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3. O TEMPO DO APURO: POR ONDE VIESTES VÓS HÁ DE VOLTAR

3.3 Restringir o restritivo: o feitio, o bailado e a dieta

“Procurar descobrir a si mesmo, enquanto se continua buscando o bem estar do corpo, é como tentar cruzar um rio usando um crocodilo como balsa”.

Ramana Maharshi.

O que podemos ver é que três trabalhos que integram o conhecimento da Ayahuasca, o feitio, o bailado e as dietas,19 têm como um de seus resultados

desenraizar o ser das tendências manifestas em seu antigo corpo e percepção, para ir conduzindo-o à consciência de seu corpo superior não mais está limitado às restrições anteriores. São procedimentos que atuam no sentido de favorecer a iniciação ao campo considerado como divino ou real em seu mais alto grau. Tais procedimentos atuam mais ou menos como aquelas iniciações, presentes em algumas tradições indígenas, em que o ser deve sentar em um formigueiro ou ser picado por dezenas de vespas e maribondos. Desse modo, é que ele é desalojado de sua acomodação, no corpo e na percepção normatizada, para,

19 O bailado é característico da linha do Santo Daime e Barquinha, não ocorrendo na UDV. Em inúmeras tradições indígenas, é requisitada também a dança e o canto aos aprendizes desse caminho.

95 sob o impulso deste corpo inflamado, adentrar em outro domínio de si. Aqui, no entanto, quando falamos desses ritos ligados a Ayahuasca, os procedimentos são completamente outros; o que guardam de comum é que são operações, rituais que visam estimular, cada um ao seu modo, o mesmo resultado, o deslocamento da consciência.

Ao princípio deste estudo dissemos que seu foco não é estritamente o da cultura, mas o da experiência da consciência em Ayahuasca. Porém não podemos ignorar que a formação e modo de organização da consciência guarda suas relações com a cultura em que se insere. É por isso que, nesta relação que venho mantendo com Ayahuasca, e o segundo capítulo deu a ver, sobressaiu- se como uma das faces de sua exploração a clarificação do modo de consciência formado dentro da cultura ocidental. Fosse eu pertencente a uma outra cultura que coloca a consciência para se manifestar de outro modo esse capítulo não existiria ou existiria de modo bem distinto.

Aqui também, por tratarmos de forma mais frontal, de aspectos culturais relacionados a Ayahuasca cabe uma reflexão anterior; é que, ao que me parece, podemos extrair de tais modos culturais que experimentamos associados com o uso da Ayahuasca uma condição peculiar, diáfana por assim dizer. Tal condição, veremos, poderá inclusive esclarecer melhor a relação do saber da Ayahuasca e dos contextos culturais em que está inserida- dentro da minha percepção e a partir das experiências pelas quais passei. Poderá também situar melhor a maneira como tais dispositivos culturais foram tratados aqui.

Não ignoramos o quanto o contexto cultural em que se utiliza Ayahuasca influencia e media a experiência daquele que com ela se relaciona (Langdon, 2002; Dobkin de Rios, 1972; Araújo, 1999). Pensamos, porém que, a partir de um determinado ponto, a experiência excede e transborda tal mediação; é como se a mediação intervisse até um certo limiar, a partir do qual a consciência encontra-se em um espaço de saber onde as determinações históricas ou culturais ficaram para trás (ver Shannon, 2002). É tendo em vista essa virada, esse limiar de passagem por onde a consciência assume um aspecto incondicionado, que pensamos os elementos culturais aqui tratados. Pensamos que tais elementos servem mais para conduzir a atenção a alhures do que neles se fixar. Do mesmo modo poderíamos pensar que é esse estado alhures,

96 incondicionado, que faz uso de tais conduções para se realizar na consciência do experimentador.

É partir disso que podemos pensar que os cantos, o bailado, a dieta e o feitio, não sob sua finalidade aparente, mas como traços de cultura que conduzem a consciência para um espaço onde esta foi ultrapassada; a cultura como meio de instaurar e mediar uma experiência para além de si. A isso chamei de caráter diáfano, essa capacidade de mediar e conduzir a consciência para uma zona não determinada pela cultura20.

