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Surgimento e organização da televisão de serviço público: as TVs educativas

1. TV PÚBLICA E POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL: TRAJETÓRIA, INTERSEÇÕES E EMBATES

1.3. A DITADURA MILITAR E A CONSOLIDAÇÃO DA TV COMERCIAL

1.3.1 Surgimento e organização da televisão de serviço público: as TVs educativas

Conforme já afirmado anteriormente, a história das emissoras da radiodifusão de serviço público se confunde com a história das TVs educativas, desde o Decreto-Lei n.º 236 de 1967. É apenas com a promulgação da Medida Provisória (MP) nº 39861, já no ano de 2007 – responsável por instituir os “princípios e objetivos dos serviços de radiodifusão pública” (BRASIL, 2007b) – que a denominação “pública” para as emissoras não comerciais possuiria respaldo na legislação (FRADKIN, 2007). Retomamos, portanto, a norma citada:

Uma vez criada a figura da radiodifusão educativa, em 1967, coube ao Ministério da Educação - MEC, de acordo com o disposto no art. 6º da Lei Nº 4024, de 20/12/1961, estabelecer as normas e os critérios que passariam a reger a citada área. Esse art. 6º determinava que: “O Ministério da Educação e Cultura exercerá as atribuições do Poder Público Federal em matéria de educação” (FRADKIN, 2007, online).

No bojo desse processo, ainda em 1967, a Lei nº 5.198 cria a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTVE)62. Vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, a instituição tinha como finalidade “a produção, aquisição e distribuição de material audio- visual destinado à radiodifusão educativa” (BRASIL, 1967b). Nos primeiros anos, cabe à Fundação, com parcos recursos materiais e humanos, a realização de cursos em âmbito nacional, a prestação de serviços de assistência técnica a instituições, que incluem treinamento, iniciação de pessoal e planejamento em teledifusão educativa. Seis anos depois de sua criação, a FCBTVE recebe autorização para estabelecer uma estação de televisão aberta, a TVE-BR – Canal 263, que utilizaria o canal 2 do Rio de Janeiro, antes ocupado pela TV Excelsior. (MILANEZ, 2007)

A primeira televisão educativa do Brasil, inaugurada em 196864, é a TV Universitária de Pernambuco, ligada à Universidade Federal deste Estado (CAPARELLI, 1982). Um ano depois, a TV Cultura é reinaugurada sob a tutela da Fundação Padre Anchieta, entidade pública submetida a um regime de direito privado. A emissora, fundada em 1960, pertencia anteriormente aos Diários e Emissoras Associados e é vendida ao Estado de São Paulo, após sofrer um incêndio que destrói todas as suas instalações. A operação suscita intensa polêmica,

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Posteriormente convertida na Lei nº 11.652 de 2008.

62 Segundo Liana Milanez (2007), a ideia de sua criação vinha sendo desenvolvida desde o ano de 1964, por uma

comissão composta por educadores, funcionários do MEC e do Contel.

63 A TVE - Canal 2 só inicia suas transmissões em caráter definitivo três anos depois, quando expira o prazo, em

4 de fevereiro de 1977 para o funcionamento em fase experimental. (MILANEZ, 2007)

64 Existem, porém, algumas iniciativas anteriores de utilização da TV para difusão do ensino. Caparelli (1982)

assinala a iniciativa de implantação de um curso de admissão pela TV Cultura, canal 2 – TV Escola de São Paulo, já em 1961, quando ainda pertencia ao grupo empresarial Diários e Emissoras Associados. No mesmo ano

em 1967. No entanto, sua reinauguração é aplaudida pelos principais jornais impressos do Estado. Sua proposta era ambígua: contemplar “a necessidade de produzir programas de escolarização para as classes subalternas da sociedade, ao lado de um projeto cultural nitidamente voltado para as elites” (LEAL FILHO, 1988, p. 27).

