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2.1 MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE

2.1.7 Sociedade de consumo na pós-modernidade, transformação político-

Para Lyon (1998, p. 104), se a pós-modernidade possui algum sentido, significa ela, a sociedade de consumo que, diante da mudança verificada, parece resumir-se em uma condição social sem precedentes. Afirma, ainda, que a sociedade de consumo é uma denominação inadequada, a não ser que a considere algo muito “além dos limites convencionais do Estado-nação”, pois, pode-se dizer que o “consumismo é global, não no sentido de que todos podem consumir, mas no de que todos são afetados por ele”.

O pós-moderno é corretamente relacionado com uma sociedade em que os estilos de vida do consumidor e o consumo de massa dominam a vida dos seus membros. (...) As oportunidades são ilimitadas, e a busca por novos nichos de mercado, constante.

Os serviços e as indústrias de lazer são abundantes, juntamente com sinais de todos os meios imagináveis - e inimagináveis, realidade virtual. Não é de admirar que alguns sugiram que a realidade em si está agitada, solapada, a ponto de o próprio significado em si se evaporar.

(...) o consumo, e um foco na produção de necessidades e desejos, é básico. Tudo é mercantilizado, e esse processo é constantemente reforçado pelos anúncios de TV.

Fundos adequados para sustentar os estilos de vida do consumidor são pressupostos, juntamente com tempo de lazer suficiente para satisfazê-los (LYON, 1998, p. 87).

5 FOUCAULT, M. The Foucault reader (ed. por R. Rabionw) Harmondsworth, 1984.

Para Jameson6 apud Harvey (2003, p. 65), o pós-modernismo não é senão a lógica cultural do capitalismo avançado. Alega, ainda, que se passou para uma nova era a partir do início dos anos 60, quando a produção da cultura integrou-se à produção de mercadorias em geral. Uma transformação, que é definida nos hábitos e atitudes de consumo, bem como um novo papel para as definições e intervenções estéticas. Com isso, enquanto alguns defendem que os movimentos dos anos 60 criaram um ambiente de necessidades não atendidas e de desejos reprimidos e que a produção popular pós-modernista apenas procurou satisfazer do melhor modo possível em forma de mercadoria, “outros sugerem que o capitalismo, para manter seus mercados, se viu forçado a produzir desejos e, portanto, estimular sensibilidades individuais para criar uma nova estética que superasse e opusesse às formas tradicionais de alta cultura”.

Para Harvey (2003), é importante considerar que a evolução cultural presente desde o início dos anos 60 e que se firmou como hegemônica no começo dos anos 70 não ocorreu no vazio social, econômico ou político. Portanto, independente do que fizer com o conceito, não se deve ler o pós-modernismo como uma corrente artística autônoma, tendo em vista seu enraizamento na vida cotidiana, constitui-se como uma de suas características mais claras.

Com relação à transformação político-econômica do capitalismo, verificada desde o final do século XX, Harvey (2003, p. 117) inicia a sua discussão mostrando quão abundantes são “os sinais e as marcas de modificações radicais em processos de trabalho, hábitos de consumo, configurações geográficas e geopolíticas, poderes e práticas do Estado etc.”

Para que o sistema econômico capitalista permaneça viável, é preciso que considere as duas amplas áreas de dificuldade, esclarece Harvey (2003). A primeira, provinda das qualidades anárquicas dos mercados de fixação de preços, e a segunda, derivada da necessidade de exercer controle suficiente sobre o emprego e força de trabalho, a fim de garantir a adição de valor na produção, provendo lucros para o maior número possível de capitalistas.

Na realidade,

as pressões coletivas exercidas pelo Estado ou por outras instituições (religiosas, políticas, sindicais, patronais e culturais), aliadas ao exercício do poder de domínio do mercado pelas grandes corporações e outras instituições poderosas, afetam de modo vital a dinâmica do capitalismo. Essas pressões podem ser diretas (como a imposição de controles de salários e preços) ou indiretas (como a propaganda

6 JAMESON, F. The politics of theory: ideological positions in the post-modernism debate. New German Critique, n. 33, p. 53-65.

subliminar que nos persuade a incorporar novos conceitos sobre as nossas necessidades e desejos básicos na vida), mas o efeito líquido é moldar a trajetória e a forma do desenvolvimento capitalista de modos cuja compreensão vai além da análise das transações de mercado. Além disso, as propensões sociais e psicológicas, como o individualismo e o impulso de realização pessoal por meio da auto-expressão, a busca de segurança e identidade coletiva, a necessidade de adquirir respeito próprio, posição ou alguma outra marca de identidade individual, têm um papel na plasmação de modos de consumo e estilos de vida (...)

