• Nenhum resultado encontrado

Distanásia: percepção dos profissionais da enfermagem.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Distanásia: percepção dos profissionais da enfermagem."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

DI STANÁSI A: PERCEPÇÃO DOS PROFI SSI ONAI S DA ENFERMAGEM

Milene Bar cellos de Menezes1

Lucilda Selli2†

Joseane de Souza Alv es1

Dist anásia significa m or t e lent a, sofr ida e sem qualidade de v ida. Nest a pesquisa buscou- se conhecer se os

en f er m eir os id en t if icam a d ist an ásia com o p ar t e d o p r ocesso f in al d a v id a d e p essoas em t er m in alid ad e,

int er nadas em UTI adult o. O est udo é de nat ur eza ex plor at ór ia, com abor dagem qualit at iv a. Os dados for am

colet ados por m eio de ent revist a sem iest rut urada com 10 enferm eiros com , no m ínim o, um ano de experiência

em UTI , e int er pr et ados pela análise de cont eúdo. Tev e- se com o r esult ado que os enfer m eir os com pr eendem

e id en t if icam a d ist an ásia e se op õem à m esm a, t r azen d o elem en t os d a or t ot an ásia com o p r oced im en t o

adequado par a pacient es em t er m inalidade. Conclui- se que os enfer m eir os int er pr et am a dist anásia com o o

pr olon gam en t o de v ida com dor e sof r im en t o, on de os pacien t es t er m in ais são su bm et idos a t r at am en t os

fút eis que não t r azem benefícios. E t am bém ident ificam a dist anásia, usando elem ent os da or t ot anásia par a

ex plicit á- la.

DESCRI TORES: doent e t er m inal; eut anásia; enfer m agem ; bioét ica

DYSTHANASI A: NURSI NG PROFESSI ONALS’ PERCEPTI ON

Dy st hanasia m eans slow and painful deat h w it hout qualit y of life. This st udy aim ed t o k now w het her nur ses

ident ify dyst hanasia as par t of t he final pr ocess of t he lives of t er m inal pat ient s hospit alized at an adult I CU.

This is an explorat ory- qualit at ive st udy. Dat a were collect ed t hrough sem i- st ruct ured int erviews wit h t en nurses

wit h at least one year of experience in an I CU, and int erpret ed t hrough cont ent analysis. Result s indicat e t hat

nurses underst and and ident ify dyst hanasia, do not agree w it h it and recognize elem ent s of ort honasia as t he

adequat e procedure for t erm inal pat ient s. We conclude t hat nurses int erpret dyst hanasia as ext ending life wit h

pain and suffer ing, w hile t er m inal pat ient s ar e subm it t ed t o fut ile t r eat m ent s t hat do not benefit t hem . They

also ident ify dy st hanasia using elem ent s of or t honasia t o ex plain it .

DESCRI PTORS: t er m inally ill; eut hanasia; nur sing; bioet hics

DI STANASI A: PERCEPCI ÓN DE LOS PROFESI ONALES DE ENFERMERÍ A

Dist anasia significa m uert e lent a, con sufrim ient o y sin calidad de vida. En est a invest igación se buscó conocer

si los en f er m er os iden t if ican la dist an asia com o par t e del pr oceso f in al de la v ida de per son as en est ado

t erm inal, int ernadas en una UTI para adult os. El est udio es de nat uraleza explorat oria, con abordaj e cualit at ivo.

Los dat os fueron recolect ados por m edio de ent revist a sem iest ruct urada con 10 enferm eros con un m ínim o de

un año de ex per iencia en UTI ; los dat os fuer on int er pr et ados por el análisis de cont enido. Se obt uv o com o

r esu lt ado qu e los en fer m er os com pr en den e iden t ifican la dist an asia y se opon en a la m ism a, pr esen t an do

elem ent os de or t ot anasia com o pr ocedim ient o adecuado par a pacient es en est ado t er m inal. Se concluy e que

los enferm eros int erpret an la dist anasia com o el prolongam ient o de la vida con dolor y sufrim ient o, en el cual

los pacient es t er m inales son som et idos a t r at am ient os fút iles que no t r aen beneficios. Tam bién ident ifican la

dist anasia, usando elem ent os de la or t ot anasia par a hacer la ex plicit a.

