caracterizando uma época em que não respeitar, não considerar aos/as professores/as não era habitual. Esse contraste entre uma época passada de carinho e solicitude e a atual de desrespeito e violência reflete a mudança igualmente na posição e no trabalho.

A educação vem passando por um processo de desvalorização do trabalho em detrimento do consumo que não se restringe apenas à educação – uma profissão dita feminina. A mercantilização do trabalho com a apropriação do trabalho excedente é uma realidade também de outras profissões, inclusive aquelas ditas masculinas, como a bancária e a médica. De um momento de engrandecimento e valorização dos diplomas de curso superior à prestação de serviço e atualmente à venda de produtos, foram os estágios de desarticulação do poder dos/as trabalhadores/as em benefício do capital hegemônico.

Contudo, uma diferença crucial marca a precarização da docência em relação às profissões citadas. No Brasil há uma configuração espacial, material e humana que resguarda os/as bancários/as, como a presença de seguranças armados/as e a utilização de guichês. No caso dos/as médicos/as há portarias e recepções, além da presença de enfermeiros/as e auxiliares contribuindo para certa disciplina. Quanto aos/as professores/as a sala de aula fragiliza o/a professor/a, pois há uma relação quantitativa desfavorável e a total falta de instrumentos de proteção material que resguardem a figura do/a professor/a76. De qualquer forma, a violência mais tem a ver com o modelo capitalista neoliberal do que com o gênero social propriamente dito, na medida em que capitaliza o trabalho e despersonifica a figura do/a trabalhador/a.

O discurso e o poder caminham juntos. As arquiteturas e articulações hegemônicas não são fixas, e se mobilizam mutuamente sempre que a prática precisa ser alterada. Novas configurações são montadas para definir o nível de poder que determinado campo irá receber e quem descerá na hierarquia das práticas. Nesse contexto, os/as professores/as antes raros passaram a ser arregimentados nas massas, para a educação das próprias massas. A política do livro didático77 iniciada na década de 30 diminuiu o impacto da falta de formação docente, ao passo em que o poder da escola foi aos poucos se perdendo, em meio ao controle ideológico do Estado.

A educação seguiu o processo de mercantilização dentro desse paradigma ideológico, correspondendo ao local onde a força de trabalho é construída. Os/as trabalhadores/as precisam receber as informações, desenvolver habilidades e internalizar a lógica de mercado

                                                                                                                         

76 Eu mesma quase fui agredida fisicamente durante uma aula por um aluno no ano de 2001. Estava grávida de

sete meses. Na ocasião dava aulas para o Ensino Médio noturno no interior do Estado de Goiás. Havia feito a chamada do segundo horário e o aluno não respondeu. Expliquei-lhe que já havia marcado as presenças e ante a possibilidade de ter levado falta, ele levantou do fundo da sala de punho fechado para me esmurrar. Outros dois alunos que eram policiais se interpuseram entre mim e ele, evitando a agressão. Os policiais eram meus alunos e estavam assistindo a aula nas primeiras carteiras.

que prevê a apropriação do trabalho excedente como algo justo e desejável78. A agenda global para a educação prevê, segundo Hill (2003):

1 – um Plano de Negócios para a Educação: este se concentra em, socialmente, produzir a força de trabalho (a capacidade das pessoas para trabalhar) para as empresas capitalistas;

2 – um Plano de Negócios na Educação: este se concentra em liberar as empresas para lucrar com a educação,

3 – um Plano de Negócios para as Empresas Educacionais: este é um plano para as “Edubusinesses” (empresas educativas) inglesas e americanas lucrarem com as atividades internacionais de privatização.

