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A Volta do Fu ManchuA Volta do Fu Manchu

A Volta do Fu Manchu

A Volta do Fu Manchu

A Volta do Fu Manchu

Essa crise seria impensável em outra era, necessitaria não só de instrumentos de morte que não existiam como um mundo interligado, com comunicação e mobilidade rápidas, que antes também não existiam. Mas ao

evocação de símbolos e situações de romance antigo. Quando o Bush chama o Bin Laden de “the evil one” - “o mau” - lembra o Fu Manchu, e qual foi a última vez, na ficção ou fora dela, que se recorreu a algo parecido com o insidioso doutor para explicar um mal que nos assola?

É verdade que a personalização do mal numa figura exótica que mobiliza súditos fanatizados era uma tática recorrente do colonialismo europeu, que no seu ocaso precisava equiparar ataques ao seu domínio a ataques à razão e às religiões sensatas. A Inglaterra começou a perder a Índia quando Gunga Din, o personagem de Kipling que dava a vida para salvar seus mestres ingleses dos selvagens adoradores da deusa Kali, se transformou em Mahatma Ghandi, tão pertinaz quando os adoradores de Kali, mas - fatalmente, para os ingleses - amável como Din. O pacífico Ghandi não podia ser caracterizado como um mameluco maluco, seu tipo de insurreição era inédito, ele foi o fim dos dervixes providenciais que podiam ser abatidos sem remorso na defesa do império, e o fim do “raj”, ou da Índia inglesa.

Mas o Fu Manchu da ficção não era um líder insurrecional ou sequer um fanático religioso. O Mal que ele representava não tinha causa, patológica ou política - ele era “the evil one” apenas porque era mau, ou apenas porque era oriental. Osama bin Laden tem suas causas religiosas misturadas - por ele mesmo ou por quem o interpreta - com causas políticas (algumas improvisadas agora, ele nunca antes tinha falado nos palestinos), mas é uma nova versão, revisada, tecnicamente atualizada, adaptada para a TV e a Internet, do Dr. Fu Manchu. Sua fortuna espalhada pelos mercados financeiros do mundo e seus seguidores secretos supostamente só esperando mensagens cifradas pela CNN para espalharem mais terror repetem a teia de sortilégio hipnótico do Fu Manchu, que também cobria o mundo. Mas o Fu Manchu só contava com a telepatia.

O ataque com venenos também é evocativo, embora nada pudesse ser mais moderno do que tóxicos feitos em laboratório. A literatura antiga está cheia de filtros e poções nunca bem explicados interferindo nas tramas, arranhões ao folhear um livro ou abrir uma carta - sem falar em líquidos furtivamente derramados de anéis falsos em copos desprotegidos - levando a mortes misteriosas e desenlaces inesperados. Não se sabia da existência de bactérias. A descoberta das bactérias - de um mundo de coisas invisíveis e possivelmente letais vivendo com, e muitas vezes na, gente - foi uma das grandes contribuições da ciência para o terror da humanidade, pois ao mesmo tempo que trazia a explicação e a possibilidade de cura de muitos males, revelava inimigos que a gente nem sabia que tinha. Mas bactérias assassinas nunca tiveram o mesmo prestígio literário das emulsões venenosas, talvez porque a idéia do seu cultivo meticuloso não fosse literariamente tão atraente quanto a de alquimistas destilando líquidos mortais de plantas obscuras e sapos nojentos. Agora os venenos sub- reptícios estão de volta, com as bactérias substituindo as poções. E - se as suspeitas sobre mais esta maldade de “the evil one” estão certas - pelas mãos sinistras do novo Dr. Fu Manchu.

Bem que podiam ter deixado a literatura antiga quieta.

ABCDEtc (1)

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ABCDEtc (1)

A - Primeira letra do alfabeto. A segunda é “L” e a terceira é “F”. AH - Interjeição. Usada para indicar espanto, admiração, medo. Curiosamente, também são as iniciais de Alfred Hitchcock.

AHN? O quê? Hein? Sério? Repete que eu sou halterofilista.

AI, AI - Expressão sarcástica, de troça. O mesmo que “Como nós estamos sensíveis hoje, hein, Juvenal?”