DESCRI PTORES: enfer m o t er m inal; eut anasia; enfer m er ía; bioét ica

(2)

I NTRODUÇÃO

A

distanásia é term o pouco conhecido, m as m uitas vezes praticada no cam po da saúde. É assunto d o cam p o d a Bioét ica e é t r ad u zid o, seg u n d o o Di ci o n ár i o d e Bi o ét i ca( 1 ), co m o “ m o r t e d i f íci l o u

p en osa, u sad a p ar a in d icar o p r olon g am en t o d o processo da m orte, através de tratam ento que apenas pr olon ga a v ida biológica do pacien t e. Ela é sem qualidade de v ida e sem dignidade. Tam bém pode ser cham ada Obst inação Terapêut ica”( 2).

Trat a- se de condut a que visa m ant er a vida do paciente term inal, suj eito a m uito sofrim ento. Essa condut a não se est ende à vida, m as ao processo de m or r er. O avan ço da ciên cia e su a aplicação, por vezes, com prom etem a qualidade de vida das pessoas em sofrim ento, afetando a sua dignidade. Os cuidados paliat iv os e o r espeit o ao dir eit o do pacien t e são m eios eficazes para prevenir a prát ica da dist anásia. O t em a d ist an ásia f oi escolh id o p ar a ser aprofundado, por se const it uir realidade no cot idiano dos profissionais de enferm agem e do qual pouco se f ala, m esm o car act er izan d o- se com o sit u ação d e sofrim ent o para o pacient e, onde a vida é m ant ida sem per spect iv as.

O est udo opor t uniza pensar e est im ular a d i scu ssão n ão só n a ár ea d a En f er m ag em , m as t am b ém com g r u p os in t er d iscip lin ar es, j á q u e o problem a afet a pacient es at endidos por profissionais d e d if er en t es ár eas d o con h ecim en t o. Bu scou - se t r abalhar com pr ofissionais de enfer m agem por que eles convivem com a dist anásia nas UTI s e, at ravés d e sse s, é p o ssív e l i d e n t i f i ca r n o v a s f o r m a s d e at endim ent o ao pacient e em t er m inalidade e obt er m aiores conhecim ent os sobre o t em a.

Tem - se, p o r t an t o, co m o o b j et i v o p ar a o p r e se n t e e st u d o co n h e ce r se o s e n f e r m e i r o s com preendem e ident ificam sit uações de dist anásia em unidade de t erapia int ensiva.

Acredita- se que este estudo poderá contribuir para otim izar a discussão entre os pares e o repensar do dilem a ent re dist anásia e ort ot anásia, prolongar a v ida a qualquer cust o, t r azendo sofr im ent o ou a m orte com o parte da vida, no m om ento certo. Ainda, so b e ssa p e r sp e ct i v a , o s e n f e r m e i r o s e o u t r o s pr ofissionais da saúde, ao poder em ident ificar nos se u s p a ci e n t e s si t u a çõ e s d e d i st a n á si a o u d e o r t o t a n á si a , su st e n t a r i a m m e l h o r a t o m a d a d e decisão, t ant o a r espeit o do t r at am ent o e do que

conheceriam m ais acerca do assunt o com o na busca de m elhor m anej o com os fam iliares.

MÉTODOS

Est e é um est udo de nat ur eza ex plor at ór ia com abordagem qualit at iva( 3).

O pesquisador que t rabalha com est rat égias qualit at ivas at ua com a m at éria- prim a das vivências, das experiências, da cot idianidade e t am bém analisa as estruturas e as instituições, m as as entendem com o ações hum anas obj et iv adas. A pesquisa qualit at iv a tem questões particulares. Ela preenche um nível que não pode ou não poderia ser quantificado( 3). Trabalha

com o univ er so dos significados, dos m ot iv os, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes( 3).

A p e sq u i sa e x p l o r a t ó r i a é m a i s d o q u e sim plesm ente observar e descrever o fenôm eno, m as invest iga a sua nat ureza com plexa e out ros fat ores com os quais o fenôm eno est á relacionado( 4).

A pesquisa foi realizada na unidade de terapia int ensiva adult o de um hospit al de Port o Alegre, Rio Grande do Sul.

A am ost ra foi com post a por dez enferm eiros q u e t r ab alh am n a UTI ad u lt o e q u e v iv en ciam a distanásia no seu dia a dia, sendo de am bos os sexos, dos t u r n os m an h ã, t ar de e n oit e, t ot alizan do dez ent revist ados. Foram considerados para a seleção da am ost ra os enferm eiros com , no m ínim o, um ano de experiência em UTI .

