• Nenhum resultado encontrado

A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 116-120)

Material escrito no período de Agosto de 2004 a Dezembro de 2005

4.2 ARGUMENTOS A FAVOR DA PROPOSTA

4.2.3 A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO

ponto de vista do financiamento da sua própria identidade. Esses setores vocalizam uma visão de universidade pública estatal que não esta subordinada, na nossa visão, àquilo que se coloca como princípios fundamentais que caracterizam a República. Têm direito de fazê-lo, mas subordina uma reforma da universidade a uma visão que compreende a universidade como propriedade de uma elite e confundir isto com qualidade é um atraso medieval. Nós temos de fazer uma justa mediação entre autoridade e a função da universidade dentro de um projeto nacional democrático e pluralista de incorporação da universidade na vida pública.

Mas as contribuições que esses grupos estão dando são boas, pois chamam a atenção para uma questão: a expansão da universidade, a abertura cada vez maior das suas portas à população, não pode ser em detrimento da qualidade. Para nós, não há nenhum conflito em relação a isso. Queremos expansão com qualidade.

De acordo com dados do governo (Cartilha da Reforma da Educação Superior, Nov. 2004), hoje, apenas 9% (nove por cento) dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos estão cursando o ensino superior. Número este, abaixo da Argentina, que tem 32% (trinta e dois por cento) e do Canadá, com 62% (sessenta e dois por cento).

Ao constatar tal fato, o Estado brasileiro pretende promover políticas efetivas que garantam o acesso de jovens de baixa renda ao ensino superior. O Plano Nacional de Educação, prevê para 2010 uma taxa de escolarização de 30% (trinta por cento) da população, e para tanto, pretende expandir as instituições federais para regiões que careçam de escolas superiores, criando vagas nas universidades não estatais e privadas, e, além disto, ampliar os cursos noturnos nas universidades públicas já instaladas.

Tal pensamento encontra amparo no Ministro da Educação, Fernando Haddad (Jornal Folha de São Paulo – 23.03.2005), quando afirma que “é uma violência segregar negros e pardos na questão educacional”.

A mesma opinião é compartilhada pelo Frei Davi Santos, coordenador da Educafro, ONG que realiza pré-vestibulares para alunos negros e carentes. (Jornal Folha de São Paulo – 05.04.2005 – Caderno Cotidiano), “a ação afirmativa não é para beneficiar os parecidos, mas sim os excluídos”. Segundo Santos (2005),

“mesmo que sejam aprovados os alunos com notas baixas nos vestibulares, a qualidade do ensino não cairá: Se você der ao pobre, condições iguais, como professores e aulas, ele se sobressai à classe média”.

Seguindo este mesmo pensamento o reitor da UFBA, (Universidade Federal da Bahia), Naomar Monteiro de Almeida Filho (Folha de São Paulo – 12.03.2005 –

Caderno Cotidiano), ressalta que os mesmos alunos que se inscreveram por meio das cotas poderiam ter entrado na universidade com as notas que obtiveram no vestibular. Este assevera que “86% (oitenta e seis por cento), dos aprovados do último vestibular tinham nota suficiente. Apenas 14% (quatorze por cento) precisaram das cotas, mostrando que a reserva de vagas não reduz a qualidade. O fato de ter cotas, incentiva os alunos de escolas públicas a prestarem o vestibular principalmente em cursos mais concorridos. Antes eles não entravam por que nem ousavam prestar a prova. Ou então buscavam cursos menos concorridos”.

O juiz da 4ª Vara Federal de Curitiba, Fabiano Bley Franco (Jornal Folha de São Paulo – 15.02.2005 – Caderno Cotidiano), sai em defesa da inclusão dos negros e mais pobres à universidade gratuita pela via das cotas, e ressalta que “o sistema educacional do Brasil é perverso por retirar dos carentes a possibilidade de cursar o nível superior gratuitamente, quando confere a freqüência, em instituições públicas, a quem tem condições financeiras de pagar por curso privado”.