AI, AI, AI - Expressão de mau pressentimento, de que em boa coisa isto não pode dar, de olhem lá o que vocês vão fazer, gente.

AI, AI, AI, AI, AI - O mesmo que “Ai, ai, ai”, mas com mais dados sobre a gravidade da situação. Geralmente precede uma reprimenda ou uma fuga.

B - Primeira letra de Bach, Beethoven, Brahms, Bela Bartok, Brecht, Becket, Borges e Bergman, mas também de Bigorrilho, o que destrói qualquer tese.

BB - Banco do Brasil, Brigitte Bardot, coisas do tipo.

BELELÉU - Lugar de localização indefinida. Em alguns mapas fica além das Cucuias, em outros faz fronteira com Cafundó do Judas e Raio Que os Parta do Norte. Beleléu tem algumas características estranhas. Nenhum dos seus matos tem cachorro, todas as suas vacas estão no brejo - e todos os seus economistas são brasileiros.

C - Uma das nossas letras mais populares. Sem ela não haveria carnaval, caipirinha, cafuné e crédito e a coisa seria bem mais difícil.

CÁ - Advérbio. Quer dizer “aqui no Brasil”. Também é o nome, em português, da letra K, de kafkiano, o que já deveria ter-nos alertado.

CÊ - Diminutivo de “você”, como em “cê soube?” ou “cês me pagam”. Também se usa “cezinho”, mas só em casos muito particulares, e com a luz apagada.

CI - Ser mitológico. Na cultura indígena do Amazonas, a mãe de tudo, a que está por trás de todas as coisas, a responsável por tudo que acontece (ver CIA).

CO - “O outro.” Como em co-piloto (o outro piloto), coadjuvante (não o adjuvante principal, o outro) e coabitação (morar com a “outra”).

CÓS - Os “cós das calças”, que até hoje ninguém descobriu o que são.

CUCUIAS - Arquipélago, provavelmente no Caribe, mas no lado da sombra... A única coisa certa que se sabe sobre as Ilhas Cucuias é que ficam longe das Ilhas Cayman. Celebrizadas no poema ufanista anônimo Povo de Turistas (“Como viajam os brasileiros/ donos de um elã incomum./ A maioria vai pras Cucuias/ e o resto vai pra Cancun”).

D - 500 em latim. Vale meio M, cinco Cs e dez Ls.

DDD - Discagem Direta a Distância, ou Dedo Dolorido De tanto tentar.

DE - Prefixo que significa o contrário, o avesso. Como em “decúbito”, ou com o cúbito para cima.

E - Conjunção. Importantíssima. Sem o E, muitas frases ficariam ininteligíveis, dificultando ainda mais a comunicação entre as pessoas. Em compensação, não existiriam as duplas caipiras.

E? - E daí? Continue! Qual é a conclusão? Qual é o sentido dessa história toda? Onde você quer chegar, pombas? Vamos, desembuche!

É - Afirmativa, confirmação, concordância ou resignação. Também usado na forma reflexiva (“Pois é”), na forma interrogativa (“É?”), na forma reflexiva interrogativa (“Né?”) e na forma interrogativa retórico- reflexiva (“Ah, é?”).

É... - O mesmo que “Pois é”, mas com uma carga filosófica maior. Tudo que tem reticências é filosófico. Ou irônico, que é o filosófico que dá briga.

EH, EH, EH, EH - Risinho safado. Também dá briga.

EPA! Exclamativo. Usado em situações-limite, como beliscões extemporâneos na bunda, principalmente se ela for a sua. Outras formas: “Opa” (ver OPA), “Peraí”' (ver “PÔ), “Péralá!”‘ (ver AI, AI, AI)”.

ABCDEtc (2)

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ABCDEtc (2)

F - Ou “efe”. Uma das oito letras com duas sílabas do alfabeto. “Doblevê” tem três, “ipsilone” tem quatro e “dobliú”, depende. Se você diz o “bliú” ligeiro, é uma sílaba só, se for baiano são duas.

PH - Efe no tempo em que era “ephe”.

