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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. Jamille Ribeiro Pires Hasegawa

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Jamille Ribeiro Pires Hasegawa

Eficácia da Norma Coletiva à Luz do Princípio da Autonomia da Vontade

MESTRADO EM DIREITO

SÃO PAULO 2019

(2)

Eficácia da Norma Coletiva à Luz do Princípio da Autonomia da Vontade

MESTRADO EM DIREITO

Dissertação apresentada à banca

examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre em Direito sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Sérgio João.

SÃO PAULO 2019

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eletrônicos. Assinatura: _____________________________________________________ Data: 02/12/2019 E-mail: jamilleribeiro11@hotmail.com H534

Hasegawa, Jamille Ribeiro Pires

Eficácia da Norma Coletiva à Luz do Princípio da Autonomia da Vontade. – São Paulo: [s.n.], 2019.

244 f. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Direito) -- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-graduados em Direito, 2019.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio João.

1. Autonomia da vontade. 2. Negociação coletiva. 3. Prevalência do negociado sobre o legislado. 4. Validade do negócio jurídico. I. João, Paulo Sérgio. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-graduados em Direito. III. Título.

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Eficácia da Norma Coletiva à Luz do Princípio da Autonomia da Vontade

Dissertação apresentada à banca

examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre em Direito sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Sérgio João.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Sérgio João (Orientador)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

______________________________________________________________ Profa. Dra. Suely Ester Gitelman

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

______________________________________________________________ Profa. Dra. Erotilde Ribeiro dos Santos Minharro

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Aos meus pais, João e Nilda, pela grandeza de espírito e nobreza de seus atos. Amo-os verdadeiramente.

(6)

“Se és capaz de manter a tua calma quando Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa; De crer em ti quando estão todos duvidando, E para esses, no entanto achar uma desculpa; Se és capaz de esperar sem te desesperares,

Ou, enganado, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, E não parecer bom demais, nem pretensioso; Se és capaz de pensar -- sem que a isso só te atires, De sonhar -- sem fazer dos sonhos teus senhores. Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires

Tratar da mesma forma a esses dois impostores; Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas

Em armadilhas as verdades que disseste, E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,

E refazê-las com o bem pouco que te reste; Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida; De forçar coração, nervos, músculos, tudo A dar seja o que for que neles ainda existe, E a persistir assim quando, exaustos, contudo, Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!"; Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes E, entre reis, não perder a naturalidade, E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, Se a todos podes ser de alguma utilidade, E se és capaz de dar, segundo por segundo,

Ao minuto fatal todo o valor e brilho, Tua é a terra com tudo o que existe no mundo E o que mais -- tu serás um homem, ó meu filho!”. (Rudyard Kipling)

(7)

“No passado foi a lei do patrão; hoje é a lei do Estado; no futuro, será a lei das partes”.

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A Deus, luz do meu caminho, por me guiar em todos os momentos. A intensidade do seu amor é o que me fortalece todos os dias. O temor a Deus é o princípio da sabedoria.

Para a realização deste trabalho, contei com o apoio, amizade e colaboração de vários colegas, amigos, professores e familiares. A todos, muito obrigada e, especialmente:

Ao Bruno Hasegawa, esposo e amigo, por dividir a vida comigo;

Aos meus pais João e Nilda, à minha irmã Suellen, ao meu cunhado Alexandre, às minhas sobrinhas Anna Carolina e Larissa, por todo o amor e diuturnas lições de vida;

Às famílias Ribeiro, Pires e Hasegawa, pela sorte de amá-las como se fossem uma;

Ao meu orientador, Professor Dr. Paulo Sérgio João, pela amizade que construímos, pelos ensinamentos riquíssimos, pela atenção e paciência, por me proporcionar crescer academicamente por suas mãos;

Aos professores Adalberto Martins e Suely Ester Gitelman, pelos ensinamentos que me transmitiram ao longo da vida acadêmica e especialmente pela contribuição nesta pesquisa;

Ao Rui de Oliveira Domingos, pela colaboração, paciência e auxílio fundamental nos trâmites burocráticos para a realização deste trabalho;

À Rosana Silva Portela, pela paciência e auxílio na revisão dos textos;

Ao escritório Scariot, Santos & Scariot Sociedade de Advogados, pelo apoio e incentivo aos estudos;

Ao escritório CGM Advogados, pela oportunidade de fazer da prática do Direito um prazer diário;

Aos amigos, Jaqueline Joaquim Lopes, Rosita Arantes, Marco Antônio da Silva, Natália Biondi Gaggini, Jael Batallas Bonilla, Jessica Toda Camerieri, Rogério Barboza Gürtler, Luiz Paulo Pieruccetti, entre outros, pela amizade e apoio, que dão ainda mais significado à minha vida.

(9)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.

RESUMO

Após a Revolução Industrial, evidenciaram-se as desigualdades entre os sujeitos da relação de emprego. A constante preocupação com essa desigualdade traduziu-se em um modelo de contrato de trabalho no qual o Estado participa ativamente de suas cláusulas, deixando às partes mínimas possibilidades de exercer a autonomia da vontade. O mundo moderno, no entanto, obrigou a sociedade a novos modelos de relação de emprego, onde a subordinação, maior responsável pela intervenção estatal, já não possui a mesma força. Diante de tais circunstâncias, tornou-se imperioso o reconhecimento dos frutos da negociação coletiva como autênticas fontes de Direito, assegurando-lhes o exercício pleno da autonomia da vontade. Por seu turno, a incapacidade da legislação consolidada em disciplinar as novas realidades econômicas exige a restruturação dos conflitos entre a lei e a contratação coletiva, questionando-se a efetividade do princípio da norma mais favorável. As negociações coletivas, como alternativa natural à morosidade do processo legislativo e à fragilidade do empregado singularmente considerado, apresentam-se muito apropriadas à autorregulação das condições de trabalho. Nesse sentido, a Lei nº 13.467/2017, também conhecida como Reforma Trabalhista, com vigência a partir de 11 de novembro de 2017, trouxe algumas alterações ao texto do Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, garantindo maior liberdade às partes durante a negociação coletiva, assegurando, ainda, a intervenção mínima do judiciário na autonomia da vontade coletiva. A presente pesquisa propõe, dessa maneira, o fortalecimento das relações coletivas, a fim de reconhecer aos atores sociais a possibilidade de flexibilizar a legislação in pejus, diante das necessidades concretas de cada relação de trabalho, devendo prevalecer o negociado sobre o legislado, desde que respeitados os requisitos legais do negócio jurídico, previstos no art. 104 do Código Civil Brasileiro.

Palavras-chave: Autonomia da vontade. Negociação coletiva. Prevalência do

(10)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.

