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1. A Evolução dos Direitos do Homem.

1.9. A Universalidade dos Direitos Sociais.

Criados a partir da expansão do capitalismo, com o advento da industrialização, de um modo geral, os direitos sociais envolvem garantias no elenco dos direitos do homem: direito ao trabalho, direito ao salário igual por trabalho igual, direito à previdência social em caso de doença, velhice, morte do arrimo de família e desemprego involuntário, direito a uma renda digna, direito ao repouso, ao lazer (férias remuneradas), e direito à educação (TELLES, 1999). A esse conjunto de direitos pode ser incluído, ainda, pelo menos em alguns países, mesmo que no nível básico, o direito à saúde. Com algumas variantes, esses direitos foram expandidos para todas as sociedades capitalistas, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial.

Embora os direitos de segunda geração sejam qualificados como sociais são, em sua origem, caracterizados de direitos econômicos. Estes direitos, ao contrário dos outros, pressupõem o mercado já desenvolvido. Assim, assegura Kuntz (1995:150),

“’ Seu caráter ‘social’ é definível sobretudo por contraste com o significado individual de outros direitos consagrados mais cedo, como o de propriedade, tanto de bens externos quanto da força de trabalho, o de proteção pública, o de julgamento segundo normas processuais eqüitativas e o de participação da vida pública ’” .

Os direitos de segunda geração foram consagrados em legislações, embora de formas distintas, mas com a mesma extensão, em diversos países do Ocidente. Nestes casos, foram criadas obrigações legalmente definidas tanto para os empregadores (agentes privados) quanto para o Estado (agente estatal nas instâncias nacionais).

As conquistas dos trabalhadores ingleses tiveram grande repercussão no continente europeu. Os trabalhadores franceses lutaram e conseguiram a redução da jornada de trabalho para doze horas, dentre outras conquistas, como arbitragem dos conflitos, cooperativas de consumo, redução do trabalho infantil, acesso à educação e à capacitação para operar máquinas cada vez mais complexas, e a fundação da primeira associação internacional que reunia trabalhadores socialistas franceses e ingleses45 (SINGER, 2003).

Com a expansão do capitalismo e o aumento das fileiras do proletariado, essas conquistas vão sendo difundidas e chegam aos mais diversos lugares. O direito ao trabalho passa a ser a bandeira de luta dos trabalhadores no capitalismo.

O movimento sindical surge também em países pouco industrializados como a Itália e a Espanha. A luta por melhores condições de trabalho, salários e vida foi o motivo que levou o proletariado a se organizar para fortalecer a sua base de resistência e mudar a correlação de forças com a burguesia. As mudanças ocorridas ao longo dos anos e a luta pelo direito de formar sindicatos e de negociar melhores condições de trabalhos e salários resultam no desenvolvimento de políticas de garantia de proteção social.

A Alemanha, em 1875, foi o contexto original de uma série de serviços sociais destinados a implantar seguro social, patrocinados e eventualmente subsidiados pelo Estado. Depois de uma década, o Parlamento alemão aprovou o projeto de lei que obrigava os patrões a assegurar-se contra acidentes de trabalho de seus empregados numa Caixa Imperial, a ser regida e subvencionada pelo Estado (SINGER, 2003).

Em 1883, foi aprovada a lei do seguro-enfermidade, que o tornou obrigatório para operários das indústrias com rendimentos de até dois mil marcos por ano. Esse seguro era administrado por entidades autônomas, com a participação de trabalhadores e supervisão do Estado. Esta proteção social foi mais tarde estendida para todos os trabalhadores, inclusive aos rurais. Em 1889, na Alemanha, é

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aprovado um seguro contra a velhice e invalidez, instituindo pela primeira vez um regime obrigatório de previdência. As contribuições às caixas de aposentadorias eram divididas por igual entre trabalhadores e patrões. Em 1911, as três leis são universalizadas e foi instituído, o que passou a ser chamado de Código de Seguros Sociais (Ibid).

A expansão dos direitos sociais na Grã-Bretanha nasce por uma lei, editada em 1911, instituindo o estado de bem-estar. Singer (2003) enfatiza que a lei cria um sistema obrigatório de seguro contra enfermidade e desemprego, e este se aplicava a todos os trabalhadores que percebiam até 320 libras por ano. Esta expansão está relacionada à volta ao poder, em 1906, dos deputados liberais eleitos. Nos anos seguintes, estes parlamentares criaram leis de bem-estar social, por exemplo, a que obrigava as autoridades dos distritos a fornecerem alimentação nas escolas locais, a que obrigava a realização de exames médicos nas escolas e a que regulava o emprego de alunos fora do horário de aulas (Ibid).

Em termos de avanços históricos, a legislação britânica foi mais avançada do que a germânica, porém esta última se difunde primeiro, pois, a legislação britânica institui medidas de implantação da seguridade social, de inspiração socialista, que pressupõem gasto de recursos do tesouro público. Diferentemente da legislação britânica de aposentadoria, a lei alemã, de 1889, “Dispunha que a aposentadoria

seria financiada inteiramente por contribuições divididas por parte igual entre assalariados e patrões. A lei alemã só se afastava dos cânones do liberalismo ao criar um sistema obrigatório de aposentadoria, ao passo que a britânica disponibilizava receita fiscal para proteger os operários incapacitados pela idade e sem meios de subsistência” (SINGER, 2003:236).

Porém, cabe ressaltar que, para Marx (1991), a igualdade jurídica de todos os cidadãos, sem distinção de classe, anunciada pela Revolução Francesa, não passou, na realidade, de um mecanismo de que se serviu a classe burguesa com o intuito de possibilitar e tornar disponível a força de trabalho necessária ao desenvolvimento do capitalismo.

De acordo com Polanyi (1980: 146), seguramente os liberais econômicos não compartilham dessa idéia. Para ele, a filosofia social gira em torno da idéia de que o

laissez-faire foi um desenvolvimento natural, enquanto que a legislação contrária ao laissez-faire resulta de ação intencional por parte dos que se contrapõem aos

princípios liberais.