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A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 120-126)

Material escrito no período de Agosto de 2004 a Dezembro de 2005

4.3 ARGUMENTOS CONTRA A PROPOSTA

4.3.1 A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

Na concepção do governo federal, sim. Este ressalta que falar em rebaixamento de qualidade é ofensivo à população brasileira, além de demonstrar uma profunda ignorância. Esclarece ainda que todos os argumentos no sentido contrário são bem vindos, desde que bem fundamentados.

do Estado e as particulares no exercício da livre iniciativa, princípio este, assegurado pela Constituição Federal, conforme salientado anteriormente.

De acordo com dados do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação – Considerações e recomendações sobre a versão preliminar do Anteprojeto de Lei e Reforma da Educação Superior - (Mar. 2005), o sistema privado de educação brasileira é responsável por 71% (setenta e um por cento) das matrículas no ensino superior, com mais de 2,7 milhões de alunos, mais de 170 mil professores e cerca de 140 mil funcionários administrativos. Oferece 86% (oitenta e seis por cento) das vagas no ensino superior brasileiro, em mais de 10 mil cursos nas diferentes áreas de conhecimentos, absorvendo 79% (setenta e nove por cento) dos ingressantes a cada ano e ministrando cerca de 22 milhões de aulas anualmente. Com mais de 23 milhões de metros quadrados ocupados por suas 1.652 instituições (que representam 89% das IES brasileiras) e cerca de 15 milhões de metros quadrados de áreas construídas, o Sistema dispõe de bibliotecas dotadas de infra-estrutura e acervos de qualidade com mais de 22 milhões de exemplares: possui cerca de 10 mil laboratórios modernos e bem equipados, além de parques gráficos, estruturas tecnológicas e informatizadas de inestimável valor, áreas desportivas, de convivência e lazer.

O significado econômico do Sistema Privado da educação brasileira está expresso por uma participação de R$ 9,5 bilhões no PIB, representando 0,8% (zero vírgula oito por cento) do total da economia. O setor gera adicionalmente uma renda indireta de mais de R$ 720 milhões anuais por meio de inúmeras atividades que, direta ou indiretamente, estão ligadas ao setor educacional, como moradia, transporte, alimentação, equipamentos, material escolar e livros.

Do ponto de vista social, o setor privado de educação superior abriu oportunidades de estudo para jovens para os quais o Poder Público não encontrava meios de prover vagas.

Consoante tal pensamento, Cláudio de Moura Castro (Revista Ensino Superior – Dez. 2004 –Graduação para a maioria) ressalta, “se fosse o caso de o ensino público absorver o privado, o MEC teria de duplicar o orçamento nos custos das escolas privadas, ou mesmo triplicar, considerando os custos das públicas”.

Seguindo este pensamento o senador Jorge Bornhausen (Revista Ensino Superior – Nov. 2004 – Novos caminhos para o ensino) assevera:

Entre os desafios a serem enfrentados inclui-se o Plano Nacional de Educação, cuja meta para ensino superior prevê a inclusão, até 2010, de 30% (trinta por cento) dos jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior. O Poder Público dificilmente poderá arcar com parcelas significativas desta extensão, por razões bastante conhecidas. O alcance da meta dependerá, portanto, da presença maciça e do esforço da iniciativa privada. Pelo crescimento da oferta no ensino superior ocorrida nos últimos oito anos, tinha-se a perspectiva que a meta seria atingida, ainda que, com enorme esforço. No entanto, esse crescimento poderá ser inviabilizado em decorrência da reforma pretendida, na medida em que novos procedimentos e controles vierem a ser adotados.

O pensamento da sociedade civil, em especial, do ensino privado é de que ocorra uma mudança democrática para o ensino no país e contemple as reivindicações de amplos setores da sociedade, incluindo o privado. A proposta do setor é que a reforma seja a mais abrangente possível, de maneira a incluir novas políticas para os ensinos fundamental e médio.