ABSTRACT

After the Industrial Revolution, the inequalities between the subjects of the employment relationship became evident. The constant concern with this inequality has translated into a model of labor contract in which the state actively participates in its clauses, leaving minimal possibilities for the parties to exercise their autonomy of will. The modern world, however, has forced society into new models of employment relationships, where subordination, which is most responsible for state intervention, no longer has the same force. Given these circumstances, it became imperative to recognize the fruits of collective bargaining as authentic sources of law, assuring them the full exercise of the autonomy of will. In turn, the inability of the consolidated legislation to discipline the new economic realities requires the restructuring of conflicts between law and collective bargaining, questioning the effectiveness of the principle of the most favorable norm. Collective bargaining, as a natural alternative to the slowness of the legislative process and the fragility of the uniquely considered employee, is very appropriate for self-regulation of working conditions. In this sense, Law No. 13.467 / 2017, also known as Labor Reform, effective as of November 11, 2017, brought some changes to the text of Decree-Law No. 5,452, of May 1, 1943, ensuring greater freedom for women. parties during collective bargaining, while also ensuring the minimum intervention of the judiciary in the autonomy of the collective will. The present research proposes, thus, the strengthening of collective relations, in order to recognize to the social actors the possibility of flexibilizing the legislation in pejus, in face of the concrete necessities of each work relation, having to prevail the negotiated one over the legislated one, since the legal requirements of the legal business, provided for in art. 104 of the Brazilian Civil Code.

Keywords: Autonomy of will. Collective bargaining. Prevalence of negotiated

(11)

INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO 1 – NEGÓCIO JURÍDICO ... 19

1.1. Existência e conceito ... 19

1.2. Requisitos de validade do negócio jurídico e a autonomia negocial ... 22

1.3. As circunstâncias negociais ... 25

1.4. O reconhecimento social da declaração de vontade ... 27

1.5. A boa-fé no negócio jurídico ... 28

CAPÍTULO 2 – DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA ... 31

2.1. Conceito de negociação coletiva de trabalho ... 31

2.1.1. Definição doutrinária de negociação coletiva ... 31

2.1.2. Definição legislativa de negociação coletiva ... 33

2.2. Funções da negociação coletiva ... 36

2.2.1. Equilíbrio e paz social ... 38

2.2.2. Composição do conflito ... 40

2.2.3. Criação das normas jurídicas no dissídio coletivo ... 41

2.2.4. Igualdade e equivalência entre os contratantes ... 43

2.3. Sujeitos da negociação coletiva ... 45

2.4. Condições e procedimentos da negociação coletiva ... 49

CAPÍTULO 3 – EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO COLETIVO TRABALHISTA ... 55

3.1. Autonomia privada ... 59

3.2. Autonomia privada coletiva ... 60

3.3 natureza jurídica da autonomia privada coletiva ... 63

3.4. Validade das normas dispostas em convenções e acordos coletivos ... 64

3.5. A proteção do trabalhador pela via negocial ... 70

3.6. O princípio da proteção do trabalhador em face da flexibilização dos direitos trabalhistas ... 73

3.7. O princípio protetor e a constituição federal ... 76

3.8. Do princípio da vedação ao retrocesso social e melhoria da condição social do trabalhador ... 78

3.9. A cláusula geral de boa-fé na negociação coletiva ... 80

CAPÍTULO 4 – A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO ... 84

4.1. O princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva ... 87

4.2. Teoria do conglobamento aplicada na solução de conflitos de normas coletivas ... 92

4.3. A reforma trabalhista e o direito coletivo ... 96

(12)

CONCLUSÃO ... 107 REFERÊNCIAS ... 112 ANEXOS ... 119

(13)

INTRODUÇÃO

O art. 7ª, XXVI, da Constituição Federal, estabelece como direito dos trabalhadores o “reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho”, admitindo que os atores sociais colaborem na formação do Direito do Trabalho que lhes interessa, em exercício do pluralismo jurídico e da autonomia privada coletiva.

O estudo desenvolvido nesta dissertação conduz o leitor ao questionamento quanto à necessidade do intervencionismo estatal nos contratos de emprego, que proporciona um cenário de limitação da autonomia da vontade, obrigando as partes a trilhar um caminho delimitado por regras, princípios e possibilidades que só admitem a contratação nos contornos preestabelecidos.

A centralização da função legislativa na figura do Estado, com caráter protecionista, permitiu ser a ciência do Direito do Trabalho uma ciência autônoma em relação ao Direito Civil. Embora a negociação coletiva seja inerente ao próprio trabalho humano, sua capacidade normativa foi cerceada quando o Estado decidiu intervir, por razões políticas, nas relações trabalhistas e luta sem fim por melhores condições de trabalho, chamando para si a responsabilidade social que surgiu com a Revolução Industrial.

As relações coletivas evoluíram e, fazendo um corte epistemológico, a partir de uma nova perspectiva de atuação e tutela coletiva sindicais, com base nas recentes decisões do Supremo Tribunal Federal e na Lei nº 13.467/2017 (Lei da Reforma Trabalhista), pretende-se empreender um novo paradigma interpretativo das funções e deveres das entidades sindicais, da consequência e da responsabilidade de sua atuação, em verdadeira e efetiva valoração dos meios e instrumentos hábeis a fomentar a negociação coletiva e pacificação social entre categorias econômica e profissional.

Pretende-se, ainda, buscar uma análise e interpretação sobre as efetivas possibilidades de utilização da negociação coletiva de trabalho, de

(14)

acordo com as novas disposições legislativas fixadas na Lei nº 13.467/2017, como importante instrumento de exercício da autonomia da vontade coletiva, conferindo aos atores sociais a liberdade de pactuarem direitos, de acordo com as reais necessidades das classes envolvidas, reduzindo as desigualdades laborais e os elevados índices de litigiosidades, atribuindo maior segurança jurídica e econômica no trato sucessivo de suas relações contratuais/normativas e, por fim, conferindo maior efetividade na melhoria das condições socioeconômicas nas relações de emprego.

Surgem, nesse contexto, questionamentos acerca do real alcance do princípio protetor, especialmente diante do conflito entre normas trabalhistas. O princípio da norma mais favorável foi colocado em xeque pela Lei nº 13.467/2017 que atribuiu prevalência à negociação coletiva na regulamentação das condições de trabalho, em detrimento da letra fria da lei.

Sob essa nova perspectiva, o Direito do Trabalho cede espaço ao modelo horizontal, no qual os atores sociais restam legitimados a tutelar seus próprios interesses, inclusive, além dos limites legais, prevalecendo a autonomia da vontade coletiva.

Nesse momento despontam questionamentos evolvendo a interação da lei e da negociação coletiva. Por exemplo, quem é legitimado para ditar o que é melhor para o trabalhador: o Estado, com visão global das relações de trabalho ou o sindicato representativo, com visão específica dos interesses de determinada categoria?

Trata-se, em síntese, de analisar a negociação coletiva como negócio jurídico regido pelo art. 104, do Código Civil, que pode sobrepor-se à lei, não apenas para regular as situações mais favoráveis ao trabalhador individualmente considerado, mas para derrogá-la ou alterá-la além dos limites legais impostos pelo Estado, atendendo aos interesses concretos e específicos de determinada coletividade de empregados e empregadores.

(15)

Na sociedade moderna, em que predomina o setor de serviços, a figura do operário padrão cede espaço a outras espécies de trabalhador – muitos, inclusive, com amplo poder de negociação junto ao empregador. A antes homogeneidade da classe trabalhadora sucumbiu diante das novas formas de contratação.

É necessário saber lidar com as novas situações, reconhecendo que o excesso de formalismo da legislação protecionista dificulta a atuação das empresas, que acabam valendo-se de contratação irregular para fugir dos excessos legais.

