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POLÍTICA EDUCACIONAL DE FHC

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 48-53)

CAPÍTULO II ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO

2.2 POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL DOS ANOS 80 E 90: DEBATES E TENDÊNCIAS

2.2.1 POLÍTICA EDUCACIONAL DE FHC

2.2 POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL DOS ANOS 80 E 90: DEBATES E

Nos anos 90, ocorre a aprovação da nova LDB, sob a Lei 9.394/96. Assim como as de 1931 e 1961, a configuração desta LDB (ainda vigente) também foi lenta e controversa, com muitas articulações, comissões, debates e medidas provisórias.

De acordo com a SEMESP (2004, p. 96),

Em outubro de 2004, por exemplo, o governo baixava a MP 661, que extinguia o Conselho Federal de Educação (CFE), órgão instituído pela LDB de 1961. [...] Além da motivação jurídica, a extinção do CFE foi a realização de um anseio do próprio MEC, que pretendia centralizar as decisões educacionais, além disso, na época, o CFE estava às voltas com denúncias de corrupção.

Em novembro de 1995, com a Lei 9.131, o CFE volta à cena, intitulado CNE (Conselho Nacional de Educação).

Em 17 de dezembro de 1996 foi votada na Câmara Federal a nova LDB, com 349 votos a favor, 37 votos contra 4 abstenções. A nova LDB estabeleceu que, nas universidades, um terço dos professores deve ter título de mestre ou doutor, e determinou ainda, que um terço do quadro de docentes das universidades fosse contratado em regime de tempo contínuo por 40 horas semanais. Outra mudança foi regulamentar o ano letivo em 200 dias efetivos de trabalho.

As instituições de ensino superior ainda teriam que informar aos interessados, antes de cada período do curso, os programas e demais componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e critério de avaliação. Alunos de aproveitamento excepcional poderiam abreviar os anos de estudo, passou a ser obrigatória a freqüência de alunos e professores, exceto em programas de educação a distância, além de que, as IES deveriam oferecer no período noturno os mesmos cursos oferecidos no período diurno, e com igual qualidade.

A partir da LDB de 1996, as IES no Brasil puderam ser: autônomas empresariais, religiosas, técnicas. As IES privadas, que são mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, agora podem ser classificadas em particulares, confessionais, comunitárias e filantrópicas.

A proposta do governo FHC foi elaborada por uma equipe coordenada pelo economista Paulo Renato Souza. Vale destacar as mudanças nos mecanismos de acesso ao ensino superior, que, ao eliminar a obrigatoriedade dos exames vestibulares pretendia sanar dois problemas: o primeiro seria estabelecer um padrão de qualidade do ensino médio em rápido crescimento, influenciando assim, conseqüentemente, o ensino superior. O segundo problema seria reduzir os custos de seleção dos candidatos aos cursos superiores, especialmente das instituições de ensino superior privadas.

Silva Júnior (2005) escrevera que a discussão sobre a esfera educacional no governo de Lula revestia-se de enorme complexidade e de imprevisibilidade em face do pouco tempo de Lula na Presidência da República do Brasil, tendo herdado um complexo jurídico-institucional bastante consolidado, produzido ao longo do governo FHC, no qual se destacavam as reformas do Estado e da educação cujo processo de implementação tinha início.

Uma das limitações da LDB é a inexistência de definição dos modelos de instituições de ensino superior, não estabelecendo suas áreas de abrangência, missões específicas ou competências. Embora faça referência, no Título V, Capítulo IV, “Da Educação Superior” à existência de universidades, inclusive as

“especializadas por campo do saber” e às instituições não-universitárias, esta Lei limita-se a separar as universidades das demais IES.

O Decreto nº. 2.207/97, cuja função é regulamentar dispositivos relativos à educação superior, e em particular ao caráter das instituições que integram o Sistema Federal de Ensino, as nomeia e elenca como: universidades; centros universitários; faculdades integradas; faculdades; e institutos superiores ou escolas superiores. Mesmo sendo bem mais claro no que concerne às universidades, e apresentando alguns elementos definidores dos centros universitários, deixa as demais categorias de IES sem definição.

Mesmo que no texto do Decreto não se estabeleça um making entre os cinco modelos do IES, o fato de prever o rebaixamento das universidades a centros universitários demonstra que existe, de fato, uma relação hierárquica entre eles.

Tal perspectiva não se encontra, no escopo da LDB, mas pode ser adotada em razão da excessiva flexibilidade de seu texto, neste particular.

Neste caso específico, o Decreto exprime uma visão tradicional de Universidade como sinônimo de Centro de Excelência, alicerçada numa diretriz de pesquisa puramente científica, o que contrasta não só com a diversidade das IES, bem como com o discurso oficial.

O acesso às universidades acaba por evidenciar que o processo de seleção tradicional, o vestibular, é marcadamente limitado por condicionantes de origem social e econômica do candidato. Assim, nas instituições de ensino superior públicas, os aprovados no vestibular para os cursos cuja relação candidato-vaga é mais alta, dificilmente são oriundos do ensino médio oficial, restando-lhes cursar este nível de ensino em estabelecimentos particulares.

Assim, o processo seletivo nas universidades públicas deve estabelecer mecanismos que garantam a diversificação de seu corpo discente; definindo estratégias de melhoria do ensino médio oficial e garantir oportunidades para alunos oriundos das escolas públicas. De acordo com a LDB, é fundamental que os alunos e a sociedade em geral possam conhecer as características e os indicadores de qualidade dos serviços oferecidos pelas instituições de ensino superior.

