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3. Linguagem visual

3.1 Semiótica

A semiótica estuda os diferentes tipos de signos sendo considerada como a sua ciência.

Derivada da palavra semion (signo), a semiologia ou semiótica, nasceram no início do século XX com definições distintas comparativamente à sua origem europeia e americana. A semiótica de origem americana define-se como filosofia das linguagens enquanto que a semiologia surgiu na Europa designa-se pelo o estudo de linguagens especificas (imagem, teatro, entre outros). Deste modo Argan (1988, p.157) refere que “a crítica que procura no signo o princípio estrutural do facto artístico afirma-se como

Figura 47 – JOLY (1999, p.30)

ciência dos signos, semiologia, já não se deduz as suas metodologias de uma filosofia da arte ou de estética, mas da linguística.”

Segundo Brochand (1999), “a semiologia dá um contributo relevante para a compreensão dos fenómenos de comunicação em geral e ao funcionamento de cada mensagem em particular”, no entanto aparentemente universal, a semiologia tem um domínio de competências especializado, sendo uma ferramenta de análise e não um instrumento criativo.

Joly (1999, p.29) refere que a semiologia “serviria para estudar os diferentes tipos de signos que interpretamos, integrando-os numa tipologia e encontrando as leis de funcionamento das diferentes categorias de signos, essa ideia é recente e remota ao princípio do nosso século.”

Esta é marcada pelos percursores, Ferdinand de Saussure (1857-1913) e Charles Sanders Peirce (1839-1914) que dedicaram parte do seu estudo ao entendimento do signo como sistema linguístico.

Saussure, dedicou o seu estudo à linguística onde examinou as unidades construtivas da língua (sons, fonemas, monemas), assumindo que a língua não é o único sistema de signos comunicacional utilizado pelo homem. Segundo Joly (1999), Saussure ao estudar a natureza do signo linguístico descreve-a como uma entidade psíquica com duas faces indissociáveis, ligação a um significante (sons) a um significado (o conceito).

Assim, o mesmo desenvolve o modelo linguístico (Figura 47), mais tarde expandido para todos os sistemas de signos, onde representa a relação do significante (St) – face perceptível do signo – com um significado (Se) – o que significa. Neste sentido, Montmollin (1990, p.94) refere que “em semiologia clássica designa-se por motivação de um signo a ‹‹distância›› que o sujeito deve percorrer entre o significante e o significado para dar ao signo um significado (signos motivados são, por vezes, denominados ‹‹símbolos››).”

MODELO LINGUÍSTICO DE SAUSSURE

S

e

S

t

Figura 48 – VOLLI (2003, p.87)

Sintetizando, Aprile (2003), menciona que a semiótica analisa e interpreta os significados que os homens comunicam implicando, deste modo, toda a comunicação por mais vulgar que seja, trata-se sempre de uma comunicação significativa.

A análise da significação estuda o resultado da interacção entre o emissor e receptor, focando-se no destinatário, ou seja, no modo como a mensagem é compreendida. Assim, Castro (2007) considera como “processo de significação” a atribuição de um significado à mensagem que tem como objectivo a descodificação correcta pelos destinatários.

O significante trata da imagem como um todo, um repetitório de traços gráficos que cria determinado significado. Assim, trata-se de um código que posteriormente é descodificado e compreendido pelo receptor, conforme a cultura inerente ao mesmo, sendo o significado dependente da cultura de determinada sociedade.

Os conhecimentos de Saussure foram retomados mais tarde por Ronald Barthes (1915-1980), que propôs o acréscimo da relação sígnica do significado e significante com a conotação e denotação. Segundo Volli (2003, p.70) “a conotação nasce da relação entre o significante e o significado”, enquanto a denotação faz a relação directa do signo. O mesmo autor refere que a denotação se encontra interiormente da conotação, assim um signo ao se tornar de significante a significado, torna-se num significante de um novo signo conotativo (Figura 48).

Em suma, Castro (2007) refere que “a denotação respeita àquilo que é fotografado; a conotação, à forma como é fotografado.”

A formação de significados em cascata resulta da atribuição de novos significados e na atribuição de um novo sentido do signo, por exemplo, um semáforo que se apresente na fase do vermelho (significante 1) representa paragem (significado 1) e pode assumir uma conotação de obrigação (significante 2) do qual tem um significado de multa (significado 2). A paragem representa uma denotação pois resulta do sentido imediato do signo originando uma segunda atribuição, ou seja, causando outras conotações face aos conhecimentos apreendidos no signo base.