A autonomia da vontade nas relações coletivas e a flexibilização das normas trabalhistas, mediante negociação, constituem o cerne do presente estudo e com base nele é que se propugna por uma interpretação que permita enquadrar os direitos trabalhistas em uma proposta que considere a evolução das relações de trabalho e emprego, sem perder de vista a principiologia que orienta este ramo do Direito.

Imperioso, portanto, a discussão do sistema de fontes do Direito do Trabalho e do papel e eficácia da negociação coletiva na modulação das normas legais.

A justificativa de escolha do tema se dá, não apenas pela sua importância e atualidade, mas também pela escassez de estudos que buscam demonstrar a eficácia da norma coletiva concluída por sindicatos representativos, que conhecem intimamente os problemas da categoria representada e que negociam respeitando os princípios da autonomia da vontade coletiva e da boa-fé.

Na metodologia de pesquisa, como ponto de partida para o alcance do resultado, preocupou-se em fazer uma análise científica e doutrinária sobre o negócio jurídico e seus requisitos de validade para, em sequência, analisar a negociação coletiva enquanto negócio jurídico, abordando definições, natureza jurídica e funções, passando por sujeitos legitimados a negociar, demonstrando

(16)

a importância da liberdade na formação do negócio jurídico, até chegar à prevalência dos instrumentos coletivos sobre a lei.

O presente estudo utiliza como fonte de pesquisa a doutrina e a legislação pertinente ao tema abordado, socorrendo-se, ainda, de apontamentos jurisprudenciais, de extrema relevância, especialmente para a construção da dogmática jurídica, os quais seguem anexo ao final da presente pesquisa, devidamente indicados e numerados para facilitar a leitura e consulta aos documentos.

No que tange ao material, para a construção da pesquisa, lançou-se mão do acervo da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), composto por teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos científicos, entre outros. Obras encontradas em outras bibliotecas e sites da Internet também foram consultadas como material de apoio complementar sobre o tema.

Para a abordagem científica e doutrinária, se fez uso de renomados autores, nacionais e estrangeiros. Alguns deles, especialistas no tema proposto. Outros juristas consagrados através de obras de leitura obrigatória, ou mesmo autores de livros recentes e de diversos artigos. Tudo devidamente informado no rodapé das respectivas páginas, assim como na bibliografia.

O método bibliográfico empregado é o contido nas normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, por determinação das resoluções que regem os cursos de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Para contemplar os objetivos propostos, a dissertação está estruturada em quatro capítulos, além da Introdução e da Conclusão.

O primeiro capítulo tem o intuito de estruturar as bases para a compreensão do ponto de vista defendido e abordará o negócio jurídico enquanto fonte de obrigações em que a vontade tem papel preponderante.

(17)

Ainda, para a validade e eficácia dos negócios jurídicos, é essencial que determinados requisitos sejam preenchidos e que certos limites sejam observados, sob pena de serem sancionados pelo ordenamento jurídico, que lhes negará validade ou eficácia, impedindo-os de gerar obrigação.

No segundo capítulo, analisar-se-á a negociação coletiva como negócio jurídico, trazendo sua definição doutrinária e aspecto legal, suas funções, condições e procedimentos, além de uma rápida análise de sua evolução perante a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Já adentrando no tema da pesquisa, o terceiro capítulo abordará a eficácia da norma coletiva à luz do princípio da autonomia da vontade, aprofundando em questões como a proteção do trabalhador pela via negocial, a possiblidade de flexibilização dos direitos mediante negociação coletiva, bem como a vedação do retrocesso social e a melhoria da condição social do trabalhador.

O capítulo mencionado destina-se a esmiuçar os entendimentos doutrinários a respeito da necessária devolução de poderes aos atores sociais, possibilitando a flexibilização de direitos, além dos limites legais, podendo ocorrer, inclusive, in pejus, a depender da necessidade do caso concreto.

No capítulo quatro, analisa-se a prevalência do negociado sobre o legislado, mediante o princípio da intervenção mínima do Estado na autonomia da vontade coletiva. Preocupa-se em examinar a modulação da autonomia da vontade, propondo a adoção de mecanismos que permitam a segurança jurídica na formação do negócio jurídico coletivo.

Oportunamente, o trabalho mereceu breve análise sobre a representatividade sindical brasileira, considerando as mudanças trazidas pela Lei da Reforma Trabalhista, principalmente no que diz respeito ao fim da contribuição sindical compulsória e aos impactos gerados na formação dos instrumentos normativos coletivos.

(18)

Finalmente, os principais pontos abordados são retomados na Conclusão, com o propósito de, refletindo sobre eles, ratificar as argumentações desenhadas no decorrer da dissertação e que justificam a necessidade do reconhecimento da prevalência dos instrumentos normativos coletivos.

(19)

CAPÍTULO 1 - NEGÓCIO JURÍDICO

1.1. Existência e conceito

O estudo do negócio jurídico é um dos temas mais clássicos da Teoria Geral do Direito e do Direito Civil. Sua concepção clássica remonta ao início do século XIX, sob a inspiração do Estado Liberal, cuja característica principal era a preservação da liberdade individual da forma mais ampla possível, com fins de produzir efeitos jurídicos1.

As teorias em torno do negócio jurídico, basicamente, dividem-se em duas, a saber: a teoria da vontade e a teoria da declaração. Para a primeira, o principal elemento do negócio jurídico é a vontade interna dos sujeitos, sendo a declaração apenas o meio para que a vontade se torne conhecida perante terceiros.

Entretanto, a teoria da vontade começou a ser combatida no final do século XIX, em razão do excesso de liberdade do particular, o que causaria insegurança nas relações particulares2.

Diferentemente da teoria da vontade, a teoria da declaração sustenta, que a vontade é apenas a causa do negócio jurídico, e não um elemento integrante deste. Para essa vertente, o que compõe o negócio jurídico é a declaração (declaração negocial) e o conteúdo desta é um dever. A vontade seria, então, um órgão que coopera com o direito objetivo, faltando-lhe a força de constituir, por si só, um ato jurídico. Ainda, consideram os partidários desta teoria que, na interpretação dos negócios jurídicos, os juízes devem se limitar a examinar o que foi efetivamente declarado e não se perder na busca da vontade interna e psicológica das partes3-4.

1MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 18. ed. São Paulo:

Saraiva, 2012, p. 201.

2 MORAES, Renato José de Moraes. Consensualismo contratual. Revista dos Tribunais. Vol.

729. São Paulo: RT, 1996. p. 679.

3 Ibid.

4 “Além das controvérsias entre a Willenstheorie e a Erklärungstheorie, os juristas alemães do

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No Brasil, o Código Civil de 1916, apesar de influenciado pelas codificações francesa e alemã, não formulou o conceito de contrato como também não se ocupou do negócio jurídico, dispondo, apenas, em seu artigo 81, sob a rubrica de “atos jurídicos”, que “todo o ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar e extinguir direitos, se denomina ato jurídico” 5.

Clóvis Beviláqua, em seus comentários ao referido Código, aproximou-se do conceito de negócio jurídico quando expôs que “ato jurídico deve ser conforme a vontade do agente e as normas de direito; é toda manifestação da vontade inicial, a que a lei atribui efeito de movimentar as relações jurídicas”6.

