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3 LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS SOBRE ORDENAMENTO TERRITORIAL MUNICIPAL

3.5 OUTRAS NORMAS URBANÍSTICAS COM INFLUÊNCIA NO PLANEJAMENTO MUNICIPAL

3.5.1 Saneamento Básico

A Política Nacional de Saneamento Básico, instituída pela Lei n. 11.445/2007, estabeleceu diretrizes básicas para a matéria, servindo de guia para a organização desse serviço público191. A competência para legislar sobre matéria política é da União, mas de execução é de natureza comum, podendo ser realizada ainda por consórcios públicos.

Dentre as diretrizes da referida política (art. 48), relacionadas com o planejamento, destacamos: a) prioridade para as ações que promovam a equidade social e territorial no acesso ao saneamento básico; b) colaboração para o desenvolvimento urbano e regional; c) garantia de meios adequados para o atendimento da população rural dispersa, inclusive mediante a utilização de soluções compatíveis com suas características econômicas e sociais peculiares; d) adoção de critérios objetivos de elegibilidade e prioridade, levando em consideração fatores como nível de renda e cobertura, grau de urbanização, concentração populacional, disponibilidade hídrica, riscos sanitários, epidemiológicos e ambientais; e) adoção da bacia hidrográfica como unidade de referência para o planejamento de suas ações; e f) estímulo à implementação de infraestruturas e serviços comuns a Municípios, mediante mecanismos de cooperação entre entes federados.

Portanto, trata-se de uma política setorial que incorpora a temática territorial no seu planejamento em prol do desenvolvimento urbano e regional, abarcando inclusive a população rural. Ainda que essa atividade possa ser executada em nível local, a política nacional de saneamento possui forte viés regional, pois adota a bacia hidrográfica como unidade de referência de planejamento e incentiva a cooperação intermunicipal na execução desse serviço.

Essa norma definiu, pela primeira, vez um conceito jurídico de saneamento básico (art. 3º, I), que engloba os serviços de abastecimento de água potável, o esgotamento sanitário, a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos, e a drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas.

Contudo, o referido dispositivo legal não pré-estabeleceu quem é o titular

191 O objetivo da politica nacional de saneamento básico é conectar toda edificação permanente urbana às redes públicas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, que deverão ser devidamente remunerados para dar sustentabilidade a esses serviços. Na ausência de redes públicas de saneamento básico, serão admitidas soluções individuais, observadas as normas editadas pela entidade reguladora e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos hídricos (art. 45).

desse serviço, a despeito de ser essa historicamente uma atribuição local. Assim, tanto Estados (art. 25, §3º) e Municípios (art. 30, V) poderão executá-los segundo suas atribuições constitucionais, inclusive com a delegação do serviço a particulares, o que pode causar conflitos. Assim, a prestação poderá ser feita de forma regionalizada192 ou local, ainda que a primeira opção seja priorizada pela legislação federal.

O titular do serviço formulará a respectiva política pública de saneamento básico elaborando plano (art. 9º) que deverá conter parâmetros de atendimento, direitos e deveres dos usuários, mecanismos de controle social e sistema de informações, observadas as normas nacionais relativas à potabilidade da água. Esses planos deverão ser compatíveis com os planos das bacias hidrográficas e deverão ser revistos a cada quatro anos, anteriormente a elaboração do plano plurianual, que deverão ser precedidas por audiência pública. Exceto quando regional, o plano de saneamento básico deverá englobar integralmente o território do ente da federação.

A alocação de recursos públicos federais e os financiamentos com recursos da União ou com recursos geridos ou operados por órgãos ou entidades da União serão feitos em conformidade com as diretrizes e objetivos estabelecidos nos planos de saneamento básico.

Portanto, os para que os Municípios e Estados possam ser beneficiados por recursos federais, deverão elaborar planificação de acordo com as normas estabelecidas pela União, no plano de bacia hidrográfica e, no caso de execução municipal ou intermunicipal, com as normas estabelecidas pelo plano diretor, que vincula o exercício da atuação pública em nível local.

O Estado do Pará editou a Lei n. 7.731 de 20 de setembro de 2013, que dispõe sobre a política estadual e saneamento básico, mas ainda não aprovou seu plano estadual de saneamento193.

