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Quadro metodológico

1.7. Riqueza & pobreza

Existem duas perspetivas que se têm vindo a confrontar, norteando as políticas de “pobreza das nações”21; ou se quisermos, em termos globais.

Uma delas sustenta que a pobreza deriva do comportamento individual mal adaptado, comportamento que é da responsabilidade dos indivíduos e que será alterado adequadamente por eles mesmos. (…)22 O governo deve proceder a cortes nos programas sociais, de modo a que as pessoas desenvolvam os seus próprios recursos. (Samuelson & Nordhaus, 1999: 358)

Uma outra perspetiva advoga que aquilo que os críticos da distribuição de fundos do estado chamam “custos”, são na realidade um investimento. Nesta perspetiva

a pobreza tem raízes na deficiente alimentação desde os primeiros dias, nas famílias destroçadas, na inexistência do hábito de leitura em casa, numa fraca educação e na falta de formação profissional. A pobreza gera pobreza; o círculo vicioso da má alimentação, da fraca educação, da dependência da droga, da baixa produtividade e de rendimentos reduzidos origina uma nova geração de famílias pobres. (Samuelson & Nordhaus, 1999: 355)

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“Adam Smith traído” – “Os proponentes do liberalismo económico – isto é, capitalismo de mercado livre – gostam de fazer crer que a sua proposta é de um sistema económico criado com o fim de satisfazer as necessidades económicas não de monopólios mas de toda a gente. Neste aspeto, invocam como seu principal chefe teórico Adam Smith e o seu livro The Wealth of Nations. Publicado pela primeira vez em 1776, The Wealth of Nations apresentava uma crítica radical face aos monopólios de aos governos e estado. Smith demonstrou como os modos como o apoio do estado e o protecionismo tendem a distorcer os mecanismos de autocorreção de um mercado competitivo englobando pequenos compradores e vendedores. Aquilo que os liberalistas económicos de hoje se esquecem de dizer é que o sistema económico que eles estão a criar em nome de Smith é muito mais semelhante ao sistema monopolista de mercado que ele condenou do que ao sistema teórico de mercado competitivo que ele apresentava como hipótese de proporcionar uma repartição otimizada dos recursos da sociedade” (Korten, 1996a: 199).

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“nos séculos passados os apologistas do Laissez-faire sustentavam que os pobres eram indolentes, preguiçosos e bêbados” (…) (Samuelson & Nordhaus, 1999: 358).

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Desta forma consideram que

os programas que proporcionam cuidados de saúde e alimentação adequada para as famílias pobres aumentarão a produtividade e a eficiência, em vez de reduzirem o produto. Ao quebrar o ciclo vicioso da pobreza, no presente, estaremos a aumentar as qualificações, o capital humano e a produtividade no futuro das crianças pobres. (Samuelson & Nordhaus, 1999: 355)

A fome é, na realidade, a pior de todas as armas de destruição maciça, fazendo milhares de vítimas todos os anos. Combater a fome e a pobreza e promover o desenvolvimento é o modo verdadeiramente sustentável de alcançar a paz mundial… Não haverá paz sem desenvolvimento e não haverá paz nem desenvolvimento sem justiça social. (PNUD, 2005: 73)

À partida, ambas as perspetivas aparentam argumentos válidos.

Uma defendendo os cortes dos gastos com as despesas de redistribuição em nome de um aumento de eficiência na economia nacional. Aqui domina o princípio do laissez-

faire, que de um ponto de vista económico, tende a privilegiar a maximização do lucro e da

eficiência com vista ao reforço da economia e da sua lógica de mercado. Segundo este ponto de vista a compressão das despesas de redistribuição da riqueza (ao jeito do modelo assistencialista do estado de providência), deve acautelar o desincentivo ao trabalho e a “subsídiodependência”, contribuindo desta forma contra a sua inércia produzida na economia.

Uma outra, perspetiva defende que esses custos são na realidade “investimento”, pois a riqueza de um povo não deve medir-se apenas no sentido da eficiência do lucro, mas sobretudo na eficiência em termos de qualidade de vida, entendendo-se aqui uma maior preocupação com a noção de equilíbrio, de inclusão e equidade social.