Já para Francisco de Paula Crescenzo Marino, “pode-se tomar o negócio jurídico como um fato social, manifestação humana movida pela necessidade prática, ou mediante processo de síntese a partir de diversos tipos negociais”7.

Assim, considerando os ensinamentos acima destacados, tem-se que o negócio jurídico emerge da interação humana, em que o indivíduo, exercendo sua autonomia privada, expressa sua intenção e vontade que, em regra, vai ao encontro da intenção e vontade do outro, realizando o negócio jurídico após a permuta de vontades.

contratual. Afinal, apesar de a entenderem de modo diferente, tanto a teoria da vontade quanto a teoria da declaração consideram que a vontade sempre está no fundamento do negócio jurídico, ainda que seja simplesmente como vontade de declaração. Durante boa parte do século XIX, sustentava-se que um contrato obrigava simplesmente porque era o acordo entre duas vontades livres, capazes de gerar vínculos jurídicos para si mesmas. Portanto, a força do contrato estava na vontade de suas partes. Contudo, a partir de 1860, os autores como Brinz, Zitelmann e Enneccerusdefendem que o negócio jurídico obriga porque assim o determina o direito positivo; este permite que, dentro de certos limites, os particulares possam regular seus interesses. Deste modo, a vontade individual não tira a sua força vinculante de si mesma, mas do direito objetivo. Esta nova postura acabou sendo absolutamente vitoriosa entre os juristas germânicos, e é aceita na atualidade”. (MORAES, Renato José de Moraes. Consensualismo contratual. Revista dos Tribunais. Vol. 729. São Paulo: RT, 1996, p. 679).

5BRASIL. Lei n. 3.071, 01 de janeiro de 2016. Institui o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso em: 20 abr. 2019.

6BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 4. ed. Vol. 1. Rio

de Janeiro: Francisco Alves, 1931. p. 318-320.

7MARINO, Francisco Paulo de Crescenzo. Interpretação do Negócio Jurídico. São Paulo:

(21)

Em se tratando de um fenômeno social, que demanda a interação entre indivíduos e o reconhecimento dos demais, deve o negócio jurídico refletir e estar em conformidade com os ideais de seu tempo. Se outrora um apertar de mãos era suficiente para selar o negócio, atualmente a expressão da vontade demanda profunda análise para a interpretação do negócio jurídico.

Segundo Antônio Junqueira de Azevedo, o negócio jurídico é muito mais do que a simples manifestação da vontade exarada pelas partes. Para o autor, além da manifestação da vontade, é necessário o reconhecimento social, para que, somente assim, o negócio jurídico exista, seja válido e eficaz. Em suas palavras, “negócio jurídico é todo fato jurídico consistente em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade, eficácia, impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”8.

Referido autor esclarece, ainda, que:

O importante na caracterização do negócio é salientar que, se, em primeiro lugar, ele é um ato cercado de circunstâncias que fazem com que socialmente ele seja visto como destinado a produzir efeitos jurídicos, em segundo lugar, a correspondência, entre os efeitos atribuídos pelo direito (efeitos jurídicos) e os efeitos manifestados como queridos (efeitos manifestados) existe, porque a regra jurídica de atribuição procura seguir a visão social e liga efeitos ao negócio em virtude da existência de manifestação de vontade sobre eles9.

Deste modo, o negócio jurídico não é, somente, a manifestação de vontade das partes, mas sim o que a sociedade vê como a declaração de vontade das partes, deixando-se de analisar o negócio sob o prisma particular das partes, fazendo-o, do ponto de vista social e jurídico10.

8AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. 4.ed. atual.

de acordo com o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002 p. 16.

9 Ibid. p. 19. 10 Ibid. p. 21.

(22)

Assim, o negócio jurídico vem sendo relativizado por um conceito de ato ou preceito de autonomia privada, que detêm um papel auxiliar na formação do negócio jurídico. Ensina Érico de Pina Cabral que:

A autonomia privada não permite que seu instrumento prático, o negócio jurídico, se prenda a uma simples manifestação de vontade, destinada a produzir efeitos jurídicos. Nas relações jurídicas atuais, antes de se tutelar a vontade do declarante (vontade interna, manifestada ou não) tutela-se a parte que confiou que recebeu com confiança a declaração da contraparte. Trata-se da tutela da confiança e da aparência11.

O negócio jurídico é, portanto, em nossa concepção, um ato jurídico (stricto sensu), celebrado com a manifestação e declaração de vontade, percebida e aceita pelas partes e pela sociedade, apto a produzir efeitos jurídicos, implicando na vinculação dos indivíduos para a concreção do negócio e seu conteúdo normativo.

1.2. Requisitos de validade do negócio jurídico e a autonomia negocial

Para que o negócio jurídico tenha validade, é necessário que sejam observados os requisitos previstos no artigo 10412 do atual Código Civil: capacidade do agente, objeto lícito, possível e determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.

Nesse sentido, ensina Antônio Junqueira de Azevedo que:

A validade é, pois, a qualidade que o negócio deve ter ao entrar no mundo jurídico, consistente em estar de acordo com as regras jurídicas (“ser regular”). Validade é, como o sufixo da palavra indica, qualidade de um negócio existente. “Válido” é

11CABRAL, Érico Pina de Cabral. A autonomia no direito privado. Revista de Direito Privado. Vol.

19. São Paulo: RT, 2004. p. 83-129.

12 Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I – agente capaz;

II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei.

(23)

adjetivo com que se qualifica o negócio jurídico formado de acordo com as regras jurídicas13.

Para Francisco Amaral, também “a vontade é elemento fundamental na produção dos efeitos jurídicos, sendo necessário, como é óbvio, que ela se manifeste, se exteriorize”14.

Assim, se a declaração de vontade negocial é o suporte fático primordial do negócio jurídico, esta deverá ser: “a) resultante de um processo volitivo; b) querida com plena consciência da realidade; c) escolhida com liberdade; e, d) deliberada sem má-fé”15. A vontade negocial deve, ainda, ser manifestada por agente capaz e legitimado para o negócio.

Embora a vontade livre (sem vícios) não tenha sido expressamente inserida no art. 104, do Código Civil de 2002, como os demais elementos, ela está implicitamente imposta na capacidade do agente ou na licitude do objeto do negócio.

É importante destacar, que a declaração de vontade negocial exige igualdade entre o declarante e seu destinatário, isto é, não deve haver disparidade entre os agentes. Isto porque, para que o negócio jurídico não seja nulo é essencial que haja igualdade entre as partes16.

Não se trata de mera disparidade econômica, mas sim de eventual relação de submissão. Não pode uma das partes se sobrepor à outra, determinando a realização do negócio de maneira forçada, sob pena de locupletamento da autonomia negocial da parte “inferior”.

13AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico e Declaração Negocial. São Paulo, 1986.

p. 42

14AMARAL, Francisco. Direito Civil: Introdução. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 389. 15AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. 4. ed.

atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002. p. 43.