A globalização opera na transformação dos serviços públicos em privados, ou seja, na abertura de mercados. Essa prática tem incentivado a mercadologização de áreas como a saúde, educação, transporte, abastecimento de água/luz e segurança impondo regras de mercado que controlam o valor atribuído aos mesmos. Segundo Whitty, Power e Halpin (1998), a educação se transformou no que os economistas chamam de quase-mercados, que são áreas de atuação com forte valor, por isso, disputados por empresas. Famílias que podem pagar pelos serviços disputam vagas em instituições de prestígio, e nesse aspecto não compram serviços, mas produtos, porque compram aprovação em vestibulares ou currículos bem conceituados. Os quase-mercados expandem-se no vácuo deixado pelo Estado, em razão da precarização, desvalorização, humilhação e desumanização dos serviços prestados pelo poder público (HILL, 2003). Assim, uma vez operada a desarticulação dos serviços públicos, e feita a substituição por serviços privados com alto valor, ou quase-mercados, instaurando-se a lógica capitalista por meio da “parental choice” que é a crescente “escolha” das famílias pelas escolas consideradas “de maior prestígio” ou melhor classificadas dentro de um ranking nacional e mundial, tanto em instituições privadas como nas públicas (CAMARGO, 2013). As escolas bem cotadas “escolhem” também por sua vez os/as alunos/as com maiores “habilidades”, independentemente de serem privadas ou públicas. Nessa escolha, não há que se pensar em critérios neutros. Não é fato corriqueiro, no mesmo bairro, encontrarmos escolas públicas de “renome” com crianças de nível econômico razoável e família estabilizada e há poucos metros outra escola pública, menos valorizada, com alunos/as vindos de bairros pobres, de cor parda ou preta, cujas famílias são desarticuladas.

                                                                                                                         

78 O salário pago ao trabalhador é inferior ao preço do produto que ele gera. Essa diferença corresponde ao valor

do trabalho. Na sua forma de lucro, corresponde ao trabalho excedente, que alimentará um novo ciclo. Na visão marxista, sem esse valor excedente, os mercados não seriam alimentados, constituindo a força de trabalho, assim, no principal motor do capitalismo.

É bom destacar que a Educação Especial, que deveria também entrar nessa disputa, não configura como uma escolha. Todas as escolas públicas e privadas da rede regular de ensino são também inclusivas. Caso a família deseje que seus/suas filhos/as sejam matriculados/as numa escola especial, encontrará dificuldades, visto que as escolas especiais não têm função precípua de escolarização, segundo a legislação, mas uma oferta de serviço complementar a escolas públicas e privadas, em grande parte voltado para a profissionalização de pessoas com deficiência. Mais inusitado ainda tem sido o esforço público em retirar esse serviço das escolas especiais e centros especiais, onde professores/as possuíam formação e coloca-lo nas mãos de profissionais que não possuem formação na área.

Sobre a precarização da educação, a professora Ludimila faz o seguinte relato:

Ludimila: É diferente. Bom, assim, o que que me faz sofrer na escola

pública? Porque tem... Vai causando cansaço na maioria dos professores, não digo que eles são mal intencionados não. Em termos que vai tendo um cansaço, um desgaste, de ver a falta de apoio, a falta de investimento, e aí eles acabam... Levando o trabalho. Aquele idealismo, aquele sonho de construção da educação vai morrendo, talvez não da mais, vai saindo. Opção vai perdendo a força e aí... Tem pouco tempo que eu estou na educação pública, eu vou vendo isso, se eu perder isso eu saio da escola.

Hum.

Ludimila: Se a escola não me proporcionar essa, esse ambiente de

aprendizado de levar a coisa... Eu acabo saindo. Eu procuro... Eu prefiro dar... Ensinar dez pessoas, mas se for pedir emprego mesmo na educação do que ficar com mil alunos e fingir que está sendo mesmo educação.

Uhum.

Ludimila: E tá caminhando pra isso porque estar na sala superlotada,

meninos com necessidades grandes. E aí eu... Eu só tenho uma aula por semana, cinquenta minutos, alunos, mais de trinta né, tem aquela pressão de concluir conteúdos não sei o que, e as necessidades das pessoas, então eu não consigo ficar ligada a essa questão de cumprir um conteúdo se não houver nem um perder de tempo pra conhecer os alunos e ver a evolução, né. Crescimento. Eu acho que esse é o ponto que a escola tá melhorando. Esse último ano eu achei que tava melhor nesse sentido.