Os adeptos do neoliberalismo poderiam argumentar que

a experiência dos países socialistas exemplifica como as tentativas de igualar os rendimentos com a expropriação dos ricos pode acabar por prejudicar todos (…) Por volta de 1990, as comparações dos padrões de vida no Leste e no Ocidente convenceram muitos países de que a propriedade privada das empresas beneficiaria os padrões de vida tanto dos trabalhadores como dos capitalistas. (Samuelson & Nordhaus, 1999: 355)

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Por sua vez, os apologistas do socialismo argumentariam, que numa perspetiva global, o modelo neoliberal também gera ineficiências, como sejam o aumento das desigualdades entre regiões/países/pessoas e sobretudo a destruição progressiva em termos de ecologia e biodiversidade que não afetam apenas os trabalhadores, mas… todos (Anexo 17; Anexo 18).

“Hipocrisia e padrões duplos não são bases fortes para um sistema multilateral baseado em regras” (PNUD, 2005: 113).

“Até os leões têm os seus historiadores” – diz um provérbio africano – “As estórias de caça glorificarão sempre o caçador.” O mesmo é verdadeiro em relação Às estórias sobre o comércio internacional. Para os entusiastas da globalização, a rápida expansão do comércio mundial nas últimas duas décadas tem sido uma perfeita bênção, nomeadamente para os pobres de todo o mundo. A realidade é mais prosaica. Mais comércio proporciona enormes oportunidades para o desenvolvimento humano. Nas condições correctas, tem potencial para reduzir a pobreza, diminuir a desigualdade e vencer a injustiça económica. Para muitos dos países mais pobres do mundo, e para milhões de pessoas pobres, esta condições ainda têm de ser criadas. (PNUD, 2005: 113)

Gráfico 3. Progressos pós-Monterrey em direção à meta da APD (Apoio ao Desenvolvimento). (PNUD,

2005:87). (Ver Anexo 18)

Temos por conseguinte, que não obstante a algumas iniciativas no âmbito da cooperação, a desigualdade no acesso e na redistribuição da riqueza enquadra-se na

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dinâmica exploratória de subordinação que o centro do sistema considera essencial, para a sua existência enquanto tal.

Embora se possam discernir linhas de inteligibilidade em ambas as perspetivas pensamos ser necessário assumir-se como possibilidade o diálogo e a coabitação em oposição a uma dialética alternada entre extremos inconciliáveis.

Provavelmente, as questões económicas relacionadas com o emprego e a segurança social, sejam sentidas com maior intensidade, ou de uma forma mais direta, na vida das pessoas. Contudo as questões ambientais, das quais progressivamente vamos tomando conhecimento em termos planetários, obriga a alguma reflexão, não apenas a nível interno do estado-nação, mas também (sobretudo) a nível externo.

Temos de combater a pobreza com um vasto plano de educação primária e serviços básicos de saúde nos países pobres. No total, é apenas um sexto do orçamento militar mundial (161 milhões de dólares por ano). Este é o verdadeiro orçamento de defesa, pois é através dele que garantiremos a segurança, e não através de armamento de alta tecnologia. As verdadeiras ameaças à civilização, nos nossos dias, são a pobreza, a demografia e as alterações climáticas, tal como outras questões ambientais. (Brown,23 2007: 9).

1.8. (Eco)nomia & (eco)lógia

“A tarefa de protecção do ambiente na Terra deverá tornar-se e tornar-se-á o princípio organizador central do mundo pós-guerra fria.” (Samuelson & Nordhaus, 1999: 330).

Tê-lo-á sido?! Sê-lo-á no futuro?!...

Como temos vindo a observar, a eficiência em termos económicos, ao nível interno de um estado, tenta suprimir todos os campos que bloqueiem a escalada e progressão da lógica económica capitalista. Este facto parece derivar mais da incapacidade de esses estados contrariarem os efeitos indesejados, que de uma vontade expressa de adesão às

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Lester Russel Brown, nascido em 1934 (E.U.A.) é um analista ambiental. Escreveu vários livros sobre questões ambientais globais, em particular “Plano B 2.0: Resgatando um Planeta sob Stress e Uma Civilização em Apuros” (2006). É o fundador do Instituto WorldWatch e fundador e presidente do Instituto de Políticas para a Terra. Uma organização de pesquisa sem fins lucrativos.

