• Nenhum resultado encontrado

Tópicos do Constitucionalismo revolucionário inglês

1.2 Constitucionalismo: um instrumento de investigação da estabilidade

1.2.3 Tópicos do Constitucionalismo Moderno: a ruptura revolucionária

1.2.3.1 Tópicos do Constitucionalismo revolucionário inglês

A alusão a um Constitucionalismo inglês pode parecer discutível, ou ao menos pareceu em outros tempos. Para a doutrina desenvolvida no continente europeu, eram constitucionais as organizações políticas que dispunham de textos escritos, separação de poderes e um rol de direitos e garantias individuais de natureza genérica e abstrata.

Nada mais diferente do que a organização constitucional inglesa: a) falta-lhes um texto sistematizado; b) suas liberdades, de natureza concreta, foram positivadas pelos costumes e pelos tribunais.

McILwain solucionou a controvérsia em sua obra Constitucionalismo

Antigo e Moderno. Fundamenta seu raciocínio nos seguintes pressupostos: a) a

Constituição é estabelecida pelo povo; b) é anterior ao governo, o que o torna limitado, e faz inconstitucional qualquer exercício que a contrarie. O sentido de anterioridade, para os ingleses, é bem diferente do Constitucionalismo continental. O último a compreende como prioridade temporal, o que exige sua feitura pelo povo por um ato consciente em um momento certo, enquanto para o Constitucionalismo inglês consiste na superioridade da natureza e da capacidade da organização constitucional em obrigar, qualidade essa própria de determinados princípios deduzidos de instituições históricas. Logo, a organização política inglesa é limitada e constitucional, porque submetida a princípios superiores recriados a partir de suas instituições antigas.

Pensemos lo que pensemos de ella en términos teóricos, la idea de Paine de que la única verdadera constitución es la elaborada de modo consciente, de suerte que el gobierno de una nación sólo sea la criatura de esta constitución, responde más que ninguna otra a la evolución del mundo desde los comienzos del siglo XIX [...]

[...] Desde entonces la regla general en casi todo el mundo constitucional ha sido la existencia de constituciones escritas que establecen, definen y limitan a los gobiernos [...]

Una de las curiosas anomalías que surgen de este proceso es la llamativa excepción que representa al respecto Inglaterra, país éste antes que ninguno en el que se han conocido eficaces limitaciones al gobierno desde la época medieval. Pero la excepción inglesa es más aparente que verdadera. Los principios esenciales reclamados por Burke, Camden y Otis no eran menos constitucionales porque no estuviesen escritos; y la verdadera razón por la cual Inglaterra, seguramente la más constitucional de las naciones europeas modernas, ha permanecido también la única cuya constitución no se ha plasmado en un documento formal, no es porque no tenga constitución, como a veces gustan de decir los franceses, sino más bien porque la convicción de la necesidad de limitaciones sobre el gobierno arbitrario está tan firmemente arraigada en la tradición nacional que ningún tipo de amenazas contra dicha convicción se ha considerado lo bastante peligroso para justificar la adopción de un código formal. Desde que las constituciones escritas se pusieron en boga a finales del siglo XVIII, Inglaterra no ha experimentado ninguno de los cambios violentos que aportaron a Francia su abultada serie de constituciones escritas durante el siglo XIX [...].59

Superado esse debate, ou “falso debate”, a originalidade da Constituição inglesa é incontroversa. É uma Constituição histórica, pois seus princípios básicos foram sedimentados em séculos de experiência, nos quais convergiram leis e instituições. Sua

59

evolução foi lenta e gradual, não conhecendo interrupções ou rupturas.60 A única grande interrupção no decorrer de eras teve um caráter restaurador. Trata-se da Revolução Gloriosa, que não pretendeu inaugurar um novo período, mas retomar uma experiência pretérita. E é nesse respeito ao passado, que se encontra a sua singularidade.

Observe-se que a falta de fraturas institucionais freqüentes não lhe impediu de modificar-se e se atualizar. Mais do que isso, é uma Constituição de evolução contínua, a ponto de McILwain afirmar não se dispor de um ato de criação constitucional, mas de um “processo de crescimento”; não de um código nacional, mas de uma herança da nação.61 É na “herança da nação” que deve ser perquirida a estabilidade de sua organização constitucional.

