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Estamos agora em 1975, ano em que Ariano Suassuna ao assumir o cargo de Secretário de Educação e Cultura do Recife funda a Orquestra Romançal Brasileira, entretanto, neste ano, o que mais nos interessa, é o início da publicação de O Rei

Degolado ao Sol da Onça Caetana, sob a forma de folhetim semanal, no jornal Diário de Pernambuco. Este livro, planejado para ser o primeiro livro da segunda parte da

trilogia, acabou por ser mesmo o segundo livro da trilogia. Em 1976 cria o Balé Armorial e em 1977 O Rei Degolado é editado em livro.

O ano de 1981 é marcante na vida de Suassuna. A 9 de Agosto publica no Diário de Pernambuco uma carta de despedida da vida pública e literária: “não me cobrem

mais livros que não estou mais escrevendo e pelos quais já perdi qualquer interesse”95. Um aparente ‘fracasso’ do seu engajamento cultural como Secretário de Educação e Cultura, juntou-se às dúvidas e questionamentos do escritor e do homem Ariano

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SUASSUNA, Ariano. Pedra do Reino. Op. Cit. p. 141. 95

Suassuna e precipitou a sua retirada do palco cultural a fim de fazer um balanço pessoal. Além de não publicar livros, deixa de dar entrevistas, mas continua leccionando na Universidade Federal de Pernambuco. O seu silêncio ensurdecedor durou cerca de seis anos. Por conta disso, 1981 é também considerado como a data do fim do Movimento Armorial. Com a reclusão literária do seu mentor, o Movimento deixa de existir como Movimento Cultural para transformar-se numa referência histórica ou num posicionamento individual. Assim como não teve um Manifesto que o precedesse o Movimento Armorial também se desfez sem aviso prévio. O curto artigo de despedida de Suassuna do Diário de Pernambuco é considerado como o documento ‘oficial’ que delimita o fim do Movimento armorial enquanto fenómeno cultural.

Em 1987 Suassuna quebra o jejum literário e escreve a peça As conchambranças

de Quaderna que seria encenada no ano seguinte no Teatro Waldemar de Oliveira, no

Recife. Em 3 de Agosto de 1989 é eleito para a cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Toma posse em 26 de Abril de 1990, ano em que também morre sua mãe. Em seu discurso de tomada de posse na ABL, Suassuna diz que alcançar essa honraria de tornar-se imortal era a realização de um duplo sonho, o sonho do escritor e o de seu personagem Quaderna. “Como escritor sou ambiciosíssimo (...) de algum modo

procurei a vida toda realizar essa ambição de ser um grande escritor”96. Quatro anos depois, aos 67 anos, aposenta-se como professor da Universidade Federal de Pernambuco, onde leccionou por 51 anos. Sua primeira peça Uma Mulher Vestida de

Sol é transformada em um especial, exibido pela Rede Globo de Televisão. Em 1995,

Suassuna é nomeado Secretário Estadual de Cultura, pelo seu amigo e governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Neste ano também a TV Globo monta e exibe o episódio a

Farsa da Boa Preguiça. Em 1997 publica a História de Amor de Romeu e Julieta no

suplemento Mais! do jornal Folha de São Paulo. A Pedra do Reino é adaptada ao teatro por seu sobrinho Romero de Andrade Lima. No ano seguinte lança o CD A poesia viva

de Ariano Suassuna. 1999, Suassuna envereda pela televisão. Muitas já tinham sido as

suas incursões, mas neste ano suas actividades diversificam; primeiro, O Auto da

Compadecida é transformada em minissérie, com uma estrondosa recepção por parte da

audiência e da crítica; em seguida estreia na Nordeste TV, afiliada da Globo, o quadro

O Canto de Ariano que passaria a ser transmitido pelo canal a cabo GNT.

