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A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 126-130)

Material escrito no período de Agosto de 2004 a Dezembro de 2005

4.3 ARGUMENTOS CONTRA A PROPOSTA

4.3.2 A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Paulo Antônio Gomes Cardim (Revista Ensino Superior – Fev. 2005 – Em defesa da livre iniciativa), demonstra que se o governo quer contribuir com a melhoria da qualidade do ensino, na graduação e na pós-graduação, deve encontrar mecanismos legais e orçamentários para viabilizar o fomento da pesquisa e dos programas de mestrado e doutorado, com ênfase para as áreas do conhecimento humano mais importantes para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade.

Este ressalta que, talvez, seja o maior desafio para o ensino superior brasileiro neste início do terceiro milênio.

Consoante tal pensamento, Ives Granda Martins (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – A degradação do ensino) esclarece:

Pior do que isso. Com o projeto de Lei de Diretrizes e Bases, que pretende apresentar ao Legislativo, retira, por inteiro, a autonomia das escolas superiores, garantida pelo Artigo 207 da Constituição Federal, substituindo o

“mérito acadêmico” pelo “patrulhamento governamental” e a “liberdade de ensino” pelas “preferências ideológicas dos ocupantes do poder”. Isso porque, nos Conselhos Consultivos – que, no Anteprojeto, são bem mais do que meros Conselhos de opinião -, haverá uma menor participação das mantenedoras (únicos responsáveis pelo estabelecimento e capazes de assegurar a sua autonomia).

Ao estabelecer que “o ensino é livre à iniciativa privada”, a Constituição Federal condiciona este exercício a duas exigências: o cumprimento das normas gerais da educação nacional e a autorização e a avaliação de qualidade pelo Poder Público. Nos dois casos, assume-se que elas são precedidas por um processo fundamentado na “avaliação pelo Poder Público”.

A pretensão de introduzir novos critérios fora deste contexto representa o estabelecimento de condições não permitidas pela Constituição Federal.

É preciso ressaltar que o MEC já desenvolve os elementos necessários e suficientes para a avaliação e a regulação do Sistema educacional. A Secretaria de Ensino Superior (SESu) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) já dispõe, dentre outros dos seguintes órgãos e procedimentos: O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), Exame Nacional de Estudantes (Enade), Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), auto-avaliação, análise de Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), exame das condições fiscais e parafiscais, verificação das condições de ensino (realizada in loco por comissões de especialistas), censo educacional, procedimentos para autorização, credenciamento, reconhecimento e renovação de cursos e instituições. Estes são instrumentos e procedimentos conhecidos, analisados e aprovados pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

Finalmente, deve ser dito, que o sistema privado de educação superior paga ao MEC para que ele exerça a sua função constitucional de acompanhamento da educação superior, segundo Hermes Figueiredo, presidente do Semesp e membro do grupo Executivo do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação (Revista Ensino Superior – Mar. 2005 – Mudanças por etapas).

De acordo com a revista Veja (26/01/2005 – pg. 46-57):

A reforma propõe mudanças que ao inibir a iniciativa privada, eliminarão milhares de vagas. O projeto asfixia as instituições particulares, submetendo-as ao “controle da sociedade” – que já se tornou o eufemismo preferido do petismo para expressar sua desconfiança para com a atividade empresarial e com o capitalismo. Ou seja, em vez de incentivar a criação de mais vagas nas universidades e cuidar para que ela seja de boa qualidade, com inspeção rigorosa e incentivos ao mérito e punições severas às arapucas, o projeto simplesmente dá vazão a sua ideologia antinegócio e procura afogar as instituições privadas em regras e proibições. Obviamente, o trabalho diuturno de fiscalizar é árduo, incógnito e não tem nenhum charme revolucionário. Atraente mesmo é promover com alarde a intervenção branca nas instituições privadas de ensino superior em nome dos excluídos, entregando o seu controle à “representantes da comunidade.

A Constituição Federal fala em gestão democrática, mas o Anteprojeto impõe uma gestão democrática colegiada.

Ali Kamel, (Jornal O Globo, 25.01.2005 – A Constituição, segundo Tarso) ressalta de forma didática tal pensamento:

A gestão pode ser democrática, sem eleição direta e sem ser colegiada. O Presidente da República é eleito por voto direto, mas não governa de maneira colegiada: indica pessoalmente seus ministros que podem ou não ser ouvidos para tomada de decisões. Por que obrigar as universidades a ter uma gestão colegiada? Por que impor eleições diretas com voto de funcionário administrativo e aluno? No caso das federais, deixar o presidente escolher entre os que constem de uma lista sêxtupla ou tríplice é pratica absolutamente democrática, já que o presidente foi escolhido pelo povo. No caso das privadas, a forma de administrá-las deve ser a que a mantenedora achar conveniente.