Quando a organização constitucional inglesa é focada em seu conjunto e com um olhar distanciado, por sobre períodos históricos distintos e sucessivos, divisa-se um todo uniforme e homogêneo. Assoma uma organização constitucional aparentemente imutável. Na verdade, a imutabilidade é ilusória, porque em sua história podem ser identificadas modificações profundas. Deve-se a aparência a maneira como são tratadas essas mudanças. Mesmo em sua época de maior efervescência e crise política, quando da Revolução Gloriosa, o resultado foi compreendido como uma restauração e não como uma ruptura. A restauração será o princípio que norteará a estabilidade da Constituição britânica. Ao menos, o discurso empregado sempre foi de recomposição, nunca de recomeço.

Quanto às instituições políticas do país, em certo aspecto, a história britânica é o registro normal de assassinatos, deposições, rebeliões, abdicações e proscrições. Em outro aspecto, mais importante, as instituições básicas se desenvolveram independentemente, derivadas de suas predecessoras ou paralelamente a elas. A continuidade dessas instituições constitui desde logo o fato supremo na evolução histórica do Reino Unido e ao mesmo tempo o supremo enigma [...]

[...]Assim, a Constituição se desenvolveu ad hoc, mediante adaptação, primeiro a um problema imediato, depois a outro[...]

[...] A importância dessa tradição é que ela preservou não somente as formas medievais, como a essência medieval [...]62

60

Existem duas teses, que discutem se a experiência constitucional britânica é um todo monolítico, que tira suas raízes da Idade Média, ou se sua organização constitucional tem um sentido moderno, inaugurado com a Revolução Gloriosa. Para primeira delas, a história constitucional britânica conta com uma continuidade estrutural. Textos medievais, como a Magna Charta Libertatum, são antecipações de uma monarquia constitucional. É tese que não diferencia a significação histórica e concreta de cada momento. Para a segunda, a Magna Charta Libertatum foi um texto feudal, como foram outros que lhe seguiram, porque sua estrutura não era diferente de textos assemelhados, editados na mesma época no continente europeu. Portanto, foram as necessidades históricas do século XVII que a fizeram símbolo das liberdades. É essa última postura metodológica – conforme anunciado no início da subseção – que se adotará no decorrer dessa abordagem (Cf. GARCÍA-PELAYO, Manuel. Derecho

Constitucional Comparado. Madrid: Alianza Editorial, 2000. p.249-250).

61

MCLIWAIN, Charles Howard. op. cit. p.37

62

FINER, Samuel Edward. Governo Comparado. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981. p.133- 134.

Em grossas pinceladas, o Constitucionalismo inglês se formou em três períodos principais e distintos. Diga-se que se arquitetou em suas linhas principais.63

Em um primeiro período, não existia um princípio claro de limitação do poder. Existiram fatos políticos: a) as cartas de privilégios reais, entre as quais a Magna

Charta Libertatum foi a mais importante; b) e a convocação de burgueses e cavaleiros, por

Simon de Monfort, para participação no conselho real. 64

A Magna Charta Libertatum65 consistiu em um documento feudal, deitado a detalhes e com conteúdo concreto, pois era um compromisso entre senhores do reino: monarca, barões e eclesiásticos. Por ela o rei jurava: a) respeitar os direitos dos barões; b) ouvi-los previamente para a imposição de tributos; c) não violar o direito de serem julgados segundo a lei da terra. Reconhecia expressamente o recurso à resistência armada, caso houvesse descumprimento do juramentado. Sua originalidade, nada obstante, não fora em ser mais uma carta de privilégios, mas ter sido obtida por exigência imposta ao monarca.

O segundo momento importante desse período foi a convocação, por Simon de Monfort, de dois representantes das cidades e dois dos burgos para fazerem parte do conselho real. Os cavaleiros e os burgueses eram recebidos separadamente dos nobres e eclesiásticos. Essa estrutura medieval bipartida, entre nobres e eclesiásticos de um lado, e burgueses e cavaleiros de outro, converteu-se na Câmara dos Lordes e dos Comuns.

