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5 ATIVIDADE ORIENTADORA DE ENSINO: UM CONTEXTO PARA A

5.2 Situação desencadeadora de aprendizagem

Antes de compreendermos a situação ou problema desencadeador de aprendizagem na perspectiva da Moura (1996) e a sua importância pedagógica na construção de uma Atividade de Ensino, tentaremos expor o que consideramos como problema e como essa concepção está ligada a uma situação desencadeadora de aprendizagem.

Segundo Moretti (2014), muitos educadores matemáticos possuem dúvidas sobre a própria compreensão do que é um problema, o que pode ser considerado como obstáculo para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que buscam produzir significados a partir desse conceito.

Dessa forma, recorremos a literatura para apreender diferentes acepções sobre o termo “problema”, das quais destacamos as seguintes:

Um problema significa buscar conscientemente alguma ação apropriada para alcançar um fim claramente concebido, mas não imediatamente atingível (POLYA, 1962, p. 117).

É tudo aquilo que não sabemos fazer, mas que estamos interessados em fazer (ONUCHIC, 1999, p. 215).

Um problema é, de certa forma, uma situação nova ou diferente do que já foi aprendido, que requer a utilização estratégica de técnicas já conhecidas (POZO, 1998, p. 15).

É toda situação em que se tem um planejamento inicial e uma exigência que obriga a transformá-lo. O caminho, para passar da situação ou planejamento inicial à nova situação exigida, tem que ser desconhecida e a pessoa deve querer fazer a transformação (PÉREZ; CABRERA, 2000, p. 118).

Problema é toda situação em que os alunos necessitam pôr em jogo tudo o que sabem, mas que contém, também, algo novo, para o qual ainda não têm resposta e que exige a busca de soluções” (MARINCEK; CAVALCANTI, 2000, p. 151). Qualquer tarefa ou atividade para a qual os estudantes não têm métodos ou regras prescritas ou memorizadas, nem a percepção de que haja um método específico para chegar à solução correta (VAN DE WALLE, 2001, p. 42).

Nunes (2010) ao analisar as acepções acerca do termo “problema” constata algumas condições comuns pontuadas pelos autores que podem favorecer o ensinar e aprender conceitos matemáticos. A principal condição pontuada pela autora tem por cerne a atividade do professor que deverá propor ao estudante somente problemas acessíveis ao mesmo, de modo que o estudante tenha um conhecimento prévio para desenvolver soluções para os problemas propostos, se sinta motivado para resolvê-los e que facilite o desenvolvimento de sua intuição e criatividade, conduzindo-o ao desenvolvimento das suas funções psíquicas superiores.

No campo da Educação Matemática, a ideia de problema está vinculada ao desafio do novo, que mobiliza o sujeito para resolvê-lo a fim de satisfazer determinada necessidade. Logo, o problema não é um exercício em que o estudante aplica, de maneira automatizada regras e procedimentos, mas sim, um convite para que o estudante mobilize ações que desenvolvam sua capacidade de interpretar, investigar, pensar, relacionar, analisar e inferir.

O olhar estabelecido nesta pesquisa sobre as acepções do termo “problema” nos remete a sua importância para o processo de ensino e aprendizagem, onde as possibilidades de compreendermos o seu significado nos conduz a formas distintas de conceber e organizar o ensino.

Na perspectiva histórico-cultural, o problema surge no processo de ensino e aprendizagem no sentido de provocar a elaboração de situações-problema de aprendizagem que embutam em si a necessidade do conceito. Para Saviani (2000, p. 21), a constituição de um problema está intrinsicamente ligado a sua necessidade, assim

A essência do problema é a necessidade. [...] Assim, uma questão, em si, não caracteriza o problema, nem mesmo aquela cuja resposta é desconhecida; mas uma questão cuja resposta se desconhece e se necessita conhecer, eis aí um problema. Algo que eu não sei não é problema; mas quando eu ignoro alguma coisa que eu preciso saber eis-me, então, diante de um problema.

Moretti (2014) em consonância com as ideias de Saviani (2000) propõe que a situação- problema prediz uma primeira aproximação do estudante com o objeto de saber, na qual o problema designa processos que satisfazem a sua necessidade, criando condições para que o sujeito que aprende se aproprie do conhecimento historicamente construído pelo homem, humanizando-se.

Pelo contextualizado, ao pensarmos na organização do ensino, o professor de Matemática tem como desafio propor problemas que coloquem para os estudantes situações desencadeadoras de aprendizagem que ao serem resolvidas pelos mesmos provoquem a apropriação e a objetivação dos elementos essenciais do conhecimento que se pretende ensinar.

Moura (1996) defende à necessidade de o professor realizar a síntese histórica do conceito como um caminho para superar o desafio imposto ao docente de propor problemas que realmente se constituam em situações desencadeadoras de aprendizagem. Em outras palavras, a organização do ensino, que privilegia o movimento lógico-histórico do conceito pode se constituir numa ação metodológica que têm na essência do conceito a base para o desenvolvimento de situações-problema desencadeadoras de aprendizagem.

Nesse sentido, o professor visando uma aprendizagem significativa dos conceitos que quer ensinar deve partir de situações-problemas que sejam significativas para o estudante, podendo ser materializadas por meio de diferentes recursos metodológicos, dentre os quais se encontram os jogos, as situações emergentes do cotidiano e a história virtual do conceito.

Para melhor compreender os recursos propostos por Moura (1996), nos apoiamos na sistematização proposta por Vaz (2013, p. 39).

Figura 11 - Recursos da Atividade Orientadora de Ensino

Fonte: Vaz( 2013 ).

A finalidade principal das situações desencadeadoras de aprendizagem consiste em envolver o estudante na busca da solução de um determinado problema, de modo a satisfazer uma determinada necessidade, que pode justificar a sua produção em certo momento histórico da humanidade. Segundo Moura et al. (2010, p.106), a solução da situação-problema deve ser realizada de forma coletiva, quando “aos indivíduos são proporcionados situações que exigem

o compartilhamento das ações para a resolução de uma determinada situação que surgem em certo contexto”, a qual foi denominada de síntese coletiva.