(24)

O fato de, eventualmente, existir uma disparidade econômica – e que em função disto uma das partes possa determinar certas condições – não implica, necessariamente, em hierarquização, tendo em vista a igualdade e a manutenção do pleno gozo da autonomia negocial de ambas as partes, como é o caso das negociações coletivas de trabalho.

Outro dos requisitos do negócio jurídico diz respeito ao seu objeto, que deve ser lícito, possível, determinado ou determinável (art. 104, II do atual Código Civil).

Logo, considera-se ilícito o negócio que visa objeto contrário à lei, à moral ou aos bons costumes, e é impossível o negócio jurídico que tiver por objeto algo que não possa ser realizado em caráter absoluto. A impossibilidade também pode ser jurídica, identificada nos casos onde o ordenamento jurídico não admitir a realização do negócio, tal como ajustado pelos contratantes.

O terceiro requisito de validade do negócio é a forma (art. 104, III do atual Código Civil), que será livre, salvo nos casos em que a lei exija expressamente que ela seja especial (art. 10717 do atual Código Civil).

Feitas tais considerações, cabe-nos discorrer sobre a autonomia negocial nos contratos e convenções, que são espécies de negócio jurídico e representam ajustes de vontades que criam, regulam e extinguem relações jurídicas.

O negócio jurídico, como já se expôs, é fruto do relacionamento humano. Através de manifestação de vontade qualificada, os contratantes dispõem de seu direito, levando em conta sua autonomia de vontade negocial, criando obrigações recíprocas, a fim de satisfazer, cada um, a sua necessidade pessoal.

17Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando

(25)

Essa autonomia, todavia, possui limitação jurídica, isto é, é possível às partes a autorregulamentação de seus interesses – visando o nascimento de um negócio, mas sempre dentro das balizas sociais impostas pelo ordenamento.

Ensina Emilio Betti que esta autonomia seria “reconhecida como actividade e potestas criadora, modificadora ou extintora das relações jurídicas entre os particulares: relações cuja ida e cujas vicissitudes são, antecipadamente, disciplinadas por normas jurídicas preexistentes”18.

Para Massimo Césare Bianca, a autonomia privada reflete um aspecto das liberdades individuais, mas seu reconhecimento deve se inserir na concepção de que o ordenamento se inspira na solidariedade social, valor consagrado pela Constituição19. Para o autor, a autonomia privada negocial está intimamente atrelada à solidariedade social, ideia que se concretiza pelo princípio da boa-fé, que rege as relações jurídicas20.

Desse modo, a manifestação da autonomia negocial das partes que, mormente se dá através de uma declaração de vontade negocial, é que irá conceber a existência do negócio jurídico.

O escopo da autonomia negocial é, portanto, fazer dos agentes contratantes os senhores da própria vontade e relação, de modo que estes, e somente estes, estejam aptos a definir os termos do negócio entre eles firmado, observados os limites impostos pelo ordenamento jurídico.

1.3. As circunstâncias negociais

As circunstâncias negociais são de suma importância para a percepção e formação do negócio jurídico, sendo, ao lado da forma e de seu

18BETTI, Emilio. Teoria Geral do Negócio Jurídico. Tomo I. Coimbra, 1969. p. 107-108.

19BIANCA, Massimo Césare. Dirittocivile: I l contrato. 1. ed. reimpr. Vol. 3. Milano: Dott A. Giuffre,

1998. p. 32.

(26)

objeto, elemento essencial para a verificação da declaração de vontade negocial e formação do negócio.

Historicamente, elas se caracterizam como a contextualização que permite a declaração de vontade em assumir o caráter negocial, isto é, o reconhecimento jurídico e social que é atribuído ao declarante quando da emissão de sua vontade em firmar negócio.

Para Antônio Junqueira de Azevedo, “as ‘circunstâncias negociais’ são, pois, um modelo de atitude, o qual, em dado momento, em determinada sociedade, faz com que certos atos sejam vistos como dirigidos à produção de efeitos jurídicos”21.

Na mesma linha, Emilio Betti explica que um ato socialmente eficaz não existe sem a verificação de um comportamento reconhecível perante os demais 22.

Além do reconhecimento social, entende-se que as circunstâncias negociais demandam uma análise sob a perspectiva do próprio agente declarante, uma vez que a pretensão de produção de determinados efeitos é o cerne da formação do negócio jurídico.

A declaração de vontade negocial realizada, por exemplo, em tom chacota ou aposta, ainda que revestida dos demais elementos formadores do negócio jurídico, não estará apta a produzir efeitos. Isto porque, ainda que o agente tenha a real vontade em realizar o negócio, o contexto em que se verificou a declaração não produziu o seu reconhecimento social, logo, não houve a completa presença das circunstâncias negociais.

21AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. 4. ed.

atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002. p. 122.

(27)

É necessário, portanto, o reconhecimento da declaração de vontade negocial enquanto instituto. Sendo assim, esse reconhecimento, tanto social, quanto pelo ordenamento, reflete a cultura humana de seu tempo.

O processo interpretativo de reconhecimento do negócio jurídico parte da declaração de vontade negocial, interpretando aquilo que foi querido pelo agente quando da elaboração de sua declaração, sempre tendo em vista a boa-fé que é parte integrante das relações negociais. A boa-boa-fé é o elemento delimitador da interpretação do negócio jurídico, prevalecendo sobre os demais traços subjetivos da declaração23.

São as circunstâncias negociais as responsáveis por qualificar ou desqualificar a declaração de vontade, quando esta assume ou não o caráter negocial, tendo em vista, no último caso, a reprovabilidade da conduta perante a sociedade.

1.4. O reconhecimento social da declaração de vontade

Conforme acima exposto, as circunstâncias negociais são observadas na medida em que a declaração de vontade é socialmente reconhecida como tendo caráter negocial, de modo que a manifestação do agente, perante o ordenamento e sociedade, visa a concreção de um negócio jurídico.

Para Paulo Mota Pinto24, a consciência da declaração está intimamente ligada à realização do ato jurídico negocial. O agente precisa estar consciente de que seu ato ou comportamento implique em declaração negocial que produzirá efeitos jurídicos.

23COSTA, Judith Martins. A boa-fé no direito privado. São Paulo: RT, 1999. p. 428.

24PINTO, Paulo Mota. Declaração tácita e comportamento concluente no negócio jurídico.

(28)

O pensamento social atua sobre a psique do agente que, ao ter consciência e buscar os efeitos pretendidos, ainda que sem forma definida, declara sua vontade de acordo com o entendimento vigente.

Nessa esteira, entendemos as circunstâncias negociais como sendo o contexto socialmente reconhecível da declaração de vontade, que lhe confere o caráter negocial e, consequentemente, o torna apto a produzir efeitos quando da formação do negócio jurídico.

1.5. A boa-fé no negócio jurídico

A boa-fé, segundo Álvaro Villaça Azevedo25, é um estado de espírito que leva o sujeito a praticar um negócio em clima de aparente segurança, sendo esta a razão de todos os sistemas jurídicos serem escudados no princípio da boa-fé, que supera até, o princípio da nulidade dos atos jurídicos, uma vez que os atos nulos, em certas ocasiões, podem produzir efeitos na ordem civil.