Cabe mencionar que esses fatos políticos deixaram raízes na estrutura constitucional britânica, e foram reinterpretados no século XVII: ora como argumento para preservação do equilíbrio de poderes da Constituição mista medieval, ora para justificar a supremacia do Parlamento contra os ataques do poder desestabilizador do monarca.66

O segundo período de consolidação do Constitucionalismo inglês tem lugar no século XVII. Todavia, já no século XV e XVI encontram-se os precedentes que

63

É óbvio que a análise ora feita não esgota a rica história constitucional e política inglesa. Apesar do que é exposto, durante o século XX e o que se já iniciou diversos diplomas legislativos e fatos políticos vieram transformar a elástica Constituição inglesa. O objetivo dessa seção é em linhas gerais traçar os seus momentos culminantes, onde a idéia de estabilidade foi empregada como recuperação do passado, e não descer a detalhes, ou a um estudo profundo. Para os propósitos aqui enunciados da seção: (Cf. AGESTA, Luís Sánchez. Curso de Derecho Constitucional Comparado. 7ª ed. Madrid: Facultad de Derecho – Universidad Complutense. 1988. p.112-157).

64

Nada obstante, esses mesmos fatos serão retomados futuramente com um novo sentido, com significação constitucional, enquanto princípio do Constitucionalismo inglês de limitação do poder.

65

A Magna Charta Libertatum não foi o primeiro documento escrito com essas características. Antes, Henrique I, terceiro filho de Guilherme o Conquistador, outorgou instrumento em que jurava respeitar os costumes e direitos feudais dos saxões; coibir comportamentos nocivos; preencher os benefícios eclesiásticos sempre que vagos e não lançar impostos indevidos.

66

romperam a Constituição mista medieval, e que resultaram no embate entre o monarca e o Parlamento. Foram suas causas: a) a guerra das Duas Rosas (1455-1458), que dizimou a alta nobreza inglesa, diminuindo-lhe a força e importância para influenciar nos negócios de Estado; b) o aparecimento de uma burguesia poderosa, incrustada no Parlamento, que com o tempo teria cada vez mais influência sobre a política.

A convergência desses fatores abalou o equilíbrio da organização política mantido durante o medievo. Assim, os fatos que se sucederam mudaram profundamente a Constituição inglesa e fizeram emergir um dos princípios caros de seu sistema: a soberania do Parlamento.

O primeiro fato marcante na contenda foi a pretensão dos Stuarts em impor suas prerrogativas e desequilibrar a organização política. Se os Tudors foram mestres em engenharia política, de forma a governarem absolutamente, sem romperem o equilíbrio da Constituição britânica, os Stuarts não dispunham do mesmo talento.

Jaime I, IV da Escócia, foi chamado ao trono porque Elizabeth I não deixou herdeiros. Sua época exigia um Estado forte para a expansão nacional, possível somente pela reunião dos três reinos sob uma única coroa. A conjuntura pedia um exército disciplinado, uma burocracia centralizada e eficiente, e ingressos fiscais para custear as despesas do empreendimento. Ciente dessas exigências, mas cioso de suas prerrogativas, Jaime I tentou governar absolutamente e sem participação do Parlamento, tendo a insensatez de instigar as lutas religiosas que, posteriormente, foram um elemento a mais de instabilidade.

Não satisfeito com o absolutismo de fato, justificou-o pelo Direito. Para governar absolutamente elaborou uma doutrina própria do direito divino dos reis e publicou The trew law of free monarchies e Basilikondoron. Nessas obras defendeu o exercício de uma monarquia ilimitada, irresponsável perante governos estrangeiros, senhores do reino, Igreja e Parlamento. Sua teoria não respeitava a idéia de moderação e equilíbrio entre os diferentes estamentos. O rei governava não porque era vigário de Deus na Terra, seu representante para a consecução do bem comum, seu lugar-tenente, mas porque era a imagem divina encarnada, sentava-se no trono divino e era chamado de Deus pelo próprio Deus. As implicações da teoria eram radicais para a própria concepção do Direito. O direito de propriedade, antes uma prerrogativa do common law, a partir dessa teoria tornava-se uma concessão monárquica. Também, deixava de existir uma clara diferença entre a atribuição governamental — própria do rei — e a atribuição jurisdicional, que era de expressar o common law. O monarca investia-se em ambas.