Corroborando com tal pensamento, Gabriel Mário Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – Começar pelo básico) esclarece, “que a reforma é necessária, desde que concebida de forma ampla, envolvendo todos os graus e modalidades de ensino”.

De acordo com Paulo Antônio Gomes Cardim (Revista Ensino Superior – Fev.

2005 – Em defesa da livre iniciativa) apresenta:

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – a Lei 9.394, de 1996 – é flexível e presta-se às adaptações que as mudanças políticas e da sociedade possam exigir. O que falta é ação governamental para a melhoria da qualidade do ensino público, em todos os níveis, é uma supervisão isenta e democrática das instituições privadas de ensino superior.

Ao setor privado, cabe em primeiro lugar assegurar a oferta capaz de atender à demanda não satisfeita pelo setor público, e neste sentido, atuar como parceira do governo. Cabe ainda, atuar com presteza necessária para prover oportunidades de formação que, por qualquer razão não sejam oferecidas pelo governo. De acordo

com as Propostas do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação - Considerações e recomendações sobre a versão preliminar do Anteprojeto de Lei e Reforma da Educação Superior - (Mar. 2005) - “apenas no Estado de São Paulo, as instituições de ensino particulares prestam anualmente mais de seis milhões de atendimentos de natureza assistencial”.

Milton Linhares, integrante do Conselho Nacional de Educação (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Ensino exige novo desenho) ressalta que:

Em todos os níveis de ensino, a iniciativa privada, no Brasil, tem participação relevante. No ensino fundamental e médio, a escola pública, há muitos anos, não consegue convencer a sociedade sobre seu desempenho qualitativo, salvo raríssimas exceções. Talvez a minha geração tenha sido a última a ter freqüentado a boa escola pública de educação básica que o país um dia teve. Há décadas os colégios particulares remuneram melhor os professores e têm instalações mais modernas e atualizadas. No ensino superior existe a questão da insuficiente oferta de vagas públicas, o que fez crescer a participação das entidades particulares, principalmente nos cursos oferecidos no período noturno. Esse crescimento, por representar hoje mais de 70% (setenta por cento) das matrículas do sistema nacional, acabou dando ao segmento privado, uma importância vital para o atendimento da demanda. Existe, também, o fator da empregabilidade. As pesquisas indicam que mais de 75% (setenta e cinco por cento) dos cargos de gerência e de diretoria em empresas paulistas são ocupados por pessoas formadas pela iniciativa particular. É um real indicador da importância do setor para o país.

Consoante tais pensamentos, há um dado que não pode ser ignorado: a expansão se faz para atender à forte demanda, como atestam os números de crescimento no setor. Em virtude das mudanças ocorridas nas últimas décadas, o ensino médio libera um número cada vez maior de jovens que correm atrás da formação superior.

Se houve um crescimento desenfreado da oferta do setor privado, foi porque havia, e ainda há uma demanda não atendida. Segundo o pensamento das entidades de ensino superior privadas, o que existe não é um crescimento desenfreado da oferta e sim uma demanda latente reprimida e cabe ao governo incentivar a satisfação dessa demanda, e não restringir seu suprimento pela livre iniciativa.

Hermes Figueiredo assevera (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – Uma reforma democrática) que “não se pode criar obstáculos à livre iniciativa e à livre circulação do conhecimento, sem que se incorra em grave erro”.

É sabido que o ensino superior desempenha um papel central na qualificação dos cidadãos e das sociedades, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico e cultural na vida ativa e no fortalecimento dos valores éticos.

A demanda pelo aumento da relevância do ensino superior deve seguir juntamente com a preocupação pelo aumento da qualidade.

Qualidade no ensino superior é um conceito multidimensional, que depende, em grande parte, do contexto de um determinado sistema e da missão da instituição.

