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Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na Sessão Plená- ria da III Reunião da Comissão Mista Brasil- Irã, em Brasília, em 16 de fevereiro de 1993

JlSxcelentíssimo Senhor Ministro Ali Ak- bar Velayati,

Excelentíssimos Senhores Membros da Delegação do Irã,

Excelentíssimos Senhores Membros da Delegação do Brasil,

Minhas Senhoras e meus Senhores, É com grata satisfação que estendo ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da República do Irã, Sua Excelência o Doutor Ali Akbar Velayati, bem como aos ilustres integrantes da comitiva que o acompanha, as mais cordiais boas-vindas ao Brasil e, particularmente, ao Itamaraty. Sua presen- ça nos trabalhos desta Comissão Mista é sinal da importância dos projetos comuns que aproximam nossos dois países e con- firma o espírito de diálogo e de respeito mútuo com o qual buscamos sempre pau- tar nossas relações.

A nação que acolhe Vossa Excelência, Senhor Ministro, ao ensejo desta visita para nós muito honrosa, abriga uma socie- dade profundamente revigorada em sua fé democrática e em sua consciência ética. Esses valores dão consistência à vocação

de paz e desenvolvimento do povo brasi- leiro e revitalizam seus vínculos de coope- ração com a comunidade internacional.

Mas o Brasil que Vossa Excelência encontra hoje é, sobretudo, uma nação sintonizada com os novos tempos. Uma nação, como sempre, orgulhosa de sua identidade, de seu pluralismo político e cultural, mas, principalmente, uma na- ção comprometida com a construção de seu destino.

Sabemos que as transformações do mundo contemporâneo não geram apenas esperanças, mas também novos desafios e novas responsabilidades.

As esperanças são fundamentais: as ideologias perderam sua força; fortalece- ram-se em escala planetária os valores da liberdade política e económica; desblo- queou-se a agenda internacional com a superação da ordem bipolar; abriu-se o espaço para discussão de temas vitais para o futuro da humanidade - o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, a erradi- cação das armas de destruição em massa, o acesso às tecnologias, a proteção univer-

sal dos direitos humanos, o combate à fome e à pobreza.

Os desafios e as responsabilidades tor- nam-se, por sua vez, mais complexos. Per- sistem conflitos e ameaças à paz, a despei- to do fim da Guerra Fria. Ao mesmo tem- po, a formação de blocos económicos e a globalização e sofisticação dos sistemas produtivos suscitam inquietações. Há o risco de acirradas competições comerciais e o da marginalização dos países em de- senvolvimento em relação aos principais fluxos económicos, financeiros e tecnoló- gicos do mundo.

É também fator de preocupação a ten- dência à manutenção de mecanismos de- cisórios anacrónicos, correspondentes a estruturas internacionais já superadas. Ao integrar no momento o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na condi- ção de membro não-permanente, o Brasil se propõe a contribuir não apenas para o encaminhamento das questões que afe- tam diretamente a paz e a segurança, mas também para o debate eficaz sobre a ne- cessidade de democratização da ordem internacional.

Assim como aspiramos a um mundo política e socialmente mais equânime, perseveramos no caminho da autêntica modernidade de nosso país. Buscamos a retomada do crescimento económico com justiça social. Trabalhamos para a plena realização de nossas potencialidades em colaboração com os múltiplos parceiros aos quais estamos ligados na economia internacional, não apenas em suas áreas mais dinâmicas.

Ao Irã, com seu peso internacional e sua dimensão económica, cabe inegavel- mente papel relevante no conjunto das parcerias que unem o Brasil à região do Oriente Próximo. O propósito que hoje nos anima nesta reunião é justamente o de redimensioná-lo em função de nossos in- teresses recíprocos.

Na Reunião Preparatória deste encon- tro, as partes brasileira e iraniana realiza- ram um trabalho conjunto intenso e exito- so, em clima de grande cordialidade. À luz desses resultados, creio que podemos am- bas as delegações compartilhar as melho- res expectativas quanto à significativa contribuição que esta Terceira Reunião da Comissão Mista certamente trará ao aper- feiçoamento da cooperação bilateral.

Assinalo, por exemplo, que, no campo do comércio, são ativas as trocas entre nossos dois países, com amplas possibili- dades de expansão e diversificação. As partes brasileira e iraniana manifestaram disposição para continuar a explorar todas as alternativas de mercado que visem a operacionalizar esquema de pagamentos capaz de sustentar um intercâmbio cres- cente, dinâmico e mais equilibrado.

Quanto à cooperação técnica e indus- trial, é possível identificar um vasto hori- zonte que se abre à participação de tecno- logias, equipamentos e produtos brasilei- ros em setores e projetos prioritários do programa de desenvolvimento do Irã.

Reconhecendo a riqueza e diversidade das culturas iraniana e brasileira, estamos considerando várias iniciativas para dina- mizar as relações culturais entre nossos

dois países, aproveitando, para tal finali- dade, o marco institucional do Acordo na matéria que celebramos em 1957.

A Ata Final desta Terceira Reunião da Comissão, que ainda hoje muito me hon- rarei em estar assinando com Vossa Exce- lência, recolherá nossas deliberações e se constituirá em novo marco de avanço na cooperação entre nossos países.

Além de tratarmos de nossa coopera- ção, terei ainda grande prazer em manter com Vossa Excelência conversações so- bre temas da atualidade da agenda política internacional, com ênfase da atuação de nossos dois países em seus respectivos contextos regionais. Aí, temos, segura- mente, uma rica experiência a intercam- biar e a estimular nossa própria contribui- ção aos esforços de construção da nova ordem internacional.

Alegra-me especialmente, Senhor Mi- nistro, que, como parte da programação oficial de sua visita, Vossa Excelência será também recebido pelas máximas autorida- des e representantes do mundo empresa- rial do Estado de São Paulo. Aquela que á a minha terra por adoção não poderia dei- xar de estar diretamente associada, pelo seu papel protagônico no processo de de- senvolvimento brasileiro, às iniciativas de ambos os Governos em prol do aprimora- mento de suas relações.

Só temos motivos, portanto, para con- fiar no futuro da cooperação Brasil-Irã. Estou certo de que, a partir dos entendi- mentos que formalizaremos ao final dos nossos trabalhos, estarão delineadas, com precisão, realismo e objetividade, as mo- dalidades de ação conjunta a explorar em benefício de nossos povos.

Muito obrigado. •

Visita do Chanceler