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EMÍLIA VIRGINIA 1,2,3 ( enoormahomed@gmail.com )

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No âmbito do Programa “1E, 1F”, foram sendo atendidas gradualmente 90 famílias em 2008, 123 famílias em 2009, atingindo em 2015 o total de 990 famílias, acompanhando deste modo o aumento progressivo do número de estudantes da FCS-UniLúrio.

Nas auscultações feitas aos participantes, referiram que durante as intervenções os estudantes falavam da importância do consumo da água potável, do uso racional dos medicamentos e da sua conservação, dos hábitos alimentares e da higiene pessoal e colectiva.

Os beneficiários da educação para a saúde providenciada pelos estudantes no âmbito do programa “1E, 1F”, revelaram que o programa tem trazido benefícios para as famílias e para as comunidades. Dentre os principais benefício aponta-se que as famílias já sabem cuidar dos seus dentes, prestam maior atenção aos cuidados de saneamento do meio, já aprenderam como evitar amontoar o lixo e, de modo geral, que tinham melhorado os seus conhecimentos em relação ao centro de saúde.

Segundo os líderes comunitários, com a educação dada pelos estudantes, o número de pessoas afetadas pela cólera, malária, diarreia, borbulhas e dor de dentes que afetava frequentemente as família reduziu e o saneamento do meio nas casas melhorou significativamente.

Com base nos depoimentos dos diferentes atores, podemos depreender que o programa responde aos princípios de educação para a saúde defendidos por Curbelo (2004), que postula que a educação para a saúde tem em vista promover experiências educativas, capazes de influenciar favoravelmente no conhecimento, atitude e práticas do indivíduo e da comunidade, no que diz respeito à saúde, com objetivo de proporcionar e promover a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar pessoal e da comunidade.

Os participantes foram unânimes em afirmar que os estudantes trabalham em grupos multidisciplinares para cada família participante e durante a educação para a saúde o diálogo é o principal meio usado. Através do diálogo, vários obstáculos podem ser superados, dada a possibilidade que os estudantes têm para ajustarem, constantemente, as metodologias e as atividades às necessidades da família, respeitando o saber popular, que é essencial na construção da dialogicidade que irá favorecer o desenvolvimento das comunidades nos processos de promoção da saúde (Silva,2009).

O programa “1E, 1F”, privilegia abordagens que permitirão que os diferentes atores estejam envolvidos de forma ativa e proativa em todo o processo de implementação do mesmo, desde a formação integral e multidisciplinar dos estudantes da FCS- UniLurio, bem como o desenvolvimento das suas capacidades em trabalhar em equipe.

Pelo grau de envolvimento da comunidade e das famílias, favorece o “empoderamento” das mesmas, lançando por essa via as bases para a sustentabilidade das actividades previstas. Esta estratégia é proposta

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por vários autores para as actividades de educação para a saúde como forma de garantir que a comunidade assuma o controlo sobre a sua saúde (Antunes, 2008).

A FCS-UniLúrio, para além do programa “1E, 1F”, desenvolve regularmente ações de extensão inseridas nos diversos cursos, bem como outras direcionadas para as escolas primárias e secundárias. No âmbito delas, realizam-se campanhas de saúde oral, disseminando mensagens de prevenção e promoção sobre as medidas corretas e hábitos de higiene bucal, campanhas visuais pelo curso de optometria e participação em feiras de saúde. Nas escolas, mostram aos alunos desses níveis, o ambiente académico universitário, através de folhetos, vídeos e “slides” complementando deste modo as actividades levadas a cabo dentro do programa “1E, 1F”.

Constatou-se que, pelas suas finalidades, estratégias e metodologias o programa “1E, 1F”, permite por um lado, educar e formar profissionais comprometidos com o desenvolvimento e bem-estar das comunidades locais. Permite igualmente que os estudantes tenham a oportunidade de, para além de conhecimentos teóricos adquiridos na sala de aulas, desenvolvam conhecimentos práticos com base na realidade local, o que favorece para formação integral do futuro profissional.

Por outro lado, proporciona uma educação para a saúde a um grupo de pessoas que lhes permita promover a saúde, o que vai ao encontro da perspetiva apresentada pelos autores Dowbor (2006), Gomez, Freitas e Callejas (2007), segundo a qual há necessidade de se formar pessoas que amanhã possam atuar a partir da base, participando de maneira ativa nas iniciativas capazes de transformar o seu ambiente e de gerar dinâmicas construtivas.

O programa “1E, 1F” permite que o docente ensine no contexto em que os futuros profissionais irão trabalhar e de acordo com a realidade e necessidades das famílias e das comunidades desfavorecidas. Estes docentes, para além de ensinarem as várias disciplinas nos distintos cursos oferecidos pela faculdade, também aprendem, pois, estamos numa fase em que se afirma educador-educando, educando-educador. O educador é o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, em vez de só ser educado, também educa. Ambos, assim, tornam-se sujeitos do processo em que crescem juntos, porque durante a interação educador-educando partilham conhecimentos que favorecem o enriquecimento mútuo (Freire, 2008).

