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4. Componentes da mensagem visual

4.1 Suporte

Antes de materializar a mensagem gráfica, deve ter-se em conta o suporte em que a mesma será exposta, nomeadamente se será digital ou impressa.

Dentro de cada uma destas variáveis encontramos inúmeras possibilidades de suporte. No digital, pode tratar-se da execução de um banner, de um website ou até do desenvolvimento visual de uma página em redes sociais. Em meios analógicos, pode variar entre um cartaz, outdoor, flyer ou até de um moupie, cada um distinto quanto à sua forma/função no entanto todas elas caracterizadoras de um projecto gráfico.

Nesta medida é essencial identificar em que suportes a mensagem vai ser transmitida.

No meio impresso destaca-se a escolha do tipo de papel e o modo como vai ser produzido, envolvendo obstáculos que deverão ser controlados antes de se dar o processo de criação. Neste sentido, Barbosa (2009, p.106) refere que “conhecer os papéis existentes no mercado, as suas características e a sua melhor aplicação é de extrema importância para o designer, director de arte ou produtor gráfico, por duas razões principais: primeiro, por esse ser um dos elementos do design que afecta a qualidade do trabalho (...)”. A escolha do papel pode afetar a cor através da opacidade, brilho ou revestimento, sendo deste modo um problema a discutir previamente à fase de concepção.

Em suma, a escolha do suporte gráfico é catalisadora para a recepção da mensagem, dependendo dos objectivos estabelecidos. Em política, o grande expoente comunicativo que marcou a história foi o cartaz. Contudo, nos dias de hoje é frequente o uso de outros suportes, tais como os meios digitais, para a exposição propagandista ou publicitária de um candidato.

4.1.1 O cartaz como suporte gráfico na esfera política

Definido como “Papel que se afixa nas paredes ou lugares públicos, anunciando espetáculos, produtos comerciais, ou contendo qualquer informação de que se quer que o público tome conhecimento”79 contudo este pode passar a ser considerado “poster”

quando o mesmo passa a ser afixado em lugares interiores apenas como meio decorativo. Apesar destas duas palavras serem regularmente definidas como o mesmo, é de referir que, embora se refiram ao mesmo objecto, cumprem duas funções diferentes.

Como referido o cartaz tem o objectivo de anunciar algo ou determinado evento, sendo essencial apresentar a data, a partir da qual o mesmo deixa de ter utilidade.

Cesar (2001) indica que "o primeiro cartaz conhecido é de Saint-Flour, de 1454, feito em manuscrito, sem imagens”, contudo é na segunda metade do século XIX que

o cartaz tem um crescimento e aprofundamento ao nível publicitário, através da invenção da litografia. Nomes como Jules Chéret, Henri Toulouse-Lautrec, Alfons Mucha marcam o seu trabalho com vários cartazes, sendo considerados os “grandes” percussores deste objecto gráfico.

Jules Chéret (1836-1932), “designer” da época francesa foi um dos pioneiros de cartazes publicitários. Os seus trabalhos são caracterizados pela utilização de cores vivas e o pouco uso de tipografia. Este artista estuda litografia entre 1859 e 1866 em Londres, onde foi fortemente atingido pela abordagem britânica na construção do cartaz.

De regresso a França, faz cartazes para variados eventos, entre os quais cabarés e teatros como Olympia, Théâtre de l'Opéra, o Alcazar d'Été e Moulin Rouge. Resumindo, este artista gráfico foi um dos impulsionadores para uma nova geração de “designers” da época em França, como Henri Toulouse-Lautrec, Charles Gesmar e Georges de Feure. Em suma, o cartaz foi um expoente para o surgimento de novos ideais, como se observa em casos onde assume a função de impulsionador para a independência da mulher. O mesmo permitiu o nascimento de novos estilos gráficos, assim como também foi um meio de expressão artística, mas sobretudo, comunicativa e comercial. O cartaz teve como benesse o surgimento do cinema também ele em França através dos irmãos Lumiere (1895), o que proporcionou a necessidade da comunicação acerca de um novo filme tornando-se o cartaz num meio regularmente utilizado.

Numa abordagem política, desde sempre que o cartaz foi utilizado como um recurso para manipulação de ideais, sobretudo em regimes totalitários. Segundo Heller, o cartaz propagandístico compreendeu um papel importante na ascensão do regime Nazi.80

Viana (2003, p.2) refere que “o cartaz e o outdoor, enquanto instrumentos de comunicação de massas, tornaram-se, ao longo dos tempos, grandes potenciadores da mensagem política”. Os mesmos contribuíram muitas vezes para o surgimento de vertentes artísticas como é o caso do construtivismo observado na Rússia ou até do realismo heroico (heroic realism) também ele observado nas potências Rússia e Alemanha no século XX.

No caso do construtivismo, usado na propaganda Russa e sob influências do futurismo exploravam-se as formas geométricas em cartazes, com o fim a transmitir uma ideia de modernidade, entrada no contexto político.

80 TL., “The propaganda poster actually played a greater role in the Nazis rise to power that in generally realized: when the radio was shut off, the cinema dark, and the political meetings over, the poster still stood on every street coner.”

Assim, Viana (2003, p.12) refere que “a inovação e o dinamismo, inerentes à revolução socialista, conseguiram, de certa forma, ser reproduzidos pelas criações deste movimento artístico.”

Após a tomada do poder em 1917, Lenine, reforça toda a propaganda política com o fim endurecer a ideologia do regime caracterizando assim uma identidade própria ao mesmo. O cartaz passa a ter uma fusão com a arte e a ideologia política à qual a Rússia se deparava no momento. Marcado pela presença de artistas como El Lissitzky, Wassily Kandinsky e Alexander Rodchenko (este último considerado por muitos o pai da propaganda soviética), que formam os princípios do construtivismo, tornando-os nos expoentes máximos desta corrente artística. Heller (2011, p.100) refere que mais importante que esta inovação artística, foi a fusão da política e da arte reflectindo estes tempos revolucionários.

Em Portugal, o uso do cartaz foi notório nas campanhas do estado novo através do regime Salazarista, contudo o expoente máximo deu-se no pós 25 de Abril aquando da população começar a possuir uma cultura política elevada assim como um grande interesse pela mesma.

Hoje em dia, o cartaz como meio de propaganda é utilizado frequentemente, sendo ele um componente indispensável numa campanha eleitoral, contudo também é utilizado o outdoor81, (considerado o “filho” do cartaz) com mais permanência devido

ao mesmo ter uma taxa de visibilidade de maior percentagem.

O outdoor, apenas começa a ser utilizado em Portugal em campanhas eleitorais na década de 80. No entanto este objecto gráfico, por ter um custo elevado, não possibilita a todos os candidatos políticos o seu uso, ficando muitas vezes apenas por um suporte mais reduzido como é o caso dos cartazes e flyers.

Neste sentido, Portas (1999) afirma que “o elevado custo das campanhas de publicidade, onde se vendem ideias como quem vende um shampoo, (...) é caríssimo”

Em síntese o cartaz como meio de propaganda foi um objecto gráfico essencial para fixar a imagem de um candidato/partido perante determinada população.