A educação, o treinamento, a persuasão, a mobilização de certos sentimentos sociais (a ética do trabalho, a lealdade aos companheiros, o orgulho local ou nacional) e propensões psicológicas (a busca da identidade através do trabalho, a iniciativa individual ou a solidariedade social) desempenham um papel e estão claramente presentes na formação de ideologias dominantes cultivadas pelos meios de comunicação de massa, pelas instituições religiosas e educacionais, pelos vários setores do aparelho do Estado, e afirmadas pela simples articulação de sua experiência por parte dos que fazem o trabalho. (HARVEY, 2003, p. 118-119)

Anderson (1999), ao mencionar os efeitos posteriores da pós-modernidade, comunga com a afirmação de Harvey (2003), acerca do advento da pós-modernidade ter sido no começo dos anos 70 e que tal fato refletiu em uma ruptura contemporânea com o modelo de desenvolvimento capitalista do pós-guerra. E que, em 1973, com a recessão, minada pela crescente competição internacional, lucros corporativos em baixa e inflação acelerada, o fordismo mergulhou numa crise de superacumulação adiada por muito tempo.

Como resposta à crise do fordismo, surge um novo regime de “acumulação flexível”, à medida que o capital aumentava sua margem de manobra. Presentes nesse período, maior flexibilidade nos mercados de trabalho (contratos temporários, mão-de-obra doméstica e imigrante), nos processos de fabricação (mudança de fábricas para outros países, produção a toque de caixa), na produção de mercadorias (lotes em consignação) e, principalmente, nas operações financeiras desregulamentadas. Um sistema inquieto e especulativo, que foi à base das várias formas de cultura pós-moderna, uma sensibilidade à desmaterialização do dinheiro, à característica passageira da moda, ao excesso de simulação nas novas economias. Todavia, nada exigia ainda a mudança fundamental no modo de produção, muito menos uma solução de longo prazo para as pressões da superacumulação, que não havia sofrido ainda a necessária depuração de uma maciça desvalorização do capital. A própria acumulação flexível não era sequer descrita como universalmente dominante e coexistia de modo misto com formas fordistas. Portanto, o que mudou de forma crítica foi a posição e a autonomia dos mercados financeiros dentro do capitalismo, sem respeitar os governos nacionais, o que significava uma instabilidade sistêmica sem precedentes (ANDERSON, 1999).

Outra condição de grande envergadura foi vivenciada, graças à evolução da tecnologia. O poder do modernismo fortificou-se, sob o estímulo do grande conjunto de invenções que transformaram a vida urbana nos primeiros anos do século XX. O rádio, o cinema, o arranha-céu, o automóvel, o avião, entre outros, forneceram as imagens e cenários da maior parte da arte mais original desse período e possibilitou a toda ela um senso abrangente de rápida mudança. Contudo, dentre esses, a invenção que trouxe a mudança radical foi a televisão.

Pode-se dizer que foi o primeiro avanço tecnológico de importância histórica mundial no pós-guerra e que acabou por registrar um salto qualitativo no poder de comunicações de massa. O rádio já havia sido revelado, nos anos e no período entre guerras, como um instrumento muito mais poderoso de conquista social do que a imprensa; não pelas exigências menores de qualificação educacional, mas, principalmente, pelo seu alcance temporal. O novo veículo, a televisão, trouxe poder sequer imaginado, uma vez que exigia a atenção do público de forma incomensuravelmente maior, pois não se tratava somente de ouvir, mas sim era preciso que o olho fosse atingido antes de se aprumar o ouvido. Televisão que, enquanto a imagem nos anos 60 era só “preto e branco”, só teve seu verdadeiro momento de ascendência com a chegada do aparelho em cores, que se generalizou no Ocidente nos anos 70, desencadeando uma crise na indústria cinematográfica. É esse, portanto, o momento considerado divisor de águas tecnológico do pós-moderno (ANDERSON, 1999)

As décadas de 70 e 80 constituíram-se em um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político. A recessão de 1973, aprofundada pelo choque do petróleo, retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da chamada “estagflação”, que se trata de estagnação da produção de bens e alta inflação de preços e pôs em movimento um conjunto de processos que solaparam o movimento fordista.

Surge então a “acumulação flexível”, que distingue pelo confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se sustenta na “flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo” (HARVEY, 2003, p. 140). É caracterizada pelo surgimento de novos setores de produção, novos mercados e, principalmente, taxas altas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.

Porém, salienta Harvey (2003, p. 141) que, a “acumulação flexível parece implicar níveis relativamente altos de desemprego ‘estrutural’, rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos de salários e o retrocesso do poder sindical”.

Assim, diante da radical reestruturação que passou o mercado de trabalho, discute-se a seguir os sentidos do trabalho e as transformações no mundo do trabalho.