Escolheu- se trabalhar com esses profissionais p or con v iv er em com a d ist an ásia n as UTI s e p or co n si d e r a r p o ssív e l i d e n t i f i ca r n o v a s f o r m a s d e atendim ento ao paciente em term inalidade e, tam bém , obt er m aiores conhecim ent os sobre o t em a.

Os d a d o s f o r a m co l e t a d o s p o r m e i o d e ent r ev ist a sem iest r ut ur ada, t endo com o t ópicos: a t er m in alid ad e, t r at am en t o f ú t il, com p r een são d a dist anásia, aj uda ao pacient e t erm inal.

A e n t r e v i st a se m i e st r u t u r a d a a sso ci a per gunt as aber t as e fechadas, onde o pesquisador pode falar sobr e o t em a em paut a sem se ligar à quest ão form ulada( 3).

(3)

3 0 m i n u t o s, n o p e r ío d o d e m a r ço d e 2 0 0 8 . A r ealização da pesquisa deu- se pela m anhã, t ar de e noit e.

Os d a d o s f o r a m a n a l i sa d o s p o r m ei o d e an álise de con t eú do. A an álise t em por fin alidade co m p r e e n d e r o s d a d o s co l e t a d o s, a m p l i a r o co n h e ci m e n t o a r e sp e i t o d o a ssu n t o e st u d a d o , confirm ar ou não os pressupostos da pesquisa e obter respost as aos quest ionam ent os iniciais( 3). Os núcleos

for am sublinhados e r et ir ados dos dados e, após a com par ação, for am agr u pados por sim ilar idades e diferenças, form ando as cat egorias( 3).

Co m a d e n si f i ca çã o d a s ca t e g o r i a s e a sa t u r a çã o d o s d a d o s, h o u v e a co m p o si çã o d a s ca t e g o r i a s e , p o r f i m , b u sco u - se , a t r a v é s d o referencial t eórico, com preender os dados colet ados, r e a l i za n d o a r t i cu l a çõ e s e n t r e o s d a d o s e o s referenciais t eóricos da pesquisa( 3).

Est e t rabalho foi encam inhado ao Com it ê de Ét ica em Pesq u isa d o Hosp it al, p ar a av aliação e aprovação, conform e Prot ocolo n. 019/ 08, aprovado e m 2 7 d e f e v e r e i r o d e 2 0 0 8 , d e a co r d o co m a Resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de Saúde.

As q u est õ es ét i ca s p a r a a r ea l i za çã o d a pesquisa foram garantidas por m eio do consentim ento livre e esclarecido, fornecido aos suj eitos pesquisados, onde foi esclar ecido o t em a do est udo, obj et iv os e j u st i f i cat i v as. O t er m o d e con sen t i m en t o l i v r e e esclarecido foi assinado em duas vias, ficando um a com o suj eito pesquisado e a outra com o pesquisador.

RESULTADOS E DI SCUSSÃO DOS DADOS

Com a d en si f i cação d os d ad os, su r g i r am quat ro cat egorias de análise. Essas são ident ificadas p elas seg u in t es d en om in ações: a) id en t if icação e co m p r e e n sã o d e d i st a n á si a ; b ) d a d i st a n á si a à o r t o t an ási a; c) t r at am en t o f ú t i l : a f am íl i a co m o pot encializadora e d) part icipação dos enferm eiros.

Pr im eir a cat egor ia: ident ificação e com pr eensão de dist anásia

Est a ca t eg o r i a d ed i ca - se a a p r esen t a r e a n a l i sa r o s d a d o s co l e t a d o s q u e r e m e t e m à ident ificação e com pr eensão da dist anásia r efer ida pelos entrevistados, a partir das respostas dadas nas ent r ev ist as.

“ O t erm o dist anásia é definido com o m ort e lent a, ansiosa e com m uit o sofrim ent o”( 5).

[ ...] dist anásia é m orrer com dor, né? é m orrer com

sofrim ent o.( S1) .

O p r o l o n g a m e n t o e x a g e r a d o d a m o r t e , subm et ido a int enso processo de dor e sofrim ent o, é processo em que se prolonga a agonia, não havendo p ossib ilid ad e d e cu r a ou d e m elh or a. Pr olon g a a agonia, sem expectativas de sucesso ou de qualidade de v ida m elhor par a o pacient e, onde não se v isa prolongar a vida, m as sim o processo de m ort e.

