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3 LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS SOBRE ORDENAMENTO TERRITORIAL MUNICIPAL

3.6 INFLUÊNCIA DA LEGISLAÇÃO FUNDIÁRIA NO PLANEJAMENTO MUNICIPAL Considerando que certos bens públicos limitam o exercício do poder de

3.6.3 Terrenos de Marinha, Terrenos Reservados e Várzeas

Conforme dispõe o art. 20, III e VII da Constituição de 1988, pertencem à União: os terrenos marginais e as praias fluviais de correntes de água sob o seu domínio, bem como os terrenos de marinha e seus acrescidos.

A regulação desses bens está contida no Decreto-Lei n. 9.760/1946, que define terrenos de marinha como áreas situadas em uma profundidade de trinta e três metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha da linha de preamar-médio de 1831: a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés; e b)

218 Sobre a possibilidade de alienação de áreas em faixa de fronteira esclarece Carvalho Filho (2006) que mês com a Súmula n. 477 do Supremo Tribunal Federal é necessário conciliar essa disposição com o texto constitucional vigente, limitando-se essa restrição às terras devolutas indispensáveis à segurança nacional. Nessas áreas previamente a serem limitadas só é possível a autorização do uso, o mesmo não ocorrendo com as demais dentro dos limites de 150 km.

os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés (art. 2º). Os acrescidos de marinha são aqueles formados que tiverem se formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimentos aos terrenos de marinha (art. 3º). Cumpre observar que poderão exisitir terrenos de marinha em rios federais e estaduais, uma vez que o critério de influência de maré não transferiu os rios ao domínio da União.

Outro bem público contido na referida lei são os terrenos marginais (art. 4º) definidos como aqueles banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, que vão até a distância de quinze metros, medidos horizontalmente para a parte da terra, contados desde a liha média das enchentes ordinárias. Diferentemente do que ocorre com os terrenos de marinha, que são por determinação legal bens da União, os terrenos reservados serão federais ou Estaduais de acordo com a dominialidade do curso de água navegável que margear219.

Sobre os cursos de água que são apenas flutuáveis, concorrendo para a formação de rios navegáveis não há dominialidade pública, mas apenas uma limitação administrativa, denominada servidão de trânsito, sobre uma faixa de dez metros, estabelecida para os agentes da administração públicas para a execução de serviços (BRASIL. Decreto n. 24.643/1934, art. 12).

Por fim, há ainda as áreas de várzea, categoria de relevância territorial para a realidade Amazônica, mas que não são definidas pela legislação brasileira. Segundo Rocha et al (2010, p.140) “[d]evido as características da várzea amazônica, pode-se afirmar que várzea é a área alagadiça que índice no leito maior de um corpo d’água, formado pelo álveo220 e a calha alargada do rio ou lago”. A definição legal mais próxima que possuímos de várzea está contida na Resolução n. 4, de 18 de setembro de 1985, pois conceitua leio maior sazonal como “a calha alargada ou maior de um rio, ocupada nos períodos anuais de cheia” (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA, 1985, art. 2º, c). A ocupação dessas

219 Segundo o Código de Águas (Decreto n. 24.643/1934) em um mesmo curso de água navegável, a partir do momento que não se faça sentir a influência das marés, passarão as margens passarão a conter terrenos reservados. Conforme dispõe seu art. 15 “o limite que separa o domínio marítimo do domínio fluvial, para o efeito de medirem-se ou demarcarem-se 33 (trinta e três), ou 15 (quinze) metros, conforme os terrenos estiverem dentro ou fora do alcance das marés, será indicado pela seção transversal do rio, cujo nível não oscile com a maré ou, praticamente, por qualquer fato geológico ou biológico que ateste a ação poderosa do mar”.

220 Segundo o art. 9º do Decreto n. 24.643/1934, álveo é definido como “a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural ordinariamente enxuto”.

áreas, ainda que seja inapropriada para fins de urbanização sem que sejam realizados vultosos investimentos em saneamento ambiental, é uma prática na Amazônia, especialmente aquelas em que os rios são o principal meio de transporte. Rocha et al (2010) explicam que sob a ótica da regularização fundiária a várzea deve ser analisada sob dois elementos jurídicos, o recurso hídrico e o leito do rio. Como a partir da Lei n. 9.433/1997 a água é um bem de domínio público, repercutindo sobre o domínio da várzea, tal qual ocorre com os terrenos reservado. Logo, a dominialidade da várzea é sempre pública, mas poderá ser regularizada em favor do Município por meio de outorga de concessão de direito real de uso, nos termos das Leis n. 11.481/2007, 11.952/2009 (art. 25) e Decreto n. 7.341/2010 (art. 10).

No que se refere à regularização dessas áreas situadas em áreas urbanas e de expansão urbana para os municípios, o Decreto-Lei n. 9.760/1946 prevê, em seu art. 64 sua possibilidade de regularização e poderão ser alugados aforados ou cedidos. Essa última modalidade é a mais frequentemente empregada pela União para demandas municipais, pois tem caráter não oneroso. No entanto, trata-se de ato administrativo que não transfere direitos reais, não obstante possa ser convertida em uma concessão de direito real de uso, que mesmo assim limita a atuação do ente local, em especial para gerir esse bem em programas de regularização fundiária.

O uso de bens dominicais da União por particulares, que outrora era tolerado para apenas pequenos agricultores (BRASIL. Decreto n. 24.643/1934, art. 11, §2º), está atualmente regulado pela Lei n. 9.636/1998, que dispõe sobre a regularização, administração, aforamento e alienação de bens imóveis de domínio da União, cuja execução ficou sob a responsabilidade da Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, criou novas modalidade de regularização de ocupantes urbanos e rurais.

A temática também é tratada na lei n. 11.952/2009 no que concerne aos terrenos de marinha e terrenos marginais localizados na Amazônia Legal221 (art. 4º,

221 Identificamos no Decreto n. 7.341/2010 disposições interessantes sobre a temática. Primeiramente, a delimitação dessas áreas, quando federais compete à Secretaria de Patrimônio da União, indicando a faixa de área não suscetível de alienação (art. 6º), que será definida em cada uma das áreas requeridas pelos Municípios e se estenderá até o limite de quinze metros, para áreas localizadas em terrenos marginais e trinta e três metros para as áreas localizadas em terrenos de marinha a partir da linha das cheias dos rios federais ou da linha de preamar máxima, conforme o caso, devendo ser desconsiderados os aterro e acrescidos (art. 7º, §§ 2º e

§1º; art. 26, §3º).

Ante o exposto, a existência desses bens em áreas urbanas e de expansão urbana já está regulamentado, bem como sua transferência ao ente federado municipal, a título de domínio pleno ou útil em nível federal. No entanto, sua delimitação além de ser complexa, depende de atuação de ente supralocal. O gerenciamento de concessões feitas a terceiros em programas de regularização fundiária em que foi apenas expedida concessão de direito real de uso em favor do Município terá de ser repassado ficará à cargo da União.

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