Seus argumentos, outrossim, subvertiam a concepção sobre a organização política inglesa. Pela doutrina medieval, o rei era a “cabeça do corpo social”, seu elemento de coesão, que ditava os fins da comunidade e que governava em conformidade com a justiça, o bem comum e o respeito às demais categorias sociais: nobres, prelados e comuns. Era o centro do sistema, mas dependia dos outros estamentos. Além disso, havia uma diferença básica entre sua atribuição e a de natureza jurisdicional. O monarca era senhor da autoridade governamental, podendo fazer tudo o que exigia a boa administração, mas não contava com poderes para legislar sobre o direito comum e as liberdades pessoais.67

É importante observar que essa teoria era revolucionária, assim como era a teoria da supremacia do Parlamento. Ambas eram revolucionárias, porque contrariavam a natureza estamental equilibrada da organização constitucional existente:

La diferencia entre las dos teorías — la moderna y la medieval — no reside sólo en el hecho de que la primera justifica un rey absoluto, mientras que la segunda está en la base de la monarquía limitada, sino en la diferente legitimación del poder del rey. En el Medievo, la autoridad del rey era de origen divino, entendida como oficio; en la Edad Moderna, es el nacimiento el que da un derecho personal a gobernar. Cuenta la persona y no el oficio, porque los reyes, desde siempre, han sido establecidos por Dios, como dirá posteriormente Filmer en el Patriarca.68

As questões colocadas pela nova doutrina puseram em discussão os limites entre a prerrogativa real de “governar” e os poderes da jurisdictio. Os limites entre a competência do legislador-monarca e do Common Law. Também colocou o rei em confronto direto com os Tribunais. Em relação a esses, Edward Coke foi o mais célebre combatente.69

A despeito do radicalismo de sua teoria, Jaime I terminou seus dias coroado. Faleceu em 1625 e foi sucedido pelo filho, Charles I, que demonstrou os mesmos preconceitos e a mesma inabilidade do genitor, acreditando que o exercício do poder

67

Sobre a doutrina Cf. MCLIWAIN, Charles Howard. op. cit. pp. 91-116.

68

MATTEUCCI, Nicola. op. cit. p.84.

69

O nome de Edward Coke é de extrema importância para o Constitucionalismo inglês. Deve-se a ele a invenção do mito político da Magna Charta Libertatum enquanto estatuto fundador das liberdades. Foi presidente da Court of Common Pleas e presidente do King´s Bench. Em algumas decisões, que se tornaram históricas — especialmente o caso Bohman, que a despeito do pouco impacto que tivera em seu tempo, foi utilizada posteriormente na colônia americana como uma das inspirações para o controle de constitucionalidade — estabeleceu a idéia da razão como imanente ao Common law. Existem, assim, duas razões: a) uma natural, individual e presente em todo homem; b) uma razão artificial, nascida do estudo, da reflexão e da experiência. O common law é o produto dessa última, produto dos séculos e da experiência de diversos especialistas que refletiram sobre fatos e acontecimentos. Com essa tese, Coke reforçou o aspecto histórico e costumeiro da experiência jurídica britânica. O Direito é decorrência da história que imprime sua força indelével por meio da razão conjugada de vários pessoas. Não é o resultado de uma razão abstrata, como se difundiu no continente europeu.

absoluto não era somente um direito, mas um dever do monarca. Como necessitava de um exército permanente, compreendeu que a forma mais fácil de consegui-lo seria decretar uma guerra. Sob a justificativa de auxiliar os protestantes franceses, declarou guerra à França. O Parlamento autorizou-lhe tributos para custear as despesas. Mas, foi derrotado, o que lhe granjeou uma oposição crescente. Contrariado, por duas vezes dissolveu o Parlamento e estabeleceu tributos sem o seu consentimento, ocasião em que prendia os inadimplentes ou lhes colocava soldado em casa. O resultado dessa tirania foi a Petition of

Rights (1628), que lhe impôs diversas restrições, e proibiu-lhe de: a) aceitar dádivas; b)

contrair empréstimos ou lançar tributos sem o consentimento do Parlamento; c) prender por motivo de inadimplemento de impostos não consentidos; d) criar jurisdições de exceção; e) alojar em casas de particulares qualquer soldado de terra ou mar. Para aplacar a oposição e obter novos empréstimos, fingiu aceitar a Petition of Rights. Entretanto, autorizada a receita, dissolveu o Parlamento e governou de forma absoluta por mais onze anos.70

A situação precipitou-se de maneira irreversível a partir de uma nova revolta na Escócia. Para aplacá-la, Charles I precisava de recursos, e para tanto, devia convocar o Parlamento. Conhecido como Parlamento curto, foi de imediato dissolvido por contrariar o monarca. Outro lhe seguiu, conhecido por Parlamento largo, que também o enfrentou, e com isso iniciou uma guerra civil. Os ânimos exaltaram-se de maneira que nenhum tributo era consentido, e o Parlamento passou a defender a tese de ser o primeiro entre os órgãos do reino. A tese da supremacia do Parlamento desequilibrou em definitivo a arquitetura da organização constitucional inglesa.

