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Os integralistas não fizeram planos de governo para concorrer às eleições municipais. Isso é perceptível no jornal integralista, que não apresentava compromissos concretos, no jornal A Notícia, que usava a ausência de promessas como argumento para rechaçar o partido do sigma, e na entrevista de Largura, que admitiu inexistir qualquer planejamento prévio. René Gertz acrescenta que no Rio Grande do Sul o partido integralista também não apresentava planos de governo, tendo sido essa uma característica das candidaturas da AIB naquele pleito101. Na tabela abaixo constam os números das urnas e a quantidade de votos em cada uma:

100 Confira a reprodução do convite em anexo: Imagem 1. 101 GERTZ, op. cit., 1987, p. 181.

Tabela 3 – Resultado das eleições municipais 1º março de 1936 – município de Joinville

Urna Frente Única – Jlle AIB

1ª 68 173 2ª 78 140 3ª 85 145 4ª 76 136 5ª 71 157 6ª 76 149 7ª 72 177 8ª 109 99 9ª 113 111 10ª 92 111 11ª 96 147 12ª 73 157 13ª 99 148 14ª 99 123 15ª 84 140 16ª 100 89 17ª 103 118 18ª 103 41 19ª 68 123 20 ª 128 124 TOTAL 1.792 2.608

Fonte: Jornal A Notícia

Aproximadamente 8.5% da população de Joinville votou na eleição de 1936, enquanto a média de Santa Catarina ficou em 5%. Os números da tabela apontam que o integralismo perdeu em apenas 5 do total de 20 seções da cidade, sendo que em apenas uma houve diferença numérica significativa, com 62 votos de vantagem para a Frente Única. Os números da votação demonstram que não havia áreas determinadas de influência integralista, mas uma distribuição quase homogênea do partido na cidade.

Confirmada a vitória integralista, a primeira análise sobre os resultados das urnas foi feito pelo A Notícia, enfatizando a questão étnica. É preciso salientar que até então o jornal não se manifestava contra os teuto-brasileiros e até meados de 1935 elogiava o governo de Hitler, além de publicar textos em língua alemã. O artigo já mencionado anteriormente, contestando o suposto apoio integralista ao nazismo, apresentou uma espécie de “alerta” aos teuto-brasileiros para não se deixar enganar a respeito da questão.

Todavia, a derrota da Frente Única precisava ser justificada. E o jornal não o fez analisando os prováveis erros da aliança, mas atribuindo responsabilidades aos eleitores. Os culpados pela derrota da Frente Única foram, de acordo com o articulista, os teuto-brasileiros:

Percorrendo todas as seções onde mais se acentuou o predomínio do voto integralista, encontramos um eleitorado constituído na sua maioria absoluta pelos colonos, pelos elementos ligados, através das tradições de sangue, à mentalidade afeita à disciplina militarizada, que exclui a vontade individual, o conhecimento, o raciocínio para só determinar a obediência sem restrições e sem resistência. Foi esse elemento, de deficiente cultura cívica, porque só se orienta pela edição semanal dos órgãos redigidos em alemão102.

O longo artigo prossegue afirmando que faltou à Frente Única ter feito mais campanha no interior do município, onde a “massa mais precisava sofrer o trabalho de esclarecimento”103. Praticamente todos os jornais mantinham colunas ou parte de seus textos em língua alemã. Dos dois jornais publicados na íntegra em alemão, somente o Joinvillenser

Zeitung aderiu ao integralismo; o Kolonie Zeitung não assumiu nenhum

posicionamento e apresentou as duas campanhas aos seus leitores. O articulista afirmou em outra passagem que a coligação Frente Única primou em fazer sua campanha na área urbana da cidade, ou seja, deixou praticamente 50% da população distante de seu discurso.

Na Câmara Municipal, os integralistas obtiveram maioria. A AIB elegeu 9 dos 15 candidatos da chapa, contra 6 eleitos da Frente Única.:

Vereadores AIB: Dr. Josino da Rocha Loures, José Koerbel, Otto Hönke, João Baptits Olinger, Julio Shoeroeder, Antonio Zimmermann, Otto Pfützenreuter, Rodolfo Hübdner e Alcebíades Deodoro Duarte.

Vereadores Frente Única: Max Colin, Roberto Schmidlin, Fernando Fiedler, monsenhor Dr.

102 As eleições municipais. Anauê, 6 mar. 1936, p. 1. 103 Ibid.

Gersino de Oliveira, Gustavo Schossland e Frederico Hübener104.

A mesa diretora foi dividida entre governistas e oposição: José Koerbel, presidente; Roberto Schmidlin, vice-presidente; Otto Pfützenreuter, primeiro secretário; Max Colin, segundo secretário.

Dois meses se passaram até que o Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina rejeitasse todas as tentativas de invalidar a eleição. O

A Noticia reproduziu o inconformismo dos derrotados e garantiu em

suas manchetes que o governo do sigma não prosseguiria. Uma semana após o pleito, as notícias davam como certa a anulação da eleição e a invalidade de centenas de votos. Porém, em nenhum momento as “graves irregularidades” cometidas por integralistas foram mencionadas: Se os camisas-verdes assumirem o governo do município, do que muito sinceramente duvidamos, o povo é que há de sofrer o castigo de uma série de incalculáveis males que atrasarão de anos o progresso de nossa terra105.

Largura assumiu a prefeitura alheio aos processos de impugnação. Após a posse do prefeito, o diretório do Partido Liberal na cidade foi reorganizado, acatando a ordem do governador. Com tom catastrófico, os “liberais” lançaram manifesto, no qual “garantiam a ordem em Joinville” apesar do governo integralista106.

Em entrevista, Largura afirmou que esteve presente na cidade apenas quinze dias antes das eleições porque ainda residia em Blumenau, tendo dois filhos ainda crianças, precisava continuar trabalhando para manter sua família. Para ele, o resultado das urnas foi uma surpresa, considerando que não residia na cidade durante a campanha e que os recursos financeiros do partido eram escassos. A única despesa do partido teria sido no valor de setenta mil réis para transportar eleitores de uma zona rural onde não havia urnas107.

104

Câmara Municipal. Anauê, 11 abr. 1936, p. 1.

105 Idealismo da ambição. Anauê, 7 mar. 1936, p. 1. 106 Manifesto do Partido Liberal. Anauê, 3 abr. 1936, p. 6.