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Para analisarmos com a necessária historicidade as diferenças entre as atitudes e ações políticas dos dois blocos que estudamos, é preciso saber a limitações e os objetivos imediatos deles. A história e o sucesso da União Européia têm sido maiores, o que eliminou grande parte dos problemas imediatistas que hoje possui o Mercosul. Outros fatos como a evidente independência econômica e política da Europa, possibilitaram tal sucesso. Mesmo assim, ambas saídas apresentam-se como evidentes caminhos cooperativos no lugar de lutas fratricidas, custosas, tanto em vidas humanas quanto em valores materiais.

Porém, o menor grau de desenvolvimento do Mercosul, quer dizer dos países que o compõem, ou seja do Brasil e da Argentina, não deveria inviavilizar todas as decisões e políticas que estão fora da órbita econômica. Na Europa, mesmo com o economicismo triunfante, existiam outras políticas. A importância maciça das decisões econômicas sobre o total é observada no QUADRO 8 Mais de 70% das decisões tomadas referem-se ao âmbito comercial e empresarial, e apenas um minúsculo 2,3% pertencem às áreas do trabalho, a educação e o ambiente. O resto da sociedade civil restrita não tem nenhuma disposição.

Este foco somente econômico, não obstante, não é explicado como uma determinação ontologicamente necessária. O que queremos salientar já desde o começo é o fato de existirem outras possibilidades, variáveis e saídas, mais além do que os dados possam aparentemente concluir. Se o economicismo prima dentro do Mercosul, é produto de uma escolha, aliás, de uma teimosa opção, e não uma inabalável e determinada obrigação.

As assimetrias entre a economia brasileira e o resto do bloco e os efeitos da crise cambial do país (1999), junto à dolarização do peso argentino, são fatos que falam sozinhos dos problemas, tanto econômicos quanto organizativos e cooperativos, do MERCOSUL. As dificuldades constantes fazem com que seja muito difícil chegar a acordos estáveis como na Europa. Se Alemanha e França ultrapassaram os seus atávicos enfrentamentos, e fizeram do acordo a sua melhor arma para o desenvolvimento, não pode-se dizer isso da Argentina e o Brasil, que semelham, sobre todo a primeira, mais as posições dos britânicos com respeito

ao continente.

Argentina encontra-se no que diz respeito às exportações, muito ligada^^ à relação com Brasil, enquanto o Brasil apenas destina 13,39% do que exporta a Argentina. O crescimento do comércio argentino foi desenvolvido em uma estreita dependência com o Brasil desde os primeiros 90.

QUADRO 8

Temas

Resoluções do mundo dos negócios/comércio Resoluções de âmbito institucional do Mercosul

Quantidade 331 064 71,6 14,0 Outros

Resoluções do mundo do trabalho Resoluções da área da educação

Resoluções da área do meio ambiente

056 004 004 003 4 6 Z7 5 .. 12,1 0,8 0,8 0,7 100% Fonte; Boletim de integração latino-americana, n° 18, jan/jun/1996, p. 185.

A desvalorização do real ameaçou com modificar o superávit argentino com a única zona (Mercosul) onde o tinha. Na verdade, isto têm a ver com o fato de o Brasil responder por 70% do PIB do bloco. Portanto, qualquer mudança na política econômica deste país repercute nas demais economias do Mercosul. Paralelamente, o governo Menem, unilateralmente tentou introduzir o dólar como moeda local^^,- como recentemente aconteceu no Equador (Setembro de 2000) -, ainda que só chegasse a uma dolarização do peso. Este tipo de decisões mostra a distância que existe entre a EU,- onde as políticas macroeconômicas consensuais são o seu melhor sucesso -, e o Mercosul.

Argentina exportava para o Brasil a terça parte de ftido o que vendia no exterior durante os 90: quase todo o arroz; 90% e dos automóveis e autopeças; 86% do leite e metade do algodão.

A abertura financeira constituiu o ponto central da política menenista de estabilização monetária. A estabilidade aplacava a inflação e fazia ao pais possível alvo dos investimentos externos (Freitas & Prates 1998:173-74). O seu sucesso foi quase total no que diz respeito aos valores macro, não em vão. Menem

Este tipo de decisões, é claro, acabam afetando aos “parceiros”, assim, a desvalorização brasileira cortou o crescimento econômico argentino, semeou a desconfiança dentro do bloco e influenciou de maneira negativa na quantidade de investimentos que chegava à região. Segundo Ponte et alii, "Neste aspecto, se prejudicou

mais justamente o país que mais se heneficiava do bloco, no caso, a Argentina"

(2000:174).

6.1 O BLOCO SUL AMERICANO

No primeiro de janeiro de 1995 foi estabelecida a União Aduaneira entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, primeira ação direta do bloco conformado em 1991 pelo Tratado de Assunção. O Mercado Comum do Sul reúne cerca de 200 milhões de habitantes e um PIB estimado em torno de 800 bilhões de dólares (ou seja, cerca de metade do PEB da América Latina).

1. Tratado de Assunção para a Constituição do M ercosul (TA)

O tratado é o instrumento jurídico central do Mercosul, mas não cria o mercado comum, apenas define os seus objetivos e os meios para alcançá-los. Enxerga uma integração econômica, cuja primeira etapa seria a formação de uma União Aduaneira através do:

• Estabelecimento de um programa de liberalização comercial por meio da eliminação de barreiras alfandegárias e não-alfandegárias;

• a coordenação de políticas macroeconômicas;

• a criação de uma tarifa externa comum para elevar a competitividade internacional do bloco e promover economias de escalas eficientes

Protocolo de Ouro Preto Sobre Aspectos Institucionais

O protocolo, assinado em dezembro de 1994, estabelece a estrutura institucional do Mercosul, os seus órgãos decisórios e as suas atribuições. Também, cria um mecanismo consensual para a solução dos conflitos entre os países membros, o Tribunal de

Controversas^^, o qual não tem sido muito utilizado, preferindo-se apelar a instituições extra bloco como a OMC.

Os órgãos decisórios são.

• Conselho do Mercado Comum (com as atribuições definidas pelo Tratado de Assunção, TA);

• Grupo do Mercado Comum (com as atribuições definidas pelo TA);

• Comissão de Comércio, que visa acompanhar a implementação da União Aduaneira e revisar os temas relacionados às políticas comerciais comuns.

• Comissão Parlamentar Conjunta (CPC), órgão de representação dos Parlamentos Nacionais, cuja função é coadjuvante. Suas recomendações são encaminhadas ao Conselho do Mercado Comum através do Grupo Mercado Comum;

• Fórum Consultivo Econômico e Social (FCES), órgão de representação dos setores econômicos e sociais dos países integrantes, com função meramente consultiva. Suas recomendações são encaminhadas ao Grupo Mercado Comum.

• Secretaria Administrativa (Mello 2000).

Mesmo com este complexo quadro (Quadro 9, Fonte Ministério das Relações Estrangeiras http://www.mre.gov.br/sitemercosul/textos/default.asp?Key=99), não se pode falar de instituições do bloco nem de amplo desenvolvimento regional, jà que os acordos reais alcançados até agora não chegam sequer ao patamar de uma união alfandegária, falando-se, portanto, de União aduaneira incompleta (Ponte et alii 2000).

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Sol|r|.^ seu funcionamento e atividades, ver o interessante trabalho de Almeida (2000).