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CAPÍTULO 2 – DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA

2.3. Sujeitos da negociação coletiva

Sujeitos da negociação são aqueles que participam do procedimento negocial, variando conforme o ordenamento jurídico de cada país.

A negociação coletiva de trabalho possui atuação ampla, nos mais variados níveis (nacional, setorial e empresarial), englobando sujeitos igualmente diversos. No Brasil, essa atribuição compete precipuamente aos sindicatos, dispondo o inciso VI do artigo 8º da Constituição Federal, que é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho, mas não é prerrogativa exclusiva destes.

Art. 620 – As condições estabelecidas em Convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo. (Redação antiga).

68 Nas palavras de Maurício Godinho Delgado: “A teoria da acumulação propõe como

procedimento de seleção, análise e classificação das normas cotejadas, o fracionamento do conteúdo dos textos normativos, retirando-se os preceitos e institutos singulares de cada um que se destaquem por seu sentido mais favorável ao trabalhador. À luz dessa teoria acumulam-se, portanto, preceitos favoráveis ao obreiro, cindindo-se diplomas normativos postos em equiparação”. (DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. p. 1429).

O estímulo à prática de negociação coletiva em seus mais variados níveis, com atuação dos sujeitos coletivos diretamente interessados, está presente na Recomendação nº 163, de 19/06/1981, da OIT, nos itens 4 e 569.

As convenções nº 98 e nº 154, ambas da OIT, também discorrem sobre o tema, destacando esta última, em seu artigo 5º que a negociação deve ser garantida a todos os ramos de atividade econômica, indicando, inclusive, estímulos à sua efetivação:

1. Deverão ser adotadas medidas adequadas às condições nacionais no estímulo à negociação coletiva.

2. As medidas a que se refere o parágrafo 1 deste artigo devem prover que:

a) a negociação coletiva seja possibilitada a todos os empregadores e a todas as categorias de trabalhadores dos ramos de atividade a que se aplique a presente Convenção; b) a negociação coletiva seja progressivamente estendida a todas as matérias a que se referem os anexos a, b e c do artigo 2º da presente Convenção;

c) seja estimulado o estabelecimento de normas de

procedimento acordadas entre as organizações de

empregadores e as organizações de trabalhadores;

d) a negociação coletiva não seja impedida devido à inexistência ou ao caráter impróprio de tais normas;

e) os órgãos e os procedimentos de resolução dos conflitos trabalhistas sejam concedidos de tal maneira que possam contribuir para o estimulo à negociação coletiva.

Pela análise do dispositivo acima transcrito, constata-se, na alínea “c”, o uso do termo “organização” tanto de empregadores quanto de empregados. A utilização desse termo mais genérico adotado pela OIT permite que a negociação coletiva seja realizada por todo e qualquer agente representativo das partes, sem necessariamente possuir personalidade sindical.

694. (1) Medidas condizentes com as condições nacionais devem ser tomadas, se necessário,

para que a negociação coletiva seja possível em qualquer nível, inclusive o do estabelecimento, da empresa, do ramo de atividade, da indústria ou dos níveis regional e nacional.

(2) Nos países em que a negociação coletiva se desenvolve em vários níveis, as partes da negociação devem procurar assegurar-se de que haja coordenação entre os níveis.

5. (1) As partes da negociação devem tomar medidas para que seus negociadores, em todos os níveis, tenham a oportunidade de passar por treinamento adequado.

(2) As autoridades públicas podem oferecer, a pedido, assistência a organizações de empregadores e de trabalhadores nesse treinamento.

(3) O conteúdo e a supervisão dos programas desse treinamento devem ser definidos pela apropriada organização em causa, de trabalhadores ou empregadores.

(4) Esse treinamento não prejudicará o direito de organizações de trabalhadores e de empregadores de escolherem seus próprios representantes para fins da negociação coletiva.

Essa constatação autoriza a negociação coletiva diretamente pelos trabalhadores, ou através de representações internas não sindicais, como no caso da Comissão Interna de Representantes dos Trabalhadores, prevista e regulamentada nos arts. 510-A70 e seguintes da CLT.

Assim, a negociação coletiva está assegurada em todos os níveis possíveis de organização, abrangendo todo e qualquer sujeito detentor de representatividade.

José Cláudio Monteiro de Brito Filho71 esclarece que a negociação coletiva “dependendo dos objetivos e do universo que se pretendem alcançar, pode ser desenvolvida em diversos níveis”. Assim, ela “pode ser feita por empresa, por categoria e até supracategorias”. Acrescenta, ainda, que a negociação pode abranger apenas os associados, como no modelo italiano, ou envolvendo todos os empregados, independentemente de filiação, como acontece no Brasil.

O mesmo autor destaca que a OIT, ao tratar do tema, ressaltou que os níveis da negociação coletiva são considerados desde aquele realizado internamente em cada empresa, até a negociação em amplitude nacional, o que ele denomina como “centralizada”, “havendo entre esses dois extremos, espaço para uma extensa gama de sistemas intermediários”72.

Nesse sentido, leciona Davi Furtado Meirelles73 que se os interesses envolvidos no processo negocial forem de amplitude nacional, no caso de crise econômica, por exemplo, poderão surgir grandes pactos sociais. Os sujeitos da negociação, nesse caso, poderão ser as entidades sindicais de grau superior

70 Art. 510-A. Nas empresas com mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de uma

comissão para representá-los, com a finalidade de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

71 BRITO FILHO. José Claudio Monteiro de Brito Filho. Direito Sindical: Análise do Modelo

Brasileiro de Relações Coletivas à Luz do Direito Estrangeiro Comparado e da Doutrina da OIT – Proposta de Inserção da Comissão de Empresa. 7. ed. São Paulo: LTr, 2018. p. 189.

72 Ibid. p. 190.

73 MEIRELLES, Davi Furtado. A negociação coletiva de trabalho e seus níveis de atuação. In:

TAVARES, Manuela; ALVES, Marcos César Amador. (Coord.). Advocacia empresarial do trabalho, estudos em homenagem a José Granadeiro Guimarães. São Paulo: Alameda, 2012. p. 561-572.

(centrais sindicais), que têm como função representar os interesses gerais dos trabalhadores. Poderão participar ainda, dependendo dos interesses envolvidos, as confederações e federações, estas também do lado empresarial, além do ente público, se for o caso.

O mesmo autor esclarece que as questões mais próximas do cotidiano das empresas, que envolvam interesses individuais e direitos dos seus trabalhadores, terão um espaço de tratativa mais adequado no interior das próprias empresas, de forma descentralizada, quando os atores do processo negocial serão o empregador e a representação interna dos trabalhadores (vinculada ou não ao sindicato), podendo também, caso necessário, haver a participação do sindicato na negociação74.

A negociação coletiva descentralizada, realizada no âmbito das empresas, tende a surtir resultados mais satisfatórios quando realizada diretamente entre a empresa e a representação dos trabalhadores, pois são eles que vivenciam os problemas diariamente, experienciam a atividade fabril, têm objetivos mais coincidentes e, com o tempo, por serem tão próximos, ganham a confiança um do outro, facilitando o repasse das informações necessárias para a celebração do negócio jurídico75.

Nesse contexto, o objetivo é conferir prevalência do negociado sobre o legislado, sobretudo para fazer frente a períodos de retração econômica e novas situações laborais, totalmente diferenciadas daquelas vivenciadas à época do Estado Novo76.

74 Ibid. 75 Ibid.

76 BARROS, Cassio Mesquita. Modernização da CLT à luz da realidade brasileira. Revista da