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SUSTENTABILIDADE SÓCIO CULTURAL E A INCLUSÃO

No documento Ebook Design novos horizontes (páginas 182-189)

A sustentabilidade é um dos paradigmas do futuro cuja presença tem se intensificado já nos dias atuais, seja por fatores ambien- tais quanto sociais. O apelo ético também fortalece cada vez mais a urgência por mudanças, o que torna necessário a alteração dos com- portamentos em vários âmbitos, desde o desenvolvimento de novos produtos até os hábitos tão arraigados.

Dessa forma, os autores Manzini e Vezzoli (2008) afirmam que a sustentabilidade é um dos novos valores universais e que mesmo com uma hipótese de cenário propenso para tornar possível a sociedade sustentável, ainda falta qualidade social, ou seja, condição de bem estar, podendo ser julgada por critérios fundamentais como:

• Convívio – ligações afetivas entre os indivíduos.

• Multipolaridade – devido a complexidade social, pode coexistir dualidade de tempos, trabalhos e espacialidades.

• Friendlyness – possibilidade de favorecer e valorizar o usuário de um produto ou serviço, modificando o estereótipo dos objetos pré-fabricados.

que buscam atender um público jovem, com suas funções motoras sem limitações e de estrutura corporal perfeita, segundo os padrões estabelecidos socialmente, soma-se então mais uma dicotomia da relação moda e sustentabilidade.

Para Fletcher e Grose (2011), ainda são poucos os produtos susten- táveis da área da moda que levam em consideração a satisfação das necessidades humanas, em decorrência do valor que é depositado no design comercial.

Assim, Salcedo (2014) afirma que o designer tem que compre- ender que a sustentabilidade não é um valor agregado, mas sim uma parte do processo de design. Além disso, a autora afirma que:

[...] o designer desenvolva linhas paralelas de pensamento que per- mitam trabalhar, simultaneamente, diferentes aspectos do design. Na prática, durante a criação de uma peça, podem-se identificar duas linhas de pensamento: a que reflete o ciclo convencional de design e produção e a que reflete as estratégias de design para a sustenta- bilidade (pensamentos agregados) aplicáveis ao longo do ciclo (SAL- CEDO, 2014, p.39).

Neste sentido, o design para sustentabilidade é um ponto que pre- cisa ser inserido durante o projeto para que o objeto atenda os que- sitos sustentáveis e também responda aos anseios das necessidades humanas. Assim, além dos usuários serem valorizados, eles poderão reconhecer as mudanças por meio da interação com os produtos, que levará a um perceptível bem estar.

No entanto, é preciso compreender e ir além da associação sus- tentabilidade e meio ambiente, tal qual comumente conhecemos. Afinal, como Guimarães (2009) afirma, do ponto de vista do sistema, usuário também é meio ambiente, envolvido no processo e no pro- duto, além dos três tipos de usuários já conhecidos: o que fabrica, o que faz as manutenções e o que utiliza o objeto.

Morace (2013) ainda elucida que surgirá um movimento no qual um novo conceito de sustentabilidade será considerado, e que trará uma mudança de época, que irá orientar para o bem estar individual e cole- tivo. Para tanto, os designers necessitam se apoiar em ferramentas que dêem o suporte, como as metodologias, pois dessa forma:

[...] criam pontes para as disciplinas sociais que constroem e detêm ‘domínios de conhecimento e compreensão’, e criam formas de agir com base nesses princípios de ‘conhecimento lento’, dando assim, uma importante contribuição para uma mudança social profunda

Para construção de uma hipótese de um cenário possível que tem a sustentabilidade como alicerce, se faz necessário ter uma mudança na cultura, em costumes que até o presente momento são domi- nantes, pois a solução para a problemática sustentável não se res- tringe apenas aos contextos mercadológicos e técnicos, abrangem também áreas como a ética, moral e o comportamento.

Löbach (2001) afirma que a modificação do objeto ou do meio ao qual está inserido se dá por suas atuações, cabendo ao designer des- cobrir quais motivações levam um indivíduo a configurar tais objetos ao seu modo.

Assim, o design de moda deve se orientar nas necessidades sociais que ainda não foram atendidas e manifestar soluções que passem a configurar os objetos e que atendam a usuários que podem estar a margem do mercado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As idosas ainda são partes constituintes de um público que ten- dencia a aumentar cada vez mais, diversas áreas não se preparam para atende-las. O design de moda foi uma dessas, que se utiliza dos mesmos meios para construir uma peça de vestuário com que desen- volve para um jovem, ou seja, esses dois públicos possuem grandes diferenças corporais e cognitivas, portanto, cabe um projeto que atenda ao usuário de modo mais inclusivo, sem a segregação merca- dológica.

A ausência de produtos mais inclusivos no setor do vestuário, faz repensar o comportamento projetual e mercadológico, pois, não se deve permanecer inerte às mudanças sociais e aos novos paradigmas, deve-se reprojetar sua linguagem e seu discurso, ser continuada- mente crítico.

Concluímos que a inclusão não se trata apenas de medida para desenvolvimento de produto, o design deve pensar na diversidade física ou de faixa etária, a situação de despreparo em que as empresas não visualizaram o cenário atual, deixa os idosos a margem, podendo haver apenas adequações do que já existe, o redesign não é suficiente, há de se ter uma tomada de inovação.

Assim, podemos constatar que como toda área que se utiliza de desenvolvimento projetual, ela acaba por utilizar uma metodologia que viabilize a prática construtiva do objeto, a moda deve aplicar as metodo- logias para construção de seus produtos. Melhor ainda, deve repensar

jetar sem levar em consideração as vertiginosas mudanças, que trazem novos valores tanto para o design, quanto para o indivíduos.

Outro ponto ainda a ser questionado é que o método a ser pro- posto para os produtos de vestuário devem ser utilizados tanto pelo meio acadêmico quanto pelo mercado, pois, o que constatamos é que o futuro profissional, pode se deparar com a ausência de um método nas empresas, o que o faria questionar para que precisou aprender se não há aplicabilidade mercadológica.

Para tanto, constatamos que as futuras pesquisas na área do ves- tuário, devem passar a considerar a sustentabilidade social e o idoso, como tópicos importantes e determinar como essencial, para que isso ocorra a implantação de métodos que tornem possível o design de moda mais inclusivo, pois, cremos que em um futuro breve, os pro- jetos para o setor de vestuário serão mais complexos, mais questio- nados e terão a incumbência de serem mais inovadores, não somente estéticos, mas inovadores, formais e conceituais.

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Otniel Josafat López Altamirano Mônica Moura Cristina Portugal

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