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Desenvolvimento sustentável e turismo: o caso lençóis maranheses

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

TURMA: SÃO LUÍS (MA)

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO:

o caso Lençóis Maranhenses

João Conrado de Amorim Carvalho

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas.

(2)

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO:

o caso Lençóis Maranhenses

JOÃO CONRADO DE AMORIM CARVALHO

Bacharel em Ciências Contábeis

Orientador: Prof. Dr. Fernando Guilherme Tenório

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE), Fundação Getulio Vargas, para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas.

(3)

Ao meu professor orientador, Prof. Dr. Fernando Guilherme Tenório, pela dedicação, paciência, incentivo e respeito ao longo do desenvolvimento deste trabalho. A ele cabe grande parte dos méritos desta dissertação.

A todos os demais professores da Fundação Getulio Vargas pelos ensinamentos transmitidos, apoio e valiosas sugestões, especialmente àqueles que disponibilizaram textos e material acadêmico aproveitados e incorporados a esta monografia.

Aos colegas do mestrado pela troca de informações, discussão e sugestões, em especial aos colegas José Henrique Frazão Costa, Jorge Henrique França dos Santos e Raimundo Péricles Barros, pelas críticas que proporcionaram uma constante revisão e aperfeiçoamento.

À minha família, que empreendeu comigo esta missão, proporcionando a tranqüilidade necessária para que pudesse vencer os desafios, além, é claro, do apoio incondicional.

(4)

p. ABSTRACT

1. INTRODUÇÃO ………. 12

1.1. O problema ... 15

1.2. Justificativa ……… 15

1.3. Objetivos ……… 16

1.4. Delimitação do estudo ………. 17

1.3. Organização do trabalho ………. 18

2. REFERENCIAL TEÓRICO ………. 20

2.1. O turismo ………... 20

2.1.1. Histórico do turismo ……….. 20

2.1.2. Definição de turismo ………. 22

2.1.3. Turismo e desenvolvimento econômico ……… 23

2.2. Planejamento e desenvolvimento sustentável ……… 27

2.2.1. Abordagem econômico-liberal de mercado ………. 35

2.2.2. Abordagem ecológico-tecnocrata de planejamento ……… 36

2.2.3. Abordagem política de participação democrática ……… 38

2.2.3.1. Sustentabilidade social ………. 40

2.2.3.2. Sustentabilidade econômica ……… 44

2.2.3.3. Sustentabilidade ambiental ……….. 48

2.2.3.4. Sustentabilidade cultural ……….. 50

2.2.3.5. Sustentabilidade espacial ………. 53

2.3. Sustentabilidade: uma visão sistêmica ... 55

3. METODOLOGIA ……….. 58

3.1. A pesquisa e o método ……… 58

3.2. Tipos de pesquisa ……… 59

3.3. Quanto aos fins ……… 60

3.3.1. Pesquisa exploratória ………... 60

3.3.2. Pesquisa descritiva ………... 61

3.4. Quanto aos meios ……… 62

(5)

3.4.3. Pesquisa de campo ……….. 63

3.4.4. Estudo de caso ……….. 64

3.5. Universo e amostra ……….. 64

3.6. Coleta e tratamento dos dados ……….. 66

3.7. Limitações do método ………. 71

4. RESULTADOS ………. 73

4.1. Estado do Maranhão ……… 73

4.1.1. O Maranhão e o turismo ………. 75

4.1.2. Os Lençóis Maranhenses ……… 76

4.1.2.1. Barreirinhas ……… 81

4.1.2.2. Humberto de Campos ………... 82

4.1.2.3. Paulino Neves ……… 83

4.1.2.4. Primeira Cruz ………. 84

4.1.2.5. Santo Amaro ……….. 85

4.1.2.6. Tutóia ………... 86

4.2. Turismo e desenvolvimento ……… 87

4.3. Desenvolvimento e sustentabilidade nos Lençóis Maranhenses ……. 92

4.3.1. Sustentabilidade econômica nos Lençóis Maranhenses ……… 94

4.3.1.1. Origem do capital e retenção local da receita ……….. 94

4.3.1.2. Especulação imobiliária ……… 96

4.3.1.3. Turismo como monoproduto ……… 97

4.3.2. Sustentabilidade espacial e o desenvolvimento ……….. 99

4.3.2.1. Sobrecarga da infra-estrutura existente ………. 99

4.3.2.2. Assentamentos humanos ………. 102

4.3.2.3. Promoção da paisagem ……… 104

4.3.3. Sustentabilidade cultural ……….. 106

4.3.3.1. Aculturação e corrupção de valores ………... 106

4.3.3.2. Ações racistas e xenofóbicas ……….. 108

4.3.3.3. Atrações turísticas ………. 108

4.3.4. Sustentabilidade social ……… 109

(6)

4.3.4.4. Prostituição, turismo sexual e violência ………. 119

4.3.4.5. Declínio da auto-estima, segregação e exclusão social …………. 121

4.3.5. Sustentabilidade ambiental ………. 125

4.3.5.1. Consciência ecológica ……….. 125

4.3.5.2. Uso adequado do solo ……….. 126

4.3.5.3. Superprodução de lixo e esgoto ………. 130

4.3.5.4. Uso excessivo dos recursos naturais ………. 132

4.3.5.5. Coleta da vida selvagem ……….. 133

4.3.5.6. Estradas e trilhas em áreas naturais ……….. 135

5. CONCLUSÕES ……… 140

5.1. Economia: a face visível do desenvolvimento ... 141

5.2. Ações para o desenvolvimento sustentável ... 145

5.2.1. Administração pública articulada .……….………. 145

5.2.2. Infra-estrutura: uma prioridade ... 146

5.2.4. Fortalecimento dos valores culturais ... 148

5.2.5. Participação cidadã no planejamento ... 149

5.2.6. Educação ecológica ... 149

5.2.7. Capacitação da mão-de-obra ... 150

5.3. O ecoturismo seria a solução? ……….. 150

5.3. Considerações finais ……… 152

REFERÊNCIAS ...……… 157

(7)

p. FIGURA n° 01: Estrutura do Produto Interno Bruto (PIB), segundo

atividades econômicas, 1996 ………. 74 FIGURA n° 02: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses …………... 78 FIGURA n° 03: Mapa da Área de Influência do Parque Nacional dos

(8)

p. TABELA n° 01: Entrevistas realizadas ………. 65 TABELA n° 02: Análise das entrevistas ……… 70 TABELA n° 03: População residente, por situação de domicílio, no

Maranhão, 1950 – 2002 ……….. 73 TABELA nº 04: Aspectos positivos e negativos do turismo sobre o

(9)

p. FOTOGRAFIA n° 01: Casa construída na margem do rio Preguiças … 102 FOTOGRAFIA n° 02: Favela em Barreirinhas (produto de invasão) …. 103

