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UM ROTEIRO PARA CLIO

No documento CArtografias e Devires (páginas 98-109)

Sandra Jatahy Pesavenlo

A metáfora da cartografia, que preside o conjunto dos textos desta obra, é rica de significados. Cartografar é, antes de tudo, mapear um terri­ tório e explorar a natureza, percorrendo espaços e nele identificando luga­ res - territórios dotados de sentido - ou descobrindo paisagens - recortes do espaço organizados pela estética do olhar.

Pensar uma cartografia do social é já avançar da natureza para a cul­ tura, que, de uma certa forma, já se encontravam presentes no enunciado anterior, quando localizávamos atribuições de significado ao território. Mas uma cartografia do social remete a pensar as ações dos homens, que se ins­ crevem, necessariamente, em uma temporalidade.

Temos assim, com uma cartografia social, o enquadramento dos dois vetores pelos quais os homens tem construído, através da história, a sua apreensão e organização do mundo: o espaço e o tempo.

Queremos, contudo, pensar uma cartografia dos territórios daquele saber que se arvora em deter a fala autorizada sobre o tempo: a história.

E nada melhor do que começar pelos gregos, com seus mitos ordena- dores do mundo. Ali encontramos Clio, a musa da história, que compartilha com sua mãe, Mnemósine, a mesma trilha que leva ao passado. Mas Clio mudou de feição ao longo da sua caminhada no tempo, desde o Parnaso.

Comecemos pelo tempo sem tempo que é o do mito, no qual Clio, com a trombeta da fama e o estilete da escrita, fazia acontecer aquilo que cantava. Desde a mitologia, Clio é voz, é narrativa que se faz texto, é re­ gistro de lembrança daquilo que foi um dia.

Sumira Jatahy Pesavento é historiadora, doutora, USP, São Paulo, 1987, pós-doutoramentos em Paris: EHESS (1990), P ans VII (1992-1993), EHESS (1995-97). Área de Pesquisa:

I listória Cultural; temas: cidade, cultura, história e literatura, imagem. Pesquisador IA do < 'NI ’q Professora titular da UFRGS (Depto. História, Programa de Pós-Graduação em His-

lóiiii, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano e Regional). Autora de

Do tempo do mito ao tempo dos homens, a definição aristotélica a fez narrativa daquilo que aconteceu, o que a tom a muito próxima, em ter­ mos de resultado, daquela outra noção do mesmo Aristóteles, que é a da verdade: a correspondência do discurso com a realidade. Narrativa verda­ deira, a história era a realidade do acontecido.

Mesmo que a história continuasse a perpetuar, pela escrita, os feitos dos homens, alardeando a sua fama, para a glória dos reis, dos Estados ou de Deus, e com isto articulasse, no tempo, uma seqüência de ações enca­ deadas, deixou de ser considerada uma narrativa, pois este termo ficou re­ servado ao discurso ficcional.

A partir desta visão, Clio foi tanto identificada como sinônimo do pas­ sado, ou dos fatos memoráveis que um dia tiveram lugar, quanto passou a ser entendida como a ciência que estudava estes fatos. Particularmente, esta postura de entendimento da história acentuou-se com o racionalismo car­ tesiano do século XVÜ, para chegar ao século das Luzes oitocentista, até atingir ao cientificismo do século XDÍ, com a entronização de Clio como a rainha das ciências.

Como ciência, a virada do século XDÍ para o XX dotou a história de leis, métodos e consagrou a supremacia dos documentos, dignificando a pesquisa. Historicistas e positivistas professavam a verdade inscrita no documento, legitimando um campo de saber, e afirmavam a autoridade da fala sobre o passado. No século XX, uma postura marxista de análise con­ sagrou a cientificidade da ciência histórica como desveladora do real.

Por longo tempo, no Brasil, os historiadores percorreram os caminhos do marxismo, particularmente forte nos anos 70, em um contexto de dita­ dura e repressão, quando uma série de perguntas tinha lugar no meio aca­ dêmico, no seio das ciências humanas: como foi possível? Porque não deu certo? Onde tudo começou?