Eu acredit o que na UTI a gent e faz m uit a dist anásia, a

gent e prolonga o sofrim ent o dos pacient es, m uit as vezes ( S2) .

Est e o u t r o d i z d o p r o l o n g a m e n t o d o sofrim ent o e não da vida.

[ ...] quando tu prolongas um a vida sem um a perspectiva

t er apêut ica não, não v ale a pena, isso v ai ser só pr olongar

sofrim ent o ( S5) .

Out ra com preensão de dist anásia t razida diz respeit o ao dist anciam ent o da m ort e.

[ ...] t u dist ancia o pacient e da m ort e, t u usas m edidas

pra dist anciá- lo dá m ort e ( S3) .

A d i st a n á si a n ã o a d i ci o n a b e n e f íci o a o pacient e.

[ ...] t u vais invest ir m ais algum a coisa no pacient e,

que t u vai est ar fazendo coisas que não é pra benefício do pacient e

(S3).

Est e refere o m orrer cruel.

[ ...] a dist anásia é esse m orrer de um a form a cruel

(S4).

At ravés das falas de alguns enferm eiros, foi possível verificar que com preendem e ident ificam a dist anásia na unidade. Eles ident ificam m uit as vezes qu an do f oi f eit o t odo o qu e é possív el ou t oda a terapêutica possível para ele e que o tratam ento não está sendo efetivo. Há a com preensão de um a form a de m or t e cr u el, com dor e m u it o sof r im en t o, n ão propiciando nenhum benefício, onde t am bém ocorre o afast am ent o da m ort e e o afast am ent o da vida.

Tratando de pacientes term inais, que não têm chance de cura e de m udar esse quadro, a prática da o b st i n a çã o t er a p êu t i ca r esu l t a si m p l esm en t e n o pr olongam ent o do pr ocesso de m or r er, acar r et ando m ais dores e sofrim ent o ao doent e que se encont ra no fim da vida( 6).

(4)

Est a s f a l a s r e l a t a m q u e sã o u sa d o s m e d i ca m e n t o s e so l i ci t a d o s e x a m e s ca r o s e m pacient es sem percept iva de vida.

[ ...] não t em perspect iva nenhum a de vida, assim é

colocada um a t erapêut ica que norm alm ent e é cara ( S8) .

A t ecnologia disponível vem sendo usada de m odo inapr opr iado e com ex ager os, com et idos em larga escala, principalm ente no tratam ento de doentes t erm inais( 6).

D o e n t e s t e r m i n a i s sã o su b m e t i d o s a t rat am ent os, procedim ent os e t écnicas invasivas nas UTI s, em que o sofrim ento é m aior do que o beneficio para ele, porque a cura não será possível.

Segunda cat egoria: da dist anásia à ort ot anásia

Considera- se doente term inal aquele que está em fase final por evolução de sua doença, sem m ais condições de r ev er sibilidade, m esm o que par cial e t em por ár ia, f r en t e a qu alqu er m edida t er apêu t ica conhecida e aplicada( 8).

Pacient e t erm inal é aquele pacient e grave, que não t em

m uit a perspect iva de qualidade de vida depois que sai da UTI

(S7).

Paciente term inal na evolução da doença, em determ inado m om ento, não é m ais possível recuperá-l o , o u se j a , a m o r t e é i n e v i t á v e recuperá-l . As m e d i d a s t e r a p ê u t i ca s, n e sse e st á g i o , n ã o a u m e n t a m a sobrevida, apenas prolongam o processo de m ort e.

[ ...] nenhum pacient e é t erm inal no m eu pont o de vist a,

t em pacient e com lim it e t erapêut ico, t erm o pacient e t erm inal

parece... term inal parece que não tem o que se fazer pelas pessoas,

m as at é na hora de m ort e t em sim , m uit o se faz pelos out ros ( S6) .

Or t ot an ásia sign ifica m or t e em seu t em po ce r t o , se m a b r e v i a r e se m p r o l o n g a r desproporcionalm ent e o processo de m orrer( 9).

O cuidado paliat ivo realiza o cont role da dor e t raz m elhora na qualidade de vida. Não pensando em curar um a doença ou estender a vida ao m áxim o, m as perm it ir que o pacient e viva de form a t ranquila e confor t áv el.