FOTOGRAFIA n° 03: Pousada à margem do rio Preguiças ……… 104

FOTOGRAFIA n° 04: Artesanato em Barreirinhas ……… 113

FOTOGRAFIA n° 05: Voadeira e escuna no rio Preguiças ………. 115

FOTOGRAFIA n° 06: Buritizais e outras palmeiras ……….. 135

FOTOGRAFIA n° 07: Veículos (Toyotas) transportando turistas até as dunas ………. 136

FOTOGRAFIA n° 08: Jeep nas dunas ... 165

FOTOGRAFIA n° 09: Visão panorâmica das dunas ... 165

FOTOGRAFIA n° 10: Povoado Caburé e foz do rio Preguiças ... 166

FOTOGRAFIA n° 11: Lagoa Azul (Grandes Lençóis) ... 166

FOTOGRAFIA n° 12: Vista da cidade de Primeira Cruz (rio Períá) ... 167

FOTOGRAFIA n° 13: Rio Preguiças, com morraria ao fundo ... 167

FOTOGRAFIA n° 14: Turistas em voadeira no rio Preguiças ... 168

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Lençóis Maranhenses

Autor: JOÃO CONRADO DE AMORIM CARVALHO Orientador: Prof. FERNANDO GUILHERME TENÓRIO RESUMO

Turismo como alternativa de desenvolvimento nos Lençóis Maranhenses. Este trabalho tem o objetivo de analisar as perspectivas de desenvolvimento sustentável a partir da promoção do turismo na região dos Lençóis Maranhenses. Procurou-se avaliar as cinco dimensões de sustentabilidade - ecológica, econômica, social, espacial e cultural – tomando como base a argumentação dos principais atores que desempenham papel na região. Aplicada como estudo de caso, a pesquisa teve o propósito de discutir a viabilidade dos projetos turísticos direcionados para os Lençóis Maranhenses, não só quanto ao aspecto puramente econômico, de geração de emprego e renda para a região, mas também quanto ao nível de interferência nas relações sócio-culturais dos habitantes e no impacto provocado ao meio ambiente.

O método utilizado para obtenção dos resultados foi o dialético. Cada um dos atores entrevistados (habitantes, empresários, autoridades, representantes da sociedade civil, entre outros) foi confrontado com os benefícios e malefícios decorrentes do turismo e manifestou a sua posição, a partir da qual foram construídos novos conhecimentos.

(11)

Maranhenses

Author: JOÃO CONRADO DE AMORIM CARVALHO Adviser: Prof. FERNANDO GUILHERME TENÓRIO

SUMMARY

Tourism as an example of alternative for sustainable development in the Lençóis Maranhenses. The objective of this work is to analyze the prospects for sustainable development in tourism in the aforementioned region. An attempt is made to evaluate the five dimensions of sustainable - ecological, economic, social, space and cultural. The base for discussion is the information gathered from the people who actually live in the region. A type of the case study was built up. The research involved speaking with the people about the viability of tourism projects, not only with an eye on economic success, job creation and income for the region. There was also an attempt to tackle the issue of social and environment impact.

Data was collected through verbal contact. A variety of people were interviewed, locals, businessmen, authorities, civil representatives and they spoke about the advantages and disadvantages of tourism as the saw it and as it affected them. Their answers and comments constitute the knowledge gleaned.

(12)

1. INTRODUÇÃO

A despeito de todos os problemas que vem ocorrendo nos últimos anos, como atentados, guerras e catástrofes naturais, o turismo apresenta, no mundo e no Brasil, números crescentes. Segundo o World Travel & Tourism Council

(WTTC, 2004), o turismo vai movimentar no mundo todo em 2005 cerca de US$ 6.201,5 bilhões, com crescimento médio da taxa de geração de empregos de 3% ao ano. Espera-se que a indústria do turismo contribua com cerca de 3,8% do Produto Interno Bruto, o que representará investimentos da ordem de US$ 918,0 bilhões. Dados World Tourism Organization (WTO) publicados no

Anuário Estatístico 2004 do Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR revelam que, no período de 1970 a 2003, o movimento mundial de turistas cresceu de 165,8 milhões de pessoas para 694,0 milhões (418,6%). Em termos econômicos, as receitas saíram de 17,9 bilhões de dólares em 1970 para 514,4 bilhões de dólares em 2003 (2.873,7%).

No Brasil, o turismo apresenta resultados não menos expressivos. Em 1970 a EMBRATUR registrou a entrada de 249.900 turistas, número que cresceu para 4.090.590 em 2003 (1.636,9%). Os resultados econômicos registrados pela EMBRATUR a partir de dados do Banco Central do Brasil (BACEN) indicam que a receita cresceu de US$ 1.726 mil em 1981 para US$ 3.386 mil em 2003 (186,2%).

(13)

O Brasil, na condição de país em desenvolvimento, necessita promover ações com vistas a reduzir as disparidades sociais que inibem o crescimento econômico. Entre as alternativas de que dispõe, o turismo se apresenta como uma das mais promissoras em face do potencial oferecido pela diversidade geográfica do seu território e pelas diversas manifestações culturais populares. O Nordeste brasileiro, além de uma série de atrativos turísticos, ainda possui espaços totalmente preservados, como é o caso dos Lençóis Maranhenses. Criado em 02 de junho de 1981, com área de 155 mil hectares, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses localiza-se no nordeste do Estado do Maranhão ocupando cerca de 270km² de dunas que se formam conforme a combinação dos ventos e vem se transformando no principal apelo turístico responsável pela atração de pessoas do mundo inteiro.

O pólo turístico envolve os municípios de Barreirinhas, Primeira Cruz, Santo Amaro, Humberto de Campos, Paulino Neves e Tutóia. Barreirinhas, com facilidade de acesso por estrada asfaltada, é considerado o principal portão de entrada para os Lençóis e hoje é o município mais procurado pelos turistas. Os Lençóis Maranhenses assemelham-se um grande deserto, com a característica de apresentar índice pluviométrico variando entre 1200mm e 2000mm (MARANHÃO EM DADOS, 2003), o que equivale a aproximadamente trezentas vezes ao índice do Saara africano. As águas das chuvas são aprisionadas entre as dunas, formando as lagoas, vistas como verdadeiros oásis tropicais e paradas obrigatórias para quem deseja conhecer a região.

A maioria dos turistas procura fazer o percurso Barreirinhas - Lençóis pelo rio Preguiças, com duração média de quatro horas, onde é possível apreciar o espetáculo da "Morraria", uma série de praias com dunas de cinco metros de altura que se movimentem cerca de 20 metros por ano e ocultam as piscinas de água doce. Além das dunas, os Lençóis Maranhenses possuem mangues, rios (onde navegam as “voadeiras”1), praias e pescadores que

também criam algumas cabeças de gado para o sustento da família na estação seca, propiciando uma paisagem no estilo desértico-rural.