As questões que mobilizavam o debate, e com ele a pesquisa, no âm ­ bito da história, eram aquelas relacionadas com o processo de acum ula­ ção capitalista no país, com a formação das classes sociais e seus limites de atuação, bem como a presença do Estado e seu caráter no Brasil, tal como as condicionantes ideológicas que explicavam o autoritarism o. Algumas certezas povoavam o universo mental da maioria dos historia­ dores: a dinâmica da dominação e da resistência, a luta de classes como motor da história, as contradições presentes no social, as explicações ra­ cionais da realidade.

Diante de uma geração de pesquisadores que se lançava nos arqui­ vos em substituição à outra que já os freqüentara, mas com outras preo­ cupações e perguntas a fazer à história, parecia que tudo estava à espera de quem quisesse se aventurar: fontes, oficiais e privadas, espécie de re-

serva intocada ou sujeita à nova leitura, iluminada pelo referen xista de análise.

Os anos 80 trouxeram para os intelectuais brasileiros, na abertura democrática do país, a tradução de alguns autores fund para uma renovação do pensamento: Antonio Gramsci, Walter B Michel Foucault, Marshall Berman, Edward P. Thompson. Algi eram mais lidos e difundidos, outros, apenas aflorados, timidam debates, mas todos eles indicavam, com as suas reflexões, que í ^ se reorientava na sua reflexão e pesquisa, alargando o seu campo

Para além do político, descortinava-se uma outra concepção do e do poder, em uma multiplicação de espaços, agentes, prátic cursos, desvelando estratégias de composição e expondo os ardis monia a tecer-se entre os grupos, além de revelar os meandros do intelectual como construtor de verdades.

Para além do social, o conceito da classe se reformulava e passr viver com outros recortes do social. A classe, fundamentada na pr ancorada no sindicato e no partido, ampliava-se para uma compreens fazer-se, o que implicava adentrar nos terrenos do cotidiano, da cult valores, assim como se introduzia a noção da diferença, revelando a cidade do social através dos recortes da etnia, do gênero, da cor.

Para além do econômico, a modernização cedia lugar à idéi demidade, conceito nitidamente cultural para expressar uma ex histórica, individual e coletiva, de viver a transformação capit mundo, tendo a cidade como o seu epicentro.

Outros espaços, outras fontes, outros problemas passaram o campo de pesquisa dos historiadores. A cidade, os espaços do ] do privado, da elite e do povo, a história dos subalternos, dos desl com suas práticas e sua cultura, a ordem e a desordem. Mulheres criminosos e boêmios surgiram como personagens da história, a uma elite, burguesa e aristocrata, a impor seus valores.

Os historiadores descobriam novas fontes ou voltavam às com novas perguntas. Mas, sobretudo, algo de importante ocd meçar a ir para além dos modelos explicativos da realidade, rc com as certezas que desfaziam as perguntas... Os modelos até sentes já previam as respostas, impedindo a aventura do conh dada pela descoberta!

Dos anos 80 para os anos 90 deu-se a grande virada da histo 0 surgimento de uma nova postura, renovada por um outro pata» tomológico de análise.

Do tempo do mito ao tempo dos homens, a definição aristotélica a fez narrativa daquilo que aconteceu, o que a tom a muito próxima, em ter­ mos de resultado, daquela outra noção do mesmo Aristóteles, que é a da verdade: a correspondência do discurso com a realidade. Narrativa verda­ deira, a história era a realidade do acontecido.

M esmo que a história continuasse a perpetuar, pela escrita, os feitos dos homens, alardeando a sua fama, para a glória dos reis, dos Estados ou de Deus, e com isto articulasse, no tempo, uma seqüência de ações enca­ deadas, deixou de ser considerada uma narrativa, pois este termo ficou re­ servado ao discurso ficcional.

A partir desta visão, Clio foi tanto identificada como sinônimo do pas­ sado, ou dos fatos memoráveis que um dia tiveram lugar, quanto passou a ser entendida como a ciência que estudava estes fatos. Particularmente, esta postura de entendimento da história acentuou-se com o racionalismo cai - tesiano do século XVII, para chegar ao século das Luzes oitocentista, até atingir ao cientificismo do século XIX, com a entronização de Clio como a rainha das ciências.

Como ciência, a virada do século XIX para o XX dotou a história do leis, métodos e consagrou a supremacia dos documentos, dignificando ;i pesquisa. Historicistas e positivistas professavam a verdade inscrita 110

documento, legitimando um campo de saber, e afirmavam a autoridade da fala sobre o passado. No século XX, uma postura marxista de análise cou sagrou a cientificidade da ciência histórica como desveladora do real.

