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Rodrigo Gabrioti

No documento PORTCOM (páginas 103-106)

ESAMC – Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação

SCHADEN, Egon. Homem, Cultura e Sociedade no Brasil. [1972]. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1977. 450p.

Assim quis Cronos, o deus grego do tempo: convergir para 2013 o cinquen- tenário das Ciências da Comunicação no Brasil e o centenário do antropólo- go teuto-brasileiro Egon Schaden. Mas o que tais efemérides apresentam em comum? o pensamento comunicacional. As comemorações em torno de um campo multifacetado vão ao encontro da perspectiva antropológica de Schaden. Tal cruzamento se dá por conta do Ciclo de Conferências 50 anos das Ciências da Comunicação no Brasil: a contribuição de São Paulo, realizado entre agosto

1. Doutorando pela Universidade Metodista de São Paulo. Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba e professor do Curso de Jornalismo da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (ESAMC) de Sorocaba. E-mail: rgabrioti@hotmail.com

e outubro de 2013. Os caminhos teórico-metodológicos de acadêmicos, que fincaram Ensino e Pesquisa em terras paulistas, se tornaram quocientes de índices que remetem aos precursores (no qual Egon Schaden está inserido), pioneiros, timoneiros, baluartes, renovadores, investigadores, inovadores e dinamizadores. Como precursor, Schaden está entre autores que pesquisaram o caráter mestiço da cultura brasileira, resultante dos primórdios da colonização em contato poste- rior com a cultura europeia. Essas caracterizações atribuídas aos autores, revelam distintas fases das pesquisas em comunicação, demonstradas a partir de livros se- lecionados, cujos conteúdos essenciais ao campo foram apresentados por dezenas de pesquisadores, em atividade ou não, convidados pela organização do evento.

Se já tomarmos inicialmente por base a questão etnográfica, metodologia tão recorrente nas pesquisas de Egon Schaden, é notório que esse encontro promovido pela Fapesp/Intercom revelou práticas comunicacionais das mais diversas que dimensionam tempos e espaços diferenciados. O passar dos anos mostra avanços, porém, nos indica que há uma condição que permanece atem- poral: a ação do homem. E é justamente do homem, por meio da alteração de seus hábitos e costumes, que se ocupa a Antropologia. Em discussões constantes no campo, observa-se com certa inquietude o porquê da Comunicação ainda não haver se efetivado como Ciência. A interdisciplinaridade é apontada como causa principal. Não há como a comunicação se desvencilhar de certas ciências como a Antropologia, afinal, como apontamos, o indivíduo é fundamental para o desenvolvimento dos atos de comunicação, inseridos na cultura. O que nos parece uma necessidade urgente é rever metodologias e teorias do campo co- municacional, dois temas que merecem ampla discussão, porém fogem da pro- posta deste artigo que é justamente ressaltar a contribuição de Egon Schaden à comunicação a partir de sua obra Homem, Cultura e Sociedade no Brasil, de 1972.

Dispensaremos uma apresentação biográfica de Egon Schaden, o teuto-bra- sileiro que nasceu em Santa Catarina, mas carrega a descendência germânica. Suas primeiras pesquisas acadêmicas, com populações indígenas de Santa Cata- rina, são etnográficas com a proposta de investigar a mitologia dos índios e os fundamentos da cultura guarani. Uma busca incessante por materiais de referên- cia que atendessem seu compromisso maior: a educação por meio da docência. Schaden tinha mais preocupação em ensinar do que propriamente fazer das pesquisas, métodos descritivos que resultassem em teorias.

É por seu trabalho na Universidade de São Paulo (USP) e pela criação da

Revista de Antropologia na instituição, em 1953, que o trabalho de Egon Schaden

criar a cadeira de Antropologia cuja vertente social inglesa toma o lugar, no plano teórico, do culturalismo concebendo assim a Antropologia da pobreza, a Antropologia simbólica e o estruturalismo de Lévi-Strauss, de quem Schaden foi discípulo. A partir da viabilidade da disciplina mais a ampliação do corpo docente, as pesquisas antropológicas se descentralizaram de caiçaras e indígenas para o urbano com questões que passam também pelas relações raciais e os mo- vimentos migratórios. Aliás, o livro em questão, apresentado no Ciclo Fapesp, nada mais é do que uma compilação de artigos de pesquisadores, publicados ao longo do tempo pela Revista de Antropologia, selecionados para a obra que faz um percurso dos indivíduos indígenas, afro-brasileiros, rurais e imigrantes.

