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Para uma melhor caracterização e análise do estudo que se realizou na pretensão de realizar um projecto de intervenção, adequa-se explicitar e fundamentar o método de investigação empregue, tal como as técnicas de recolhas de dados que foram seleccionadas com vista a um resultado considerável.

Concernente ao método de investigação, este incidiu no qualitativo e quantitativo, atendendo ao tema circundante ao longo do estágio “Dinâmicas Educativas para a Promoção da Interculturalidade com crianças e jovens num Projecto Local”. No que diz respeito à recolha de informação foi utilizada a técnica do questionário e da

observação participante.

Relativamente ao tratamento de informação optou-se por trabalhar com a análise de conteúdo das observações e da análise gráfica e interpretativa para os questionários. Desta forma, foi possível aprofundar conhecimentos no que diz respeito, ao método e às técnicas de recolha e tratamento da informação obtida.

Método Qualitativo

A investigação qualitativa, ao contrário da investigação quantitativa actua com os valores, as crenças, as representações, os hábitos, as atitudes e as opiniões de determinados sujeitos. Este tipo de investigação é encarado como indutivo, descritivo, holístico, humanístico e naturalista, visto que os investigadores analisam a informação não procurando essa mesma informação com o intuito de verificar as hipóteses; a sua teoria é desenvolvida partindo da análise dos dados obtidos (indutiva).

Podemos caracterizá-la por ser descritiva pois a descrição é rigorosa e resulta, directamente, dos dados recolhidos; estes podem ser transcrições de entrevistas, registos de observações, documentos escritos, ou até gravações de vídeo. Relativamente a ser considerada holística, prende-se com o facto de os investigadores terem uma percepção da realidade no seu “todo”, sendo que o passado e o presente dos sujeitos de investigação são tidos em conta na investigação realizada.

Denomina-se também por ser humanística, uma vez que os investigadores qualitativos preocupam-se em tentam conhecer os sujeitos da investigação na sua essência humana, isto é, procuram conhecê-los como “pessoas”, experimentado as

 

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mesmas vivências, tentando compreender as suas acções, as suas palavras, os seus gestos. Por fim, designa-se por ser naturalista porque os dados são recolhidos através de situações que se consideram “naturais”, existindo também por parte dos investigadores a preocupação em interagir com os sujeitos de forma mais “natural” possível e visando a máxima discrição. Embora estes métodos sejam menos estruturados proporcionam, todavia, um relacionamento mais extenso e flexível entre quem entrevista e os entrevistados. O entrevistador é, portanto, mais sensível ao contexto. Neste sentido e segundo Bogdan e Biklen (1994) “os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem que as acções podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência. Os locais têm de ser entendidos no contexto da história das instituições a que pertencem (…) Para o investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu contexto é perder de vista o significado”. (p. 48).

Em suma, o método qualitativo aplica, na sua generalidade, procedimentos interpretativos, não experimentais, com valorização dos pressupostos relativistas e a representação verbal dos dados (privilegia a análise de caso ou conteúdo), por contraposição à representação numérica, à análise estatística, proporcionada pelo método qualitativo. O método qualitativo tem maior validade interna (uma vez que traduz as especificidades, as características do grupo estudado), embora seja fraco em termos da sua possibilidade de generalizar os resultados para toda a comunidade (validade externa). Assim sendo, o problema “central” no uso do método qualitativo reside no facto de o investigador ser o “instrumento” de recolha de dados. Tal facto, implica que a fiabilidade dos dados dependa, exclusivamente, da sua sensibilidade e, ainda, da sua experiência. A objectividade deste tipo de investigação encontra-se, associada ao investigador, nomeadamente ao seu papel. Por esta razão, a validade dos trabalhos realizados tem importância fulcral neste tipo de investigação.