Segundo texto publicado pela Abmes (A Reforma da Educação Superior – princípios e diretrizes – Ago. 2004):

A oferta dos serviços é maior do que nunca e sua qualidade, antes atestada pelas avaliações oficiais, passa a ser uma exigência da sociedade. O aprendizado permanente, a utilização cada vez mais intensa da tecnologia, os cursos de curta duração e a volta aos bancos escolares de outras gerações constituem alguns elementos que impõe mudanças radicais na estrutura e nas ações institucionais, para permanência no cenário daqueles que consigam um perfeito equilíbrio entre a lógica do gasto eficiente e a qualidade.

O pensamento das instituições de ensino superior privadas é de que a melhoria da qualidade da educação tem previsão constitucional e é meta a ser perseguida em todos os níveis, graus e modalidades de ensino, respaldada na preservação de diversidade como as diferenças regionais, as especificidades de cada sistema, público e privado, e tipologia das instituições, as peculiaridades dos projetos pedagógicos, os objetivos dos programas acadêmicos associados às demandas sociais, científicas e tecnológicas.

A melhoria da qualidade do ensino deve ser movida, ainda, pela necessidade de avançar em direção ao futuro, acompanhando a evolução do conhecimento científico e tecnológico e ajustando a formação de recursos humanos à satisfação das demandas sociais e dos diversos setores da economia.

Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (Revista Ensino Superior – Dez. 2004 – Graduação para maioria) ressalta que:

É certo que os mecanismos de tipo meritocrático terminam por discriminar pessoas com menos recursos e menos oportunidades de acesso a bens materiais e culturais. Mas é certo também que as universidades bem sucedidas no mundo de hoje são aquelas que, bem ou mal, preservam os valores da ciência, são geridas com forte presença de lideranças acadêmicas e culturais, controlam o ingresso de estudantes em seus cursos e são regidas, fundamentalmente, por critérios de qualidade.

De acordo com o mesmo autor, não podemos voltar às costas para um fenômeno mundial que leva cada vez mais jovens e adultos a buscar educação em instituições de ensino superior.

Hermes Figueiredo (Revista Ensino Superior – Set. 2005 – Custos e qualidade do ensino) corrobora com tal pensamento, salientando que:

As instituições privadas têm feito uso sistemático da combinação entre titulação, regime de trabalho e experiência profissional de seus professores, sempre com resultados satisfatórios, quando esses fatores são associados a um alunado capaz de responder a estímulos. Mais importante ainda: tem sido mais fácil combinar titulação, regime de trabalho e experiência profissional do corpo docente do que associar essa composição com turmas uniformes preparadas para corresponder a um equivalente esforço de aprendizagem. Esse é um fator limitante raras vezes considerado pelos críticos do setor privado de ensino superior, pois é muito difícil fazer a crítica do que é atualmente o padrão médio de qualidade dos egressos do ensino fundamental e médio, do ponto de vista educacional, bem como do desemprego e da péssima distribuição de renda que temos no país, do ponto de vista da economia das famílias para arcar com a educação de qualidade oferecida pela rede privada naqueles dois níveis de ensino.

O que a educação superior necessita, tanto a pública quanto a mantida pela livre iniciativa, é de liberdade de agir, criar, inovar, atender às mudanças rápidas e, às vezes, radicais, em segmentos sociais e econômicos, especialmente no mercado de trabalho.

Para que a instituição de nível superior possa responder com a qualidade necessária aos desafios da inclusão social dos jovens e adultos, cabe ao MEC supervisionar, para assegurar padrões de qualidade compatíveis com as necessidades de formação profissional e do desenvolvimento nacional.

Paulo Antônio Gomes Cardim (Revista Ensino Superior – Fev. 2005 – Em defesa da livre iniciativa), demonstra que se o governo quer contribuir com a melhoria da qualidade do ensino, na graduação e na pós-graduação, deve encontrar mecanismos legais e orçamentários para viabilizar o fomento da pesquisa e dos programas de mestrado e doutorado, com ênfase para as áreas do conhecimento humano mais importantes para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade.

Este ressalta que, talvez, seja o maior desafio para o ensino superior brasileiro neste início do terceiro milênio.

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 120-126)