I.XI.I – De 2000 a 2007

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Por conta do seu êxito, a minissérie O Auto da Compadecida, é adaptada à sétima arte. Sua estreia obteve um excelente resultado de distribuição e público, o que proporciona uma maior visibilidade do autor e da sua obra. O Brasil, a grande massa de brasileiros, actores, críticos e pessoas ligadas à arte, principalmente às da região Sudeste do país, ‘descobrem’ Suassuna. Ainda em 2000, Ariano Suassuna, em comemoração aos 500 anos do descobrimento do Brasil, apresenta no GNT o programa Folia Geral, sobre as origens do Carnaval. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No dia 9 de Outubro – data que marca os 70 anos de morte do seu Pai – toma posse da cadeira nº 35 da Academia Paraibana de Letras.

Em 2001 despede-se do jornal Folha de São Paulo no qual tinha uma coluna que atendia pelo nome de Almanaque Armorial com o subtítulo: Grande Logogrifo

Brasileiro da Arte, do Real e da Beleza, contendo ideias, enigmas, lembranças, informações, comentários e a narração de casos acontecidos ou inventados, escritos em prosa e verso e reunidos, num Livro Negro do Cotidiano pelo Bacharel em Filosofia e Licenciado em Artes Ariano Suassuna97.

No ano seguinte, sob o enredo Aclamação e Coroação do Imperador da Pedra

do Reino, autor e obra (Pedra do Reino) tornam-se samba-enredo (ver letra do samba-

enredo em anexo. p. 158) da Escola de Samba Império Serrano que desfila pela famosa passarela do samba brasileira, a Marquês de Sapucaí, o mundo mítico de Ariano Suassuna, contando com a presença do próprio autor, que participou do desfile em um carro alegórico. Ainda em 2002, recebe da Universidade Estadual do Rio de Janeiro o título de Doutor Honoris Causa.

2005 foi marcado pelo aniversário de 50 anos de existência de O Auto da

Compadecida, o que lhe rendeu a publicação de uma edição de luxo, publicada pela

Editora Agir, com uma importante fortuna crítica: perfil biográfico de Ariano Suassuna traçado por Raimundo Carrero; uma breve explicação das vinculações da peça às tradições do teatro por Bráulio Tavares e as histórias das montagens da peça contadas por Carlos Newton Júnior. Do processo de preparação desta edição especial houve também as primeiras modificações textuais feitas por Suassuna em cinco décadas

“nenhuma muito profunda, mas todas importantes (…) por exemplo, o nome do coronel da cidade mudou de forma aparentemente subtil: de António Morais para António

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Moraes. Uma letra apenas, que faz a diferença. Os nomes das classes dominantes são grafados com ‘e’. O ‘i’ é das classes dominadas”98.

Chegamos a 2007. Este ano pode ser considerado o ano solar do escritor Ariano Suassuna. Completou 80 anos a 16 de Junho e muitas foram as comemorações em sua homenagem. De norte a sul do Brasil todos quiserem prestar-lhe vénias. Para começar o ciclo, A Pedra do Reino foi transformada em microssérie e exibida pela TV Globo em parceria com o Governo da Paraíba. A montagem do especial, feito em cinco capítulos, estreou no dia 12 de Junho e teve como co-roteirista o escritor Bráulio Tavares. A sua elaboração foi acompanhada sob a batuta atenta de Suassuna que solicitou ao encenador Luís Fernando Carvalho, que não só o elenco fosse constituído, em sua maioria, por actores populares pernambucanos, como também que cenários, figurinos, profissionais técnicos, em geral, fossem provenientes da região de Taperoá, no sertão do Cariri paraibano, onde foi gravada a minissérie, para além da Fazenda Acauã, em Sousa e João Pessoa. Suassuna recuperou, assim, a experiência que teve em 1968 quando filmou O

Auto da Compadecida. Tudo o que aparece na minissérie foi construído por uma equipa

composta principalmente por gente do Sertão. Desde às roupas das personagens aos objectos de cena foram feitos em Taperoá. A equipa chegou a ter 42 artesãos de toda parte do nordeste. Todo este material foi depois transposto para a Exposição da Pedra

do Reino, que aconteceu entre os dias 11 e 30 de Junho no Rio de Janeiro, seguindo para

João Pessoa.