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virtudes do capitalismo – como atrás referimos, na maioria das vezes (sobretudo nos países periféricos e semiperiféricos) trata-se de “inclusões subalternas”.

Um aspeto crítico desta realidade, é a análise do impacto ambiental dos ritmos e técnicas de produção das sociedades atuais. Como tentaremos verificar adiante, os custos ambientais assumem, ou são assumidos, como realidades distintas se entendidos a um nível interno ou externo. A verdade é que, se perspetivada a um nível interno, a sensibilidade ambiental terá que obrigatoriamente levar em linha de conta a eficiência económica e o impacto que a eficiência ambiental representa nesse processo. Se entendida em termos externos, ou numa dimensão global, a questão ambiental é então considerada como um direito universal ao uso e partilha do património natural comum, e concomitantemente, como o dever universal de o preservar (Anexo 19). O que normalmente nos remete para o aforismo “Quem vier atrás que feche a porta…” Sendo que atrás, na perspetiva económica, se encontra a semiperiferia e a periferia do sistema. No entanto, e a menos que colonizemos um novo planeta24, as condições de sobrevivência no médio-prazo serão exíguas em termos de pressão ecológica.

Primeiro que tudo devemos salientar o facto de qualquer nível de poluição ser socialmente indesejável pelos efeitos indesejados que geram (externalidades). Por outro lado não se pode ignorar que o nível de progresso atual tornaria impensável qualquer medida que almejasse, a manutenção dos padrões de produção sem externalidades em termos de poluição, ou poluição nula. Gerir e posicionar-se perante estas duas abordagens parece então o desafio a ter em conta na análise das vantagens e custos do progresso.

…Tal como os indivíduos consideram racional sacrificar um pouco do rendimento no presente para pagar detectores de incêndio que diminuam a probabilidade de um incêndio devastador, assim as sociedades consideram prudente sacrificar parte do seu rendimento nacional no presente para reduzir a probabilidade de um aquecimento global catastrófico nos próximos séculos. (Samuelson & Nordhaus, 1999: 339)

O gráfico seguinte tenta explicar que numa economia de mercado, existe uma forma de calcular o nível ideal de despoluição, apresentando a “emissão zero” ou a “poluição nula” como fator gerador ineficiências económicas ao nível do mercado. Tenta sobretudo fundamentar a ideia de que é inevitável existir algum nível de poluição, o nível

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Ainda que se venham aventando hipóteses e experiências de colonização do espaço externo por enquanto parecemos estar confinados a um “pálido ponto azul” (Lorddracon, 2008).

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de “poluição eficiente” (E)25. Subentende-se aqui que as políticas de proteção ambiental, não devem contudo deixar de ter em linha de conta a eficiência da máquina financeira nacional.

Neste ponto porém, não significa que a poluição produzida, não tenha impacto sobre a qualidade de vida das populações, significa contudo que mesmo pagando a (%) da fatura da despoluição, é possível manter, numa perspetiva económica interna, os níveis de competitividade com o exterior. As políticas de proteção ambiental dos estados, embora cada vez mais sensíveis ao problema, acabam por fazer depender a gestão de um problema que é universal, de diferentes interpretações e medidas de atuação, tendo por base a posição estratégica que esse estado ocupa no xadrez do mercado financeiro global. A resposta necessária salda-se assim por tímidas medidas paliativas - diferentes respostas, dadas por diferentes atores.

Gráfico 4. Ilustração da política de análise custo-benefício que pretende definir os níveis eficientes de

poluição, ou se quisermos, análise da ineficiência das externalidades (Samuelson & Nordhaus, 1999: 335).

O benefício social marginal de uma menor poluição (BSM) pode ser analisado pela área total abaixo da linha BSM, uma vez que (para este exemplo dado) 400 unidades de despoluição equivalem a um nível de poluição zero. Temos ainda que ISE representa os ganhos com a remoção eficiente de poluentes. E EZB representa uma abordagem de risco nulo.

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Estes níveis eficientes de poluição são calculados e fixados pelo estado de acordo com os critérios considerados como tópicos de (BSM) e de (CMa), sendo que o nível de eficiência é indicado pela interseção das linhas (BSM) e (CMa).