Ludimila faz um paralelo entre o que considera educação e o que vê na prática. O principal discurso trazido por ela é o de valorização do ser humano. Nomeia a educação como “opção”, logo a liga a escolha, autonomia, um exercício pleno de interesse humanístico. Em sua entrevista relaciona educação com palavras positivas, como “idealismo”, “sonho”, “força”, “ambiente de aprendizado” e “crescimento”. A esse discurso humanístico, suas escolhas lexicais demonstram a perda na prática da vitalidade desses ideais humanos e a admissão de uma postura de compra da força de trabalho: “emprego”, “fingir” e associando a essa atividade mecânica a expressão “pressão de concluir conteúdos”. Em “não digo que sejam mal intencionados não” Ludimila atribui a falta de êxito ao fazer docente a uma causa

externa ao/a profissional, situando a identidade docente ainda no nível positivo. Ela aponta as dificuldades estruturais que corroem a disposição dos/as professores/as contribuindo para a má qualidade do ensino. Nos termos “causando cansaço”, “desgaste”, “falta de apoio”, “falta de investimento”, “sala superlotada” e “necessidades grandes” a professora fala das consequências da precarização da educação sobre os/as profissionais e firma sua postura docente ao dizer que “perder de tempo pra conhecer os alunos e ver a evolução”, são parte do seu fazer pedagógico.

O trabalho docente feminino caracteriza-se por uma necessidade de ascensão social e pela identificação com os propósitos de doação, de atuação humanística em torno de uma fazer que deve ser mais que ministrar aulas, mas formar cidadãos. Ludimila é uma missionária religiosa. Professora de música ela atua em três instituições sendo que parte de seu tempo é dedicado à atividade voluntária. Formada em um seminário para evangélicos ela alia um discurso de desenvolvimento, de progresso pela educação, ao discurso humanístico de sua mãe, também educadora, expandido pela visão religiosa, e vincula a identidade docente à doação, como no trecho:

Ludimila: Eu gosto de trabalho em ensino. Ensino, ensino, ensino. E se

você tá ali assistindo um grupo, tocando, se você não tiver faz falta. Mas se eu dou aula pra várias pessoas né, te multiplica aí foi que eu disse posso mais dar aula...é a questão da multiplicação.

E vê-los crescendo, né?

Ludimila: Ver eles crescendo. Isso é encantador. Falei isso pra minha turma

agora a pouco. Se eu não vier aqui pra acrescentar não faz sentido. E se eu cruzar os braços só pra esperar receber o salário [inaudível] preciso saber se eles estão aprendendo. No início era uma turma muito indisciplinada hoje tá mais tranquila do sétimo.

Religião, família e educação são as bases desse fazer docente explicitado nas palavras de Ludimila. Parte desse discurso humanístico emergiu no centro do fazer pedagógico após a década de 80. Com o fracasso escolar chegando a 50% dos/as alunos/as matriculados/as nas primeiras séries do país, era preciso mudar a educação. Infortunadamente, a repetência foi um dos principais critérios para a “classificação” de uma criança como deficiente mental. O encaminhamento, segundo Mendes (2010) se dava em razão de deficiência estrutural em compor avaliações realísticas. Muitas foram as crianças que abandonaram a escola e/ou foram equivocadamente designadas para uma escola especial. Como a maioria dos/as alunos/as repetentes vivia na miséria ou na estrita pobreza, criou-se um mito, uma representação que associava pobreza-deficiência-reprovação (SILVA, 2001). O movimento em prol dos direitos humanos evocava a necessidade de uma nova escola, e um conjunto de medidas foram

criadas: democratização, elaboração de currículos nacionais, flexibilização, reforço, avaliação e modulação do ensino. Tais medidas visavam tão somente num único resultado: a melhoria dos índices de aprovação79. Sem critérios que contemplassem a aprendizagem e ou a eficácia da educação, tais medidas impactavam sensivelmente na diminuição dos custos em duas vertentes: na diminuição da assistência concedida às escolas especiais e nos investimentos decorrentes da permanência da criança nas salas de aula. O discurso dos direitos humanos foi então reposicionado no discurso desenvolvimentista e ambos atrelados aos projetos econômicos, marcaram a educação a partir da segunda metade da década de 90.