O programa “1E, 1F” proporciona também um momento de troca de experiências e partilha de conhecimentos entre os estudantes, docentes e as famílias, visando a aprendizagem mútua, onde os estudantes ensinam às famílias e às comunidades o que aprendem durante as aulas teóricas, e as famílias, por sua vez, transmitem as suas experiências, hábitos e vivências aos estudantes. Trata-se de uma estratégia de formação que possibilita a integração das diversas formas de educação, formal, não formal e informal, defendida pelos autores Cabanas (1991), Barbosa (2007) e Libâneo (1994).

Partindo do princípio de que o desafio dos programas de educação comunitária no âmbito de saúde não podem ser reduzidos a uma pedagogia de socorro, devendo funcionar como uma dinâmica comunitária promotora da saúde (Baptista, 2008), o programa “1E, 1F”, adequa-se perfeitamente às necessidades e à realidade dos países com recursos humanos e financeiros limitados, por utilizar os estudantes em formação para a disseminação das mensagens de prevenção e promoção da saúde, ao mesmo tempo que os forma, formando também os líderes comunitários que irão dar continuidade às actividades em curso. Os programas comunitários no âmbito de educação para a saúde ao serem definidos de acordo com as necessidades das famílias e da comunidade vão responder aos reais anseios dos beneficiários, porque

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irão permitir a formação de profissionais de saúde com as competências técnicas e científicas dentro do contexto em que irão trabalhar.

Assim, eles aprendem na comunidade, com a comunidade e para servir a comunidade, respondendo deste modo às diretrizes previstas para as ações de educação para a saúde, apresentadas na Carta de Ottawa (1986).

O desenvolvimento de programas de saúde que envolve os diferentes atores como os líderes comunitários e a própria comunidade, permitirá o “empoderamento” das famílias e a comunidade lançando as bases para sustentabilidade das actividades propostas. Esta abordagem é defendida por vários autores, como: Lima (2008), Galinha (2011), segundo os quais os indivíduos devem ser integrados em todos os processos de intervenção, sendo esta, uma das formas mais importantes de estimular a participação comunitária, condição fundamental para que estas assumam o controlo sobre a sua saúde.

Neste contexto, podemos considerar que o programa “1E, 1F”, tendo em conta a sua metodologia, privilegia a participação como um dos requisitos para o “empoderamento”, ou seja, para preparar os indivíduos a atuarem, de forma ativa e criativa, na promoção da saúde e bem-estar pessoal e social.

5. CONCLUSÃO

O Programa “1E,1F” representa um novo paradigma de formação de profissionais de saúde com vantagens tanto para o educando, educador, bem como para as famílias e para a comunidade.

Com a estratégia de trabalho por grupos multidisciplinares, este programa incorpora e fortalece os conceitos e espírito de equipa baseados em intervenções multidisciplinares de saúde.

Além disso, o programa favorece a formação integral do futuro profissional e contribui para a sustentabilidade das atividades de prevenção e promoção da saúde da comunidade e do recrutamento e retenção de profissionais onde eles são mais necessários.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Antunes, M. (2008). Educação, Saúde e Desenvolvimento. Coimbra: Almedina.

Barbosa. A. (2007). O valor da Gratuidade na Educação dos Jovens. Lisboa: Universidade Católica. Baptista, I. (2008b). Filosofia de Ação. In Cadernos de Pedagogia Social. N°2. 2, 7-30.

Cabanas, J. (1994). Pedagogia Social. Madrid: Dikinson.

Calide Gomez, J, Freitas, O. e Callejas, G. (2007). Educação e Desenvolvimento Comunitário Local:

Perspectivas Pedagógicas e Sócias da Sustentabilidade. Porto: Proferições.

Carta de Ottawa sobre a Promoção da Saúde. (1986). Recuperado a 07 de Julho, 2012, de http://www. sudeemmovimento.com.br.

Dowbor, L. (2006). Educação e Desenvolvimento Local. Recuperado a 12 de Março, 2012, de www. google. com.br.

Freire, P. (2008). Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra. INE (2013). Recuperado a 21 de Janeiro, 2013, de www.ine.gov.mz.

Galinha, S. (2011). Pedagogia e Psicologia Positiva: Interações em Educação e Saúde. Porto: Livpsic. Libâneo, J. (1994). Didáctica. São Paulo: Cortez.

Lima, L. (2008). A Escola como Organização Educativa. São Paulo: Cortez.

MISAU (2007). Plano Estratégico do Sector Saúde 2007-2012. Recuperado ao 12 de Novembro, 2013, de

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Silva, E. (2009). Participação Comunitária nos Processos de Educação em Saúde e Ambiente. São Paulo. Recuperado a 15 de Maio, 2013, de www.teses.usp.br.