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Discurso do Secretário-Geral das Relações Ex- teriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião de almoço em homenagem ao Vice-Pre- sidente da Comissão Europeia, Manuel Marin, no Palácio Itamaraty, em 4 de maio de 1993

uma honra poder dar-lhes as boas-vin- das em nome do Governo brasileiro. Ao reencontrá-lo aqui em Brasília, poucos dias após o proveitoso encontro entre os Chanceleres do Grupo do Rio e da Comu- nidade Europeia, quero expressar a certeza que nos anima de que a visita que Vossa Excelência realiza ao Brasil muito contri- buirá para avançar ainda mais as relações entre o nosso país e a Comunidade.

A importância da Comunidade Euro- peia como grande ator internacional e como principal parceiro comercial do Bra- sil dá o tom que vai inspirar as conversa- ções que Vossa Excelência inicia hoje no Brasil. Referência e paradigma, a Comu- nidade inspira-nos em nosso próprio es- forço de integração regional e figura como interlocutor privilegiado no mundo de hoje graças à influência que exerce nas principais questões que figuram na agenda política e económica internacional.

Joaquim Nabuco, notável figura de di- plomata e intelectual brasileiro, escreveu certa vez que os brasileiros não vamos, mas voltamos à Europa. De fato, a Europa

legou-nos não apenas uma permanente he- rança histórica, cultural e linguística, mas também uma visão de mundo e um con- junto de valores e princípios que fazem a base do nosso próprio projeto histórico. Com seu dinamismo reencontrado através do grande esforço de integração que está consolidando, a Europa dos Doze demons- tra que a via da integração e da cooperação é a única possível num mundo interdepen- dente. Seu peso económico e político são a um tempo um fator de atração e um modelo a analisar e a perseguir.

Senhor Vice-Presidente,

Hoje, as relações entre o Brasil e a Europa têm duas dimensões complemen- tares. No plano bilateral, a Europa é nosso mais importante parceiro económico e in- terlocutor de primeira grandeza para a po- lítica externa brasileira. Em um plano dis- tinto, o Brasil relaciona-se com a Comuni- dade também através do mecanismo de diálogo e cooperação estabelecido entre o Mercosul e a Europa dos Doze.

O Mercosul tem na Comunidade, de certa maneira, a sua génese.

A Comunidade foi inspiração e desa- fio. A inspiração veio já a partir de 1957, com o Tratado de Roma, que estimulou de forma inequívoca o surgimento de proces- sos congéneres de integração regional, en- tre os quais a antiga ALALC, hoje Aladi.

O desafio veio sob a forma da indica- ção inequívoca de que o mundo do limiar do século XXI seria mais interdependen- te e mais competitivo e de que seria na integração, e não no isolamento, que se encontrariam as melhores condições para gerar escala, aumentar a produtividade e intensificar a geração e os fluxos de co- mércio, investimentos e tecnologia. Esse desafio foi crucial para que adotássemos finalmente um curso objetivo e pragmá- tico para dar forma concreta ao velho ideal integracionista latino-americano. Hoje, falamos menos em Bolívar e mais em cronogramas, em desgravação, em ta- rifa externa comum, em prazos exíguos. E temos um novo nível de interlocução com o mundo.

Em 1991, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai tomaram a histórica decisão política de criar o Mercado Comum do Sul - Mercosul -, que já vem estreitando seus vínculos, reforçando suas afinidades e ex- plorando juntamente com a Comunidade Europeia o considerável potencial de co- operação entre as duas áreas de integração económica.

Com a assinatura, em Santiago, do Acordo Interinstitucional entre a Comis- são da CE e o Conselho do Mercado Co- mum, a cooperação Mercosul-CE tem sido uma das vertentes mais dinâmicas

do relacionamento externo dos países do Mercosul.

Pouco mais de um ano de vigência desse acordo já foi suficiente para pôr em andamento significativa gama de projetos de cooperação, abrangendo desde progra- mas de formação de pessoal até projetos de divulgação, no âmbito das instituições comunitárias, dos mecanismos de coope- ração com o Mercosul.

Senhor Vice-Presidente,

O relacionamento entre o Brasil e a Comunidade Europeia, por sua vez, alcan- çou notável dimensão na última década. É natural que assim tenha sido. Somos a mais forte economia latino-americana, a mais diversificada e a que maior e mais maduro relacionamento económico e co- mercial mantém com a Europa dos Doze.

Apesar de nossos inegáveis problemas conjunturais, temos intensa familiaridade com os mecanismos do mercado e com os investimentos estrangeiros e participamos do comércio internacional com ânimo competitivo e dinâmico.

O intercâmbio comercial Brasil-CE tem impacto relevante em nossa economia e sem dúvida na economia dos países- membros da Comunidade. As cifras são expressivas. Os fluxos comerciais passa- ram de US$ 8,9 bilhões em 1981 paraUS$ 15,2 bilhões em 1992. Os investimentos da Comunidade no Brasil alcançavam, em março de 1991, o montante de US$ 12,8 bilhões, equivalentes a 35,8% dos investi- mentos globais no país.

O Brasil tem assim um perfil equilibra- do em seu comércio internacional e atua

de fato como um global trader com inte- resses bem distribuídos entre a Europa, a América do Norte, a Ásia e o mundo em desenvolvimento. Esse dado incide direta- mente na importância que a Comunidade tem para o Brasil e que o Brasil deve ter para a Comunidade entre seus parceiros em desenvolvimento.

Tal intensidade no intercâmbio bilate- ral, associada à ampla coincidência de pontos de vista com relação a diversos itens da agenda internacional, tem exigido, por parte do Governo brasileiro e da Co- munidade, um esforço renovado no senti- do de desenvolver uma moldura institu- cional adequada ao aprofundamento dos fortes laços de cooperação existentes.

Esse é o sentido da assinatura, em Bra- sília, em junho de 1992, do Acordo-Qua- dro entre o Brasil e a Comunidade, ora em tramitação no Congresso Nacional. Esse Acordo constitui moderno instrumento ju- rídico que deverá propiciar o aperfeiçoa- mento e a intensificação da cooperação entre o Brasil e a Europa dos Doze, além de traduzir, em sua forma mais avançada, o firme intento das duas partes em estabe- lecer bases institucionais sólidas para tal cooperação.

A solidez e a importância dos nossos laços nos dão condições para manter um diálogo franco e amistoso com as Comu- nidades. Nesse diálogo, há espaço para muitas convergências e também para di- vergências, que exploramos com sentido de pragmatismo e com a consciência da importância recíproca.

Nesse processo voltado permanente- mente para o aperfeiçoamento das nossas relações, a Comissão da Comunidade tem um papel decisivo. Daí a importância que atribuímos à visita de Vossa Excelência e ao continuado exercício de consulta, infor- mação e troca franca de impressões que ela representa.

É por essa razão que, em nome do Governo brasileiro, quero uma vez mais saudar a presença de Vossa Excelência entre nós e expressar confiança no estrei- tamento cada vez maior das relações entre o Brasil e a Comunidade Europeia.

Com esse espírito, convido todos os presentes a brindarem à saúde e felicidade pessoal de Vossa Excelência, ao progresso das relações entre o Brasil e as Comunida- des Europeias e ao bem-estar de todos os nossos povos.

Muito obrigado. •

XI Conferência Interparlamentar