Os cu id ad os p aliat iv os t en t am su av izar o sof r im en t o, a d or in su p or t áv el, a d eg r ad ação d o co r p o , m a s n ã o a s e l i m i n a m t o t a l m e n t e . Os p r o g r a m a s d e cu i d a d o s p a l i a t i v o s n ã o p r o p õ e m eut anásia, m as há a pr eocupação com a qualidade de vida e bem - est ar dos pacient es. Tam bém não se

t em aparelhos para ressuscit am ent o, nem se propõe t rat am ent os heróicos das UTI s( 10).

O conceit o de cuidar é focado no cuidado e não na cura definit iva do client e, o cuidado paliat ivo surge associado ao trabalho de equipe m ultidisciplinar, ao cont role da dor e alívio de sint om as( 11).

At r av és das falas pode- se ident ificar que é m a n t i d o o co n f o r t o , co m o p r i o r i d a d e , t r a ze n d o elem entos da ortotanásia, que é m orrer na hora certa, em oposição à dist anásia. O pacient e t erm inal ent ão é m antido com cuidados paliativos, controle da dor e dos sintom as, tentando m elhorar a qualidade de vida.

[ ...] t em que se invest ir t udo no confort o pra ele, né?

t irar sofrim ent o, né? t er um a boa analgesia para est e pacient e,

porque não t em m ais o que fazer além do t rat am ent o, ent ão, eu

acho que o confort o t em que ser priorizado ( S9) .

Muit os pacient es na UTI pr ogr idem par a o cuidado paliat ivo. O enferm eiro da UTI oferece fort e suport e e m anuseio da dor aos pacient es, alívio do sofrim ent o e da dor aos doent es t erm inais.

Um pacient e t erm inal t em um prognóst ico m uit íssim o

reservado, né? um pacient e em que foram feit os t odos as m edidas,

t odo o t rat am ent o e que est e pacient e não t em ... t em m ais o que

ser feit o para ele, t udo que t inha que ser feit o foi e agora, só

m ant er confort o para ele e esperar com que a m ort e chegue ( S1) .

A ort ot anásia é um a dim ensão m ais posit iva d o d i r e i t o d e m o r r e r e co n si st e n o m o r r e r hum anam ent e, m orrer serenam ent e, m ort e ideal. É o processo de hum anização da m ort e e o alívio das dores, m as não provoca prolongam ent o abusivo com a ap licação d e t er ap êu t icas f ú t eis, q u e lev ar iam sofrim ent os adicionais ao pacient e t erm inal.

A or t ot anásia é a condut a de não ev it ar a m ort e do pacient e e, sim , cessar invest im ent os que prolongam a vida a m édio prazo( 12).

Não se aplica o conceit o ort ot anásia a casos que se lim it am ao sofr im ent o int enso de qualquer natureza, sej a dor ou desconforto. Suspender apenas as m edidas que se aj ustam no conceito de obstinação t erapêut ica, focando a m anut enção do bem - est ar do paciente, tom ando todas as m edidas necessárias para esse fim( 13).

Na m edida em que a t erapia não consegue m a i s r e st a u r a r a sa ú d e , o cu r a r t o r n a - se u m a fut ilidade e int ensifica esforços para m ant er a vida, não esquecendo que cuidar é par t e do t r at am ent o para não cair na dist anásia( 9).

(5)

de sucesso ou de m elhor qualidade de vida, tratar se t or n a f ú t il. En t ão, dev e- se par ar com as m edidas inút eis e agregar os esforços para am enizar a dor, o sofrim ent o, o desconfort o de m orrer, proporcionando m orte natural. Não tem cura a m orte. É nobre assum ir que ela faz part e da vida.

Terceira cat egoria: t rat am ent o fút il - a fam ília com o pot encializador a

O tratam ento fútil é quando não se alcança o obj etivo de adiar a m orte, estender a vida, m elhorar, m ant er ou rest aurar a qualidade de vida, beneficiar o doen t e com o u m t odo, m elh or ar o pr ogn óst ico, m e l h o r a r o co n f o r t o , b e m - e st a r, t e r m i n a r a dependência de cuidados m édicos intensivos, prevenir ou curar a doença, aliviar o sofrim ent o e sint om as, rest aurar as funções( 14).