(14)

Os principais municípios dos Lençóis Maranhenses foram povoados a partir do Ciclo do Gado. Durante o período colonial e até a metade do século XIX, a economia se resumia à agricultura de subsistência, pecuária de pequeno porte, olarias e extrativismo para artesanato. Depois da criação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, em 1981, e dos investimentos governamentais em infra-estrutura e marketing, na década de 1990, a região dos Lençóis Maranhenses saiu do anonimato, despontando atualmente como um dos pólos turísticos que vem experimentando número crescentes no fluxo turístico.

O Governo do Estado do Maranhão, baseado em dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informa que o município de Barreirinhas, para onde foram carreados os investimentos turísticos, contava, em 1991, com 29.640 habitantes, número que saltou para 44.531 em 2002, apresentando uma taxa média de crescimento de 3,8% ao ano contra 1,6% do Estado do Maranhão (MARANHÃO EM DADOS, 2003; p.25). Informações disponíveis no endereço eletrônico do Governo do Estado do Maranhão (http://www.ma.gov.br/turismo/) e no Guia das Pousadas e Restaurantes de Barrerinhas (TSUJI, 2004) indicam que o município conta atualmente com 61 pousadas, cinco hotéis e um resort. Em 2001, segundo

dados do IBGE (http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php), só existiam 12 empresas de alojamento e alimentação, o que demonstra o acelerado desenvolvimento econômico do município.

O crescimento rápido e incontrolado do fluxo turístico vem também provocando efeitos negativos em todas as localidades que experimentam seus benefícios. O fenômeno tem sido tão intenso e difícil de reverter em certas regiões que a sua combinação com a baixa qualidade dos serviços contribui para uma contínua degradação do produto turístico e diminuição dos lucros para a comunidade hospedeira e para a economia nacional, colocando em risco a sustentação da própria indústria turística (Spilanis e Vayanni, 2003).

(15)

incorrer em impactos negativos significantes para o ambiente, a cultura e a sociedade. Esse desafio é corroborado por Oliveira (2004), quando afirma que o sucesso em longo prazo do turismo em uma região como o Nordeste brasileiro depende da preservação dos seus recursos naturais.

Está-se, portanto, diante de um dilema. De um lado, empresários, comunidades e o próprio governo procurando dinamizar o turismo como forma de gerar empregos e renda com poucos investimentos e, de outro lado, ambientalistas, intelectuais e Organizações Não-Governamentais (ONGs) preocupados com a degeneração do meio-ambiente e com os problemas sociais que são os efeitos colaterais da atividade turística.

1.1. O problema

Levando em conta o acelerado progresso provocado pelo turismo que está acontecendo na região dos Lençóis Maranhenses, em especial no município de Barreirinhas, é razoável questionar até que ponto os investimentos em execução levam em consideração o desenvolvimento sustentável da região.

A pesquisa procurou responder a esse questionamento, levantando informações a respeito dos investimentos já realizados e em realização nos Lençóis Maranhenses. Para isso, adotou-se o princípio da sustentabilidade delineado por Sachs (1993), que compreende cinco dimensões: sustentabilidade ecológica, social, cultural, econômica e espacial. A partir do estudo de caso Desenvolvimento Sustentável e Turismo: o caso Lençóis Maranhenses, foi possível analisar a sustentabilidade nas dimensões propostas, avaliando o turismo como alternativa viável para solucionar o problema das desigualdades regionais.

1.2. Justificativa

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receptora. Esse planejamento, ressaltam eles, deve contemplar uma maior articulação entre os atores do campo de turismo de forma a estreitar seus laços e elevar o nível de contribuição em torno do desenvolvimento.

Um dos pontos relevantes deste estudo se assentou na análise da participação coletiva dos vários atores no processo de planejamento do turismo socialmente responsável, verificando se o planejamento traçado guarda coerência com o conceito de desenvolvimento sustentável.

Considerando, ainda, que o turismo desperta opiniões francamente favoráveis e diametralmente opostas à sua promoção, o estudo, na medida em que se propôs a avaliar o impacto dos investimentos sob a ótica da sustentabilidade do desenvolvimento, mostrou-se relevante porque trouxe contribuições à discussão como meio de facilitar o posicionamento das diversas correntes.

Além disso, existem poucos estudos acerca da responsabilidade social do turismo, dificultando avaliar o impacto dos grandes empreendimentos nas comunidades locais. Esta pesquisa teve a pretensão de trazer mais informações para a área de conhecimento, ajudando a reforçar a base de conhecimentos sobre o assunto.

Acredita-se, por fim, que o estudo servirá de instrumento de auxílio aos administradores públicos na condução das suas políticas e na tomada de decisão estratégica de investimentos, especialmente pela percepção de que o envolvimento de representantes dos diversos grupos de interesse elevará o nível da discussão e legitimará o processo de desenvolvimento sustentável. 1.3. Objetivos

Objetivo Final:

(17)

Objetivos Intermediários:

- Discutir a relação entre turismo, desenvolvimento local e questões sócio-ambientais;

- Trazer elementos que permitam avaliar a viabilidade de projetos de desenvolvimento sustentável nos Lençóis Maranhenses que tenha como eixo principal a atividade de turismo.

- Avaliar como os diferentes atores sociais participam e influenciam no planejamento do desenvolvimento turístico;

- Examinar se as políticas públicas locais estão alinhadas com o desenvolvimento sustentável da região.

1.4. Delimitação do estudo

A pesquisa esteve circunscrita à verificação se o turismo é realmente promotor do desenvolvimento, sem perder de vista a valorização do homem e os impactos sobre a comunidade. Para esse intuito, a pesquisa se apoiou nos princípios de sustentabilidade delineados por Sachs (1993), compreendendo as dimensões ecológica, social, cultural, econômica e espacial. Foi escolhida a região dos Lençóis Maranhenses, que até então apresentava índices pífios de desenvolvimento econômico e onde o turismo vem assumindo a conotação de única alternativa viável para gerar o desenvolvimento econômico.

(18)

1.5. Organização do trabalho

O primeiro capítulo, Introdução, descreve o problema científico que norteou a realização da pesquisa, a sua relevância, os objetivos (final e intermediários) alcançados e a delimitação do estudo, além da forma como o trabalho foi organizado. No segundo capítulo, Referencial Teórico, é feita uma revisão da literatura que versa sobre turismo e desenvolvimento sustentável. São trazidas à discussão as opiniões de diversos autores sobre o tema do desenvolvimento, planejamento e as dimensões da sustentabilidade. Ao final, apresenta-se a perspectiva sistêmica da sustentabilidade e a visão de que as cinco dimensões são interdependentes.

No terceiro capítulo, Metodologia, apresenta-se o método de investigação utilizado. Nele, estão descritas as tipologias de pesquisa que auxiliaram na investigação, a forma como os dados foram coletados e tratados e, ainda, a análise e os seus procedimentos realizados para chegar às conclusões. O quarto capítulo, Resultados, apresenta, em primeiro plano, a situação sócio-econômica da região pesquisada e um histórico da chegada do turismo como alternativa econômica. Em seguida, e à luz das entrevistas realizadas, analisam-se as dimensões da sustentabilidade. Cada dimensão é avaliada de forma detalhada, confrontando-se a opinião dos entrevistados com a perspectiva maior de desenvolvimento econômico.