Wagner (2012) pode nos auxiliar aqui quando expõe duas maneiras de experimentar a cultura: no modo convencionalizante, modo que ele identifica em nossa cultura ocidental, teríamos a natureza como realidade dada e a cultura como campo da ação humana. Nesse modo o homem é identificado à cultura a qual pertence e sua consciência tende a gravitar pelas paisagens transmitidas e conhecidas culturalmente; esse é propriamente o habitat da consciência em tal modo. O outro modo que Wagner identifica entre algumas sociedades não ocidentais que pesquisa é o modo diferenciante. Nesse modo a cultura é o plano da realidade dada e o plano das possibilidades não ordenadas pela cultura, do campo extra-cultural, extra- ordenado, é o campo de habitat da consciência, o campo de sua atuação. Enquanto o primeiro atua com a consciência estabilizada no espaço intra cultural, atuando de modo a convencionalizar os dados não ordenados no guarda chuva de suas referências prévias culturais, o segundo atua de fora das referências culturais, atuando nelas de modo a diferenciá- las, como um vento que vem de fora a lhe alterar a dinâmica; o habitat, se é que tal nome cabe, dessa consciência é no espaço fora de toda organização da cultura.

Uma outro modo de expressar isso é que, enquanto no primeiro modo estamos a codificar o inominável e irreferendável da vida, de modo a torná-lo o mais próximo e coeso de nossas convenções, no segundo modo são nossas convenções é que são, por assim dizer, codificadas pela dinâmica do inominável. A consciência, em ambos os casos, pertence aos dois aspectos- o campo

20 Poderíamos lembrar aqui novamente a imagem da corrente elétrica, atribuindo a tais traços culturais o papel de fios condutores: o que a cultura nos transmite e para onde ela nos conduz é para um além de si.

97 marcado e conhecido da cultura, e o espaço liso (Deleuze, 1993) e não marcado pela ordem cultural-, operando e sendo sustentada por tal relação. Porém em cada caso enfatiza um desses aspectos como campo de ação privilegiado nesta relação, fazendo divergir, deste modo, a atuação e o alcance da consciência. Ao que parece, quando a consciência se reconhece em um dos aspectos o outro é tomado como condição, suporte e meio para vivenciar a abrangência e natureza do aspecto privilegiado.

No presente estudo o que se passa é algo como uma transição do primeiro modo para o segundo, sob a condução da Ayahuasca. Enquanto que ao primeiro modo podemos associar uma experiência da consciência marcada pela memória e pela experiência de uma percepção culturalmente codificada, este segundo modo- diferenciante- serve- nos, para pensar em uma experiência da consciência onde os limites da cultura ficaram para trás. Entendemos que o campo de saber que vai se abrindo no uso da Ayahuasca, o que temos tratato como Contínuo Ilimitado é justamente um campo onde a vida escapou dos limites culturais. Entendemos que a consciência vai sendo conduzida a se manter nesse espaço para além da cultura, justamente pela capacidade diáfana e mediadora que esta assume na tangência com Ayahuasca. Assim a experiência cultural, o próprio sujeito da experiência, sendo um construto dessa ordem, primam por instaurar e manter essa zona onde eles não mais participam; o que teríamos aí são gestos e sujeitos transparentes que se deixam atravessar pela força de uma realidade maior e inominável. Pode- se ver que aqui a cultura é como um suporte que serve para sustentar o exercício da consciência no campo privilegiado do extra cultural, do real contínuo, que não pode ser contido por qualquer ordenação humana.

É pois, sob essa ótica que tomaremos os elementos culturais aqui abordados; como modos processuais que visam deslocar a consciência do seu campo restrito e culturalmente condicionado para o campo onde se exerce como continuidade ilimitada, sustentando a vida desta abertura. É por isso que o aspecto formal de tais elementos culturais podem ser deixados um tanto quanto de lado em proveito de seus aspectos que operam tal passagem. Defendemos aqui que tais procedimentos tem como finalidade restringir a atuação da atenção

98 nos circuitos que compõe a vida dimensional para faze-la manifestar no aspecto não dimensional do plano do contínuo ilimitado.