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O custo marginal de despoluição (CMa) pode ser analisado pela área total acima da linha CMa e representa os custos dispendidos (normalmente pelas empresas produtoras) em despoluição. Por sua vez o benefício privado marginal (BPM) é o benefício privado marginal de despoluição para o despoluidor. O ponto (I) tenta ilustrar uma situação de mercado desregulado. O BSM fica assim dependente da interpretação do poluidor acerca do que se entende por ponto eficiente de poluição (E). Afinal o CMa depende de tecnologia e meios de despoluição e de uma gestão de produto final que custam dinheiro à empresa. Assim, despoluir pode até trazer vantagens ao poluidor, que irá ponderar, não só às metas e restrições impostas pelo governo, mas também os incentivos oferecidos para este fim.

Os problema ambientais decorrem de externalidades que derivam da produção e do consumo. Uma economia de mercado não regulamentada produzirá demasiada poluição e insuficiente despoluição (e outros bens públicos) pela comparação dos benefícios privados marginais com os custos privados marginais. A eficiência exige que os benefícios sociais marginais sejam iguais aos custos sociais marginais de despoluição. (Samuelson & Nordhaus, 1999: 340)

Mas, só até certo ponto. A partir daí o processo de despoluição não é viável.

Deve na interpretação deste gráfico, atender-se ao facto que este tipo de políticas de

análise custo-benefício levantar algumas questões.

Em primeiro lugar, este tipo de abordagem tem uma definição e uma expressão na relação custo-benefício de acordo com as políticas internas de cada espaço geográfico a que respeitam. E nesse sentido adquire uma dupla finalidade: a de permitir ao governo “equilibrar e conciliar” o fator social (se entendermos a ausência de poluição como um bem público que potencia a qualidade de vida), com o fator produtivo económico (informar as empresas acerca das restrições impostas, e consequentemente das possibilidades (lucro) de desenvolver a sua atividade nesse determinado local). Neste contexto, e atendendo à transnacionalização crescente da economia, ao fortalecimento da atividade das empresas multinacionais e a um clima de não fiscalidade e controlo por parte dos organismos internacionais26, convém alertar para os efeitos que este tipo de abordagem pode desenvolver, se não mesmo dissimular. O nível de produção dos países centrais não é igual ao dos países periféricos e semiperiféricos. Por essa razão, para além de nesses países,

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Referimo-nos a instituições com legitimidade política internacional. O controlo sobre esta temática, é sobretudo empreendido por instituições/fundações privadas (Ex: Green Peace; World Wild Foundation, etc.), embora ultimamente venha a notar-se um maior envolvimento e visibilidade da ONU neste contexto.

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muitas vezes não se cumprirem as normas de poluição consideradas razoáveis (Anexo 20), consegue deslocar-se unidades de produção para países onde a ambição pelo desenvolvimento, a existência de elites governamentais corruptas; ou simplesmente, a obrigação de saldar dívidas e empréstimos anteriores para com esses países, se efetuam a expensas do sacrifício de uma qualidade ambiental local/global. Referimo-nos à exportação de resíduos tóxicos, à permissão e localização de empresas estrangeiras altamente poluentes em territórios de países dependentes que tentam desesperadamente escapar à “margem”, bem como à exportação de tecnologias obsoletas que por serem mais baratas, constituem o parque industrial de muitos desses países marginais.

Mas não apenas nos referimos à exportação dos efeitos indesejáveis (que de uma forma ou de outra acabam por retornar), mas também à atitude irresponsável dos países que, bem no centro do sistema/civilização se escusam a cumprir os acordos internacionais neste contexto. Ora se “o capitão é sempre o último a abandonar o barco”, isto poderá indiciar a necessidade de, neste âmbito, se reavaliar a hierarquia…

A noção de “custo” e de “benefício” é de alguma forma corrompida por um processo económico globalmente estratificado e desigual que lhe subjaz. O que leva a que esta análise não seja possível de efetuar a nível global, ainda que os efeitos reais resultantes da poluição localizada, venha progressivamente a adquirir essa dimensão.