No quinto capítulo, Conclusões, evidenciam-se os conflitos e as contradições dos diversos atores quanto às suas perspectivas. Finaliza-se com uma série de propostas que possam nortear a administração pública no sentido de agir em busca do desenvolvimento sustentável. Por fim, as Referências Bibliográficas que apoiaram esta pesquisa e um apêndice com fotografias da região pesquisada.

(19)
(20)

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo demonstra em quais autores a pesquisa se apoiou para estudar o problema identificado. Por essa via, objetivou-se proceder a uma revisão da literatura que versa sobre o turismo e a sua relação com o desenvolvimento sustentável, trazendo à discussão as dimensões da sustentabilidade, vistas pelas variadas correntes de pensamento dos autores abordados.

2.1. O turismo

O turismo representa um dos mais importantes segmentos econômicos da atualidade pela sua capacidade de promover o desenvolvimento de uma região. Trata-se de uma indústria de grande complexidade por se relacionar com diferentes setores da economia. Seus resultados não se limitam apenas aos setores envolvidos, mas também a outros setores por meio do chamado

efeito multiplicador.

2.1.1. Histórico do turismo

O homem moderno aproveita quase todas as oportunidades para fugir do sedentarismo que a atividade cotidiana lhe impõe. Tanto os curtos programas dos feriados e finais de semana quanto as longas viagens de férias fazem as pessoas se submeter a longas filas em carro, em terminais de ônibus, trem e aviões, comprimindo-se em praias, hotéis, lojas, restaurantes e pontos turísticos, pagando um custo elevado para “desligar-se e refazer as energias, desfrutar da independência e da livre disposição do próprio ser, entabular contatos, descansar, viver a liberdade e procurar um pouco de felicidade” (KRIPPENDORF, 2001; p.15).

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esgotamento físico. Entretanto, atividades sociais, como jogos e festas religiosas vieram se somar às mudanças de atitude frente ao trabalho. Durante a Idade Média, com a consolidação das cidades e o trabalho familiar e artesanal, começou a surgir a necessidade das pessoas de se trasladar de um lugar a outro. Apareceram atrativos, como torneios e celebrações realizados em praças públicas, promovendo grandes aglomerações de pessoas. Boullón (1999, p.19-20) descreve esses eventos da seguinte forma (tradução livre).

O ajuntamento era outro lugar de função social na cidade medieval, em cujos solares, ao final da Idade Média, chegaram a celebrar-se bodas, bailes e recepções que ofereciam as famílias dos mercadores mais ricos. [...] Algumas publicações sobre o tema do turismo asseguram que em Baden-Baden se registrava um fluxo turístico desde o século XV [...]. Três a quatro vezes por ano as principais cidades celebravam importantes festas religiosas que atraíam a concorrência de peregrinos procedentes de muitas partes do país. Aproveitando essa ocasião, também chegavam mercadores de outros lugares, organizando algo parecido a nossas feiras internacionais. Esses viajantes se moviam não pelo prazer de viajar, que nessa época não tinha nada de agradável, mas para chegar aos santuários de sua devoção.

Ainda segundo Boullón (1990), o período do Renascimento veio agregar o aspecto cultural aos interesses pelas viagens. A projeção das artes, das letras, das ciências e dos costumes, associada às profundas mudanças no sistema econômico (surgimento do capitalismo), ajudou a dinamizar o turismo,

A propensão por viagens pode ser explicada, ainda, pela maior disponibilidade de tempo e dinheiro e pelo desenvolvimento das facilidades de locomoção advindas da invenção das carruagens, do melhoramento das cartas náuticas e, posteriormente, da locomotiva. Com a Revolução Industrial, surgiram grandes impérios econômicos e, também, a classe média, cujo tempo livre praticamente foi extinto no novo balanço das relações trabalhistas. Essa relação só começa a se modificar no final do século XIX, quando a ociosidade institui a Belle Epoque em Paris, com seus restaurantes e cafés ao ar livre que

atraiam cada vez mais pessoas. O gosto pelas atividades ao ar livre e pelos esportes unia-se a exposições de padrão mundial, levando visitantes em número cada vez maior para as cidades patrocinadoras de tais eventos.

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assegura tratar-se da expropriação do tempo pela sociedade de consumo de massa, sempre ávida em criar novas necessidades, entre as quais a própria necessidade de viajar. A conjunção de todos esses fatores, no entanto, deu origem à indústria do lazer que, além de oferecer alternativas para ocupação do tempo livre das pessoas, criou toda uma gama de expectativas e desejos para atrair um número cada vez maior de turistas.

O setor de serviços assumiu papel predominante na economia mundial. O turismo está inserido neste setor e, diante das suas características de interação com outros setores econômicos (agricultura, indústria e comércio), está sendo tratado como novo paradigma – a indústria do turismo – suplantando a própria noção de serviços.

2.1.2. Definição de turismo

Turismo, segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), é qualquer viagem ou excursão, feita por lazer, a locais que despertam interesse. Existem autores que entendem o turismo como o deslocamento ou movimentação temporária de pessoas do local onde mantém residência permanente por razões que dizem respeito ao descanso do espírito e do corpo ou, ainda, do trabalho (BATISTA, 2003). A Organização Mundial do Turismo (OMT), por sua vez, oferece uma conceituação para os turistas levando também em conta o tempo gasto nas viagens. Nesse enfoque, o Instituto Brasileiro do Turismo (EMBRATUR) adapta a definição da OMT, definindo os turistas como “as pessoas que viajam a lugares distintos do seu entorno habitual, aí permanecendo pelo menos 24 horas ou um pernoite e no máximo um ano no local visitado, com fins de lazer, negócios e outros” (EMBRATUR, 2004; p.14-15).

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assim como a atividade passou a ter uma expansão notável em razão da popularização das viagens em países desenvolvidos (Ouriques, 2005). A partir de então, o turismo passou a ser considerado como um conjunto de princípios norteadores das viagens (seja por prazer ou utilidade), tratando tanto daqueles que viajam quanto daqueles que recebem ou facilitam os deslocamentos (Batista 2003).

Na década de 1970, a Organização dos Estados Americanos (OEA) passou a utilizar conceito cunhado por Boullón (1990), que considera o turismo como atividade econômica voltada para a prestação de um conjunto de serviços ofertados ao turista. Para Boullón, esses serviços estão obrigatoriamente relacionados entre si. A simples ausência de um deles pode acarretar problemas em todos os demais.

