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CONHECIMENTO NÍVEL QUANTIDADE

3. CAPÍTULO III – CAMINHOS METODOLÓGICOS

3.1 SITUANDO OS PARTICIPANTES E OS INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Pesquisar é a forma que encontramos para obter conhecimento sobre determinada temática. Para Gatti (2002), o ato de pesquisar deve vir acompanhado de certas características específicas, pois não se busca com ele qualquer conhecimento, mas, sim, através dele ultrapassar um entendimento imediato na compreensão do que estamos observando. Um conhecimento que poderá ultrapassar ou até negar as primeiras impressões que podemos ter sobre o que desejamos estudar. Fazemos pesquisa para buscar a explicação, a descrição e a compreensão de algo. E, para que isso seja possível, vamos percorrendo caminhos que nem sempre se mostram claros à primeira vista, mas vão se constituindo no decorrer da caminhada, pois a produção científica ocorre no tempo e no espaço e, assim, ela é dinâmica e em constante mudança.

Mas, para iniciar a caminhada, precisamos nos ater a determinados critérios. Ou seja, ―[...] o conhecimento obtido pela pesquisa é um conhecimento vinculado a critérios de escolha e interpretação de dados, qualquer que seja a natureza desses dados‖ (GATTI, 2002, p. 10). Dessa foram, os conhecimentos obtidos estarão sempre vinculados às escolhas que fizemos no caminho para a obtenção das informações. Para Minayo (2014), o conhecimento científico acontece no processo de articulação entre as bases teóricas e a empiria e, dessa forma, os caminhos metodológicos nos auxiliam a tornar plausíveis os dados a partir das perguntas que nos moveram na construção da pesquisa.

Para o alcance dos objetivos propostos neste trabalho, realizamos um estudo de caso com base nas ideias de André (2005), que considera a importância de tal procedimento metodológico na pesquisa educacional. Para a autora, quando temos o interesse em investigar os fenômenos educacionais no contexto onde estão inseridos, o estudo de caso permite descrever ações e comportamentos, captar significados e compreender e interpretar linguagens, sem desvinculá-los dos contextos em que se manifestam.

Nessa pesquisa, o contexto foi a Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, sendo os participantes, as professoras de Educação Física que trabalham com os grupos de bebês, ou seja, as crianças que estão inseridas nos grupos de G1/berçário. Em 2014, quando iniciamos a primeira etapa da pesquisa, a RMEF contava com 33 unidades que

atendiam grupos de G1/berçário, sendo 30 creches e 03 Neis35. Uma das professoras, com carga horária de 40 horas semanais, atuava em duas dessas unidades, com 20 horas em cada uma36. Dessa forma, para a pesquisa foram consideradas 32 professoras.

Para a obtenção das informações, e o alcance dos objetivos expressos, nossa pesquisa se dividiu em duas etapas. Na primeira etapa utilizamos um questionário37, contendo perguntas fechadas e abertas, que envolveu a totalidade das 32 professoras. A utilização do questionário, nessa etapa da pesquisa, foi importante na captação dos aspectos mais gerais, buscando identificar essas professoras e os elementos que envolvem sua prática pedagógica junto aos grupos de bebês. O questionário teve nessa pesquisa um papel de complementaridade, permitindo uma primeira aproximação ao campo, e fornecendo elementos que auxiliaram da preparação/condução da segunda etapa.

Na segunda etapa, recorremos a um Evento-campo/Grupo Focal. Optamos por mesclar essas duas formas, porque o Evento-campo38 permitiu organizar uma atividade anterior, solicitando que as professoras trouxessem para o encontro o registro de um dos momentos da Educação Física com os bebês39, o que enriqueceu a proposta do Grupo Focal. O Grupo Focal, no contexto dessa pesquisa, se apresentou como uma possibilidade que se diferencia das entrevistas individuais, onde as opiniões são manifestadas individualmente, nos permitindo, assim, um

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Núcleos de Educação Infantil

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Por outro lado, uma das unidades possuía 2 (duas) professoras de Educação Física que dividiam os horários de atendimento ao grupo do G1/berçário, sendo uma no período matutino e outra no vespertino, buscando, com essa forma de organização, contemplar algumas crianças que só frequentam a creche em determinado período. Porém, no período da realização do questionário, a professora do período vespertino havia desistido da vaga, que não havia sido assumida ainda por uma nova professora e, dessa forma, essa professora não foi incluída na pesquisa.

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Apêndice B.

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O Evento- campo nos foi sugerido pelo Professor Mauricio R. Silva, membro da nossa banca de qualificação, tendo ele próprio adotado essa metodologia em sua tese de doutorado, e a própria pesquisadora já havia realizado uma aproximação com essa forma de abordagem do campo, na monografia de especialização, também orientada pelo referido professor (VAROTTO;SILVA, 2004). A pesquisa anterior, no entanto, foi realizada com crianças, ao contrário dessa pesquisa em que os participantes eram os adultos/professores.

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nível mais aprofundado de reflexão. Para Minayo (2014, p. 269): ―O valor principal dessa técnica fundamenta-se na capacidade humana de formar opiniões e atitudes na interação com os outros indivíduos‖. Buscamos, assim, provocar a interação entre as participantes, interação que poderia tanto estabelecer consenso, como provocar divergências de opiniões.

Essa segunda etapa envolveu uma parcela de 20% das professoras que responderam ao questionário. Entre os critérios de escolha para a segunda etapa buscamos professoras que atuavam há mais de um ano com os bebês. A proposta de dirigirmos, no segundo momento, o nosso olhar para professoras que possuem algum tempo de experiência, se apoiou em Sayão (2005), que considera que os anos vividos com esse grupo de crianças poderá possibilitar um nível mais elevado de auto- reflexão, principalmente em relação aos elementos do trabalho docente. Consideramos relevante observar que, durante toda a parte inicial da pesquisa, até a conclusão das etapas de campo, mesmo sem estar atuando como professora40 continuei participando dos encontros de formação da RMEF voltados para a Educação Física, bem como das reuniões do GEIEFEI. Apesar de não incluirmos diretamente essas participações nas análises, elas foram importantes por permitir a aproximação com as discussões estabelecidas nos encontros, auxiliando na compreensão da Educação Física na Educação Infantil como um todo. Porém, em determinado momento, ao iniciarmos as análises, optei por não participar mais das formações, considerando que era o momento de provocar o distanciamento do objeto e estabelecer o estranhamento necessário para possibilitar as reflexões acerca da problemática da pesquisa.

Abaixo, trazemos considerações a respeito das duas incursões no campo, a realização dos questionários e do Evento-campo/Grupo Focal. Procuramos contar a trajetória dessas incursões, a elaboração de cada etapa, o contato com os participantes e com as unidades envolvidas, os encaminhamentos via Gerência de Formação Permanente, enfim, os caminhos que foram percorridos em nossa pesquisa, porque no decorrer desse percurso foram se desvelando elementos que nos auxiliaram na compreensão, por exemplo, da situação profissional dos professores pesquisados, bem como a própria dinâmica de organização e reorganização constante da pesquisa.

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A partir do segundo ano do mestrado, obtive licença aperfeiçoamento junto à RMEF, o que me manteve afastada da função de professora de Educação Física da Educação Infantil.

3.2 PRIMEIRA INCURSÃO NO CAMPO: CAMINHOS DA