192 A prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento básico ocorre quando há um único prestador de serviço para vários municípios, com uniformidade de fiscalização e regulação dos serviços e compatibilidade de planejamento (art. 14). A prestação regionalizada desse serviço será realizada por (art. 16): a) órgão, autarquia, fundação de direito público, consórcio público, empresa pública ou sociedade de economia mista estadual, do Distrito Federal, ou municipal, na forma da legislação; ou b) empresa a que se tenham concedido os serviços.

193 A Constituição do Estado do Pará dispõe em seu artigo 267 sobre a política se saúde e saneamento que determina aos Estado e Município o dever de garantir o saneamento básico de forma integrada dos diferentes setores da administração pública. Dentre os instrumentos de compatibilização dessa política consta “a ordenação das atividades públicas e privadas para a

Assim, a política nacional de saneamento básico não é uma política de ordenamento territorial, mas suas diretrizes são de observância obrigatória pelos municípios. No entanto, caso o município deseje receber recursos para investimentos do setor por parte da União deverá elaborar o planejamento prescrito pela legislação nacional, inclusive no que se refere ao estímulo à regionalização. 3.5.1.1 Resíduos Sólidos

A política Nacional de resíduos sólidos, editada pela Lei n. 12.305/2010, é uma das subpolíticas da política nacional de saneamento básico. Ela deve compatibilizada com outras políticas de setoriais, dentre as quais citamos a política de saneamento básico, da política nacional de meio ambiente (art. 2º).

Apesar de ser o manejo de resíduos sólidos um dos elementos que compõem o conceito jurídico de saneamento básico, essa política setorial, segundo a legislação em análise, integra a política nacional de meio ambiente (art. 5º) e:

reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos (BRASIL. Lei n. 12.305/2010, art. 4º).

Dentre os instrumentos dessa política estão os planos de resíduos sólidos e os acordos setoriais, os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta, o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes federados (art. 8º).

Por ser considerada uma atividade ligada à proteção ambiental, essa atividade é regida pelos art. 24, VI e VIII da Constituição de 1988, sendo assim uma competência concorrente entre Estados, Distrito Federal e União, cabe a essa última a edição de normas gerais, uniformizando a atividade em o território nacional. Assim, as políticas federal, estaduais e municipais editadas sobre a temática devem ser compatíveis com as diretrizes nacionais.

A política nacional de resíduos sólidos é composta pelos seguintes planos (art. 14): a) o plano nacional de resíduos sólidos; b) os planos estaduais de resíduos

utilização racional da água, do solo e do ar, de como compatível com a melhoria da saúde e do meio ambiente”.

sólidos; c) os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos das regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; d) os planos intermunicipais de resíduos sólidos; e) os planos municipais de gestão integradas de resíduos sólidos; e f) os planos de gerenciamento de resíduos sólidos. Em todo o processo de planejamento é assegurado o controle social.

Em nível federal (art. 15), o plano será elaborado sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente com prazo indeterminado e vigência de vinte anos, a ser atualizado a cada quatro anos, possuindo em seu conteúdo mínimo, dentre outras exigências: a) normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos da União; b) medidas para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos sólidos; e c) diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos das regiões integradas de desenvolvimento instituídas por lei complementar, bem como para as áreas de especial interesse turístico.

Em nível estadual (art. 17) o plano194 também será por prazo indeterminado, abrangendo todo o seu território, com um horizonte de vinte anos e revisões a cada quatro anos. Dentre as exigências de seu conteúdo mínimo, consideramos oportuno destacar: a) a previsão de programas, projetos e ações; normas e condicionantes técnicas para o acesso a recurso do Estado, medidas para incentivar e viabilizar a gestão consorciada ou compartilhada dos resíduos sólidos; b) diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos.

Esse planejamento deverá estar em conformidade com os demais instrumentos de planejamento territorial, especialmente o Zoneamento Ecológico Econômico, identificando zonas favoráveis para a localização de unidades de tratamento de resíduos sólidos ou de disposição final de rejeitos e áreas degradadas que necessitam de recuperação ambiental, bem como de meios de fiscalização no âmbito estadual, assegurado o controle social.