O método quantitativo, segundo Richardson (1989), caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de recolha de informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas. Por norma, a recolha de dados é efectuada nestes estudos por questionários e entrevistas que apresentam variáveis distintas e relevantes para a investigação. São usadas medidas numéricas para testar hipóteses, mediante uma rigorosa recolha de dados, ou procura de padrões numéricos relacionados com conceitos quotidianos. Numa fase posterior, os dados são sujeitos a análise estatística, no sentido de testar as hipóteses levantadas. Como desvantagem

 

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podemos afirmar que este método é fraco no que toca à validade interna, todavia é forte em relação à validade externa, visto que, os resultados obtidos são generalizados para o conjunto da comunidade. Devido à sua natureza rigorosa, implica um aprofundamento na revisão literária bem como, uma elaboração pormenorizada de um plano de investigação tendo em conta os objectivos e a sua devida estrutura.

Observação Participante

“A observação participante é uma técnica de investigação qualitativa adequada ao investigado que pretende compreender, num meio social, um fenómeno que lhe é exterior e que lhe vai permitir integrar-se nas actividades/ vivências das pessoas que nele vivem” (Evertson e Green, 1996).

A observação participante surgiu como a técnica de observação mais adequada e viável no contexto em questão, pois trata-se de uma técnica de eleição para o investigador que visa compreender as pessoas e as suas actividades no contexto da acção, podendo reunir na observação participante, uma técnica de excelência que permite uma análise indutiva e compreensiva.

A Observação Participante foi realizada em contacto directo, frequente e prolongado do investigador, com os actores sociais, nos seus contextos culturais, sendo o próprio investigador instrumento de pesquisa. Para tal, foi necessário eliminar deformações subjectivas para que possa haver a compreensão de factos e de interacções entre sujeitos em observação, no seu contexto. É por isso desejável que o investigador vá adquirindo treino nas suas habilidades e capacidades para utilizar a técnica. Assim sendo, este método garantiu-me maior contacto com os observados, não provocando neles qualquer tipo de alteração no seu comportamento ou constrangimento que pusesse em causa a sua espontaneidade e, consequentemente produzisse resultados pouco fiáveis.

 

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Em suma, este tipo de observação confere uma aproximação directa com os sujeitos, possibilitando a que o observador efectue interpretações sobre o seu objecto de estudo com maior correspondência.

Leininger (1985) refere-se á necessidade do etnógrafo saber estar com as pessoas em campo e consigo mesmo, despojado de preconceitos e capaz de desenvolver um novo olhar sobre os participantes, sem o prévio rótulo de certo ou errado. Considera que o processo sistemático de observar, detalhar, descrever, documentar e analisar os padrões específicos de uma cultura ou sub-cultura, é essencial para a compreensão dessa mesma cultura.

Questionário

Como já referido outra das técnicas privilegiadas foi o questionário, sendo um instrumento de investigação que visa recolher informações baseando-se, geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em estudo. Para tal, coloca-se uma série de questões que abrangem um tema de interesse para os investigadores, não havendo interacção directa com os inquiridos. A ideia de introduzir o questionário neste trabalho surgiu por ser extremamente útil quando se pretende recolher informação sobre um determinado tema; pela facilidade com que se interroga as pessoas, num espaço de tempo relativamente curto.

Quando nos centramos no questionário realizado, podemos verificar que este foi composto maioritariamente por questões fechadas, em que segundo Hill & Hill (2000), neste tipo de questões, o respondente tem de escolher entre as respostas alternativas fornecidas pelo autor, permitindo assim, uma análise dos dados muito mais precisa que as questões abertas. Ao longo da execução do mesmo, tentei atender ao tipo de questão a colocar, de forma a conseguir obter o maior número de informação sobre o tema e os objectivos pretendidos. No entanto, em determinadas questões os inquiridos tiveram a oportunidade de identificar outras opções que não estavam contempladas.

Este questionário teve como intuito compreender o grau de satisfação em relação às actividades desenvolvidas no âmbito do projecto bem como, perceber a importância e o impacto das mesmas e a prestação da técnica.