2.1.3. Turismo e desenvolvimento econômico

O turismo é uma atividade capaz de proporcionar rápido desenvolvimento econômico. Dados do World Travel & Tourism Council

(WTTC, 2004) revelam que, em nível mundial, serão US$ 6.201,5 bilhões em atividades econômicas (demanda total), revertendo-se em um crescimento nominal até 2015 de US$ 10.678,5 bilhões. Em termos de emprego, o turismo mundial gera crescimento médio de 3% nos postos de trabalho, taxa que deve se manter constante até 2015. A indústria do turismo espera contribuir, em 2005, com cerca de 3,8% do Produto Interno Bruto. Além disso, o WTTC informa que serão investidos em 2005 cerca de US$ 918,0 bilhões, representando 9,4% do total de investimentos do ano, taxa essa que deverá chegar em 2015 a algo próximo a 10%.

Ruzza (2003) considera que o turismo é visto como um meio para os países alcançarem seus objetivos econômicos. Ele cita que a União Européia vale-se dos resultados proporcionados pelo turismo para melhorar as relações entre as diversas culturas no tocante à mobilidade dos cidadãos, assim como estimular o crescimento de áreas deprimidas.

(24)

Essa nova indústria é capaz de oferecer um rápido crescimento econômico em termos de nível de empregos, distribuição mais justa da riqueza, melhoria da qualidade de vida e incremento de alguns setores industriais ligados à atividade turística. Essas são as razões pelas quais países desenvolvidos investem grandes somas de recursos numa atividade que pode tornar-se uma força motriz no desenvolvimento econômico e social (BATISTA, 2003; p.2).

Alguns autores falam do “efeito multiplicador” associado ao turismo. De acordo com Sancho (2001, p.10), “o efeito multiplicador da renda é produto da interdependência existente entre os diversos setores econômicos; de maneira que o aumento da demanda dos bens ou serviços produzidos por um setor gera, por sua vez, o acréscimo na demanda de bens e serviços procedentes de outros setores”. Barbosa (2002) segue esse conceito e afirma que as mudanças nos gastos turísticos repercutirão nos níveis de produção da economia como um todo, afetando a taxa de desemprego, a renda das famílias, a receita do governo e, também, a balança comercial.

Os gastos turísticos têm um efeito cascata sobre a economia. Este começa com o turista gastando nos serviços chamados “front line”,

como transporte, hotéis e restaurantes, que são drenados para o resto da economia (BARBOSA, 2002; p.3).

Se antes o turismo não era visto como fator de desenvolvimento econômico, a partir do séc. XX os países começaram a perceber o potencial de negócios dessa atividade. Para Holanda e Vieira (2003), a maioria dos países, em especial os europeus arrasados pela Segunda Guerra Mundial, perceberam que o fluxo de divisas era uma forma invisível de exportação que permitia sustentar a sua balança de pagamentos.

O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BIRD e o Banco Internacional de Desenvolvimento – BID patrocinaram vários estudos de viabilidade e reservaram parte de suas linhas de crédito industrial para o financiamento de projetos de hotéis e motéis de pequeno e médio portes, além de empréstimos para novos centros turísticos (HOLANDA E VIEIRA, 2003; p.276).

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[...] o governo e a classe empresarial brasileira, na década de 1970, em pleno “milagre econômico” e diante da vocação natural do Brasil e da potencialização do “turismo em massa”, imprimiram a esse setor alternativa viável e importante para o desenvolvimento econômico, atribuindo-lhe também o caráter de força estratégica para a redução dos graves problemas sociais brasileiros, principalmente por sua potencialidade de geração de empregos. Assim, num clima de muita euforia, o sistema turístico emergiu como um novo télos 2 de desenvolvimento econômico e como o baluarte

para a solução dos problemas sociais (ZOUAIN E CRUZ, 2004; p.40).

Vê-se que os países periféricos, como o Brasil, não fugiram à tendência mundial. Contribuiu para isso a qualidade dos destinos, representada pelas paisagens exóticas e exuberantes. Turistas endinheirados oriundos de países do Primeiro Mundo passaram a buscar recantos paradisíacos em suas férias, ajudando a reforçar a imagem de que o turismo, notadamente o internacional, significaria a redenção da pobreza. Convém, nesse aspecto, avaliar a opinião de Ouriques (2005):

Grandes levas de turistas europeus e estadunidenses, principalmente, “invadiram” recantos inusitados com o intuito de aproveitarem as férias. Especificamente a partir dos anos sessenta, em um crescente número de países, os empreendimentos turísticos passaram a representar a oportunidade de alavancar o desenvolvimento econômico (OURIQUES, 2005; p.15).

A despeito do esforço empreendido e dos resultados econômicos obtidos, o turismo não vem proporcionando o desenvolvimento social esperado. Oliveira (2004) aponta uma série de impactos negativos ao meio ambiente e à cultura local, que podem ameaçar a própria indústria turística local em médio e longo prazo. Holanda e Vieira (2003; p.276) advertem que, “em nome dos benefícios econômicos, questões sociais foram negligenciadas, atrocidades ao meio ambiente foram cometidas e a cultura de populações nativas foi descaracterizada”. Zouain e Cruz (2004; p.40) identificaram que “o desenvolvimento das atividades turísticas tem gerado retrocessos em termos de desenvolvimento social”.

Spilanis e Vayanni (2003) verificaram que o crescimento rápido e incontrolado do fluxo turístico tem causado significantes impactos negativos no meio ambiente. Em alguns casos, dizem eles, o fenômeno é tão intenso e difícil

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de reverter que, combinado com a baixa qualidade dos serviços, contribui para a contínua degradação do produto turístico e para a redução dos resultados para as comunidades hospedeiras e para a economia nacional. Eles ressaltam que, se essa tendência continuar, a sustentabilidade da indústria do turismo se torna incerta.

Krippendorf (2001) identificou, ainda, que os nativos das regiões visitadas começam a manifestar sinais de descontentamento com a invasão dos seus espaços e com a sensação de exclusão. O autor afirma que eles desejam libertar-se do jugo turístico, elevando a sua participação no processo de desenvolvimento da região onde vivem e não ter que transformá-la em local de repouso reservado aos outros. Assim ele descreve a situação:

Se estudarmos a questão com cuidado, considerando todos os fatores, certamente constataremos que, num grande número de setores, o custo suportado pela sociedade, pela economia e pelo meio-ambiente ultrapassa largamente os benefícios adicionais alcançados. [...] Criou-se, na maioria das zonas de descanso e das regiões de férias, um mercado de construção que obedece a leis próprias e que se dissociou completamente do turismo. A renda do solo a qualquer preço, a construção de novos chalés, de apartamentos de férias, de prédios com apartamentos do tipo conjugados, hotéis e outras construções prosseguem em ritmo acelerado. [...] As paisagens perdem, a cada dia, um pouco mais da aparência natural. A atração pelo lucro a curto prazo, que motiva algumas pessoas em detrimento dos interesses a longo prazo das populações, desperta o interesse em preservar a natureza, ter um espaço de descanso e manter a economia viva (KRIPPENDORF, 2001; p.20).