Por longo tempo, no Brasil, os historiadores percorreram os caminhos do marxismo, particularmente forte nos anos 70, em um contexto de dita dura e repressão, quando uma série de perguntas tinha lugar no meio aca dêmico, no seio das ciências humanas: como foi possível? Porque não deu certo? Onde tudo começou?

As questões que mobilizavam o debate, e com ele a pesquisa, 110 âm

bito da história, eram aquelas relacionadas com o processo de acumula ção capitalista no país, com a formação das classes sociais e seus limites de atuação, bem como a presença do Estado e seu caráter no Brasil, lal como as condicionantes ideológicas que explicavam o autoritarism o Algumas certezas povoavam o universo mental da maioria dos historia dores: a dinâmica da dominação e da resistência, a luta de classes como motor da história, as contradições presentes no social, as explicações ia cionais da realidade.

Diante de uma geração de pesquisadores que se lançava nos arqui vos em substituição à outra que já os freqüentara, mas com outras preo cupações e perguntas a fazer à história, parecia que tudo estava à espei .1

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Nessas décadas finais do século XX, com a tão discutida crise dos pa- Iflillumiis racionais explicativos da realidade, a história passou por profun­

das transformações. Passemos a comentar alguns dos novos enunciados que delineiam o roteiro de Clio. Façamos uma espécie de cartografia do cam­ po de Clio, mapeando seu roteiro ou itinerário de ação.

Algumas questões de natureza epistemológica presidem esta mudança no campo da história, com a entrada em cena de um patamar conceituai di­ ferenciado. Em primeiro lugar, registrou-se um retomo da concepção da his­ tória como narrativa. A história passou a ser entendida como um discurso sobre o mundo, um olhar entre outros que pretende dar conta do real, uma narrativa que busca responder perguntas sobre o passado, uma montagem de ações encadeadas e dotadas de um sentido e conteúdo explicativo.

Ora, a narrativa da história tem como marco temporal de análise o pas­ sado, mas segundo questões colocadas a partir do presente da escritura, o que faz com que seja continuamente reescrita, a cada geração, porque mu­ dam as perguntas e os problemas que os homens se colocam diante do real.

Por outro lado, a narrativa da história tem uma perspectiva de futuro: há um terceiro oculto, que é o público leitor. Logo, a produção de um tex­ to histórico leva em conta a recepção desta narrativa, há uma dimensão social de redistribuição da tram a explicativa. Nesta medida, as escolhas e as perguntas que se faz o historiador não são desvinculadas deste contex­ to. Há uma faceta de escolha pessoal do historiador, de trajetórias subjeti­ vas, familiares, formações intelectuais específicas, meio social, status, paixões, mas todo historiador é historicizado, ou seja, está inserido em um meio onde se registra um horizonte de expectativas que formula perguntas e espera respostas...

A história é narrativa que responde a questões, formulando respostas às indagações do seu tempo. Nesta medida, um segundo referencial se in­ troduz no campo da história: como narrativa ou discurso sobre algo, a his­ tória é representação.

Ela é representação construída que se coloca no lugar de ações trans­ corridas no tempo. Ela aspira a ser aquilo que é o cerne da definição do conceito de representação: estar no lugar de. A rigor, é possível dizer, a partir das formulações de Chartier,1 que a história reconstrói e representa o mundo.

O historiador, por seu turno, elege temas - recortes do real - que se configuram como intrigantes e relevantes no seu tempo, ou seja, que sus­ citam problemas e perguntas à contemporaneidade na qual ele se insere. A história, ou, melhor dizendo, os historiadores, estão sempre a redescobrir o passado, a redefinir seus temas e a construí-los como objeto, ou seja, a problematizá-los a partir de escolhas orientadas por referenciais teóricos.

Sendo narrativa que reconstrói o mundo, inventando o passado, o dis­ curso da história busca resgatar este sistema de representações coletivas que dá sentido à realidade a que se dá o nome de imaginário.2 Ao entender que tudo o que existe é realidade qualificada, a história cultural pretende chegar lá, neste reduto sensível de apreensão da realidade, neste sistema de construção mental que chega a se substituir o real, pois guia a percep­ ção e é matriz de práticas sociais. O imaginário é, por assim dizer, tema e objeto preferencial da narrativa histórica, ao mesmo tempo em que se pode dizer que a história é reconstrução imaginária de sentido para o entendi­ mento da realidade do passado, ao elaborar um discurso que comporta imagens de significação, socialmente reconhecidas.