A elaboração de plano estadual de resíduos sólidos é condição para os Estados terem acesso a recursos da União ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal

194 No Estado do Pará a elaboração do plano encontra-se em estudo, sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A questão hoje possui tratamento legal no art. 70 Política Estadual de Meio Ambiente (PARÁ. Lei n. 5.887/1995).

finalidade (art. 16). Serão priorizados no acesso aos recursos da União aos Estados que instituírem microrregiões para integrar a organização, o planejamento e a execução das ações a cargo de Municípios limítrofes na gestão dos resíduos sólidos. Compete também aos Estados a possibilidade de elaboração de planos microrregionais de resíduos sólidos195, bem como planos específicos direcionados às regiões metropolitanas ou às aglomerações urbanas196.

O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos deve estar inserido no plano de saneamento básico, exigível para municípios mesmo que possuam menos de vinte mil habitantes, sendo que nesse último caso o plano poderá ser simplificado197. A legislação federal também estabeleceu um conteúdo mínimo para o plano (art. 19). Consideramos oportuno destacar algumas das exigências previstas: a) identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de rejeitos observado o que dispõe o plano diretor e o zoneamento ambiental; b) identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios; e c) identificação dos passivos ambientais, incluindo áreas contaminadas.

A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos é condição para o Município ter acesso a recursos da União ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais. Terão prioridade na percepção desses recursos os municípios que: a) optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos; b) se insiram de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos; c) implantem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores.

Outro instrumento que deve ser observado na elaboração no planejamento

195 Segundo o art. 17, §3º, os planos microrregionais deverão atender ainda ao previsto para o plano estadual e estabelecer soluções integradas para a coleta seletiva, a recuperação e a reciclagem, o tratamento e a destinação final dos resíduos sólidos urbanos e, consideradas as peculiaridades microrregionais, outros tipos de resíduos.

196 Nesses casos é assegurada a participação obrigatória dos municípios envolvidos e não excluem nem substituem qualquer das prerrogativas a cargo dos Municípios em matérias de resíduos sólidos.

197 O plano municipal de resíduos sólidos poderá ser dispensado caso o município opte por uma solução consorciada, baseado em um planejamento integrado. A existência de plano municipal não exime o município de licenciar os aterros sanitários e outras infraestruturas ou instalações operacionais integrantes do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. No entanto, a inexistência do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não pode ser utilizada para impedir a instalação ou a operação de empreendimentos ou atividades devidamente licenciados pelos órgãos competentes.

para resíduos sólidos são os planos setoriais, firmados em âmbito nacional têm prevalência sobre os firmados em âmbito regional ou estadual, e estes sobre os firmados em âmbito municipal. Na aplicação de regras concorrentes os acordos firmados com menor abrangência geográfica podem ampliar, mas não abrandar, as medidas de proteção ambiental constantes nos acordos setoriais e termos de compromisso firmados com maior abrangência geográfica (art. 34).

Essa política também impõe algumas limitações ao uso e planejamento do solo no âmbito municipal, pois proíbe nas áreas de disposição final de resíduos as atividades de catação, criação de animais domésticos e fixação de habitações temporárias ou permanentes (art. 48). A escolha da localização do aterro sanitário também deverá observar as disposições do plano estadual sobre a temática, no que concerne a localizadas de áreas contaminadas e os locais favoráveis para a localização de unidades de tratamento de resíduos sólidos ou de disposição final de rejeitos e as disposições do plano diretor, se existentes.

A análise das disposições acima indica tratar-se de uma política setorial que utiliza o território como base de seu planejamento. No plano nacional fica evidente a prioridade à regionalização na prestação desses serviços, bem como critérios mínimos para uniformizar a atividade no país, gerando condições para que essa atividade possa ser atrativa à iniciativa privada. Já em nível estadual, a regionalização é reforçada, havendo clara vinculação desse planejamento às disposições estabelecidas no zoneamento ecológico-econômico, mas no Estado do Pará encontra-se ainda em fase de elaboração. No plano local, caso o município não opte por uma opção de gestão intermunicipal, seu planejamento possui direta relação com sua competência constitucional para gestão do uso do solo. O estímulo à associação com a iniciativa privada e o controle social norteiam a atividade de planejamento, que não é obrigatório, mas sua não elaboração limita o acesso a recursos para investimentos.

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