Segundo Hayleno (2012, p. 89), até o ano de 1975, nove emissoras educativas encontram-se em funcionamento. Além da TV Universitária de Pernambuco, são criadas a TV Cultura de São Paulo, a TV Educativa do Maranhão, a TV Educativa do Rio de Janeiro, a TV Educativa do Amazonas, a TV Universitária do Rio Grande do Norte, a TV Educativa do Espírito Santo, a TV Educativa do Rio Grande do Sul e a TV Educativa do Ceará. Em geral, estas emissoras seguem a matriz de programação educacional-formal, com base em programas didáticos voltados para o ensino e nos telecursos, a fim de substituir a sala de aula.

Entre as experiências mais significativas podemos citar as seguintes: a TVE do Ceará, a TVE do Maranhão e a TVU do Rio Grande do Norte concentravam em suas programações a produção e a veiculação de programas didáticos destinados ao Ensino de 5ª a 8ª séries do 1º Grau (as duas primeiras) e ao Ensino de 1ª a ª4 séries do 1º Grau (a última). A TV Cultura de São Paulo tornou-se a pioneira na produção e veiculação de programas didáticos voltados para o Ensino Supletivo ao lançar, em 1969, o Curso de Madureza Ginasial. Em 1978, produziu e veiculou o Telecurso de 2º Grau que, posteriormente, viria a receber a parceria da Fundação Roberto Marinho. Por sua vez, a FCBTVE, entidade implantada graças ao idealismo do Prof. Gilson Amado, produziu, em 1973 a primeira novela pedagógica destinada ao Ensino de 1º Grau denominada “João da Silva” que foi inicialmente veiculada pelas emissoras comerciais TV Globo e TV Rio e que, a partir de 1976, passou a ser veiculada também pela sua própria emissora, a TVE do Rio de Janeiro. (FRADKIN, 2006, p. 02).

No período, os projetos de televisão educativa se caracterizam pelo entendimento dos meios de comunicação como ferramentas para a expansão educacional, atingindo as populações excluídas dos circuitos oficiais. Seu surgimento no país é impulsionado pela pressão de agências e organismos internacionais, liderados pela UNESCO, que defendem o uso da TV para suprir as carências educacionais dos países em desenvolvimento. Outro importante fator é a necessidade de formação de mão-de-obra especializada, diante do acelerado processo de industrialização promovido pelo regime militar (JAMBEIRO, 2008).

a Fundação João Batista do Amaral/TV Rio iniciava um curso de alfabetização de adultos. Em ensino fechado, a primeira TV educativa brasileira foi a da Universidade de Santa Maria (RS), que inicia suas atividades em 1958.

E é o contexto de industrialização, em consonância com o projeto de integração nacional, que delineia os rumos das políticas educacionais do país no período65. Em 1970, a Portaria Interministerial MEC/MiniCom nº 408/1970, assinada pelos ministros da Educação, Jarbas Passarinho, e das Comunicações, Higyno Corsetti, determina que as emissoras comerciais destinem, gratuitamente, cinco horas semanais à transmissão de programas educativos, em horários pré-estabelecidos (MILANEZ, 2007). Esta programação conforma a base para o Projeto Minerva, também instituído em 1970, voltado para o ensino supletivo.

No ano de 1972, é criado o Programa Nacional de Teleducação (Prontel), através do Decreto nº 70.18566, visando à integração em âmbito nacional, das atividades didáticas e educativas através do rádio, da televisão e outros meios, de forma articulada com a Política Nacional de Educação (BRASIL, 1972a). No entanto, apesar da instituição desta e de outras normas que buscam regulamentar e fomentar a integração entre as emissoras – por meio da criação de centros de difusão de programação, programas e sistemas de integração –, tais medidas não são operacionalizadas, nem têm consequências de relevo. (JAMBEIRO, 2002).

[...] sem obedecer claramente a um planejamento que decorresse de uma política de governo, algumas emissoras tiveram como raiz de sua criação razões de ordem política; outras deveram sua existência à tenacidade individual de idealistas. Poucas surgiram com objetivos visivelmente definidos, mas de forma geral foram concebidas com objetivos instrucionais (CARMONA, 2005, p. 49).

Ou seja, apesar das inúmeras iniciativas, o Estado continua sem uma política nitidamente definida para a educação via teledifusão e tampouco para as televisões educativas, que começam a se difundir lentamente pelo país, vinculadas, em sua maioria, aos governos estaduais.