G - De “gongórico”, nome dado a tudo que soa como um gongo. GA-GA-GA-GA-GA... Gago.

H - A letra “agá”. Também pode ser os edifícios do Congresso, em Brasília. Nesse caso, saia de perto.

HONTEM - Ontem, ontem.

I - Monograma do Marco Maciel.

IH - Expressão de mau pressentimento. Como em “Ih, outro discurso do Simon...”

IIIIIII - Expressão de mau pressentimento quando o pressentido já começou a acontecer e não há nada a fazer senão se preparar para o pior. Ou emigrar, claro. Substitui as frases “Eu sabia...”, “Esse filme eu já vi...” “Lá vamos nós outra vez...” e “Ai, ai, ai” (ver AI, AI, AI, AI, AI) IIIIIIIIIIIIIII (Continua) - Um “liiiih” que não encontra resistência e se prolonga indefinidamente, acompanhando a curvatura da Terra. No Brasil há casos de “liiihs” que começaram há 35 anos e ainda não terminaram.

J - Uma das letras mais brasileiras do alfabeto. A primeira letra de jabá, jabaculê, jeitinho, jogada e joint venture. Está na nossa origem (“Já fui! Já fui!”, as palavras que acompanham nossa concepção) e no nosso fim (jazigo, já era).

JÁ - Agora.

JESUS! - Apelo a um poder mais alto, ignorando-se os trâmites normais e todas as instâncias intermediárias - santos, secretárias, seguranças - para ir direto em quem manda, ou pelo menos no seu filho.

JURADO - Membro de um júri. Marcado para morrer. Ou, dependendo de onde for o julgamento, as duas coisas juntas.

K - Não existe em português, mas ninguém conseguiria dizer “um kantiano kitsch de kilt num kart” sem ela, a não ser que fosse fanho (ver ANHO). Embora seja pouco provável que alguém, algum dia, precise usar esta frase.

L - O “ele” minúsculo é igual ao “l” e o maiúsculo também, só que com sombra.

LOT - Ou Ló. De uma vez por todas, preste atenção. Ló era o do pão e dos escravos que jogavam caxangá (ver CAXANQUÊ?), Jó era o das provações de Deus e da mulher que virou estátua de sal. Espera um pouquinho. Jó era o dos escravos, Ló era o do pão e da estátua. Não! A mulher que se transformou em estátua e os escravos eram do Jó, Ló era só o do pão. Não! Os escravos eram da mulher do Jó, o Ló era o das provações e o Jó virou pão. Não! Os escravos eram da mulher do Ló, que era uma das provações do Jó, que virou estátua de sal mas do Ló. Não! O Ló virou Jó e... Esquece.

M - Primeira letra de “eme”. N - O “ene”, não.

O - A letra símbolo da Kabala. A Cobra da Vida comendo a si mesma por toda a Eternidade. A letra que é um número, e o número que é um vazio. O Tudo e o Nada num mesmo signo. Em inglês, “OK”. Em português: “Aqui, ó.”

Ó - Interjeição. Como em “Ó vida” ou “Ó tempos, ó modos” e, especialmente, “Ó Minas Gerais”.

OH - Interjeição. Como em “Oh, não!” e, principalmente em filme americano dublado, “Oh, sim!”

OI - Alô.

OI, OI, OI - “Ai, ai, ai” mais baixinho. (Ver “iiiiiiiih”) PÔ - Abreviatura de “positivamente”, como em “Positivamente, assim não dá”.

QRST - Único grupo de quatro letras sucessivas no alfabeto que não inclui uma vogal. E você sabe o que isso significa...

UI - “Epa” de quem está gostando.

V - De Verdade e Vileza, Verme e Virgem, Veneno e Valium, é a única letra do alfabeto que, de cabeça para baixo, vira uma casinha. É preciso dizer mais?

XYZ - As últimas letras do alfabeto. Pronuncia-se “xyz”. O “X” e o “Z” são, juntos com o “K”, as letras mais duras e antipáticas do alfabeto e existe uma suspeita de que sejam nazistas. Não admira que o “Y”, entre as duas, esteja com os braços para cima, apavorado.