O turismo, quando explorado com objetivos meramente econômicos, transforma-se em turismo de massa3. As pessoas acreditam que podem aprender a conviver com ele de forma a contornar os seus excessos. Na maioria das vezes, conforme atesta Krippendorf (2001), nada poderão fazer a não ser contemplar os efeitos que causará na ecologia e nos campos psicológico e socioeconômico.

A preocupação mundial, portanto, reside no balanço dos impactos causados pelo turismo, que tanto podem ser positivos quanto negativos. O

3

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resultado depende necessariamente da gestão adotada e ela passa pelo processo de planejamento e desenvolvimento, no qual a sociedade, as empresas e o Estado devem ter papel importante. Como todas as transformações, especialmente as econômicas, produzem efeitos diretos nas comunidades e no ambiente, a Cambridge University defende a conciliação

internacional por meio de leis que possam regular as atividades econômicas de maior impacto. Para muitos autores, o Estado assume a iniciativa do processo de planejamento, criando mecanismos que favoreçam a atração de investimentos sem descuidar da regulamentação e do acompanhamento dos empreendimentos.

No tópico seguinte, iremos discutir o pensamento de alguns autores acerca do planejamento e do desenvolvimento no âmbito da economia em geral e do turismo em particular. Procuraremos confrontar pontos de vistas de forma a embasar o papel de cada ator na definição do modelo que melhor se apresenta a cada região.

2.2. Planejamento e desenvolvimento sustentável

Sachs (1972) caracteriza como frustrantes e extremamente simplistas as teorias de desenvolvimento colocadas em circulação ao final da Segunda Guerra Mundial. Ele visualiza um economicismo estreito no sentido de fazer crer que, no momento em que o crescimento rápido das forças de produção estiver assegurado, todo o processo de desenvolvimento se estenderá de forma mais ou menos espontânea em todas as áreas da atividade humana. Nesse caso, bastaria aos países em desenvolvimento repetir o modelo dos países desenvolvidos.

Em geral, o termo desenvolvimento é visto por um ângulo bem

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(Os trabalhos e os dias), relatam o processo de transformação social e a forma como o desenvolvimento podia ser visto como benefício para a sociedade.

O padrão de vida social e econômica das aldeias do período Homérico era simples, possuindo como lógica a propriedade particular; de uma sociedade guerreira, que satisfazia suas necessidades através de lutas, conquistas e do pastoreio. Já o padrão de vida social e econômica da cidade-estado do período de Hesíodo era um pouco mais complexo, passando de um regime patriarcal para um regime oligárquico. Assim, há a passagem da primitiva forma de pastoreio para uma rudimentar agricultura, a sociedade começa a valorizar o trabalho da terra e a produção de alimentos para a sua sobrevivência, o trabalho tido como essencial para o desenvolvimento da nova sociedade e do próprio homem; de uma sociedade preocupada com os membros da comunidade, com o coletivo para uma sociedade individualizada (SHIGUNOV NETO E NAGEL, 2002; p.5).

É nessa época que a vida agrária vai aos poucos se transformando, começando a surgir as primeiras grandes cidades, com os homens apresentando novos valores. Ainda que a agricultura fosse exaltada como o fundamento da civilização, a nova concepção do trabalho é encarada como uma necessidade à sobrevivência humana e um princípio para a nova sociedade que surgia: o trabalho era a única forma de alcançar a riqueza e, por extensão, o próprio desenvolvimento da sociedade.

O advento do capitalismo foi o ponto definitivo de ruptura. “Com as idéias dos iluministas, o bom cidadão será então colocado em concorrência

com o cidadão comerciante que passa a ser visto como o modelo de homem

na sociedade nascente” (ANDION, 2003; p.1035). O sucesso econômico pessoal é visto como promotor do bem-estar social.

A certeza de que o progresso individual leva ao progresso coletivo está presente na gênese do capitalismo de Adam Smith e se reproduz em quase todo pensamento da economia clássica, passando por David Ricardo, Schumpeter e até mesmo Karl Marx. A diferença entre esses pensadores reside apenas no foco que é dado ao controle. Para os capitalistas, o mercado livre regula a economia, enquanto para os marxistas é o Estado quem dá a ênfase econômica.

(29)

baseado na economia de mercado que promove desigualdades incapazes de serem avaliadas por indicadores com base em renda nacional, “que fornecem sinais enganosos à sociedade, porque o mercado não capta todos os fatores que contribuem para o bem-estar humano (ou sofrimento humano)” (SACHS, 1993; p.35).

A partir dos anos de 1950, surge a corrente desenvolvimentista, inspirada no modelo fordista de produção, com dois esteios de sustentação: o primeiro, representado pelo Estado, como promotor dos direitos sociais básicos; o segundo, pelo crescimento econômico decorrente do livre mercado. Andion (2003) cita que essa concepção tinha por objetivo modernizar regiões atrasadas por meio de modelos de produção e de consumo.

Anos mais tarde, o mundo começa a dar sintomas de que o consumo e a mobilidade social típicas do fordismo não mais se sustentariam, reforçando o pensamento de Sachs (1972, p.3) no sentido de que “não pode haver desenvolvimento em longo prazo sem uma vontade de desenvolvimento organizada em um projeto de civilização coerente”. E ainda acrescenta que “o processo de desenvolvimento exige um procedimento institucional flexível em que o debate sobre as alternativas ocupe posto essencial”4. Por sua vez, Dowbor (1999; p.5) afirma que “já não se trata mais de escolher entre o Estado e o privado, entre o social e o econômico. O conceito-chave não é escolha e

sim articulação”. Ele vai adiante ao afirmar que:

[...] a articulação de estado, mercado e sociedade civil em torno dos grandes objetivos não constitui uma simples opção de eficiência técnica. Ao deixar de lado a visão da utopia acabada e ao optar pela construção e reconstrução permanente dos objetivos sociais, optamos pelos meios democráticos de tomada de decisão como elemento central da construção dos objetivos. Não basta que uma empresa, ou o Estado, faça algo que seja bom para as populações.Trata-se de compreender que o direito de construir o próprio caminho e não apenas o de receber coisas úteis sob forma de favor, seja do Estado ou de empresas, constitui uma parte essencial dos nossos direitos (DOWBOR, 1999; p.8).

No Brasil, o pensamento econômico voltado para o desenvolvimento começou a se consolidar no período de 1950 a 1980 em decorrência de um inconformismo com as teorias formuladas nos países mais avançados.

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Começava a tomar corpo “um pensamento econômico autônomo, disposto a identificar as peculiaridades de nosso processo de desenvolvimento” (REGO, 2004; p.44), a despeito da crônica vulnerabilidade externa da sociedade brasileira às teorias econômica, política, tecnológica, militar e ideológica, como trata Guimarães (2005). Esse nível de dependência fazia com que as elites locais sempre procurassem nos modelos estrangeiros toda e qualquer solução para o desenvolvimento.