CONOTAÇÃO E DENOTAÇÃO

2. signo conotativo 1. signo denotativo significante 2 significado 2 significado 1 significante 1

Uma mensagem icónica, segundo Joly (1999, p.112) “(...) joga por intermédio do processo de conotação, ele próprio sustentado por conotadores de diversa ordem: usos socioculturais dos objectos, dos lugares ou das posturas (...)”.

Charles Pierce, um dos fundadores da semiótica moderna, defende que um signo mantém uma relação entre três polos e não apenas de dois como defendido por Saussure (Figura 49).

Através do triângulo, Pierce representa a dinâmica do signo durante o processo semiótico. Começa pelo que é variável do signo – Significante (St) – de seguida o que se representa – Objecto – e por último o significado mental traduzido pelo signo – Significado (Se).

Por exemplo uma fotografia (significante) que representa um grupo de indivíduos (objecto/referente) pode significar “fotografia de família” ou “alegria” no contexto da publicidade (significados). (Joly 1999)

Pierce define a classificação dos signos, esta em uso para o seu estudo. Segundo Aprile (2005, p.91), a construção do significado está intimamente vinculada com os ícones, signos, símbolos e códigos referentes a um contexto cultural.77 Deste modo,

distinguem-se os três tipos de signos: ícone, índice e símbolo.

Figura 49 – JOLY (1999, p.33)

77 TL., “(...) la construcción del significado está íntimamente vinculada con los iconos, los signos, los símbolos y los códigos en su debido contexto cultural.”

Imagem 33 – Adolf Hitler – Exemplo de signo icónico Fonte: Wikipédia (2012)

Imagem 34 – Saudação Nazi (Mocidade portuguesa) by Bernand Hoffman – Exemplo de signo índice Fonte: Rua da judiciaria (2012)

Imagem 35 – Identidade visual Nazi – Exemplo de signo simbólico Fonte: Neonazismo (2012)

O ícone tem uma relação de semelhança com o objecto, como é o caso da fotografia, desenho figurativo ou até uma simplificação gráfica. Assim, segundo Joly (1999, p.37), “a imagem não é todo o ícone mas é um signo icónico, do mesmo modo que o diagrama e a metáfora.”

Este consiste num signo cuja forma corresponde ou se assemelha ao objecto a que se refere (referente) ou a uma das suas características. (Castro 2007)

Quanto ao índice, segundo Castro 2007, trata-se de uma ocorrência casual ou probabilística relacionada com o seu referente, por exemplo erguer a voz pode indicar perigo tal como as pegadas sugerem a passagem de alguém. Assim, estes signos mantêm uma relação de continuidade física com o que eles representam. No entanto, um signo índice pode possuir uma dimensão icónica, uma vez que se pode assemelhar ao que representa.

Por último, o símbolo pode não ter nenhuma correspondência ou semelhança com o objecto que representa, podendo ser arbitrário e exigindo conhecimento prévio para o seu entendimento. Exemplificando podem-se apresentar como símbolos os sinais de trânsito, bandeiras e a linguagem escrita.

As Imagens 33, 34 e 35 exemplificam símbolos, dos quais o ícone (Adolf Hitler) resulta da simplificação de uma imagem do representante (personagem), uma figura pública representativa do partido nazi.

O segundo exemplo representa a saudação nazi, um movimento característico do partido nazi.

O último exemplo refere-se ao signo simbólico (Imagem 35), o mesmo usado para identificar o partido nazi, caracterizado pela forma abstracta.

Os símbolos caracterizam-se pela presença de elementos base que possam – ou não, caso sejam abstractos – caracterizar determinado objecto/representante. Garcia (2005, p.48) refere que estes “são formados por sinais gráficos, gestos ou expressões e cumprimentos repetidos pelos adeptos de uma determinada corrente.”

Deste modo, os signos podem apresentar-se sob a forma de icónices, índices ou simbólico (Imagem 36).

O recurso a elementos figurativos e aos signos é um ponto essencial para a propaganda e para a publicidade. Segundo Lillerker (2006, p.163), no coração da verdadeira propaganda existem três elementos-chave: a retórica, o mito e o simbolismo.78

Imagem 36 – Exemplos de símbolos aliados ao regime Nazi