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A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 108-112)

Material escrito no período de Agosto de 2004 a Dezembro de 2005

4.2 ARGUMENTOS A FAVOR DA PROPOSTA

4.2.1 A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

A Educação é um elemento de vital importância para que haja um rompimento com a história de dependência cultural, científica e tecnológica do nosso país. O governo ressalta que o processo de globalização colocou o Brasil e a universidade diante de uma encruzilhada. Este salienta que de um lado há a desregulamentação e a mercantilização do ensino, pois desta forma há a retirada do Estado na definição e gestão das políticas educacionais.

Por outro lado “há um projeto que percebe a educação superior como um direito público a ser ofertado pelo Estado gratuitamente, com qualidade, com democracia e comprometido com a dignidade do povo brasileiro, com as expressões multiculturais que emergem do interior da sociedade, com a sustentabilidade

ambiental e com desenvolvimento tecnológico de sua estrutura produtiva” (Cartilha da Reforma da Educação Superior, Nov. 2004).

Para o Ministério da Educação, a universidade tem papel fundamental na construção de um novo projeto de desenvolvimento, desta forma, o governo atual optou pelo segundo caminho, que prega a valorização da universidade pública e a defesa do ensino superior como um direito de todos os brasileiros, demonstrando que as instituições públicas têm papel indutor e regulador no processo de conhecimento e consequentemente, no de crescimento.

Com a liberalização do ensino superior, nos últimos dez anos, houve uma proliferação acentuada de instituições privadas. Hoje, 71% (setenta e um por cento) da vagas são não estatais e apenas 29% (vinte e nove por cento) são estatais (Cartilha da Reforma da Educação Superior, Nov. 2004).

De posse destes dados, o governo federal pretende ampliar a participação do setor público na educação superior. A meta é criar novas universidades públicas, expandir novos pólos e abrir 400 mil (quatrocentas mil) novas matrículas em quatro anos nas instituições federais. Outro argumento do governo é que fortalecendo o ensino público, haverá mais recursos em investimentos em pesquisa e extensão, resultando assim em uma educação de maior qualidade.

Corroboram com tal pensamento, Gustavo Balduíno e Oswaldo Baptista Duarte Filho (Folha de São Paulo: 24.02.2005 – Uma discussão necessária):

A educação é um bem público e uma questão de Estado. Em nosso jovem país, com o um sistema de ensino superior ainda mais jovem, muito poderia ter sido feito para instituir um sistema inclusivo, de alta qualidade e que fosse reconhecido pelo papel que desempenha na formação dos produtos de conhecimento científico, de tecnologia e de professores para os níveis fundamental e médio. Pouco se fez nesta direção. As ações de governo, particularmente ao longo dos últimos anos, propiciaram a disseminação indistinta e predatória de escolas de terceiro grau, às quais, por artifícios diversos, se atribuíram às denominações de centros universitários, universidades, etc.

Neste mesmo contexto, Tarso Genro e Hélgio Trindade (Site MEC - 19.02.2005 – Quem teme a Reforma?) afirmam:

Na sociedade contemporânea, conhecimento e poder se interpenetram em todos os níveis, da esfera pública ao mercado, redefinindo o significado de espaço público nas universidades e afetando na raiz sua “missão social”. A resposta a este processo tem de vir no bojo de uma reforma que aponte nessa direção e que tenha a capacidade de articular os anseios da comunidade acadêmica por uma reestruturação universitária com as demandas legítimas das instâncias representativas da sociedade. E o caminho é o estabelecimento de uma política de Estado que preserve e recomponha a missão pública do nosso sistema de educação superior público e privado e o articule com o projeto de uma nação democrática, justa e soberana.

A proposta do governo federal ressalta que o ensino não é mercadoria, é um bem público. A Constituição Federal garante a educação como dever do Estado, mas prevê também a iniciativa privada. No entanto, o governo salienta que ao exercer uma função pública delegada, o setor privado deve buscar a qualidade como caminho central.

Nos últimos anos a abertura de faculdades, centros e universidades no Brasil, nem sempre veio acompanhada da devida avaliação e preocupação com a qualidade de ensino. Para o governo, não basta abrir vaga, mas se faz necessária a garantia de um ensino-aprendizagem condizente com as necessidades e expectativas da Nação.