Para esses novos economistas, o subdesenvolvimento estava vinculado à superexploração imperialista5, perpetuando as desigualdades, pensamento este que ficou conhecido como Teoria do Imperialismo. Nos anos de 1960, surgia a Teoria da Dependência que, contrapondo-se à Teoria do Imperialismo, destacava a existência de uma rede de interesses entre grupos e classes sociais calcada na forte presença das empresas multinacionais e na concentração de renda. Ou, como teria resumido de forma bastante crítica e irônica o economista Delfim Neto (apud Rego, 2004):

A Teoria da Dependência, desde o começo, é simplesmente uma retirada da posição inicial. Uma posição marxista, em que você tinha uma espoliação acentuada, é transformada no seguinte: ‘não vamos ter a ilusão, os estrangeiros se juntam aos empresários nacionais para continuar a exploração do sistema’, é isso que é a teoria da dependência (DELFIM NETO apud REGO, 2004; p.60).

Para Amaral Filho (2001), o conceito de desenvolvimento é puramente econômico. Ele se expressa da seguinte forma:

Um processo de crescimento econômico que implica uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes de outras regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região (AMARAL FILHO, 2001; p.262)..

Forjaz (2004; p.334), ao comentar a obra de Bresser-Pereira, posicionou-se a respeito do desenvolvimento como sendo um processo de

5

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transformações que devem ser ao mesmo tempo econômicas, políticas e sociais. O resultado mais direto dessas transformações deve reverter-se em benefício do aumento do padrão de vida da população, de forma automática, autônoma e auto-sustentada.

O conceito extraído da obra de Besser-Pereira nos leva à concepção de que o desenvolvimento não se esgota no crescimento, mas incorpora também um processo integrado de transformação econômica, social e política, sob a ótica da sustentabilidade. Para ele, as instituições são fundamentais já que o Estado, como principal instituição, pode (ou não) estimular os empresários a investir.

Bresser-Pereira (2004) entende que, a partir da globalização, os principais países do mundo deixaram de se enxergar como inimigos dispostos a iniciar uma guerra. Continuaram, porém, a se tratar como adversários comerciais. Sob a ótica econômica, a globalização se traduz na competição generalizada entre os Estados nacionais por meio das suas empresas, o que os leva a continuar desempenhando um papel econômico fundamental. Na medida em que a onda neoliberal coloca em confronto o mercado e o Estado, reduzindo o tamanho deste último, a estratégia globalista visa à perda da autonomia e a impor a hegemonia americana e européia ao resto do mundo. Bresser-Pereira defende, portanto, um Estado forte que possa dar garantias de um mercado igualmente forte. Para ele, só Estados fortes garantem mercados bem regulados e eficientes e que possam se desenvolver de forma sustentada. Além disso, a globalização tem-se transformado no grande desafio da humanidade quando examinada pelo ângulo da crise ecológica resultante do processo de desenvolvimento acelerado.

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O mundo percebeu, de forma muito lenta, a gravidade dos problemas ambientais resultantes dos processos de crescimento e desenvolvimento. Barbieri (1997) fala-nos que esse processo de percepção se deu em três etapas, estando a primeira relacionada com a percepção de problemas localizados decorrentes de ignorância, negligência, dolo ou indiferença das pessoas. Tais problemas foram atacados pelas ações meramente reativas, corretivas ou repressivas. Na segunda etapa, os problemas ambientais passaram a ser percebidos como problemas generalizados, ainda que restritos a alguns países em particular. Acrescentaram-se soluções de intervenção governamental para prevenir os males. Na terceira etapa, a degradação ambiental passou a ser vista como um problema global, levando ao questionamento das políticas de desenvolvimento baseadas em metas econômicas. A partir daí, os problemas deixaram de ser vistos apenas como degradação ecológica, incorporando também as dimensões sociais, políticas e culturais.

Para Sachs (2002), o grande desafio não é retroceder aos modos de vida dos nossos ancestrais, que lutavam pela sua sobrevivência nos ecossistemas, geralmente de modo criativo e baseado no conhecimento que detinham da natureza. Ele propugna a necessidade de ser adotada uma abordagem holística pela humanidade, “na qual cientistas naturais e sociais trabalhem juntos em favor do alcance de caminhos sábios para o uso e aproveitamento dos recursos da natureza” (SACHS, 2002; p.31-32). Conclui, afirmando que conservar e aproveitar a natureza não são antagônicos e que o uso produtivo não precisa necessariamente destruir a diversidade.

Capra (2003) segue essa mesma linha de pensamento. Para ele, as preocupações com o meio-ambiente já adquiriram status de suprema

importância. Os problemas que estão levando à danificação da biosfera não podem mais ser estudados de forma isolada, posto que são sistêmicos, estão interligados e são interdependentes.

(33)

Objetivava-se encontrar instrumentos capazes de interferir no espaço internacional, para firmar as bases de relações entre o ambiente e o desenvolvimento. Na ocasião, foram rejeitadas as teses dos Malthusianos

(acreditavam que os recursos naturais estavam esgotados e os progressos técnico-científicos não eram capazes de estancar os malefícios) e dos

Cornucopianos (defendiam que a capacidade de ajuste dos problemas era

ilimitada). Desse confronto, surgiu o termo ecodesenvolvimento6, anotado por

Sachs, como fruto de uma polêmica entre os partidários do crescimento selvagem e os que defendiam o crescimento zero.

Em lugar de aceitar tais propostas, a idéia do ecodesenvolvimento colocou na ordem do dia um novo campo de estudos do desenvolvimento em que a contribuição das populações locais passou a ser valorizada. As soluções para os problemas deveriam ser encontradas no próprio local (endógenas) em vez de serem copiadas de outras regiões.

Apesar de óbvio, o conceito de ecodesenvolvimento sofreu ataques na Conferência de Estocolmo, em 1972. Países desenvolvidos e países em desenvolvimento ou não desenvolvidos confrontaram-se na aplicabilidade das medidas ecodesenvolvimentistas. Enquanto os países desenvolvidos manifestaram preocupação com a poluição e seus reflexos na gradativa redução da qualidade de vida, os países não desenvolvidos queriam sair dessa condição nos mesmos moldes adotados pelos primeiros. Brasil e Índia destacaram-se em seus pronunciamentos, defendendo o desenvolvimento a qualquer preço.

6

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Aos poucos a expressão ecodesenvolvimento foi sendo substituída por desenvolvimento sustentável7. Frey (2001) entende que a comunidade

internacional é favorável à concepção desse tipo de desenvolvimento, na forma definida pela Comissão Brundtland8, ou seja, aquele tipo de desenvolvimento

que “atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades” (Giansanti, 1998; p.10). Para que isso de fato possa ocorrer, o documento do World Wide Fund for Nature recomenda como estratégia mundial os seguintes objetivos:

(1) Manter os processos ecológicos essenciais e os sistemas naturais vitais necessários à sobrevivência e ao desenvolvimento do Ser Humano; (2) preservar a diversidade genética; (3) assegurar o aproveitamento sustentável das espécies e dos ecossistemas que constituem a base da vida humana (BARBIERI, 1997; p.23).