Tais elementos culturais que se associam ao uso da Ayahuasca já foram tratados com diversos enfoques, enfatizando os aspectos simbólicos (Luna, 2002; Araújo, 2002), sua constituição histórica e conexões com outras culturas (Goulart, 2002; Labate & Pacheco, 2002) entre outros, todos pensando- os prioritariamente a partir de seus campos culturais próprios. Entendemos a importância crucial da cultura no esclarecimento de tais experiências; porém, em nosso sobrevôo aqui, alinhado com o eixo deste trabalho, o olhar se dirige para o potencial de transcender o próprio contexto de tais elementos (Pelaez, 2002; Shannon, 2004).

Comecemos pelo feitio, ocasião na qual é preparado o chá21. Pode-se

dividir em quatro etapas principais: coleta do cipó e da folha, limpeza, maceração do cipó e cozimento de ambos. Tal processo exige dos participantes uma determinação e esforço físico ímpar. O primeiro passo, que é a coleta, exige entrada na mata, andar até identificar, no meio de uma imensa variedade de vegetais, os cipós e as folhas corretas, cortar e colhê-los, e retornar com todo esse material nas costas até o ponto de apoio em que se estabeleceu, para regressar ao local onde será realizado o feitio. Chegando com todo esse material na casa de feitio, é hora da limpeza. Com uma faca, os homens vão retirando o lodo, fungo, terra e sujeira que se juntaram aos cipós e as mulheres vão separando as folhas boas das outras e lavando-as para retirar a terra. Feito isso, deve-se proceder a maceração do cipó, a bateção. Bate-se o cipó com uma marreta de madeira durante horas, fazendo com que a marreta se torne cada vez mais pesada e ferindo as mãos dos novatos, exigindo deles uma determinação que se sobreponha a dor e ao cansaço. Batido o cipó, ele vai para os panelões, junto com as folhas e a água para o cozimento, processo esse que dura mais de dez horas. Neste trabalho junto à fornalha, cujo fogo emana um intenso calor, o feitor e seus ajudantes devem estar atentos e concentrados em todo o processo de cozimento. Além disso, que não citamos, ainda há o trabalho

21 O modelo de feitio exposto surge dos feitios em que participei na S.E.D.A e a narração que se desenvolve, explorando sua potência de deslocamento, é derivada também de tais experiências.

99 de cortar a lenha com o intuito de que o tamanho esteja de acordo com a fornalha e o fogo almejado. Esse processo todo, muitas vezes, é feito sob a força do chá. É exigido, de quem está nesse processo, sobretudo dos novatos que não estão acostumados com este ritmo e intensidade de trabalho, um permanente esforço de superação de seus limites físicos, emocionais e psicológicos. Nesse processo de superação, os hábitos e tendências que caracterizam o antigo corpo, buscam a todo instante reclamar seus postos, gerando, em todos aqueles aspectos do pensamento, uma atração para a desistência, o esmorecimento, a dispersão, enfim, para o reestabelecimento do ser dentro dos limites aos quais ele está sobrepujando. Cria-se aí um campo de batalha, onde o ser é chamado a resistir duramente a esses chamados que pertencem ás suas tendências provenientes do hábito. E, na medida em que se sustenta a resistência perante essas tendências, é que ele vai assumindo e se familiarizando com um posto de existência descondicionado delas. É só perante essa demonstração de força, em que o ser se descondiciona das manifestações do físico, emocional e mental, que as tais tendências passam a obedecer ao comando do Aquieta-te.

Há ainda um paralelo que pode nos ser útil, que é a do próprio processo de cozimento do material- cipós e folhas. Tomemos o material como nosso próprio pensamento condicionado ou corpo antigo. É preciso extrair deste corpo sua essência, sua vitalidade incondicional; para isso, é preciso, antes mesmo de ir ao fogo, que ele seja identificado e recolhido para que o trabalho seja realizado. Na ponta da mira da atenção, ele deve ser macerado, destrinchado em seus aspectos mais duros e inflexíveis, perdendo o orgulho e brilho de quem achava que sabia algo sobre si. Sem ser capturada nem influenciada pelo desamparo que daí brotará, cabe a atenção manter firme e concentrar todo esse corpo ao fogo – único elemento terrestre que não se rende à gravidade – da suprema vontade animada pela força da União. A água (dentre os elementos, aquele que remete à pureza-) servirá de receptáculo a tal essência e garantirá que a extração seja feita de modo gradual – assim, a atenção poderá acompanhar o processo, de modo a, no final, ter se desprendido do corpo antigo e se fundido com a essência extraída.