A postura humanística também é encontrada na entrevista de Marina: Prática de leitura

Eu brincava muito e lia muito.

Meu pai fazia você ler um livro por mês, eles eram professores, então eu tinha uma formação bastante rígida com as questões de leitura, o que foi ótimo.

Não podia, meu pai era um leitor bastante competente, tinha biblioteca, ele determinava a idade, os livros a partir da idade que você podia ler. Ah eu quero ler esse, então você lê esse. Daqui a um mês dependendo do tamanho do livro dois meses, ele se sentava com você e tomava o livro.

Todo mundo nesse ritmo até... Meus pais se separarem, né? Porque a gente teve uma formação muito boa de leitura até meus pais separarem, até os quinze anos praticamente. Ai esta regra acabou sendo alterada, pela própria...

hummm, nossa! Mudou tudo, né? Você desestrutura, o conceito paterno cai, família com pai, você sofre bastante preconceito, né? Porque a mãe naquela época é... não é desquitada né? Era separada, então você tem um conceito. Eu acredito que eu fugi muito com os livros por causa disso, você lida com as frustrações a partir daquilo que você domina que era a leitura, mas muda tudo.

Tava ai com uns dezoito anos... Dezenove anos, mas eu fui pra São Paulo, é. Eu de Minas, de São Paulo eu fui educada pra ser doutora né, médica. Ai me mandaram fazer o cursinho do objetivo, lá na Paulista. Eu passei praticamente quase um ano em São Paulo, ai num surto, graças a Deus, eu descobri que eu não queria fazer medicina, medicina era o meu pai. Porque meu pai passou em medicina não pôde fazer porque tinha filhos. Meu pai era pra ter sido médico, mas ele tinha gêmeos, né? Então, quer dizer, teve que trabalhar, largou, virou biólogo, essa coisa toda.

(...) eu lembro que eu saí com esse conto na cabeça, fui andando e eu falei, mas o que quê eu tô fazendo aqui, né? Detesto matemática, detesto essas... Sabe? Detesto hospital, eu vou fazer medicina pra quê? E um dia, me veio na cabeça que eu achava que eu não devia cuidar de                                                                                                                          

79 No ano de 2002, lecionei em uma escola municipal de Goiânia. Uma de minhas alunas havia obtido

rendimento zero em duas disciplinas nas quatro avaliações. No turno noturno, não havia política de reforço. Contudo, em conselho de classe, como se tratava do último ano do Ensino Fundamental, o conselho decidiu por aprova-la evocando o direito de a aluna cursar o Ensino Médio, visto ter sido reprovada em menos de três disciplinas (Inglês e Matemática), bem como a orientação da política local de “evitar” a reprovação.

doente, curar doente, eu devia curar antes dele ficar doente, a prevenção né? Seria o dar aula, juntou paixão de ler, né? Juntou a paixão de ler, eu falei, não, vou fazer letras, totalmente fora do meu... E decidi. A família quase desmaiou todo mundo, um quebra pau, ai fiz letras, mestrado, quer dizer... E to na área de letras e me realizei como professor, como profissão. Eu acho que não tenha feito nada...

Os pais de Marina eram professores e conheciam bem sobre livros. O pai era professor de biologia e a mãe possui diferentes licenciaturas: Moral e Cívica, Geografia, Pedagogia, além de mestrado e doutorado em Educação. Uma casa que “respirava” textos escolarizados. Embora fosse a mãe uma pedagoga, o pai foi quem assumiu a tarefa da formação e da leitura. Separava os livros por idade, estabelecia os prazos para a leitura e acompanhava a interpretação dos textos, o que pressupõe que os conhecia de perto.

Segundo a entrevista, Marina foi educada para ser médica. Desde o começo sua experiência leitora foi rica, de forma a lhe proporcionar os conhecimentos necessários para um vestibular tão concorrido. Contudo, embora conhecedores da importância da educação, embora valorizassem a leitura como forma de aquisição de conhecimento, os pais de Marina a queriam como médica, e não como educadora.

A educação seria algo bonito, como na fala de Ludimila, mas pouco rentável ou de