 

142 Diário de Campo

Enquanto processo investigativo, o desenvolvimento deste trabalho implica a utilização de métodos que permitam uma recolha de dados sistemáticos e devidamente adequada ao contexto institucional em estudo.

Deste modo é de evidenciar a importância da elaboração do diário de campo, que se apresenta como um método de reflexão sobre as práticas, constitui um instrumento de registo de observações, práticas e desenvolvimento pessoal enquanto investigadora.

No meu diário de bordo, enquanto processo sistemático, pretendi ter em conta as duas vertentes relacionadas com as notas de campo, destaco as notas descritivas, aquelas que pretendem relatar os acontecimentos, se possível na dada altura ou logo após à mesma, e as notas analíticas que consistem nas minhas reflexões pessoais, dizem respeito aos meus sentimentos, emoções, percepções, despoletadas através do acontecimento, da acção, e nas aprendizagens que venho adquirindo ao longo deste estágio.

Na verdade, as notas de campo permitem alinhavar caminhos metodológicos alternativos e perspectivar a mobilização de técnicas não previstas no dispositivo de pesquisa inicialmente programado. Devendo, estas ser encaradas como ferramentas de trabalho, as notas de campo acabaram por revelar-se igualmente um óptimo “arquivo de ideias”6 e um ponto de apoio precioso da redacção do relatório final.

Em termos práticos, é essencial reter alguns conselhos úteis a uma redacção frutífera de notas de campo, pois vamo-nos apercebendo de erros que cometemos e da melhor forma para proceder neste processo de recolha de informação. Atendendo ao meu percurso, penso que nos devemos preocupar em:

- evitar a redacção das notas/diário de campo durante o processo de observação (pode ser embaraçoso e causar mal-estar junto dos observados), procurar elaborar notas mentais e criar mnemónicas para mais tarde escrever. De todo o modo, um pequeno bloco de notas será sempre um instrumento a levar para o terreno;

- redigir o diário de campo na manhã seguinte, quando as observações são à noite ou na noite do mesmo dia, quando as observações são de manhã ou à tarde;

- aproveitar tempos mortos, momentos de espera, deslocações nos transportes públicos para escrever;

      

 

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- evitar a “autocensura”: devemos escrever tudo o que se nos afigura importante, a redacção de notas de campo deve ser assumida como uma tarefa séria e como um processo criativo; (Queiroz & Rodrigues, 2006, p.7).

- evitar o sobreuso do estilo narrativo: não se trata de escrever um romance, mas sim de desenvolver um processo analítico;

- a redacção das notas/diário de campo demora tempo e pode constituir uma tarefa aborrecida. É importante sermos pacientes e perseverantes.

Conversas Informais

“Comunicar significa partilhar, isto é, compartilhar com alguém um certo conteúdo de informações, tais como, pensamentos, ideias, intenções, desejos e conhecimentos. Através da participação em processos de comunicação experimentamos uma sensação de comunhão com aquele a quem nos dirigimos, porque, com ele, passamos a ter algo em comum.” (Adriana Casali, 2005)

A comunicação é cada vez mais uma actividade inerente ao ser Humano, a oralidade como uma das suas ferramentas assume um papel primordial nas mínimas acções do nosso quotidiano, é assim um meio de conseguirmos a informação de que necessitamos para atingir qualquer objectivo. É, também através da oralidade que conseguimos ter acesso a dados que nos permitirão tirar conclusões ou estabelecer parâmetros acerca de qualquer tema, assunto, actualidade ou até mesmo pessoa. Retomando esta ideia percebe-se a grande necessidade das trocas de informação á maioria dos sujeitos, que se mostra benéfica para a sua socialização. Desta forma como auxílio na minha recolha de informação tenciono reter grande parte das conversas informais que fui tendo ao longo do estágio bem como os processos inferenciais. Estas permitiram-me ter maior consciência da realidade profissional, ganhar mais proximidade com as crianças, descobrir os seus interesses e aquilo que as identifica umas das outras, assimilar de forma mais autónoma e natural, informações relevantes á realização do meu diário de campo.

 

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