Conquanto assim seja, cabe destacar que a expressão boa-fé comporta duas espécies: a boa-fé subjetiva e a boa-fé objetiva. A primeira é aquela encontrada na consciência do agente e representa o conhecimento ou desconhecimento de algum vício, inexistindo na forma de agir a intenção de a outrem lesar. A segunda consiste numa regra objetiva de conduta, fundada na honestidade, na lealdade, na retidão e na transparência.

Nessa acepção, a boa-fé objetiva é um padrão genérico, objetivo, de comportamento, que exige do negociante uma atuação refletida, preocupada com a outra. Cuida-se de um princípio que impõe a cada uma das partes a observância de comportamento respeitoso, leal, não abusivo e não lesivo26.

25 COUTO E SILVA, Clóvis do. O princípio da boa-fé no direito brasileiro e português. São Paulo,

RT, 1980. p. 26.

26 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da; CAMBLER, Everaldo Augusto (coord.). Curso avançado de

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No direito brasileiro, o princípio da boa-fé tornou-se expresso, em 2002, com a edição do Código Civil, impondo-se as partes a obrigatoriedade de guardarem, tanto na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé27.

Clóvis do Couto e Silva28 explica que a aplicação do princípio da boa-fé na relação contratual atribui função harmonizadora, uma vez que concilia o rigorismo lógico-dedutivo da ciência do direito do século passado com a vida e as exigências éticas atuais, abrindo, por assim dizer, no hortus conclusus do sistema do positivismo jurídico, janelas para o ético.

Daí a razão de o porquê se afirmar que na interpretação do pactuado é necessário ater-se mais à intenção das partes do que ao sentido literal da linguagem, competindo aos contraentes, a seu turno, agir com transparência, lealdade e confiança recíprocas na formação, execução e extinção do negócio jurídico.

Desse modo, é o quanto determina o art. 113 do Código Civil Brasileiro:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Destarte, se na relação jurídico-contratual, as partes se movimentam por interesses contrapostos, não podem persegui-los com dissimulação e deslealdade, muito pelo contrário:

São obrigadas a dirigir a manifestação de vontade dentro dos interesses que as levaram a se aproximarem, de forma clara e autêntica, sem o uso de subterfúgios ou intenções outras que não as expressas no instrumento formalizado. A segurança das relações jurídicas depende, em grande parte, da lealdade e da confiança recíproca29.

27 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em

sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

28 COUTO E SILVA, Clóvis do. A obrigação como processo. São Paulo: José Bushatsky, 1876.

p. 42.

(30)

É importante destacar, ainda, que o princípio da boa-fé exerce três funções essenciais, quais sejam: a) fornece os critérios para a interpretação do contrato ou da declaração de vontade; b) funciona como fonte de deveres instrumentais, secundários ou anexos; c) funciona como limitador do exercício de direitos subjetivos30.

Assim, consistindo o negócio jurídico, em um instrumento formalizado sob a livre da manifestação de vontades, não possuindo vícios ou máculas que o possam anular e sujeito à realização dos deveres e obrigações das partes, resta inadmissível àquele que contrariar as regras pactuadas aproveitar-se de sua própria torpeza ou ilicitude e exigir ou alter obediência ao preceito que ele próprio já desrespeitara.

Considerados os argumentos acima expostos, há de se perceber que:

Boa-fé é tanto forma de conduta como norma de comportamento, com correlação objetiva entre meios e fins, como exigência de adequada e fiel execução do que tenha sido acordado pelas partes, o que significa que a intenção destas só pode ser endereçada ao objetivo a ser alcançado, tal como esse se acha definitivamente configurado nos documentos que o legitimam. Poder-se-ia concluir afirmando que a boa-fé representa o superamento normativo, e tal como imperativo, daquilo que no plano psicológico se põe como intentio leal e sincera, essencial à juridicidade do pactuado31.

A boa-fé é, portanto, elemento fundamental para a realização do negócio jurídico, e deve, assim como a probidade, sinceridade e transparência, estar presente em qualquer que seja a fase negocial (pré-contratual, contratual, pós-contratual), haja vista ter-se em mira sempre o resultado frutífero do pactuado pelas partes.

Conclui-se, por conseguinte, que o objeto de negócio jurídico que disponha sobre direitos trabalhistas, assim como nos demais ramos do Direito, deve passar, pelo crivo da boa-fé.

30 MARTINS COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: RT, 2000. p. 427. 31 REALE, Miguel. Estudos preliminares do Código Civil. São Paulo: RT, 2003. p. 77.

(31)

CAPÍTULO 2 - DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA

2.1. Conceito de Negociação Coletiva de Trabalho

A necessidade de discussão sobre temas relacionados ao trabalho surgiu durante o período da Revolução Industrial, ante a necessidade de fazer frente à exploração do capital sobre o trabalho humano. A ideia de se constituir um procedimento de negociação surgiu no mesmo período, contudo, sem uma forma jurídica específica, à margem da lei, ante a inexistência de qualquer direito que pudesse garantir a sua eficácia.

Após um longo processo histórico, o fruto da negociação coletiva de trabalho passou a ser reconhecido como negócio jurídico, elaborado pelas partes interessadas, apto à criação de regras próprias, com a finalidade de harmonizar os interesses contrapostos decorrentes do “conflito originário da distribuição desigual do poder nos processos produtivos”32. Assim, a convenção ou o acordo que resultam da negociação coletiva tornou-se importante fonte do Direito do Trabalho.

Pode-se dizer que, mediante a evolução e desenvolvimento da negociação coletiva, as relações de trabalho passaram a ser vistas sob uma ótica mais social e menos econômica, atingindo uma coletividade de trabalhadores, regulamentando a convivência entre o capital e o trabalho.

2.1.1. Definição doutrinária de Negociação Coletiva

São muitas as definições de negociação coletiva na doutrina brasileira. Para Amauri Mascaro Nascimento33, negociação coletiva “é forma de desenvolvimento do poder normativo dos grupos sociais segundo uma

32 GIUGHI, Gino. Direito Sindical. São Paulo: LTr, 1991. p. 15.

33 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: LTr,

(32)

concepção pluralista que não reduz a formação do direito positivo à elaboração estatal”.

Afirma, ainda, que “é a negociação destinada à formação consensual de normas e condições de trabalho que serão aplicadas a um grupo de trabalhadores e empregadores”.

Segundo Maurício Godinho Delgado34, a negociação coletiva é um método autocompositivo de solução de conflitos coletivos trabalhistas, uma “fórmula essencialmente democrática, gerindo interesses profissionais e econômicos de significativa relevância social”.

De acordo com Octavio Bueno Magano35, a “negociação coletiva deve ser compreendida como o conjunto de procedimentos de autocomposição, tendentes à superação de um conflito coletivo”.

Outro autor que bem analisou a definição de negociação coletiva foi José Augusto Rodrigues Pinto36:

A negociação coletiva deve ser entendida como o complexo de entendimentos entre representações de categorias de trabalhadores e empresas, ou suas representações, para estabelecer condições gerais de trabalho destinadas a regular as relações individuais entre seus integrantes ou solucionar outras questões que estejam perturbando a execução normal dos contratos.