Fu t i l i d a d e m éd i ca é co m p r een d i d a co m o a q u e l a s a çõ e s q u e n ã o co n se g u e m m a n t e r o u rest aurar a qualidade de vida, t razer à consciência, aliv iar o sofr im ent o, pr opor cionar benefício par a o pacient e, ao cont rário, causam m uit o sofrim ent o( 10).

[ ...] o m édico deixa claro, m as a fam ília não quer, eles

preferem que invist a t udo e aí a gent e sent e que o pacient e

m ant ém o sofrim ent o m esm o, daí ent ra no que t u est ás falando

sobre a dist anásia ( S4) .

No m om ento em que não se consegue atingir os obj etivos da terapia m édica, que é de preservar a saú de ou aliv iar o sof r im en t o, isso se t or n a u m a fut ilidade ou peso. Ent ão surge a obrigação de parar com m edidas inút eis e int ensificar o em penho par a am enizar o desconfort o do m orrer( 15).

A seguir, a pesquisa m ost ra que o fam iliar não aceita a condição do paciente que está internado na UTI e pr efer e que se inv ist a t oda a t er apêut ica possív el.

[ ...] a fam ília não aceit a que se t ire t udo, que se deixe

só com o pacient e suport e, que est e pacient e realm ent e é t erm inal,

t em que deixar bem claro, m as a fam ília não aceit a, é um a decisão

da fam ília ( S10) .

Pr oced im en t os f ú t eis d e t r at am en t o, com p e q u e n a p r o b a b i l i d a d e d e r e t o r n o , d e v e m se r abolidos( 16).

Prolongar a vida, a qualidade dessa vida, é um a definição com plicada que a ciência e a tecnologia t ranspõem para o plano hum anit ário( 13).

O tratam ento fútil não traz nenhum beneficio ao p acien t e t er m in al, ad ia a m or t e e acr escen t a

ag on ia p r og r am ad a, t r azen d o esp er an ça p ar a os fam iliares. O t rat am ent o fút il poderia ser subst it uído pelos cuidados paliativos. Mas vê- se que os fam iliares n ã o a ce i t a m a s co n d i çõ e s d o s se u s f a m i l i a r e s g r av em en t e d oen t es, m an if est an d o q u e p r ef er em m ant er o t rat am ent o.

Quart a cat egoria: part icipação dos enferm eiros

A par t icipação dos enfer m eir os na t om ada de decisões t em se m ost r ado t ím ida. Ou sej a, nas sit uações em que poderiam cont ribuir efet ivam ent e, defendendo a aut onom ia do pacient e e da fam ília, esses m esm os enfer m eir os cum pr em o t r at am ent o com os quais, na m aioria das vezes, não concordam . A i m p o r t ân ci a d o d i ál o g o i n t er d i sci p l i n ar enfat iza que essa car act er íst ica da bioét ica exige o envolvim ent o dos profissionais da saúde e de t odos aqueles que, com com pet ência e r esponsabilidade, se d isp õem a r ef let ir et icam en t e sob r e a m elh or condut a a ser t om ada( 17).

[ ...] eu acho que a enferm agem realm ent e se ocupa

pouco disto, porque o processo de trabalho da enferm agem tam bém

não perm it e que a gent e pare e discut a sobre est e t em a, a m ort e.

Est a f ala m ost r a q u e os en f er m eir os n ão contestam a prescrição m édica e nem outros m édicos cont est am , há um respeit o na decisão da condut a.

[ ...] ninguém cont est a um a prescrição m edica, né, at é

ent re eles não se... ent re eles t am bém se respeit am m uit o se t u

achar que a condut a é essa, ent ão siga em frent e.

As decisões de interrupção do tratam ento fútil in clu em m ais at en ção p ar a ap er f eiçoar a r elação enferm eiro- m édico- pacient e- fam ília nas sit uações em que a cura não é possível, que passa a ser cuidado, t ant o da enferm agem com o do m édico( 14).

[ ...] o que a gent e pode part icipar sim é respeit ar est e

pacient e com o um t al, sabe que ele est á nas suas condições

m ínim as de sobrevida... m as durante os round consegue conversar

com os m édicos, colocar algum as v isões nossas, r ealm ent e

alguns são recept ivos, at é conversam , com o a gent e conversa

agora.

É r elat ado que não se consegue influenciar na decisão e que a enfer m agem dev er ia par t icipar m ais para poder preparar a sua equipe.