Este pensamento encontra amparo em um texto publicado pelo jornalista Fábio Takahashi (Jornal Folha de São Paulo – 05.04.2005 – Caderno Cotidiano) que apresenta as conclusões com base em questionários sócio-econômicos, respondidos pelos vestibulandos aprovados na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). Dos ingressantes cotistas, 62,1% (sessenta e dois vírgula um por cento) afirmam ter computador e 48,3% (quarenta e oito vírgula três por cento) disseram ter acesso à internet em casa. A porcentagem dos matriculados não-cotistas são 93,3%

(noventa e três vírgula três por cento) e 88,6% (oitenta e oito vírgula seis por cento), respectivamente.

Além deste dado, outro chama a atenção, a renda familiar média mensal dos cotistas foi de R$1.800,00, ante R$4.000,00 dos não-cotistas.

Segundo dados da UNIFESP (Jornal Folha de São Paulo – 05.04.2005 – Caderno Cotidiano), os vestibulandos aprovados pelo sistema de cotas tiveram desempenho semelhante aos do sistema universal. A diferença entre a nota do último matriculado não-cotista, segundo o coordenador de ações afirmativas, Marcos Ferraz e o cotista, foi de 10% (dez por cento) em medicina, o curso mais concorrido.

Outro exemplo apresentado por Ferraz mostra semelhança no desempenho entre os dois grupos, é que tanto em medicina como em enfermagem, o melhor cotista teria nota suficiente para ser aprovado no sistema universal.

Para o juiz Fabiano Bley Franco, citado anteriormente, a reserva de vagas

“abre oportunidade aos excluídos de galgar degraus na pirâmide social e escapar da miséria e da marginalidade”.

Importante salientar que o governo federal, em seus discursos, deixa claro a sua defesa em favor dos melhores alunos, pois em sua concepção, estes devem entrar na universidade pública. O governo esclarece que não pode ocorrer que os melhores alunos das escolas públicas não tenham sequer o direito de concorrer a uma vaga em direito, medicina ou odontologia, por estes cursos serem considerados de elite.

Quanto ao mérito, Tarso Genro (site do MEC – 26.02.2005 – A favor da elite plural) considera preconceituosa a posição das pessoas que dizem que as cotas atacam a meritocracia. Este assevera que:

Dizem que o Programa Universidade para Todos (ProUni) iria deformar a estrutura meritória das instituições privadas, porque dentro do ProUni há a política de cotas e 36% (trinta e seis por cento) das bolsas foram concedidas à afro-descendentes, ante 25% (vinte e cinco por cento) de afro-descendentes na totalidade das universidades. Agora, pasme: a média dos alunos que entram pelo Exame Nacional de Ensino Médio para o ProUni é uma média superior àquela obtida pelos alunos tanto das escolas públicas como das privadas no mesmo exame. Por quê? Porque aqueles que se inscreveram para fazer o Enem são alunos mais preocupados com a sua carreira e com a qualidade de seu aprendizado, já que o exame não é obrigatório. Como conseqüência, aqueles que apresentaram pontuação maior e foram aproveitados no ProUni estão entre os melhores alunos.

Então, essa idéia de que haveria uma baixa qualidade com a política de cotas é completamente descabida do ponto de vista estatístico.

Finalizando tal pensamento, Tarso Genro (site do MEC – 26.02.2005 – A favor da Elite) ainda esclarece que a “política de cotas tem que estar vinculada a uma formação social determinada e, no Brasil, negritude e pobreza são um par constante, originário da nossa sociedade escravocrata. Então, o que nos perguntamos é o seguinte: devemos constituir alguns mecanismos, ainda que moderados, para promover a coesão social ou não?”.

Na concepção do governo federal, sim. Este ressalta que falar em rebaixamento de qualidade é ofensivo à população brasileira, além de demonstrar uma profunda ignorância. Esclarece ainda que todos os argumentos no sentido contrário são bem vindos, desde que bem fundamentados.

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 116-120)