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CAPÍTULO 2 – A GÊNESE DA CULTURA DO VIDEOCLIPE

2.2 Clipe como itinerário da cultura midiática

2.2.9 Toscos e felizes em “Here it Goes Again”, do OK Go!

Este modelo de negócios da música encontrou outro cenário com a chegada dos anos 2000: a larga disseminação da internet e o consumo da música “atravessando” a cibercultura. Plataformas online de compartilhamento de canções, álbuns e vídeos impuseram um novo regime de consumo baseado na aparente dicotomia: como comprar algo na loja (um CD, um vídeo), se é possível baixar os conteúdos através de programas da internet? Esta modelização ainda encontra impasses nas instâncias da indústria fonográfica e uma série de soluções momentâneas e efêmeras aparecem para fazer com que o mercado musical siga regido e intermediado pelas gravadoras. No entanto, uma série de atalhos e alternativas de consumo aparecem e se desenham frente aos pressupostos dos produtos musicais. Estes itinerários quase que necessariamente passam pela internet e, no caso do videoclipe, por sites de compartilhamento de vídeos como o YouTube. Evidencia-se o uso de ferramentas online, softwares e sites com o intuito de midiatizar produtos que não entrariam nos circuitos de exibição ditos tradicionais, como as emissoras de televisão (sejam elas musicais ou não). Dessa forma, é possível reconhecer que este novo cenário que se apresenta traz implicações estéticas, gerando produtos que se apresentam longe de padrões previamente desenvolvidos e ditados pelas instâncias televisivas.

Entramos num momento em que o videoclipe até pode ser exibido na televisão, mas não exclusivamente neste meio. O clipe começa a assumir seu contorno de produto ligado à cibercultura e à era digital, produzido também de maneira “caseira”, sem grandes aparatos de produção, mas gerando resultados de visibilidade e midiatização equivalentes aos produtos que outrora eram lançados em fortes esquemas de divulgação da indústria fonográfica. É neste sentido que nos encaminhamos em direção ao clipe da banda sueca Ok Go!, “Here It Goes Again”, cuja caracterização se dá em função da simplicidade dos usos dos recursos expressivos do vídeo e pela forma de circulação do produto que, embora utilizando a televisão como plataforma de exibição, teve na internet seu principal trunfo de alcance e de midiatização. Cabe aqui trazermos algumas informações sobre a canção e a banda para fazermos algumas inferências analíticas sobre o videoclipe. É evidente que a banda Ok Go!, originária de um país fora do eixo da música pop como a

89 Suécia, apresenta-se como o mais desconhecido artista que analisamos nesta etapa do trabalho. Parece-nos premente sinalizar que a internet favoreceu a pulveriação de informação sobre música e, com isso também, permitiu gerar visibilidade a grupos e artistas que, através dos meios tradicionais de divulgação - no caso do videoclipe, a televisão -, não teriam espaço nos grandes esquemas de circulação das gravadoras. Por isso, soa revelador o fato de que a internet tenha propiciado a visibilidade de artistas “fora” das geografias tradicionais da cultura pop, ao mesmo tempo que sedimentou o terreno para que novas relações de gostos e valores fossem angariadas. Isto significa afirmar que, diante das novas ofertas de produtos e artistas da música, através das disponibilidades em sites e plataformas da internet, começa a se desenhar, em gêneros musicais como o rock, a música eletrônica, entre outros, uma certa afeição e valoração de artistas vindo de lugares “diferentes”, “exóticos” e estranhos. Tal sintoma soa resultado de uma constante atualização e distinção no terreno dos valores e dos gostos em relação aos produtos e artistas da música. Soa oportuno planificar neste trabalho o argumento de que, há uma espécie de mapa simbólico sobre os produtos da música que parece dividir geografias, origens e traços biográficos dos artistas como constantes das formas de negociação e posicionamento frente o público fruidor. O rock, sabemos, é um gênero musical pautado pelas instâncias valorativas da autenticidade, construindo suas estratégias discursivas diante da premissa do “original” e do “novo”. Neste sentiudo, artistas e grupos vindos de países fora dos eixos tradicionais do pop, como os brasileiros do grupo Cansei de Ser Sexy (CSS), o colombiano Juanes, o mexicano Maná e os suecos do Ok Go! parecem funcionar como alternativas para uma certa padronização e obviedade que se espera – e tanto se critica – no mercado de música baseado no modelo de negócios da indústria fonográfica.

Este breve relato nos convoca para o videoclipe da canção “Here It Goes Again”, do grupo Ok Go!, como uma espécie sintoma dos novos ditames mercadológicos em função da entrada da internet como ferramenta de circulação de produtos. A análise de um produto como este nos permite realizar uma reflexão pautada na expressividade discursiva do audiovisual. Em "Here It Goes Again", temos a imagem dos integrantes da banda cantando enquanto dançam sobre esteiras elétricas. A direção de arte do vídeo evidencia seu caráter caseiro: vemos, ao fundo, uma espécie de tecido prateado,

90 nitidamente amassado, gerando uma espécie de impressão de “cenário preparado, porém tosco”. Notamos no figurino dos integrantes-dançarinos, a presença de um jogo cromático, em que se destacam o preto, o rosa, o branco e os entretons. Os sapatos se dividem em brancos e pretos. Todas estas questões sobre o aparente “cuidado” com a produção do vídeo entra em “atrito” com o despojamento da câmera, que encontra-se fixa, frontal e captando exclusivamente os movimentos dos quatro integrantes da banda. O que vemos no videoclipe “Here It Goes Again” são os quatro integrantes da banda dançando sobre esteiras rolantes ligadas (Fig. 27 e Fig. 28) fazendo coreografias e “passos” engraçados.

Fig. 27 Fig. 28

“Here It Goes Again” é um videoclipe que sintetiza esta nova modalidade de produtos musicais que circulam tanto pelos meios de comunicação tradicionais quanto pela internet. O vídeo foi largamente difundido, em meados de 2006, pela Internet, transformando numa dessas importantes ferramentas de marketing viral. No Brasil, o vídeo chegou a inclusive a ser exibido no programa de televisão “Fantástico”. Mas, soa relevante destacar que “Here It Goes Again” é freqüentemente associado ao universo caseiro de produção de clipes, como sendo um legítimo clipe desta era digital.

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