As definições doutrinárias, com pequenas variações, entendem que as negociações coletivas são, portanto, uma forma de autocomposição de conflitos de natureza coletiva, regulamentada mediante instrumento jurídico: acordo ou convenção coletiva de trabalho.

34 DELGADO, Maurício Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2015. p.

105-106.

35 MEIRELLES, Davi Furtado. Negociação coletiva no local de trabalho: a experiência dos

metalúrgicos do ABC. São Paulo: LTr, 2008. p. 29.

36 PINTO, José Augusto Rodrigues. Direito Sindical e Coletivo do Trabalho. 2. ed. São Paulo:

(33)

Desse modo, tem-se a negociação coletiva como um procedimento de discussão, envolvendo uma ou mais organizações empresariais e, de outro lado, uma ou mais organizações de trabalhadores, visando à regulamentação das condições de trabalho, com aplicabilidade aos contratos individuais abrangidos, resultando na realização de um negócio jurídico.

2.1.2. Definição Legislativa de Negociação Coletiva

No sistema sindical brasileiro, a definição legal de negociação coletiva pode ser extraída das Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Especificamente as Convenções nº 9837 e nº 15438, da OIT, versam sobre o tema, sendo que ambas foram ratificadas pelo Brasil.

A Convenção nº 98 dispõe sobre o direito de organização sindical, de sindicalização e de negociação coletiva, estabelecendo as medidas que cada estado deve tomar para o respectivo desenvolvimento.

O direito à negociação coletiva está disciplinado no art. 4º da referida Convenção. Vejamos:

[...] deverão ser tomadas, se necessário for, medidas apropriadas às condições nacionais, para fomentar e promover o pleno desenvolvimento e utilização dos meios de negociação

voluntária entre empregadores ou organizações de

empregadores e organizações de trabalhadores com objetivo de

37 Aprovada pela 32ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho (Genebra – 1949), com

entrada em vigor no plano internacional em 18/07/51. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº 49, de 27/08/52, ratificada em 18/11/52, e promulgada pelo Decreto Presidencial nº 33.196, de 29/06/53, com vigência nacional a partir de 18/11/53, segundo ensina Arnaldo Süssekind. (SUSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT e outros tratados. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 206).

38 Aprovada pela 67ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho (Genebra – 1981), com

entrada em vigor no plano internacional em 11/08/83. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº 22, de 12/05/92, ratificada em 10/07/92, e promulgada pelo Decreto Presidencial nº 1.256, de 29/09/94, com vigência nacional a partir de 10/07/93, também segundo informações de Arnando Süssekind. (Ibid. p. 388).

(34)

regular, por meio de convenções, os termos e condições de emprego.

Entretanto, foi a Convenção nº 154 da OIT, em complementação à Convenção nº 98 do mesmo diploma legal, que definiu, em seu art. 2º, o que seria negociação coletiva:

Art. 2º - Para efeito da presente Convenção, a expressão "negociação coletiva" compreende todas as negociações que tenham lugar entre, de uma parte, um empregador, um grupo de empregadores ou uma organização ou várias organizações de empregadores, e, de outra parte, uma ou várias organizações de trabalhadores, com o fim de:

a) fixar as condições de trabalho e emprego; ou

b) regular as relações entre empregadores e trabalhadores; ou c) regular as relações entre os empregadores ou suas organizações e uma ou várias organizações de trabalhadores, ou alcançar todos estes objetivos de uma só vez.

Considerando a redação do art. 2º da Convenção nº 154 da OIT, tem-se que o objetivo principal das organizações de empregados e empregadores é a negociação coletiva.

A Constituição Federal de 1988 regulamenta as relações coletivas de trabalho, trazendo a negociação coletiva como regra, conforme dispõe seu art. 8º, inciso VI39, que deve ser interpretado como um direito.

A obrigatoriedade de que trata o inciso VI do art. 8º da Constituição Federal não pode e não deve ser interpretada como monopólio sindical, mas sim como um dever do sindicato em participar da negociação coletiva na qualidade de representante dos interesses daqueles que o compõem. Nesta linha de raciocínio, temos o art. 61640 da CLT, que prevê a impossibilidade de recusa das partes quando provocadas à realização de uma negociação coletiva.

39 Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

40 Art. 616 – Os sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e as

empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva.

(35)

Ensina Alice Monteiro de Barros41, que apesar de o aludido inciso mencionar sindicatos no plural, o entendimento majoritário é no sentido de que a participação obrigatória nas negociações refere-se ao sindicato profissional, em decorrência do princípio de tutela, inferindo-se daí que não é obrigatória a participação do sindicato patronal, mesmo porque na celebração de acordo coletivo de trabalho, com uma ou mais empresas, não há necessidade da presença do sindicato patronal.

O legislador infraconstitucional, notadamente na CLT, preocupou-se em definir, de modo mais detalhado, os negócios jurídicos advindos das negociações coletivas. É o que se constata da leitura do art. 61142 do referido diploma legal.

Desse modo, Ivani Contini Bramante43, ao comentar o artigo supramencionado, ensina que:

A negociação coletiva, instrumento da autonomia privada coletiva e poder de auto-regulamentação dos interesses próprios é considerada como instituto da democracia nas relações trabalho-capital, porque é expressão da liberdade sindical, instrumento de pacificação dos conflitos coletivos de trabalho, instrumento de participação dos trabalhadores na fixação das normas e condições de trabalho, atende a dinâmica das normas de trabalho superadora da lentidão legislativa e das insuficiências da contratação individual, instrumento de flexibilização das condições de trabalho (art. 7º, VI, XIII, XIV, da CF) e de adequação das normas que regem as relações de trabalho.

Logo, temos que a convenção e o acordo coletivo de trabalho são frutos do negócio jurídico firmado entre os sindicatos e/ou empresas, destinado a estipulação das normas e condições de trabalho a serem aplicadas nos

41 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2013. p.

993.

42 Art. 611 – Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou

mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho.

43 BRAMANTE, Ivani Contini. In: MACHADO, Costa (org.); ZAINAGUI, Domingos Silvio (coord.).

(36)

contratos individuais de trabalho. A norma constante da convenção coletiva tem por destinatários todos os trabalhadores integrantes das categorias representadas pelos sindicatos negociantes. A norma coletiva constante do acordo coletivo de trabalho tem por destinatários os trabalhadores integrantes da empresa ou grupo de empresas negociante.

Assim, os efeitos da negociação alcançam todos os trabalhadores abrangidos na representação da entidade que celebrou a norma coletiva (convenção coletiva) e empregados de uma empresa (acordo coletivo), independentemente de filiação sindical.

Portanto, a eficácia da negociação coletiva, alcançada mediante a realização de negócio jurídico (convenção coletiva ou acordo coletivo), delimita-se aos sindicatos signatários, entretanto, os termos pactuados têm prevalência sobre a lei44. O seu caráter é normativo, uma vez que as normas coletivas de trabalho se aplicam aos contratos individuais de trabalho em curso e àqueles celebrados na vigência da convenção ou acordo coletivo.

2.2. Funções da Negociação Coletiva

A negociação coletiva cumpre funções jurídicas e não jurídicas; sendo jurídicas as funções normativa, obrigacional e compositiva, e não jurídicas as funções política, econômica e social.