Nas primeiras sessões do Parlamento largo, várias medidas foram tentadas para restringir o poder monárquico. Submeteram-lhe dezenove propostas que, se aceitas, fariam do rei mera figura de representação. Como se esperava, a proposta foi recusada. Mas a recusa, por curioso, trouxe em seu seio um projeto de restauração da Constituição medieval. Surpreendentemente porque partiu de quem mais se lançara contra ela. A recusa foi firmada na observação de que a organização política mista inglesa não permitia que fossem aceitas. Aceitá-las, seria admitir a supremacia do Parlamento e a submissão do rei. Ao contrário, a Constituição inglesa firmava-se no equilíbrio equânime do Parlamento e do monarca. Era um Estado misto, no qual a atividade legislativa era atribuição conjunta do órgão uno (rei), dos poucos (lordes) e dos muitos (comuns).71

70

BOUTHOUL, Gaston et MOSCA, Gaetano. op. cit. p.164-172.

71

A tese lançada trouxe calorosa discussão, ulteriormente calada pela guerra civil, e ao final pela vitória do exército do Parlamento. O rei foi forçado a render-se, mas aproveitando-se da divisão das forças de oposição,72 reiniciou a guerra, sendo derrotado novamente. Proclamou-se uma lei reconhecendo sua alta traição, sendo em seguida executado.

Com a execução do rei, a história constitucional inglesa experimentou um verdadeiro rompimento, que não deixou vestígios de monta em sua vasta experiência política. Tratou-se da tirania parlamentária capitaneada por Cromwell, quando se pretendeu outorgar uma Constituição escrita. A experiência não foi bem sucedida e, em seqüência, restaurou-se a monarquia. Foi chamado ao trono Charles II, filho de Charles I, que se aproveitou dos ódios insuflados pela ditadura militar para minar os poderes do Parlamento. O seu sucessor, James II, não dispôs da mesma habilidade. Ao chocar-se outra vez com o Parlamento, perdeu a coroa e escreveu em definitivo os rumos da organização constitucional. A mudança dinástica foi sacramentada por um documento constitucional, o

Bill of Rights de 1689. Os seus treze pontos73 formularam os princípios básicos da organização constitucional britânica, a perdurar até fins do século XIX: a supremacia do Parlamento.

O terceiro período tem início a partir da Revolução Gloriosa. A partir desse ponto, a história da organização política inglesa tomou rumo na qual rarearam os sobressaltos, ou quando muito, surgiram novas confirmações de um desenvolvimento lento, mas alicerçado no passado, nunca um desvio ou uma ruptura. Consolidada a supremacia do Parlamento, dois órgãos formar-se-ão: o Gabinete e o eleitorado organizado em partidos.

O Gabinete foi o exemplo pronto de instituição consuetudinária, não somente por sua origem mas também por haver se mantido pelos séculos sem regramento legal. Suas origens encontram-se mesmo antes da Revolução Gloriosa, no governo de Jaime II. Nasceu do costume desse rei nomear para o Conselho Privado membros destacados do Parlamento, que dispunham de poder para dirigi-lo ou influenciá-lo na aprovação de projetos reais. De início os partidos não influíam em sua composição, e mesmo as duas facções que se entrechocavam, os tories e os whigs, conjuntamente

72

Duas facções dividiram o Estado, uma moderada que pretendia a restauração, com a limitação dos poderes reais, e a outra liderada por Cromwell, formada pelos puritanos, que buscava um novo governo.

73

Suas disposições podem ser divididas em duas partes. Uma primeira que estabelece as funções, prerrogativas e direitos do Parlamento e dos parlamentares: legislação, aprovação de impostos, liberdade de expressão e imunidades. Uma segunda, na qual se estabelecem os direitos que complementam o princípio da