[ ...] a gent e não consegue assim influenciar nest a

decisão, não consegue par t icipar dest a decisão, acho que a

enferm agem t am bém deveria part icipar m ais dest a decisão at é

pra poder depois preparar a sua equipe.

(6)

op in iões d ev id o à f alt a d e com u n icação en t r e os profissionais. Tam bém é percebido que a decisão de se int errom per det erm inado t rat am ent o, com o fút il, n em sem p r e é u n ân i m e en t r e os p r of i ssi on ai s e a p o i a d a p e l o s d i f e r e n t e s m é d i co s d a m e sm a i n st i t u i çã o . Nã o é i n co m u m q u e , e m p l a n t õ e s diferentes, outro m édico retom e o tratam ento anterior, m ot iv ado por su as con v icções, cr ian do u m cír cu lo vicioso de difícil solução e que reflete a falta de diálogo ent re a própria equipe m édica( 5).

En f im , a en f er m ag em p ar t icip a p ou co d a decisão das con du t as a ser em t om adas, m as, em alguns casos, há a oportunidade de se conversar com os m édicos e colocar a sua visão da conduta, falta o t r abalh o in t er disciplin ar en t r e as equ ipes, f ican do m uit o da decisão sobre um só.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

D e a co r d o co m o s e n t r e v i st a d o s, e l e s ident ificam a dist anásia no seu dia a dia com o um a m orte sofrida, com m uita dor, introduzindo tratam ento ag r essiv o q u e só p r olon g a o p r ocesso d e m or r er. Tam bém há prolongam ent o do sofrim ent o e não da v ida, não t r azendo nenhum beneficio t er apêut ico e acarret ando gast os elevados para a inst it uição.

Os enferm eiros ident ificam a dist anásia, m as com b at em e p r op or cion am a or t ot an ásia, sem p r e priorizando o conforto e o alívio da dor, num am biente tranquilo e agradável, visando a qualidade de vida, a dim en são m ais posit iva do dir eit o de m or r er, sem pr olongam ent os abusiv os de t ecnologias de pont a, na sua fase final da vida há m uit o que se fazer por ele, m an t en d o a con d u t a d e en f er m ag em , sem a u t ilização de t ecn ologias sofist icadas, m as sim n a int eração ent re equipes. A t om ada de decisões pelos en f er m eir os m ost r a- se p ou ca at iv a e r est r it a ao m édico.

Pelos dados colet ados, per cebe- se qu e os e n f e r m e i r o s co m p r e e n d e m a d i st a n á si a co m o p r o l o n g a m e n t o d e v i d a co m d o r e so f r i m e n t o , e m p e n h a n d o - se d a m e l h o r f o r m a p o ssív e l p a r a garant ir a dignidade do pacient e no seu viver e no seu m or r er, cont r olando os sint om as de desor dem or gânica, pr ocur ando m ant er o confor t o e o bem -est ar do pacient e t erm inal.

Conclui- se que os enferm eiros com preendem a distanásia na unidade e que os pacientes term inais sã o su b m e t i d o s a t r a t a m e n t o s f ú t e i s q u e n ã o p r o p o r ci o n a m n e n h u m b e n e f íci o , co m o prolongam ent o da m ort e. Eles t am bém ident ificam a d ist an ásia, m as t r azem elem en t os d a or t ot an ásia par a m ant er o confor t o com o pr ior idade, o m or r er na hora cert a.

REFERÊNCI AS

1 . D i ci o n á r i o d e Bi o é t i ca . Po r t u g a l : Ed i t o r i a l Pe r p é t u o Socor r o; 2 0 0 1 .

2. Barchifont aine CP, Pessini L. Problem as at uais de Bioét ica.

5ª ed. São Paulo ( SP) : Loyola; 2000.

3. Minayo MCS, organizadora. Pesquisa Social: Teoria, Método

e Criat ividade. 10ª ed. Pet rópolis ( RJ) : Vozes; 2006. 4. Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundam ent os de pesquisa

em enferm agem: m ét odos, avaliação e ut ilização. 5ª ed. Port o

Alegr e ( RS) : ARTMED; 2004.