Na USP, ao lado de seus alunos, Schaden partiu para investigar a aculturação de imigrantes nipônicos em território paulista, com foco nos problemas da aculturação econômica, sistemas de cooperação, conflito de gerações, acultura- ções religiosa e linguística. O autor não abandona os índios, que representam os primórdios de suas pesquisas, tanto que mantém os estudos sobre grupos tribais com a diferença que agora ele atribui sofisticação teórica a partir da Etnologia e da Antropologia. São os estudos com indígenas e a preocupação com a aculturação que fazem destas duas frentes o recorte metodológico de Egon Schaden.

Isto se demonstra com três trabalhos considerados os mais importantes do autor em sua produção acadêmica. Em A Mitologia heroica de tribos indígenas no

Brasil, Schaden contribui com a etnologia do país sob a ótica funcionalista; já em Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani, desenvolve esquemas teórico-confi-

guracionistas e funcionalistas na Teoria da Aculturação, que o faz “o” autor de seu tempo; e em Aculturação Indígena, faz uma crítica à Teoria da Aculturação que começou a ser demolida pelo estruturalismo de Lévi-Strauss. Seu trabalho ganha relevância na Universidade de São Paulo tanto que se torna uma referên- cia mundial para a Antropologia. Schaden foi quem estabeleceu os fundamentos da Etnologia Brasileira no século 19.

Toda sua produção intelectual o torna palestrante, professor visitante, enfim, garante a ele a difusão do conhecimento Brasil afora. Tanto que ele recebe um convite para assumir a cadeira de Etnologia, na Universidade de Bonn, na Ale- manha. Sai da USP, onde Antropologia fica nas mãos de João Baptista Borges Pereira, mas por motivos pessoais, em especial familiares, ele desiste do Velho Mundo e volta para São Paulo, na década de 70. Um novo convite lhe é feito pela USP, através do diretor da Escola de Comunicações Culturais, Antônio Guimarães Ferri para integrar o corpo docente da Escola. Egon Schaden chega

e viabiliza a disciplina de Antropologia da Comunicação. Com aulas na gra- duação, Schaden procurava analisar, com seus alunos, os aspectos culturais e as mudanças nesse sentido, consideradas rápidas demais para a época, a partir da ótica da Comunicação. Sua linha de raciocínio a respeito da Antropologia da Comunicação era a manutenção, extinção ou fusão de culturas. E a que os se- guidores da disciplina eram estimulados a fazer? Adaptar populações interiora- nas, sobretudo distantes, aos meios de comunicação. A partir desse pensamento, é que a Antropologia da Comunicação se difunde pela América.

Sempre com a preocupação de ensinar, foram dele os principais esforços, bem como toda a articulação, para a instalação do curso de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, nível Mestrado, na Escola de Comunicação da USP. A primeira turma é constituída em 1972. Da perspectiva que demonstra- mos acima, Egon Schaden passa a coordenar, na pós-graduação, uma linha de pesquisa denominada “Cultura Brasileira”. O principal objeto de estudo, que norteava as propostas de pesquisas acadêmicas, era o processo de aculturação dos imigrantes, que vinham das mais diversas partes do mundo para o Brasil. Nesses movimentos, o recorte metodológico proposto por Schaden, era justamente observar os processos de comunicação como edificadores da fusão de duas ou mais culturas. Quando interrompe as atividades docentes, definitivamente, Egon Schaden repassa toda sua trajetória, ligada à Comunicação, para sua primeira assistente, Solange Martins Couceiro de Lima.

No documento PORTCOM (páginas 103-106)