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No panorama nacional é possível encontrar pesquisas feitas sobre a cor na arquite- tura e também alguns apontamentos sobre a sua aplicação em desenho. Parte deste traba- lho tem sido desenvolvido no âmbito do Laboratório da Cor – FAUL, pela direção da Pro- fª Mª João Durão. Na bibliografia de referência sobre desenho de arquitetura a ênfase da investigação incide no desenho como instrumento de aprendizagem e de projeto e não em aspetos plásticos ou expressivos ou na cor em particular.

Alberto Carneiro, em Campo Sujeito e Representação no Ensino e na Prática do dese- nho/projeto (1995), dedicado à cogita sobre o desenho/projeto, define desenho como o mé- todo de elaborar pela verificação todas as representações que se articulam como construção de um projeto. O desenho é entendido como uma manifestação da interação entre o que se pensa e se manifesta, entre as imagens interiores e o que parece ser uma realidade exterior. Nesta lição33 não se debruça sobre a cor, referindo-a apenas quando discursa sobre o su-

porte, ou sobre as variáveis retinianas (coordenadas do plano de representação), onde con- sidera a cor como uma característica do sinal gráfico, tal como a orientação, o tamanho, a forma, o grão e o valor.

“A forma, o formato, a cor e a luminosidade do campo do suporte estarão imedia- tamente em equação no campo escolhido e nos pressupostos do estudo” (Carneiro, 1995, p. 59).

Entender o desenho como manifestação do pensamento projetivo implica que tudo o que se desenha pode tornar-se num correspondente gráfico das ideias do autor, assim, é fundamental conhecer e dominar diferentes instrumentos e materiais, bem como conse- quentes técnicas e procedimentos, como correspondentes gráficos para os conceitos, for- mas e significações desenvolvidos durante a crítica projetiva.

33 Este volume, “Campo Sujeito e Representação no Ensino e na Prática do desenho/projeto”, resultou da

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“(…) os processos e os instrumentos deste desenho/projeto constituem-se maté- ria, substância e forma, enquanto significantes, significados e significações que estruturam e dão sentido às representações, na delimitação do campo e na consciência operativa do su- jeito” (Carneiro, 1995, p. 64).

Na sequência desta conceção de desenho, que converge com a de outros autores já referenciados, podemos supor que a cor ao aparecer nos desenhos terá alguma interferência no processo criativo, e por consequência no projeto, através da cor do suporte, na atribui- ção de qualidade ao sinal gráfico, e da qualificação do que é representado. A utilização de cores reflete as escolhas e conhecimentos do sujeito/criador e determina os significados das representações. Tudo o que se desenha, como se desenha (o instrumento de trabalho) ou onde se desenha (o suporte de desenho), dá sentido e significado às representações e ao pensamento projetivo e crítico do autor/desenhador. A manifestação gráfica do pensamen- to irá trazer dados visuais para o processo gráfico que serão verificados e testados no senti- do de perceber se são potencialmente o projeto que se investiga. Podemos assumir que as cores têm impacto no processo criativo quando são utilizadas no suporte, como elemento gráfico e como metáfora do pensamento do desenhador.

A exposição Desenho Projeto de Desenho, de 2002 renovava o ciclo “Desenho em Por- tugal no século XX” e divulga desenhos de arquitetos portugueses. A sua enfase é no “re- gisto gráfico operativo, enquanto conceção projectual”. No respetivo catálogo homónimo é possível encontrar diversos argumentos que valorizam e teorizam sobre a prática do dese- nho cuja função é “propiciar uma multiplicidade de verificações que prefigurem uma reali- dade em devir” (Carneiro, 2002, p. 16). Nesta publicação reflete-se sobre a importância das escolhas instrumentais, das respetivas técnicas, “a expressão de cada desenho” como busca de uma “linguagem autoral, de índices arquitectónicos que identifiquem uma obra.” (2002, p. 17), chegando a afirmar-se que “Há ainda as condições instrumentais de produção do desenho: por um lado as determinantes das convenções dos sistemas de representação do espaço no plano; por outro, a natureza diferenciada dos materiais, com mais ou menos intensidade, com mais ou menos opacidade e transparência e que impõem condicionantes para o pensamento e para as opções de forma.” (Carneiro, 2002, p. 17) 34.

Em Desenho Projeto de Desenho (AA.VV., 2002) apresentam um conjunto diversificado de desenhos com cor, em diversos meios de registo e opções, mas esta não é examinada, não sendo provavelmente aqui o lugar nem a ocasião para se desenvolver como temática. Destes desenhos podemos destacar os de Manuel Vicente, Richard Bak Gordon ou Álvaro Siza Vieira onde se utiliza a cor com intensidade.

34 Neste sentido reforça as afirmações do seu trabalho de 1995, valorizando os aspetos materiais (instrumen-

tos ou suportes) como intervenientes do processo e do pensamento. O suporte mais relevante é o papel vege- tal pela sua adaptabilidade ao processo gráfico por permitir uma “migração vertical de informação e a possibi- lidade da sua reconfiguração e reelaboração.” (Carneiro, 2002, p. 135).

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O Arq. João Pernão tem vindo a trabalhar para a valorização e consciencialização da cor na arquitetura, defendendo o Estudo da Cor como outra qualquer especialidade no projeto de arquitetura, de modo integrado e desde o início da conceção da obra. Entende a cor como o principal veículo da perceção do espaço e por isso também da arquitetura, uma vez que “a cor [é o] que nos revela a imagem do espaço e decorrentemente a sua forma. A cor é a forma visual do espaço.” (Pernão, 2012, p. 301). Não utilizar de modo consciente a componente cromática no projeto de arquitetura é correr o risco de perder ou prejudicar a relação emocional e de conforto entre utilizadores e edificado, em linha com a tradição de outros investigadores como Faber Birren, Frank Mahnke ou Tom Porter.

“A atitude mal informada de associar a importância da cor no projeto de arquitetu- ra à decisão da cor da tinta a aplicar sobre as superfícies arquitectónicas, muitas vezes dei- xada para obra – e que na dúvida será branco – é uma falta de conhecimento que deverá ser colmatada, com o fim de produzir ambientes de maior qualidade estética e ergonómica.” (Pernão, s.d.)

Pernão reflete principalmente sobre as possibilidades do uso inteligente da cor em arquitetura, considerando fundamentais o conforto, a qualidade do espaço e o valor estéti- co, de modo a privilegiar a experiência do espaço do seu utilizador. Considera diferentes dimensões da cor como importantes para a reflexão deste problema, na relação luz, tempo, conforto, ergonomia e espaço. A sua investigação sustenta-se numa metodologia teórico- prática, tendo desenvolvido vários projetos onde explora a cor como componente visual e poético do espaço, como na Escola Braamcamp Freire e a Escola Francisco Arruda, onde a cor é utilizada na definição estética e arquitetónica e de acordo com princípios ergonómicos que proporcionam conforto e orientação no edifício.

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4. Interpretar a Cor

“Quando nos perguntam, ‘Que significam as palavras ‘vermelho’, ‘azul’, ‘preto’, ‘branco,’ podemos imediatamente apontar para coisas que têm essas cores, - mas a nossa capacidade para explicar o significado destas palavras não vai mais além! De resto, nem te- mos uma ideia do seu uso, ou então uma ideia muito rudimentar e, em parte, falsa.” (Wittgenstein, 1996 [1977], p. 33)

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