5. Toffolet t o MC, Zanei SSV, Hora EC, Nogueira GP, Miyadahira AMK, Kim ura M, et al. A dist anásia com o geradora de dilem as ét icos n as Un id ad es d e Ter ap ia I n t en siv a: con sider ações

sobre a part icipação dos enferm eiros. Act a Paul. Enferm. 2005

set em br o; 1 8 ( 3 ) : 3 0 7 - 1 2 .

6. Möller LL. Direit o à m ort e com dignidade e aut onom ia: o

dir eit o à m or t e de pacient es t er m inais e os pr incípios da dignidade e aut onom ia da vont ade. Curit iba ( PR) : Juruá; 2007. 7. Siqueira- Bat ist a R, Schram m FR. A Filosofia de Plat ão e o debate Bioético sobre o fim da vida: interseções no cam po da Saúde Pública. Cad Saúde Pública 2004; 20( 3) : 855- 65. 8. Silva CHD, Schram m FR. Bioét ica da obst inação t erapêut ica no em prego da hem odiálise em pacientes portadoras de câncer

do colo do út ero invasor, em fase de insuficiência renal crônica

agudizada. Rev Br as Cancer ol 2007; 53( 1) : 17- 27.

9. Torres WC. A Bioét ica e a Psicologia da Saúde: Reflexão

sobre quest ões de vida e m ort e. Psicol. Reflex. Crit . 2003; 1 6 ( 3 ) : 4 7 5 - 8 2 .

10. Kovasc MJ. Bioét ica nas quest ões da vida e da m or t e. Psicol. USP 2 0 0 3 ; 1 4 ( 2 ) : 1 1 5 - 6 7 .

1 1 . San t os MCL, Pagliu ca LMF, Fer n an des AFC. Cu idados paliat ivos ao por t ador de câncer : r eflexões sob o olhar de Pat er son e Zder ad. Rev Lat ino- am Enfer m agem 2007 m ar / abr ; 1 5 ( 2 ) : 3 5 0 - 4 .

12. Pr udent e MG. Bioét ica: conceit os fundam ent ais. Por t o

Alegre ( RS) : Ed. do Aut or; 2000.

13. Mart in L. Eut anásia e Dist anásia. I n: Cost asi F, Garrafa V, Oselk a G, or gan izador es. I n iciação a Bioét ica. Brasília ( DF) : Conselhos Feder ais de Medicina; 1998.

14. Pessini L. Dist anásia: At é quando prolongar a vida?. São Paulo ( SP) : Loyola; 2001.

15. Pessini L. Dist anásia: At é quando invest ir sem agredir?

Bioét ica 1 9 9 6 ; 4 ( 1 ) : 3 1 – 4 3 .

16. Laselva CR. O pacient e t erm inal: vale a pena invest ir no t r at am ent o? Einst ein 2004; 2( 2) : 131- 2.

17. Selli L. Bioét ica na enferm agem. 2ª . ed. São Leopoldo

( RS) : UNI SI NOS; 2 00 5 .

Referências

Documentos relacionados

Así, las cr eencias y v alor es de esa subcult ur a int er fier en o det er m inan un dist anciam ient o del pacient e y un consecuent e pr ej uicio en la at ención adecuada par a

Los cat ét er es v enosos cent r ales ( CVC) ut ilizados pr incipalm ent e en unidades de cuidados int ensiv os - UCI s, son im por t ant es fuent es de infección de la cor r ient

Se com puso la cat egor ía cent r al “ El cuidado de enfer m er ía vivenciado en la sit uación de abor t am ient o” a par t ir de cuat r o subcat egor ías: el cuidado cent r ado

Se com puso la cat egoría cent ral “ El cuidado de enferm ería vivenciado en la sit uación de abor t am ient o” a par t ir de cuat r o subcat egor ías: el cuidado cent r ado en

La or ganización del t r abaj o puede const it uir se en una m ayor fuent e de sufrim ient o para los t rabaj adores de enferm ería, lo cual se relaciona al ej ercicio del poder de

Los dist urbios del sueño en diabét icos del t ipo 2, const it uyen fact ores de riesgo para el agravam ient o de la diabet es, pues pueden int erferir en el cont rol m et abólico a

Los t em as revelados fueron: La no acept ación de la enferm edad; el t rabaj o en equipo; las lim it aciones com o consecuencia de la enferm edad; los sent im ient os y com port

Las infor m aciones fuer on ex am inadas por un Análisis de Cont enido, por m edio de las et apas de análisis, ex am en.. del m at er ial y t r at am ient o de los r