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Tratamento dos dados censitários de 1970 e 2000 para o Estado de São Paulo

Para explorar eventuais mudanças no início do curso de vida adulto em 1970 e 2000, experimentamos comparar a transição para a vida adulta distinguindo as pessoas não só pelo sexo, mas também pela situação de domicílio (se urbano ou rural), uma vez que partimos do pressuposto que o processo de modernização pode ter tido impactos diferentes nesses dois ambientes, bem como queríamos testar a hipótese de que no meio urbano, onde provavelmente a variabilidade de estilos de vida é maior e é mais fácil o acesso ao sistema educacional, a duração do período de transição poderia ser mais dilatada.

Atentou-se também para as clivagens baseadas no rendimento domiciliar per capita. Tomaram-se em conta dois subgrupos populacionais: os 20% mais pobres, que foram considerados como pertencentes à camada de baixa renda, e os 20% mais ricos, que compuseram a camada de alta renda.

Considerando a relevância e visibilidade social e midiática que o tema cor/raça vem obtendo na atualidade, aplicamos a mesma metodologia de estudo segundo a clivagem de cor/raça, ainda que o censo de 1970 não traga esta informação. Por isso, os resultados considerando cor/raça se restringem aqui ao censo de 2000. Neste particular, comparam-se as populações branca e negra. Foram consideradas negras, as pessoas que se autodeclararam pretas ou pardas. Indivíduos que se autodeclararam indígenas ou de cor amarela – embora tenham sido computados quando o objeto de análise eram as diferenças segundo situação de domicílio e renda domiciliar per capita – foram eliminados na etapa de análise segundo a cor. Isto porque se considerou que embora sejam grupos numericamente muito menores em comparação às populações branca e negra, possuem características muito peculiares que impedem que sejam aglutinados a quaisquer dos outros dois grupos.

A comparação entre os censos de 1970 e 2000 exige certo cuidado, pois os quesitos censitários sofreram mudanças importantes, especialmente nas variáveis sobre trabalho. Os quesitos selecionados para a definição da situação dos indivíduos frente aos status relevantes na transição para a vida adulta são apresentados no Quadro 2.

Algumas decisões tomadas merecem comentários:

1) No censo de 1970, a população foi classificada quanto à situação de domicílio em três categorias: áreas urbanas, áreas suburbanas e áreas rurais, estabelecidas por leis municipais. No censo de 2000, há apenas duas categorias referentes à situação de domicílio (rural e urbano). Para tornar os dados comparáveis, agregamos as categorias urbana e suburbana de 1970 em um único grupo, baseando-nos na definição de população urbana adotada pelo IBGE no referido censo:

Considerou-se População urbana a recenseada nas Cidades e Vilas (Quadros urbano e suburbano); a População rural constituiu-se da recenseada fora dos limites das Cidades e Vilas” (IBGE, 1970a: XXIII).

2) Na classificação do status ocupacional ou produtivo, foi considerado trabalhador o indivíduo que integra a população economicamente ativa (PEA) entendida como conjunto das “pessoas ocupadas (PO) e de pessoas em situação de desemprego (PD)” (DEDECCA, 1998: 97). O pressuposto é de que a pertença à PEA é uma proxy de independência econômica, ainda que parcial ou, ao menos, desejada. Entretanto, a PEA foi captada de

formas diferentes nos dois censos. O censo de 1970 adotou uma perspectiva mais restrita da PEA ao excluir o trabalho doméstico e para próprio consumo do rol das atividades produtivas, visão que foi duramente criticada nas décadas seguintes (DEDECCA, 1998). Os quesitos selecionados para a definição do status de trabalhador (ver Quadro 2) correspondem às variáveis que segundo Paiva (1984) captam a PEA no censo de 1970. Já o censo de 2000 traz uma concepção alargada do que vem a ser a PEA, incorporando como atividade econômica tanto o exercício de trabalho remunerado quanto de trabalho sem remuneração e na produção para o próprio consumo (IBGE, 2002).

3) Deparamo-nos com mais dois desafios quanto ao uso do Censo de 1970: a existência de missing e o fato de não haver informação sobre a relação do indivíduo com o chefe do domicílio, há unicamente a informação referente à relação com o chefe da família. Para contornar o segundo problema, a alternativa que seguimos foi levar em conta a classificação da família:

Única – Se refere à família única;

Principal – família convivente principal, ou seja, a do chefe do domicílio; Secundária – demais famílias conviventes (IBGE, 1970b: 18).

No caso de se tratar de família única ou principal, obviamente a relação do indivíduo com o chefe da família é idêntica à relação com o chefe do domicílio. Mas para os indivíduos pertencentes a famílias secundárias não foi possível reconstruir a relação com o chefe do domicílio. Por isso, os membros de famílias secundárias foram eliminados.

Por desprezarmos todos os missing, casos nos quais não havia informação sobre alguma das variáveis pertinentes (como renda e idade), e em especial nas situações nas quais não recuperamos de modo claro e direto a relação com o chefe do domicílio, por se tratar de família secundária, houve uma perda irrecuperável de certos indivíduos. Por isso, todos os cálculos em que se baseiam as afirmações desse estudo dizem respeito a 92,86% da população paulista recenseada em 1970.

