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ESTUDO DE CASO: ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

3.5 DIAGNÓSTICO

3.5.1 Condições Ambientais e Físicas

3.5.1.6 Espaço Físico e Equipamentos da UAN

3.5.2.2.2 Ritmo e Carga de Trabalho dos Funcionários da UAN

O ritmo de trabalho na UAN é intenso, pois após duas horas da entrada dos funcionários do primeiro turno, começa o acondicionamento para distribuição das refeições transportadas. Há também um pequeno intervalo, de uma hora, entre o término de um turno com fornecimento em torno de 2400 refeições e o início do outro para servir mais de 2000 refeições. Com a entrada dos funcionário s do primeiro turno, dispõem-se de duas horas para o preparo e acondicionamento das refeições transportadas.

Como não há reserva de refeição, é necessário que os funcionários responsáveis pela distribuição acompanhem e analisem o número e o consumo dos com ensais para informar aos funcionários da produção, para aumentarem ou reduzirem a preparação dos alimentos. É necessário, também, que a equipe da distribuição, independente do consumo, consiga reabastecer os quatro bufês antes que as preparações acabem, pa ra evitar transtornos, atrasos e insatisfação dos clientes nas filas, pois têm trinta minutos de almoço.

Outra área com ritmo de trabalho intenso é a de higienização de bandejas, que concentra a devolução de bandejas dos dois refeitórios. A máquina de lavar necessita de abastecimento e retirada constantes, obedecendo ao ritmo de devolução das bandejas no horário de pico. Essa área apresentou o maior índice de ruído registrado na UAN, além da grande quantidade de vapor, excesso de peso pelo volume de bandejas,movimentos de torção de tronco e excesso de umidade e calor, pelas altas temperaturas utilizadas nessa área para a desinfecção das bandejas.

O ruído verificado na pré-lavagem (fig 3.8) variou de 84,5 a 86,7 dB, e o ruído da conferência de bandejas (fig 3.9) é o maior do setor, indicando 92 dB na conferência e empilhamento das bandejas. Deve-se atentar para o volume de bandejas sendo conferidas, necessitando de bastante agilidade e atenção. Nas figuras abaixo, pode-se visualizar a área em

dois momentos, durante a pré-lavagem para abastecimento da máquina (ruído, calor e vapor) e durante a conferência de bandejas (excesso de peso e ruído).

Fig 3.8 Pré-lavagem de bandejas, Santa Catarina, 2001 Fig 3.9 Conferência de bandejas, Santa Catarina, 2001 Os movimentos repetitivos acontecem com freqüência, como na retirada de alimentos dos caldeirões, com grande esforço físico e excesso de vapor. Os utensílios adaptados para os alimentos foram criados pelos próprios funcionários, com capacidade até 20 vezes maior do que os utensílios comuns. Com isso, reduziu os movimentos repetitivos para retirada de alimento dos caldeirões a vapor, mas aumentou o peso dos mesmos, representando um maior esforço físico a cada vez, podendo gerar maior desgaste muscula r.

Outro movimento repetitivo é realizado na abertura de latas de conserva no setor de saladas, chegando a 72 latas de cinco quilos por turno de trabalho. Estavam sendo abertas manualmente porque o abridor mecânico não estava funcionando adequadamente, sendo utilizado abridor manual ou facas, aumentando ainda mais o risco de acidente de trabalho. Nessa atividade, além do movimento repetitivo, há a torção de tronco e levantamento de peso, que requer cuidados.

Nas figuras 3.10 e 3.11 abaixo, pode-se notar a dimensão dos utensílios utilizados para retirada dos alimentos dos caldeirões a vapor, representando uma concha e uma escumadeira, respectivamente. O peso e o vapor são constantes durante a produção das refeições, tornando mais desgastante o trabalho realizado.

Algumas vezes o funcionário possui as condições adequadas mas não as utiliza, seja por falta de conhecimento, orientação ou mesmo por falta de hábito de pensar nas condições de trabalho e na sua própria saúde. No caso da área de escolha do feijão, há instalação de luminárias no posto de trabalho mas que nem sempre são utilizadas pelos funcionários. A figura 3.12, abaixo, mostra a escolha de feijão com a luz da bancada apagada, contrastando com a diferença do posto de trabalho para escolha do feijão com a luminária acesa na figura 3.13.

Fig 3.12 Escolha de feijão - luz apagada, Santa Catarina, 2001 Fig 3.13 Área com luz acesa, Santa Catarina, 2001

A situação ilustrada acima demonstra que o funcionário precisa saber sobre a importância das condições de trabalho oferecidas a ele, para que seja consciente e possa usufruir desses benefícios, da melhoria das áreas.

Os demais problemas ambientais e estruturais são trabalhados pelos grupos de controle da qualidade (CCQ) do setor alimentação, que apresentam estratégias importantes e interessantes para a melhoria das próprias condições de trabalho. Notou-se que os funcionários orgulham-se dos trabalhos desenvolvidos, e estão sempre atentos a futuras intervenções.

Além disso, a UAN demonstrou ser um bom ambiente de trabalho, pelo relacionamento agradável entre os funcionários, nutricionistas e chefia, com liberdade para sanar dúvidas e discutir alguns problemas (até mesmo os pessoais). Os colaboradores da UAN tentam criar boas condições de trabalho, pois trabalham num ritmo harmonioso e descontraído, o que facilita o cumprimento da tarefa de todos, apesar de algumas características indesejáveis, impostas pelo tipo de atividade desenvolvida no setor.

Houve a constatação de que os maiores perigos apontados pelas nutricionistas são referentes aos riscos visíveis, não intervindo em situações como o tempo de permanência de um funcionário em área com ruído elevado, chamada de atenção para a postura inadequada durante o trabalho, ou ainda, a maneira correta para levantamento de cargas. Outros, apesar de

visualizados como perigosos, são tolerados por parecer a única alternativa, como a abertura de latas de conserva com faca, pela quantidade de latas abertas diariamente.

3.5.2.2.3 Treinamentos

Observou-se que algumas equipes estavam apresentando problemas de boas práticas de produção, durante a manipulação dos alimentos, que poderiam representar riscos aos alimentos oferecidos aos clientes, como a contaminação cruzada encontrada na área de carne, pelo contato entre o alimento cru e cozido, diversas vezes, sem troca de luva ou higienização das mãos. Outros pontos foram discutidos nas questões de qualidade higiênico-sanitária e de processo, abordando as diversas etapas.

Com isso, os treinamentos podem não estar tendo o retorno desejado, o que talvez aponte que a forma de abordagem do conteúdo possa ser diferente, de maneira lúdica, ou que os colaboradores da UAN estejam encontrando dificuldades que merecem ser investigadas, para o não cumprimento das orientações ou ainda, que essas não tenham sido compreendidas.