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Teoria da retroação

No documento Linguagem e Cognição. (páginas 154-161)

2. A Teoria Informacional dos Contrafactuais

2.1 Teoria da retroação

Contrafactuais retroativos admitem raciocínio contrafactual de que se as coisas tivessem sido diferentes num momento t1, então elas teriam sido diferente em algum

momento anterior t0. Então, quando é adequado retroagir é uma questão para ambas

a semântica e a epistemologia dos contrafactuais. A ideia é que retroação é adequada quando o estado de coisas (possivelmente não-atual) expresso no antecedente do contrafactual transmite menos informação sobre um evento no passado que o estado de coisas atual. A teoria informacional afirma que, ao avaliar um contrafactual, X=x’ □→Y=y, devemos considerar uma mudança no valor de uma variável Z quando o (possivelmente não-atual) valor X=x’ transmite menos informação sobre o valor atual de Z que o valor atual X=x (possivelmente, x=x’) - dados os valores atuais dos

os pais de Z que não são sujeitos a

mudanças (definição 5). Dessa definição, segue-se que:

A primeira coisa a se notar é que a teoria da retroação pode expressar a ideia inicial porque a relação de paternidade representa a relação causal e, consequentemente, se Z é um ancestral de X, então Z é anterior a X no tempo14.

No que se segue, defenderei que a teoria da retroação e a teoria informacional dos contrafactuais são razoáveis. Uma leitura intuitiva de imp(X=x;

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Y=y) é ‘a quantidade de informação que X=x transmite sobre Y=y’. Essa interpretação é usada em Dretske (1981, p. 15-16, ênfase minha):

Estamos agora perguntando sobre o valor informacional de situação r, mas não estamos perguntando sobre I(r). Estamos perguntando sobre quanta informação em I(r) é informação recebida de ou sobre s. Usaremos o símbolo

Is(r) para designar essa quantidade. O r entre parênteses indica que estamos perguntando sobre a quantidade de informação associada a r, mas o subscrito s significativa que estamos perguntando sobre a porção de I(r) que é recebida de s. … Is(r) é uma medida da informação na

situação r sobre situação s.

Então a teoria da retroação e a teoria informacional afirmam que devemos considerar uma mudança no valor de uma variável numa situação contrafactual quando o estado de coisas expresso no antecedente do contrafactual transmite menos informação sobre o valor atual da variável que o valor atual do estado de coisas correspondente.

Em algumas situações, quase toda informação sobre uma variável é compartilhada com outra variável. Por exemplo, no caso 3, a variável Memo transmite quase toda informação existente sobre Jar. A quantidade de informação associada a Memo ou Jar é de 2 bits (i(Memo)=2 e i(Jar)=2)15. A quantidade de

informação compartilhada entre Memo e Jar é de 1,96 bits (i(Memo; Jar) = 1,96)16.

Então, Memo transmite quase toda informação disponível sobre Jar. Então, é razoável formar crenças sobre Jar tendo algum valor da observação de Memo. Ao

15 A quantidade de informação numa variável X (i(X)) é o valor esperado a informação em

cada valor X=x: i(X) = x

i(X= x) p( X= x) .

16 A informação mútua entre as variáveis X e Y (mi(X; Y)) é o valor esperado da informação

mútua pontual entre cada par de valores X=x e Y=y: mi(X; Y) =

x, y

pmi(X = x ;Y= y) p(X= x , Y= y) .

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considerar uma situação contrafactual em que o antecedente X=x’ é verdadeiro, a única fonte de informação sobre o valor de alguma outra variável Z é o valor de X (e a estrutura causal do modelo). Então, perder informação sobre o valor de Z a partir de X é, de fato, perder informação sobre o valor de Z. Perder informação sobre o valor de Z é perder informação de que Z mantém seu valor atual. Perder informação de que Z mantém seu valor atual é perder justificação de que Z mantém seu valor atual. Nessa situação, parece razoável considerar uma mudança no valor de Z. Por essa razão, penso que a teoria da retroação e a teoria informacional são razoáveis. Uma vantagem da teoria causal era provê um tratamento unificado de contrafactuais retroativos e não-retroativos. Isso porque, na teoria de Hiddleston, o mesmo procedimento é empregado na avaliação de contrafactuais retroativos e não- retroativos17. O fato de que a teoria da retroação segue-se diretamente como um

caso especial da teoria da informação mostra que esta teoria também provê um tratamento unificado de contrafactuais retroativos e não-retroativos. Quando devemos retroagir é um caso especial de quando consideramos uma mudança no valor de uma variável em geral.

3. Conclusões

Nesse artigo, apresentei um contrafactual retroativo que é problemático para a teoria de Hiddleston e então apresentei a teoria informacional dos contrafactuais que lida bem com esse caso problemático mantendo os resultados corretos da teoria de Hiddleston para outros casos problemáticos. Essa teoria também mantém a vantagem da teoria de Hiddleston de aplicar o mesmo processo avaliativo para contrafactuais retroativos e não-retroativos. Além disso, a teoria informacional elimina uma última assimetria na teoria de Hiddleston: um tratamento qualitativamente diferente para relações determinísticas e não-determinísticas entre variáveis.