As instituições devem oferecer ao candidato uma série de informações de caráter interno da Instituição, como programas, duração e procedimentos de avaliação dos cursos, critérios de seleção, qualificação dos professores e recursos disponíveis.

Com a edição do Decreto nº. 2.207/97 as IES ficam obrigadas a tornar público outros indicadores de qualidade de seus cursos de graduação, como laboratórios, computadores e os acessos às redes de informação e acervo das bibliotecas; o elenco de cursos reconhecidos e em processo de reconhecimento; o resultado das avaliações realizadas pelo Ministério da Educação e do Desporto; bem como o valor dos encargos financeiros e as normas de reajuste aplicáveis ao período a que se refere o processo seletivo.

Portanto, no momento em que um candidato se inscrever para a seleção, conhecerá e poderá avaliar a conveniência de disputá-la em determinada instituição, a partir de indicadores previamente conhecidos. Onde o Edital de Seleção passa a constituir-se em verdadeiro contrato entre IES e o candidato e o mesmo é amparado pela legislação que trata dos direitos e garantias dos consumidores.

Importante ressaltar que uma das questões que ainda cercam o funcionamento das entidades privadas de ensino diz respeito aos lucros que elas conseguem auferir com suas atividades. Até agora, aos empresários do ensino superior parecia mais interessante assumir finalidade não lucrativa para gozar de benefícios fiscais e acesso aos recursos públicos. Desta forma, a filantropia, a ação confessional ou comunitária encobriam a atividade comercial praticada.

O Decreto nº. 2.207/97, avança mais quando prevê a possibilidade de que as instituições assumam sua finalidade lucrativa. Do artigo 1º ao 3º estabelece a diferença entre instituições públicas federais e privadas; e distingue características das entidades que visam ao lucro daquela cuja finalidade seja não-lucrativa. Mas a simples enunciação de tal possibilidade não serviria de argumento para estimular os empresários do ensino superior a assumir a característica comercial de seus empreendimentos. Aquelas que optaram pela finalidade lucrativa, estarão sujeitas à legislação mercantil, especialmente na parte relativa aos encargos fiscais, parafiscais e trabalhistas.

De acordo com Cunha (2003, p. 56-57)

No que diz respeito à proposta de governo de 1994, relativa ao primeiro mandato do presidente FHC, ficou patente que a conexão entre o desenvolvimento científico e tecnológico (no qual a universidade teria papel estratégico), de um lado, e o desenvolvimento econômico, de outro, não foi estabelecida. Este, ao contrário, dependeu da importação de capital financeiro e tecnologia embutida em equipamentos e em processos licenciados.

Necessário salientar que a efetiva autonomia, que seria a base da reforma administrativa, não foi realizada, embora tivesse sido tentada. Em 1996 um projeto de emenda constitucional oriundo do MEC pretendeu especificar os termos da autonomia das universidades federais. Estas deixariam de ter uma carreira unificada, passariam a contratar e a dispensar pessoal, bem como estabelecer os níveis de remuneração de seus funcionários técnico-administrativos e dos docentes.

Segundo Cunha (2003, p. 57)

Antes da apreciação do projeto de emenda constitucional pelo Congresso, a LDB adiantou-se ao determinar mudanças em tudo convergentes com aquela. Contrariando a legislação vigente, a LDB abriu a possibilidade de planos de cargos e salários diferenciados, além de competência para as universidades admitirem e demitirem seu pessoal docente e técnico administrativo. Um projeto de lei, também elaborado no âmbito do MEC, de mais tramitação no Congresso que uma emenda constitucional, foi submetido à discussão no campo universitário. [...] Tanto o projeto de emenda constitucional quanto o projeto de lei baseado na LDB foram prontamente rejeitados pelos docentes e pelos funcionários técnicos administrativos. Sem condições políticas para tramitar no Congresso, ambos foram retirados de modo que a “revolução administrativa” nas universidades federais foi abandonada pelo governo. A privatização do ensino superior, isto sim, foi acelerado no período em análise. [...] O número de instituições privadas aumentou consideravelmente, em especial na categoria universidades e nas dos centros universitários, o que resultou na ampliação do alunado abrangido pelo setor.

Como deixar de pensar que o sucateamento do setor público do ensino superior correspondia a um intento deliberado se, de um lado, as instituições de ensino superior federais padeciam de recursos para continuarem a operar, de outro, as IES privadas recebiam os benefícios visíveis?

Este foi o pensamento dominante do octanato FHC.

Conforme Cunha (2003, p. 58)

O protagonismo de agentes do setor público e do setor privado, eficaz a ponto de se refletir na legislação federal, produziu pelo menos duas mudanças profundas no campo de ensino superior brasileiro: a diferenciação das instituições privadas com fins lucrativos, que ficaram excluídas dos benefícios dos recursos públicos, e a diferenciação das instituições dotadas de autonomia universitária, tanto pública quanto privada, a maioria delas tendencialmente “rebaixadas” à nova categoria dos centros universitários, onde o princípio constitucional da indissociação entre ensino, pesquisa e extensão deixa de prevalecer.

No documento Mara Isa Battisti Raulino.pdf - Univali (páginas 48-53)