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CAPÍTULO I O DIREITO, O PROCESSO E ALGUNS INSTITUTOS

3.2 Pessoa Jurídica

3.2.4 Das Pessoas Jurídicas de Direito Privado

3.2.4.3 Das sociedades

3.2.4.3.5 Sociedade empresária

Chama-se sociedade empresária toda aquela que é constituída para um fim empresarial. Tais sociedades sempres terão personalidade jurídica, a qual será adquirida através da inscrição de seus atos constitutivos no registro do comércio.

Segundo Waldo Fazzio Junior129, sabendo-se que a sociedade empresária é pessoa jurídica, disso decorrem três efeitos: 1) “titularidade jurídica negocial” (quando um sócio atua, representando uma sociedade empresária, é esta quem celebra negócios jurídicos, já que é sujeito de direito autônomo, ou seja, pessoa); 2) “titularidade jurídica processual” (a pessoa jurídica é capaz de titularizar ativa e passivamente ações em juízo, podendo ser parte em sentido processual) e;

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3) “titularidade jurídica patrimonial” (dotada de patrimônio próprio e inconfundível com os dos sócios, a sociedade responde, com ele, pelas obrigações que assumir).

Tem-se assim, que um dos elementos fundamentais da sociedade empresarial é sua autonomia patrimonial e se classificam de acordo com a responsabilidade dos sócios, dizendo-se que são ilimitadas aquelas em que os sócios assumem responsabilidade ilimitada e solidária relativamente às obrigações sociais (sociedade em nome coletivo) e limitadas, às nascidas de pacto social que limita a responsabilidade dos sócios ao valor de suas contribuições (sociedades anônimas) ou à integralização do capital social (sociedades limitadas) e mistas, quando o contrato social combina a responsabilidade ilimitada e solidária de alguns sócios com a responsabilidade limitada de outros sócios (sociedades em comandita simples e sociedades em comandita por ações).130

3.2.4.3.5.1 Sociedade em comandita simples

É o mais antigo tipo societário e tem origem no tráfego marítimo no contrato denominado comenda. Caracteriza-se este tipo social por possuir dois tipos de sócios: os comanditários e os comanditados. É uma sociedade de pessoas, em que os primeiros obrigam-se somente pelo valor de suas cotas e os segundos de forma solidária e ilimitada. O sócio comanditário que, porventura, for administrar a sociedade ou participar de qualquer ato de gestão ficará sujeito as mesmas responsabilidades que possui o sócio comanditado.

A firma da sociedade somente poderá ser utilizada pelos comanditados, devendo ser constituída pelo nome de um, alguns ou todos eles, sempre acrescida da denominação & Cia, o que é indicativo de que possuem responsabilidade ilimitada, nos termos do artigo 1.047 c/c 1.045 do Código Civil).

3.2.4.3.5.2 Sociedade por cotas de responsabilidade limitada

Regulada pelo Decreto nº 3.708 de 10/01/1919, sofreu alterações pelo Código Civil, passando a ser regida, também, pelos artigos 1.052 a 1.087. A denominação sociedade limitada não corresponde exatamente à figura social tratada. O que é limitado é a responsabilidade de seus sócios e não da sociedade, a

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qual, como pessoa jurídica, é responsável pelos atos e omissões que pratica e responde de forma ilimitada por todas as relações assumidas.

Os sócios terão sua responsabilidade limitada ao valor da quota, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social, o qual será divido em cotas, em número igual ou desigual. Cumpre lembrar que as cotas indicam o patrimônio da sociedade representado por tudo aquilo que cada sócio contribuiu para sua formação. Tem natureza de direito patrimonial e pessoal.

Se houver distribuição de lucros com prejuízo ao capital social, os sócios serão obrigados a repô-lo, ainda que isso tenha sido autorizado regularmente pela administração (artigo 1.059 do Código Civil). A administração da sociedade será feita por sócio, sendo permitido que o contrato preveja a possibilidade de se dar por terceira pessoa, estranha ao quadro social.

Segundo Thereza Christina Nahas131, o fato de ser a responsabilidade limitada não quer dizer que tal declaração represente a irresponsabilidade dos sócios em face dos negócios realizados em nome da sociedade e em seu benefício. Desta forma, os sócios ou administradores poderão responder pessoalmente perante a sociedade e para com terceiros:

a)quando agirem com excesso de mandato ou violação do contrato ou da lei (artigo 10 do Decreto nº 3.078/19); o excesso somente poderá ser oposto a terceiros se: a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; provando-se que era conhecida do terceiro; tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade (artigo 1.015 do Código Civil);

b)quando usarem indevidamente a firma ou dela abusarem (artigo 11 do Decreto nº 3.087/19);

c) quando deliberarem contra preceitos legais ou contratuais ou infringirem o contrato social (artigo 17 do Decreto 3.078/19 e artigo 1.080 do Código Civil);

d) quando não averbarem o ato de nomeação de administrador à margem da inscrição da sociedade (artigos 1.012 do Código Civil);

e)quando realizarem operações que sabem, ou deveriam saber, ser contrárias à vontade da maioria (artigo 1.013, §2º do Código Civil);

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NAHAS, Thereza Christina. Desconsideração da pessoa jurídica: reflexos civis e empresariais nas relações de trabalho. São Paulo: Atlas, 2004, p. 95.

f) quando agiram com culpa no desempenho de suas funções (artigo 1.016 do Código Civil);

g) quando não restituírem à sociedade as aplicações de crédito ou bens sociais que tenham aproveitado a si próprios ou a terceiro (artigo 1.017 do Código Civil) e;

h) pelas obrigações tributárias nos casos dos artigos 134 e 135 do Código Tributário Nacional.

3.2.4.3.5.3 Sociedade por ações

As sociedades por ações fazem parte do tipo conhecido como sociedades anônimas, cuja denominação referm-se ao fato de serem formadas por divisões do capital e frações, de acordo com a Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 10.303/01.

Os sócios que a compõem terão responsabilidade limitada ao preço das ações que subscrevem ou adquirem. Diferencia-se, assim, da responsabilidade de que se revestem os sócios na limitada, justamente porque nesta, o sócio responderá sempre até o limite de sua cota e, até que esta seja integralizada, sua responsabilidade é solidária e ilimitada, não obstante seja subsidiária, isto é, primeiro responde a sociedade e depois os sócios. Aqui, nas sociedades por ações, os sócios respondem tão somente até o limite do preço da emissão das ações subscritas ou adquiridas (artigo 1º da Lei 6.404/76).

Admitindo o governo a existência de uma sociedade aberta, disposta a captar recursos no mercado, sob fundamento institucionalista, exige que o Estado tenha certo controle e intervenha a fim de proibir abusos. Criou-se, assim, a comissão de valores mobiliários (CVM).132