Para Amauri Mascaro Nascimento45, a contratação coletiva tem como finalidade “harmonizar os interesses contrapostos dos trabalhadores e dos empregadores, evitar a greve e o recurso ao órgão jurisdicional, casos em que não encontrariam solução célere para o impasse”.

44 Art. 611-A – A convenção ou acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando,

entre outros, dispuserem sobre: (...).

45 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. 8. ed. São Paulo: LTr, 2015.

(37)

Maurício Godinho Delgado46 aduz que a negociação coletiva trabalhista desponta como o mais significativo mecanismo de realização das funções inerentes ao Direito do Trabalho, confundindo-se os objetivos e as funções da negociação coletiva com aqueles caracterizadores do próprio segmento jus coletivo trabalhista.

Para o autor, a negociação coletiva trabalhista possui função sociopolítica e função econômica, além da função de geração de normas jurídicas e a de pacificação de conflitos de natureza sociocoletiva. Entende, ainda, que a negociação coletiva cumpre também função social e política importante, por ser um instrumento de democratização do poder e função econômica, devido a sua aptidão para produzir a adequação de regras de Direito do Trabalho, que não sejam absolutamente indisponíveis, às particularidades regionais47.

Do mesmo modo, José Cláudio Monteiro de Brito Filho48 identifica as seguintes funções da negociação coletiva:

A normativa seria a criação de normas aplicáveis às relações de emprego; a obrigacional, a criação de normas válidas para os sujeitos da negociação; a compositiva, visando a superar o conflito existente entre as partes; a política, que resultaria do diálogo entre grupos sociais, como forma de suplantar divergências; a econômica, que seria forma de distribuição da riqueza e a social, pela participação dos trabalhadores na vida e no desenvolvimento da empresa.

Alain Supiot49 adverte que além das funções acima já expostas são, também, funções da negociação coletiva:

46 DELGADO, Maurício Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2015. p.

122-125.

47 Ibid.

48 BRITO FILHO. José Claudio Monteiro de Brito Filho. Direito Sindical: Análise do Modelo

Brasileiro de Relações Coletivas à Luz do Direito Estrangeiro Comparado e da Doutrina da OIT – Proposta de Inserção da Comissão de Empresa. 7. ed. São Paulo: LTr, 2018. p. 163.

49 SUPIOT, Alain. Transformações do trabalho e futuro do Direito do Trabalho na Europa.

(38)

a) função de flexibilização, que é a de adaptação das condições de trabalho às necessidades de competitividade e de flexibilidade das empresas, apresentando-se a negociação coletiva como alternativa à aplicação da lei; b) função de instrumento de gestão da empresa, quando a negociação coletiva funciona como um instrumento de colaboração nas mudanças e na organização do trabalho, introduzindo novas formas de diálogo social, incidindo sobre a organização do trabalho, hipótese em que o objeto da negociação deixa de ser o trabalhador, passando a ser o trabalho.

Não obstante a importância do tema, a seguir, serão apontadas algumas das principais funções da negociação coletiva que colaboram para o objetivo final desta pesquisa.

2.2.1. Equilíbrio e Paz Social

É consenso que o conflito não interessa a ninguém, nem às partes diretamente envolvidas, tampouco à sociedade, portanto, no nosso sentir, a busca pelo equilíbrio e paz social é a primeira e talvez a mais importante função da negociação coletiva.

Não há como negar que a luta entre o capital e o trabalho é, basicamente, desigual. O lado que detém a força econômica tem vantagem sobre o lado que representa a força de trabalho e o equilíbrio dessa relação depende, e muito, da negociação coletiva, uma vez que permite a redução do distanciamento entre as vontades contrapostas50.

Amauri Mascaro Nascimento aduz que:

O equilíbrio do sistema político pode ser prejudicado quando os conflitos sociais assumem proporções maiores e passam a afetar a sociedade. Podem, quando tal ocorre, trazer instabilidade política. Não é do interesse da sociedade a luta permanente entre classes sociais. A negociação coletiva é um instrumento de estabilidade nas relações entre os trabalhadores e as empresas; a sua utilização passa a ter um sentido que

(39)

ultrapassa a esfera restrita das partes interessadas, para interessar à sociedade política51.

Da análise do quanto acima exposto, tem-se que a negociação coletiva funciona como um limite ao poder do capital, ao mesmo tempo que o estabelecimento da paz social relaciona a negociação coletiva com uma função de ordem política, visando garantir tranquilidade à sociedade como um todo, trazendo harmonia e a boa convivência nas relações de trabalho. Assim, sua função extrapola os interesses privados daqueles que negociam, atingindo a sociedade como um todo.

Cabe ressaltar, ainda, que o processo de negociação coletiva visa respaldar a questão econômica do momento, buscando a sobrevida das empresas e a manutenção dos postos de trabalho.

Essa finalidade é de extrema importância, principalmente nos momentos de crise, pois possibilita ajustes adequados e eficientes nos locais de trabalho, atendendo não só ao interesse das partes envolvidas, mas também o interesse de toda a sociedade.

Alfredo J. Ruprecht52 elucida que “o contato constante das partes em luta e o equilíbrio de forças fazem, muitas vezes, uma controvérsia perder sua agressividade e se chegar a uma solução; transforma a relação de força em relação de cooperação”.

Da análise exposta acima, considerando que o objetivo principal das negociações coletivas é reduzir a litigiosidade entre as partes, buscando alternativas que respeitem a autonomia da vontade coletiva, com participação e representação sindical, questiona-se: por que não prevalecer o negociado sobre o legislado? Falaremos, mais detalhadamente, sobre o assunto nos próximos capítulos.

51 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. 8. ed. São Paulo: LTr, 2015.

p. 437.

52 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas de Trabalho. Tradução Edilson Alkimin. São Paulo:

(40)

Sendo assim, conclui-se que a negociação coletiva pode e deve ser a ponte de equilíbrio entre os interesses contrapostos dos trabalhadores e das empresas, visando o estabelecimento da paz social nas relações de trabalho.

2.2.2. Composição do Conflito

A negociação coletiva tem como finalidade o acordo, a composição amigável para o litígio coletivo instalado.

Conforme se depreende da leitura do art. 114, §1º 53 e 2º54 da Constituição Federal, o legislador constitucional elegeu a negociação coletiva como principal fonte de solução de conflitos coletivos, partindo da premissa de que o procedimento negocial ocorreu, ou deveria ocorrer, antes da indicação da arbitragem e posteriormente da via judicial.

Elucida Dinaura Godinho Pimentel Gomes55 que “é por meio da negociação coletiva – em um sistema de efetivo equilíbrio de forças, participação e responsabilidade das partes – que os interesses em conflito podem ser temporariamente resolvidos, além de favorecer a ação autônoma de dar vida a um corpo de regras”.

A negociação coletiva, antes mesmo da regra constitucional, sempre foi tida como uma etapa prévia obrigatória para o ingresso de dissídios coletivos econômicos, sendo encarada como um requisito para a propositura da ação ou mesmo um pressuposto processual dela, assim como o Tribunal Superior do

53 §1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

54§2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às

mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

55 GOMES, Dinaura Godinho Pimentel. Direito do Trabalho e dignidade da Pessoa Humana, no

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