Ora, as questões/problemas que se definem em tomo da escolha de certos temas dizem respeito não só à temporalidade na qual se colocam, mas também ao marco conceituai escolhido. Os conceitos, estas constru­ ções intelectuais que explicam e problematizam o real, são como que ócu­ los para enxergar o mundo. Construções intelectuais carregadas de senti­ do e sempre relacionais, os conceitos se articulam e dão a chave para a construção de um tema em objeto de pesquisa.

M as um historiador precisa de registros, de marcas daquilo que teria ocorrido um dia. Sem que haja traços que presentifiquem esta ausência no tempo, não há trabalho possível para a história. Esta causa ausente - acon­ tecimento, personagem, fala, sentimento - deve chegar até o presente sob a forma de um texto, um discurso, uma palavra, uma voz, um som ou en­ tão como imagem, coisa, materialidade, sem o que não é possível acessar o passado. Estes registros do passado são, por sua vez, marcas que se co­ locam no lugar dos acontecimentos ocorridos um dia.

Sem a existência da pergunta, estes traços/registros são apenas velhos ou interessantes, pois é só pelas questões formuladas pelo historiador, à luz da teoria, que eles se tomam antigos, marcas do passado, fontes ou do­ cumentos para uma pesquisa. O pesquisador os descobre como fontes, ou seja, como provas do passado que chegam até o presente.

Estamos, pois, diante de um processo narrativo que se propõe como representação daquilo que foi e que definimos como que uma espécie de invenção do real: há a construção de um problema e de um tema converti­ do em objeto de pesquisa; há também a construção dos traços do passado em fontes, a partir das perguntas formuladas. Pois bem, suponhamos que o historiador tem um tema, um objeto-problema e possui fontes. Como vai trabalhar com elas em função da sua pergunta/questão?

Este como, operativo, diz respeito a um método, e, no caso da his­ tória, não há como se furtar a pensar no método da montagem, tal como o define W alter Benjamin,3 ou no método indiciário, como formula Car­ io G inzburg4 As fontes precisam ser cruzadas, com postas, superpostas em redes de sentido, para que revelem correspondências, analogias, con­ trastes, relações múltiplas. H á um trabalho de com posição de dados, de montagem de um puzzle, um a verdadeira urdidura entre os cacos dis­ persos do passado que m ultiplicam as possibilidades de interpretação da fonte.

Um recurso metodológico que fa z a fonte fa la r é, justamente, a pos­ sibilidade de lidar com a intertextualidade, de um texto a outro texto, do texto ao extratexto, de uma fonte com outra, em uma espécie de palimp- sesto de escritas, onde um remete a um outro. E, neste ponto, revela-se o que se chamaria o capital do historiador: sua bagagem de erudição, seu re­ pertório de leituras acumuladas que potencializa a interpretação.

O resultado deste processo é uma narrativa, ou seja, a escrita de um texto histórico, onde se conjugam elementos da retórica, como estratégia de convencimento e argumentação e como a própria estética. A escrita do historiador monta um enredo, desfaz uma intriga, demonstra, convence, prova, seduz. Há um público leitor a cativar, a argumentar e demonstrar, pela narrativa, como as coisas teriam ocorrido um dia em um certo mo­ mento do passado.

Mas todos estes pressupostos, acima expressos, são dados a partir de uma certa compreensão da história, no campo do que se chama a história Cultural, que, como se disse, deu entrada no Brasil ao longo dos anos 90 do último século.

Tal postura e enfoque da história enfrentam, hoje, desafios e impas­ ses. Um deles se refere àquela condição aristotélica primeira, que estabe­ lecera para a história o status de ser uma narrativa verdadeira.

Desde o momento em que Clio passou a ser entendida desta outra for­ ma, pela história cultural, ressalvas se estabeleceram à sua pretensão de atingir a verdade do passado. O final das certezas normativas da organiza­

No documento CArtografias e Devires (páginas 98-109)