4) O cálculo do índice de entropia por idade simples restringiu-se à população de 13 a 44 anos. O limite inferior justifica-se por 13-14 anos ainda serem idades em que a freqüência à escola é obrigatória e que ainda não se pode ingressar formalmente no mercado de trabalho, segundo a legislação vigente no ano de 2000, sendo esse mesmo ponto etário

inicial mantido para 1970 por razões óbvias de comparabilidade. Logo, o esperado, ao menos para 2000, é que encontremos maior concentração de indivíduos em algumas poucas combinações de status, a maioria sendo estudante, dependente e vivendo com os pais. A fixação do limite superior levou em conta que a seqüência de idades consideradas deveria ser ampla o suficiente para assegurar que fosse captado o momento do curso da vida em que os índices de entropia começam a cair mais lentamente ou se estabilizam em algum patamar, indício de que a transição finda para aquela coorte sintética determinada.

Quadro 2

Apropriação de quesitos censitários para fins de análise combinatória

Status na transição para

a vida adulta Quesitos do Censo 1970 Quesitos do Censo 2000

Status educacional Estudante versus não-estudante (indicativo de término, interrupção ou abandono da formação escolar) 16 – Freqüenta escola? ( ) Sim ( ) Não

4.29 – Freqüenta escola ou creche? ( ) 1 - sim, rede particular

( ) 2 - sim, rede pública ( ) 3 - não, já freqüentou ( ) 4 - nunca freqüentou

Status ocupacional Trabalhador (membro da PEA) versus não-

trabalhador (indicativo de

dependência econômica)

22 – Se não trabalha, nem procura trabalho, qual a ocupação ou situação que tem e considera principal? ( ) afazeres domésticos ( ) estudante ( ) aposentado ( ) vive de renda ( ) doente ou inválido ( ) detento ( ) sem ocupação ( ) trabalha ou procura trabalho.

4.39 – Na semana..., trabalhou em alguma atividade remunerada?

4.40 – Na semana..., tinha algum trabalho remunerado do qual estava

temporariamente afastado? 4.41 – Na semana..., ajudou, sem remuneração, no trabalho exercido por pessoa conta-própria ou empregadora, moradora do domicílio, ou como aprendiz ou estagiário?

4.42 – Na semana..., ajudou, sem remuneração, no trabalho exercido por pessoa moradora do domicílio

empregada em atividade de cultivo, extração vegetal, criação de animais, caça, pesca ou garimpo?

4.43 – Na semana..., trabalhou em atividade de cultivo, extração vegetal, criação de animais, caça ou pesca, destinados à alimentação de pessoas moradoras no domicílio?

4.55 – No período de 30 de junho a 29 de julho, tomou alguma providência para conseguir trabalho?

Status residencial Dependência versus autonomia residencial (se o jovem ocupa a posição de responsável pelo domicílio ou de cônjuge do responsável) 4 – Parentesco ou relação com o chefe. ( ) 1. chefe ( ) 2. cônjuge ( ) 3. filho ( ) 4. pais ou sogros ( ) 5. genro ou nora ( ) 6. neto ( ) 7. outro parente ( ) 8. empregado ( ) 9. individual (em domicílio coletivo)

4.02 – Qual é a relação com a pessoa responsável pelo domicílio?

( ) 01. pessoa responsável ( ) 02. cônjuge, Companheiro(a) ( ) 03. filho(a), enteado(a) ( ) 04. pai, mãe, sogro(a) ( ) 05. neto(a), bisneto(a) ( ) 06. irmão, irmã ( ) 07. outro parente ( ) 08. agregado ( ) 09. pensionista ( ) 10. empregado(a) doméstico(a) ( ) 11. parente do(a) empregado(a) doméstico(a)

( ) 12. individual em domicílio coletivo

Status conjugal Esteve/está em união

versus nunca esteve

unido(a)

19 – Se vive em companhia de cônjuge – esposa(o), companheira(o), etc. – indicar a natureza da união. ( ) 1. casamento civil e religioso

( ) 2. só casamento civil ( ) 3. só casamento religioso ( ) 4. Outra

Se não vive em companhia de cônjuge – esposa(o), companheira(o), etc. – indicar se é: ( ) 5. solteiro ( ) 6. separado ( ) 7. Desquitado ( ) 8. Divorciado ( ) 9. Viúvo

4.37 – Qual é (era) a natureza da última união?

( ) 1. casamento civil e religioso ( ) 2. só casamento civil ( ) 3. só casamento religioso ( ) 4. união consensual ( ) Nunca viveu Status parental Iniciou a constituição de prole versus nuca teve filhos

29 – Quantos filhos nascidos vivos teve, até a data do censo?

4.62 – Quantos(as) filhos(as) nascidos(as) vivos(as) teve até 31 de julho de 2000?

Fonte: IBGE - Questionários dos Censos demográficos de 1970 e 2000. Elaboração própria.