O governo esclarece que existem ainda 4.420 (quatro mil quatrocentos e vinte) processos de autorização nas diferentes modalidades e credenciamento de instituições privadas tramitando no Ministério da Educação, e que, em 2002, a média de pedidos de abertura de novos cursos, chegou a quatro por dia (Cartilha da Reforma da Educação Superior, Nov. 2004).

De acordo com Daltro José Nunes (Jornal da Ciência -17.02.2005 - A função social das Instituições de Ensino Superior):

Quando a Constituição estabelece que a educação é livre à iniciativa privada, significa que o Estado concede a ela o direito de desenvolver a educação, mas não significa que ela é livre para explorar a educação como se fosse mercadoria. A reforma universitária não está intervindo na iniciativa privada como dizem alguns segmentos ligados à educação, muito pelo contrário, a iniciativa privada é que está fazendo o papel do Estado, pois esta está apenas resgatando a responsabilidade pela educação, principalmente para evitar que instituições possam praticar desvios de conduta, falta de ética, ao fazer da educação uma mercadoria.

Tal pensamento encontra amparo no texto publicado pelo jornal Folha de São Paulo em 30.07.2005, em que Tarso Genro assevera: “cabe ao Estado proteger a sociedade da ação perniciosa de instituição de educação superior que não formam bons egressos. Os serviços prestados por graduados de nível superior, quando de má qualidade, causam riscos à sociedade e prejuízos aos cidadãos”.

Corroborando com tal entendimento, manifesta-se José Monserrat Filho (Jornal da Ciência - 04.02.2005 - Começa o embate entre interesses públicos e privados na educação):

A intervenção estatal na iniciativa privada, como a experiência revela, aparece como nome respeitoso que se procura criar, no caso, para dar combate à ação perfeitamente legal, legítima e justa – prevista no Anteprojeto – de avaliar o ensino nas universidades privadas com o mesmo rigor utilizado com relação ao ensino nas universidades públicas. O avanço assustador do ensino privado no Brasil – cerca de 80% (oitenta por cento) dos nossos universitários estão hoje matriculados em instituições privadas – gerou uma situação inédita no mundo: o predomínio absoluto do ensino privado – com algumas áreas dignas de louvor, mas também com amplas outras áreas submetidas a lógicas mercantis as mais deploráveis.

Neste mesmo pensamento, José Luiz Quadros (FÓRUM – Curso de Direito Izabela Hendrix – 11.2005), esclarece que “a educação não comporta a relação de consumo”.

Percebe-se que um dos pontos principais da formulação apresentada pelo MEC trata da regulamentação do ensino privado, com regras mais rígidas para a abertura de cursos e controle social da qualidade da educação. Seguindo este pensamento, Gustavo Balduíno e Oswaldo Baptista Duarte Filho (Folha de São Paulo: 24.02.2005 – Uma discussão necessária) afirmam que:

Os governos apostaram na transformação do público em privado, com o que a educação se transformou em bem passível de ser negociado, em mercadoria que é alvo inclusive de disputa entre grandes grupos internacionais. Diante deste quadro, para retomar a educação como parte de uma política de Estado, cabe ao governo, em consonância com os princípios constitucionais que regem a Nação, instituir um marco regulatório que organize o funcionamento e a expansão de todo o sistema de educação superior, bem como garantir definitivamente a autonomia e financiamento do sistema público.

Luciano Rezende Moreira (Jornal da Ciência - 25.02.2005 - Pós-graduandos defendem exigência do MEC para as particulares), esclarece que “educação não é mercadoria! Embora o ensino particular tenha cumprido importante papel complementar à educação pública, hoje, a grande maioria quer funcionar como qualquer outra empresa sob a égide do capitalismo. A autonomia (ou soberania) que defendem é apenas a do deus-mercado”.

Gustavo Balduíno e Oswaldo Baptista Duarte Filho (Folha de São Paulo:

24.02.2005 – Uma discussão necessária), asseveram: “que a sociedade deve dizer claramente ao governo, às corporações e aos mantenedores privados que a responsabilidade com investimentos é inerente aos resultados e que o Brasil não pode se submeter aos interesses de poucos em detrimento de uma educação superior inclusiva e de qualidade”.

Para o governo federal, a grande maioria da sociedade acadêmica:

professores, estudantes, trabalhadores da educação de um modo geral, sabem da importância de se discutir a universidade e convida a todos a unirem-se em prol da construção de uma nova universidade brasileira.

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 108-112)