No Rio de Janeiro, a semana de estreia da Pedra do Reino começou no dia 10 de Junho com uma Aula do escritor no Theatro Municipal99, que teve lotação esgotada e contou com uma audiência atenta, interessada e efusiva diante das palavras do mestre Ariano Suassuna. Ainda na ‘cidade maravilhosa’100 foi também encenada uma peça de

teatro que, pela primeira vez, conta a vida do autor, sob o título de Ariano.

Entretanto as comemorações não ficaram só pelo sudeste do país. Na Bahia, em 11 de Maio, o escritor paraibano recebeu o título de Cidadão Baiano. Em Pernambuco merece destaque a finalização e exibição no Festival Cine-PE do longa-metragem O

Senhor do Castelo, de Marcus Vilar, que mistura depoimentos de Ariano sobre temas

que vão de literatura a história, com narrativas dos factos que marcaram a sua vida. Muitos outros eventos decorreram por todo o Brasil no ano de 2007, esses são os

98

SUASSUNA, Ariano. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 5 de Dezembro de 2004. Caderno B. p. B1. 99

Veja CD anexo a esta dissertação. 100

exemplos mais significativos do agradecimento e reconhecimento de um povo para o arauto e preservador da sua cultura.

2007 não pára por aí e Ariano Suassuna no início do ano foi nomeado Secretário Estadual de Cultura pelo governador Eduardo Campos. Em sua tomada de posse divulgou as linhas que vão nortear a sua gestão, que terá por função divulgar a cultura brasileira, com base nas raízes do povo. Reiterando o objectivo de toda uma vida disse que “há alternativas para evitar a descaracterização e vulgarização da cultura

brasileira”101 e que pretende levar às favelas e periferias o projecto "A Onça Malhada,

a Favela e o Arraial", através do qual pretende mostrar as manifestações de música,

dança e teatro brasileiros. Vale chamar a atenção para o facto de que este já é o terceiro mandato de Ariano Suassuna como Secretário de Cultura (1975, 1995 e 2007). Em suas três gestões sempre desenvolveu uma política voltada para o fomento à arte brasileira e popular. “Tenho espírito público, gostaria de fazer pela cultura brasileira mais ainda

do que faço, porque, sem julgar que todo mundo deva ser como eu, acho que tenho obrigações de indicar caminhos brasileiros no maior número possível de campos artísticos e literários que me seja possível”102.

Uma última nota vai para o Movimento Armorial. Se o Movimento enquanto fenómeno cultural acabou naquele 9 de Agosto de 1981, com o anúncio da retirada de Suassuna da vida pública e literária, o armorial e a armorialidade não. O armorial desde 1981 até os dias de hoje existiu de facto através das obras que continuaram a serem feitas, encenadas e publicadas quer por Suassuna ou por outros artistas. A armorialidade permanece como uma atitude íntima e um posicionamento individual, procurado por muitos jovens artistas brasileiros tanto nas artes plásticas, quanto na música e no teatro, que vêem na armorialidade uma veia de expressão genuinamente brasileira. Dos artistas da época do Movimento, António Carlos Nóbrega é um dos que prossegue seu trabalho fiel aos preceitos armoriais com êxito e que tem um público cativo que o acompanha. Na nova geração de artistas destaca-se o grupo carioca103 de música armorial chamado

Gesta, em explícita alusão às cantigas de gesta, uma das referências suassunianas.

Segundo Ariano104, há ainda muitos núcleos armoriais para além do Nordeste – seu espaço de excelência – como, por exemplo, em Minas Gerais e São Paulo.

I.XII – Conclusão inconclusiva

101

SUASSUNA, Ariano. In: Jornal O Globo Online (www.oglobo.globo.com). Ariano Suassuna diz que

quer evitar a vulgarização da cultura brasileira. 18 de Abril de 2007.

102

SUASSUNA, Ariano. Apud SANTOS, Idelette Muzart Fonseca dos. Op. Cit. p. 31. 103

Quem nasce no Rio de Janeiro. 104