O momento central deste processo de extração é quando o material está sob o altíssimo calor, amolecendo e abrindo-se interiormente, para soltar a vida

100 que guarda em si. Nesta fase do processo, há um perigo: a vitalidade que já se soltou na água, ainda se encontra misturada ao material que não terminou de ceder sua essência, e isso pode ocasionar desse material, aproveitando-se da impulsão do fervor, o desejo de vir à tona, subir e resultar em desperdício de trabalho. Por isso deve-se, com espátulas de madeira, durante todo o processo, fazer força para pressionar esse material para baixo, em um permanente Aquieta-te, com o objetivo de que sua essência possa ser extraída com sucesso e suas tendência anteriores não queiram virar a mesa, ou seja, fugir da raia. A atenção deve cuidar para que o material não se aproprie desse processo; deve permanecer em estado passivo, cedendo em proveito da essência, sob o comando ascendente do fogo; este, sim, é o guerreiro da frente neste campo de batalha; deve também a atenção zelar para manter essa chama viva.

Mostremos agora um canto Kaxinawá que o pajé condutor dos trabalhos com Nixi Pae22 entoa, em determinadas circunstâncias, e que parece operar na

mesma direção em que estamos tratando.

“Preparo dos próprios homens, convertidos em lenha moída, sovada e que acaba revelando o núcleo ou gomo onde guarda sua força na mão imensa da onça

a Força moendo, moendo o corpo inteiro seguindo o homem, lenho estalando sobre ti agora caindo faísca quente chegando o homem gomo esticado esticado o talo nascendo

101 o homem gomo esticado

esticado o talo nascendo o corpo inteiro seguindo na mão imensa da onça a força moendo, moendo o homem lenho estalando sobre ti agora caindo faísca quente chegando o homem lenho rachando sobre ti agora caindo o homem gomo esticado esticado o talo nascendo com o encanto guardado jibóia baú dos encantos

jibóia baú dos encantos” (Cesarino, 2006: p.114).

Observe que nós temos uma operação de preparo do homem que estará apto a receber os encantos, os conhecimentos da jiboia. A jiboia ancestral, também conhecida por Yube entre os Kaxinawá, é um ser divino tido como mãe da vida; todos eles teriam provindo deste ser; é este ser quem se manifesta no Nixi Pae. Quando os pajés Kaxinauá se encontram dentro deste ser divino, recebendo seus ensinos, estão em consciência unitiva com tudo. Mas, para chegar a tal ponto, deve ser preparado para poder se ofertar a essa entrega.

Repare que o homem é convertido em lenha moída e sovada. É a própria força do Nixi Pae que converte e mói. Esse duplo em que ele se converte é o homem, que é duplicado nessas imagens, dentro do espaço ritual que abre a possibilidade de concentrar a vida nessa duplicação para poder ser melhor trabalhado. É também convertido em lenha estalando no fogo para, posteriormente, rachar; é a força moendo. De moer, a lenha revela o gomo em que conserva toda a sua força. O corpo já foi amansado e o gomo se mostra. O

102 corpo se decanta e o núcleo de força se revela. E a força segue moendo. Todo corpo segue junto à força. O lenho estalando, o corpo se aproxima do fogo e o gomo se estica. O gomo, que havia sido depurado, é agora depurado em gomo esticado. Núcleo de forças revelado e cedido, esticado em terra lisa, Imaculado espaço, homem gomo esticado. Entrega de suas possibilidades. A União é o lugar onde o homem foi esticado em eternidade. O talo nascendo com o encanto guardado. Renasce como um novo gesto, provindo da força da Jiboia União, o baú da Vida.