O Brasil é um país de, aproximadamente, quarenta profissões regulamentadas, dada a quantidade de Conselhos de ordem profissional existentes, e esse aspecto da conjuntura nacional relaciona-se diretamente às instituições de ensino superior.

Há uma nuance que complica esta questão: a dos critérios de necessidade social que o MEC vem tentando estabelecer no país.

Corroborando com tal pensamento, o ex-Ministro da Educação, Paulo Renato (Jornal O Estado de São Paulo – 23.01.2005 – Na contramão da história) assevera:

A criação de cursos superiores passa a ser subordinada ao chamado

“interesse social”, conceito vago a ser arbitrado por burocratas do ministério,

abrindo as portas para ações subjetivas marcadas por conveniências políticas. Isso já foi amplamente praticado durante o regime militar. As reservas de mercado que foram então criadas induziram o sistema à mediocridade e à falta de qualidade. Ao eliminarmos esse resquício autoritário no governo passado, abrimos as portas para a expansão do sistema e substancial melhoria em todos os indicadores de qualidade acadêmica.

O problema da proposta é que a imposição de limites à iniciativa privada não vai proporcionar aumento de vagas nem facilidade no acesso ao ensino. Se for colocada em prática na íntegra, poderá eliminar milhares de vagas, conforme salientado anteriormente.

De acordo com o Anteprojeto, as universidade só poderão implementar novos cursos para atender “a necessidade social do país”, uma definição que precisa, e muito, ser aprofundada, além de conferir à corporações profissionais o poder de impedir a criação de novos cursos.

Consoante tal pensamento, Gabriel Mário Rodrigues, presidente do Semesp (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Para que e para quem a reforma universitária) esclarece:

O maior problema da iniciativa privada é a crescente asfixiante subordinação aos controles e trâmites burocráticos que, na maioria das vezes, induzem o abortamento ou o retardamento de projetos institucionais, quando o mercado exige celeridade máxima. Inúmeras ações do governo demonstram a implicância contra a ação privada, seja pelas contradições nos depoimentos pela mídia ou pelas ações regulatórias que só infernizam o setor por meio de esdrúxulas normas inibidoras.

Na avaliação de Lauro Zimmer (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Para vencer os desafios), “a proibição por portaria ministerial, da criação de cursos de graduação, da ressurreição do critério de necessidade para abertura de novos cursos e credenciamento de novas instituições, a forte influência de corporações como a OAB, CFM e outras, deixa cada vez mais distante o alcance das metas do Plano Nacional de Educação”.

A proposta do governo, quando ressalta a necessidade social, ampara-se na concepção de que esta necessidade é nacional, especialmente com vista à redução de desigualdades sociais e regionais e ao incentivo do desenvolvimento sustentável, em termos ambientais e econômicos.

Maria Helena de Castro (Jornal O Estado de São Paulo – 23.01.2005 – Para especialista, projeto vai cria o neocorporativismo) indaga: “quem define que há necessidade social? Pelo projeto serão as corporações profissionais. Ou seja, estamos inaugurando, com o projeto do MEC, um neocorporativismo, que o Brasil está inventando para definir o que é demanda social”.

Seguindo este mesmo pensamento, Milton Linhares (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Ensino exige novo desenho) sustenta que:

Acho temerário. Quem vai decidir se uma cidade precisa ou não de mais um curso superior? Como ponderar se os já existentes atendem ou não satisfatoriamente a demanda? Penso que o critério da qualidade é insubstituível. Se a proposta para um novo curso for bem avaliada, é bom que seja autorizado, mesmo que seja num município onde já existam cursos idênticos. Um bom novo curso pode provocar os antigos a se reciclarem.

Magno de Aguiar Maranhão (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – O controle do ensino superior) apresenta outro exemplo interessante:

O MEC deve-nos uma explicação por também vincular a autorização às

“reais necessidades” da região. Necessidade de quê? De profissionais x ou y? Vejamos o caso da saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não fixa a proporção ideal de médicos por habitantes, mas estima-se que um por mil seja o mínimo. Então, deveríamos abrir escolas de medicina em todo o Norte e Nordeste, com urgência em estados como Rondônia (0,43 médico/mil habitantes) ou Maranhão (0,38 médico/mil habitantes). Quem garante, porém, que os recém-formados não partiram de lá, em busca de melhores oportunidades? Ou o governo planeja instalar novos hospitais nesses locais, estimulando a permanência dos profissionais? Pois essa seria a melhor maneira de contemplar as “reais necessidades sociais”.

Democratizar a autorização de funcionamento para novos cursos no ensino de terceiro grau, promovendo mais agilidade na abertura de novas instituições, reduzir os custos e incentivar a proliferação de ofertas onde existe demanda, eis alguns dos pensamentos do Sistema Privado de Educação Superior.

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 126-130)