Se considerarmos o princípio implícito na abordagem custo-benefício, de que uma situação de ausência de poluição gera ineficiência económica, uma vez que seria demasiado rígido para com as empresas levando-as a deslocar-se para outras paragens em busca de condições mais rentáveis (menos regulação e regulação menos restritiva); ou num contexto em que se argumenta que nos benefícios sociais marginais se incluem também o consumo e utilização de produto resultante da poluição, seria lúcido tentar compreender que a poluição não é de todo atendida na sua dimensão e impacto negativo, mas gerida localmente pelos imperativos políticos e económicos que privilegia os países que melhor se encontram para negociar e impor as condições de produção e de poluição.

Os políticos fazem economia e os mercados fazem política, trata-se de uma inversão completa do papel do político e da finança. (...)

A concorrência entre nações não se rege de todo pelos mesmos processos de concorrência entre firmas, nem que seja porque os países mais poderosos, têm tendência para mudar as regras do jogo, favorecendo o tipo de regulação que os caracteriza. Se um país dominante perde o futebol, porque não passar para o basebol? (Boyer, cit. in Vindt, 1998: 132)

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Se por exemplo num país central os custos de produção (CMa) exigidos por tonelada de poluição são de 40 000€ por tonelada de poluição, para um benefício social de 250 toneladas de despoluição, num total de 400 t produzidas; então, a empresa tenderá a deslocar os setores poluentes de produção para soluções de mercado mais rentáveis. Procuraria, obviamente, um território (na área semiperiférica ou periférica) de preferência devedor, com necessidade urgente de gerar postos de trabalho, com mão de obra mais barata e onde as preocupações com (BSM) e (CMa) são bastante permissivas e flexíveis (atrativas para o produtor-poluidor). Acaba por estabelecer-se (muitas vezes com o patrocínio de instituições como o FMI ou a OMC) um acordo entre uma empresa/estado, exportando-se as linhas de produção para situações económicas mais eficientes (mas igualmente poluentes) e um outro estado dependente, onde o nível de poluição acaba por ser acessório, se isso conseguir no imediato responder a problemas de alimentação, desemprego, saúde, subdesenvolvimento que os distanciam no Índice do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.

O nível dependente e subalterno destes países da periferia, facilita a negociação e aceitação das condições estabelecidas. Ambos têm um conceito de custo tal como de

benefício, distinto, mas ainda assim legitimado segundo uma lógica que visa a eficiência

económica num espaço desregulamentado de ninguém, que é a pan-economia de mercado. Falamos das questões ambientais, devido ao papel inabalável que este fator assume no presente e projetivamente irá assumir no futuro, na reformulação do sistema capitalista de produção. Mas poderíamos certamente aplicar o mesmo gráfico a outras externalidades que, acabam por significar crescente dependência. Referimo-nos por exemplo, aos apoios sociais e à precariedade de vida que a deslocalização ou relocalização de empresas transnacionais impõe, aos trabalhadores, às indemnizações que ficam por atribuir por danos de saúde ou ambientais27 a médio ou longo prazo, e alteração dos hábitos e costumes locais, substituindo-os pela normatividade consumista.

É evidente que a economia de mercado se movimenta e se desenvolve melhor em áreas desreguladas. Por isso afigura-se como necessário eliminar as áreas de soberania incerta/subalterna, tornando esse espaço global, sob tutela de uma versão reformulada, mais universalista (olímpica) da ONU, que poderia assim cadastrar e responsabilizar, mas

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Relato sobre o efeito bola de neve que a alteração climática provoca no ecossistema global e os efeitos nocivos para a espécie humana. (Grupo de Trabalho de Harvard sobre Doenças Novas e Ressurgentes, 1996; Mander & Goldsmith, 1996: 181-182).

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sobretudo regular em termos de normas e níveis de produção visando uma aproximação com base em indicadores de qualidade de vida (IDH/IPG) (Anexo 21) contrariando a definição do direito universal à qualidade de vida em termos de quem possui maior índice de eficiência-lucro, mais poder militar, ou uma situação privilegiada nas negociações.

Uma reforma deste órgão internacional deveria assim reunir uma série de requisitos para poder intervir como reguladora do mercado e da sociedade global (Apêndice 6). Contudo o futuro afigura a necessidade uma nova roupagem mais representativa das vontades e participação dos diversos países membros. Existem novos velhos problemas que apenas são percecionados após o seu uso e propagação, dos quais temos vindo a tomar consciência que nos levam a questionar a capacidade de resposta e de regeneração do