Esse exemplo evidencia como a própria força da Ayahuasca age no sentido de fazer decantar as tendências do antigo corpo, para revelar possibilidades do pensamento que não se suspeitava, fechando o ciclo desta viagem com o nascimento de um gesto de pensamento, surgido e emanado de uma terra que até então não podia ser avistada, de uma terra virgem de pegadas humanas. É claro que havia uma condução do pajé Kaxinawá, direcionando o aprendiz no percurso, porém, é possível visualizar este caminho como uma das lições que a Ayahuasca tem para ensinar em diferentes contextos. Esse caminho, a que me refiro, é o de trabalhar, macerar, rachar, moer o homem antigo, para trazer à tona o núcleo-origem de onde esse homem proveio, habilitando, despertando esse núcleo em nossa existência, para que possa operar uma nova fase do pensamento e da existência.

Uma vez que, na vida e na percepção comum do indivíduo, tenha surgido e se manifestado essa força impessoal que submete, aquieta e o depura, ele deverá seguir com este trabalho até o fim, pois é como um cristal em que está sendo projetada uma luz; são inúmeros lados do cristal, inúmeros quadrantes e ângulos que a luz deve atravessar. O homem antigo, a mesma coisa; são muitos os lados e camadas que necessitam passar por esse procedimento para alvorecer nesse novo modo de funcionamento. É, porém, nítida e clara a percepção de quem está sob este trabalho que, a cada dia, essa Presença (a que já demos tantos nomes aqui) se faz mais viva, aproximando-nos dessa nova fase do pensamento e do ser. Somos como talos de uma misteriosa planta, que encontrou sua inominável fonte de vida no subterrâneo, mas que, esquecendo- se dela, precisa passar por determinadas ventanias, a fim de que as raízes se firmem com mais afinco e consciência nessa fonte.

103 Passemos ao bailado. Muito poderia ser dito sobre essa rica manifestação. Buscarei, no entanto, extrair dessa experiência somente o que for de proveito dentro do nosso encadeamento. As sessões de bailado das quais participei23

tiveram até doze horas de duração. Os ritmos do bailado variam (valsa, marcha e mazurca), porém, há uma marcação de passos correta a ser executada dependendo do ritmo. Os participantes cantam e tocam maracá enquanto bailam; tudo isso na força do chá. Um trabalho como esse requer do participante, tal como no feitio, e sobretudo do iniciante, uma forte determinação, em um esforço que pode ser comparado a uma escalada. O corpo físico, depois de algumas horas, começa a reclamar e querer descanso; é necessário, no entanto, não consentir com tal posição, colocando-se acima dele, a fim de não ser atraído pelas suas questões. Abrandadas tais queixas, e enquadrando o corpo dentro desse movimento que, na maior parte do tempo é repetitivo, pois a maior parte dos hinos a serem bailado são em ritmo de marcha, surgem movimentos de outra ordem, mais difíceis de serem enquadrados. São o que se pode chamar de movimentos psico-emocionais. Mais sutis e voláteis, exigem do aprendiz uma força de vontade um tanto mais intensa e hábil.

Não nos esqueçamos que uma das características do antigo corpo, é ter a atenção tragada e identificada com o condicionado complexo físico-emocional- mental. Quando se disciplina um desse aspectos, como foi até agora o físico, os outros dois parecem ganhar mais força, como que concentrando em si o impulso que lá foi retido. Lembremo-nos ainda da imagem do material no panelão, que, sob o impulso do fogo (da força), anima-se para subir e transbordar, caso não haja a atenção que lhe contenha. Assim, a mente começará a arrastar a atenção para inúmeras direções, tal como o vento faz com uma biruta. Irá puxá-la para a distrair com todo tipo de evento que a mente produz, desde pensamentos sobre fatos objetivos, até o surgimento, na tela da atenção, de memórias recentes ou remotas; ou ainda, se ver tomada em alguma espécie de produção propriamente imaginária. Tudo isso, porém, dentro de um fluxo de exteriorização de diversas camadas da memória; desde memórias mais curtas, como um pensamento