17 Isso pode ser constratado com o apelo de Lewis a relações de similaridade ‘não-padrão’

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Da mesma forma que a existência de teorias contrafactuais da causalidade (Lewis, 1973) e teorias causais dos contrafactuais (Hiddleston, 2005) mostra que essas duas noções estão relacionadas, a existência de teorias contrafactuais da informação (Cohen and Meskin, 2006) e teorias informacionais dos contrafactuais mostra que essas duas noções estão relacionadas. Também existem teorias informacionais da causalidade (Collier, 1999). Minha opinião é que a relação entre essas noções (e o porquê elas estarem tão emaranhadas é que, talvez, causalidade e contrafactualidade são irmãos numa rede em que setas representam a noção de explicação. Nesse caso, ambas noções seriam explicadas através do ancestral comum informação. Mas isso é questão para um estudo futuro.

Referências Bibliográficas

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Introdução

Sennet e Copp (2014) afirmam que abordagens semânticas não são adequadas para explicarem o significado de termos pejorativos1. Portanto, elas não são

preferíveis em detrimento de abordagens não semânticas. Para demonstrar a inadequação das abordagens semânticas, eles apresentam uma série de argumentos que criticam ou identificam erros nessas perspectivas. Os argumentos são separados em dois grupos. O primeiro grupo tem o objetivo de desmascarar os argumentos pró-semânticas. O segundo grupo é constituído de argumentos contrários a perspectivas semânticas e é deste grupo que me ocuparei aqui. Embora foquem suas críticas na inocência semântica, teoria proposta por Hom e May (2013), o objetivo de Sennet e Copp é sustentar que qualquer abordagem semântica do

1 Do meu ponto de vista, pejorativos é o conjunto formado por injúrias, palavrões e insultos.

Usarei pejorativos ao longo do texto nesse sentido, mas não é claro se Hom, May, Sennet e Copp entendem os pejorativos desse modo. Essa caracterização é importante, pois ela me permite distinguir a ofensa como uma consequência ou estado psicológico de quem é alvo de um pejorativo da depreciação. A depreciação é objetiva enquanto a ofensa é psicológica. Consequentemente, se chamo um afro-brasileiro de macaco, necessariamente o deprecio e provavelmente ele se sinta ofendido. O mesmo não ocorre, se eu chamo um sueco de macaco. Nesse caso, ele não é depreciado, mas pode se sentir ofendido, caso ele saiba que macaco é um termo para depreciar afro-brasileiros e seja simpático a causas antirracistas. Os palavrões, por sua vez, não depreciam, mas podem ofender. Dito de outro modo, uma pessoa pode se sentir ofendida por um palavrão dirigido a ela, mas não é depreciada pelo palavrão.

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significado de termos pejorativos é inadequada. O argumento geral desta crítica pode ser esquematizado como uma eliminação da disjunção. Nesse sentido, pejorativos são explicados adequadamente de uma perspectiva semântica ou pejorativos são explicados adequadamente de uma perspectiva não semântica. Não é o caso que pejorativos são explicados adequadamente de uma perspectiva semântica. Logo, pejorativos são explicados adequadamente de uma perspectiva não semântica. Assim, as críticas que eles desenvolvem em ‘What kind of a mistake is it to use a slur’ (SENNET e COPP, 2014) são as evidências que sustentam a negação do primeiro disjuncto.

Se as críticas de Sennet e Copp procedem, então não apenas a inocência semântica é inadequada, mas as teorias propostas por Miščević (2011), Richard (2008) e Bach (2014) também o são, pois são todas teorias semânticas. Mais grave que isso, se as críticas procedem, toda e qualquer abordagem semântica é inadequada para explicar o significado de termos pejorativos. Neste artigo, reconstruo os principais aspectos da inocência semântica assim como os contra- argumentos de Sennet e Copp, do segundo grupo descrito acima, e mostro, em consonância com estes, que um problema fundamental para esta abordagem é o comprometimento com a tese da extensionalidade nula. Do meu ponto de vista, este é o calcanhar de Aquiles da inocência semântica. Não creio, porém, que a extensionalidade nula seja um pressuposto necessário para uma abordagem semântica. Logo, se ela for removida, é perfeitamente possível apresentar uma explicação semântica de termos pejorativos. Dito de outra forma, se uma abordagem semântica de termos pejorativos é inadequada, então isso se segue da necessidade de ela assumir a tese da extensionalidade nula. No entanto, não é o caso que seja necessário assumir a tese da extensionalidade nula. Logo, não é o caso que uma abordagem semântica de pejorativos seja inadequada. Para tanto, no final deste texto apresento um pequeno exemplo de como uma explicação semântica de termos pejorativos pode ser desenvolvida sem comprometer-se com a extensionalidade nula2.

2 Embora seja necessário, não respondo em detalhes as críticas de Sennet e Copp do ponto

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