Com a realização da ECO 929 no Rio de Janeiro, o conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se popular, apesar de que nem todas as questões tenham sido respondidas. Duas questões repercutiram mundialmente: a) qual o nível de consumo suportado pela Terra? b) o que pode acontecer com os recursos naturais se todos os países do mundo viessem a ter o mesmo padrão de consumo dos países desenvolvidos? (BARBIERI,1997):

A sustentabilidade depende não só dos padrões de consumo que se deseja alcançar como também da forma como os recursos naturais são explorados, que, por sua vez, é resultante do tipo de desenvolvimento praticado.

A história nos pregou uma peça cruel. O desenvolvimento sustentável é, evidentemente, incompatível com o jogo sem restrições das forças de mercado. Os mercados são por demais míopes para transcender os curtos prazos (Deepak Nayyar) e cegos

7 A expressão Desenvolvimento Sustentável surgiu em 1980 no documento

World Conservation Strategy produzido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e World Wildlife Fund (atualmente World Wide Fund for Nature – WWF), por solicitação do Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

8 Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), criada em 1983 pela ONU e presidida por Giro Harlem Brundtland.

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para quaisquer considerações que não sejam lucros e a eficiência smithiana de alocação de recursos (SACHS, 2002; p.55)10.

Ao analisar os diversos modelos de desenvolvimento sustentável na literatura, com ênfase no papel do Estado e na participação cidadã, Frey (2001) deparou-se com três tipos de concepções, que se encontram sumarizadas a seguir.

2.2.1. Abordagem econômico-liberal de mercado

Essa abordagem pressupõe que a livre concorrência, o crescimento econômico e a prosperidade são as bases que levam automaticamente “ao uso racional dos recursos naturais, ao progresso tecnológico e a novas necessidades de consumo compatíveis com as exigências do meio ambiente” (FREY, 2001; p.3). Tudo isso se dá na medida em que consumidores cada vez mais conscientes se definem pelos produtos ecológicos. O consumo valorizado de tais produtos levaria as empresas a ofertar cada vez mais produtos e serviços ecologicamente corretos, criando um círculo retro-alimentado.

Existem críticas a esse modelo, entre as quais a formulada por Hardin (1968) ao classificar como um erro acreditar que seja possível controlar a humanidade em longo prazo por meio de um apelo para a consciência. Frey (2001) levanta opiniões antagônicas a esse modelo neoliberal, como o reducionismo de converter a economia em um fim em si mesmo, de forma muitas vezes interessada. Aqueles que são favoráveis ao modelo neoliberal rebatem tais críticas alertando que existe uma espécie de correlação negativa entre pobreza e desenvolvimento sustentável, de forma que essa situação só pode ser rompida com o crescimento econômico.

Um outro ponto que tem gerado discussão nesse modelo de desenvolvimento diz respeito ao interesse individual competitivo para a esfera

10 Deepak Nayyar, citado por Sachs, é professor de Economia na Jawaharlal Nehru University, Nova Delhi (Índia). Ensinou na Universidade de Oxford e na Universidade de Sussex (Inglaterra) e no Indian Institute of Management, em Calcutá. Foi também professor visitante na Universidade de Paris (Sorbonne) e publicou vários livros, entre os quais: India's Exports and Export Policies (Cambridge University Press); Migration, Remittances and Capital Flows

(Oxford University Press); Economic Liberalization in India: Analytics, Experience and Lessons

(Orient Longman); The Intelligent Person's Guide to Liberalization (Penguin Books); Trade and Industrialization (Oxford University Press); Economics as Ideology and Experience (Frank

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política. Frey se reporta à obra A Tragédia dos Comuns, de Garret Hardin11, para demonstrar que o comportamento racional de um indivíduo (sob seu ponto de vista) quanto aos recursos limitados leva o grupo a um comportamento irracional, já que os custos de uso dos bens comuns se distribuem ao grupo como um todo. Nesse caso, o custo x benefício individual se torna irracional quando a capacidade de carga12 do bem comum foi atingida.

Dowbor (1999), por seu turno, defende que as economias centradas no crescimento econômico, e que esperam que todo o resto decorra de um processo de ajuste natural, não são realistas. Para ele, tudo isso faz parte da “utopia dos equilíbrios naturais, versão liberal das ilusões sociais” (DOWBOR, 1999; p.7). Por essa razão, o liberalismo começa a admitir a possibilidade de ampliação da esfera estatal, que pode ser sintetizada em duas correntes: a corrente utilitarista, que aceita conseqüências negativas para alguns membros da comunidade quando os resultados superam os custos individuais, e a corrente contratualista, que está voltada para os pressupostos morais que, no liberalismo, orientam as escolhas autônomas e, por isso mesmo, defende a mudança de comportamento dos indivíduos com base na consciência, sem violar o direito de agir de acordo com suas próprias convicções.

Esses enfoques (utilitarista e contratualista) aproximam-se das abordagens estatista e societal tratadas a seguir.

2.2.2. Abordagem ecológico-tecnocrata de planejamento

Essa abordagem tem como pressuposto a possibilidade de planejamento do desenvolvimento, ou seja, a intervenção do Estado como única alternativa para evitar os efeitos negativos do crescimento econômico.

11

A "Tragédia dos Bens Comuns" foi definida em 1968 por Garret Hardin como a utilização desordenada e competitiva dos recursos naturais que, ao mesmo tempo que pertencem a todos, não pertencem a ninguém em particular.

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Trata-se de uma visão biocentrista, ou seja, toda e qualquer política deve estar subordinada à sustentabilidade da natureza13.

Barbosa e Zamot (2004) acreditam que toda forma de desenvolvimento econômico requer o necessário processo de planejamento, única maneira de atingir o objetivo proposto. Eles defendem o papel da esfera pública no âmbito do turismo da seguinte forma:

Como a indústria do turismo não controla todos os fatores que constituem o atrativo de destino, e o impacto sobre a população anfitriã pode ser substancial, é necessário que as opções relativas ao desenvolvimento do turismo sejam consideradas nos escalões mais altos do governo, e que a estrutura administrativa pública adequada seja definida para assegurar o desenvolvimento sustentável (BARBOSA E ZAMOT, 2004; p.91).

A abordagem ecológico-tecnocrata de planejamento também sofreu algumas críticas, entre as quais, a de que freqüentemente vem acompanhada de uma postura centralizadora, principalmente quando existem conflitos de poder marcados pelos mecanismos de controle e coordenação (Frey, 2001).

Mais uma vez, o autor recorre à Tragédia dos Comuns, citando Ophuls (1997) e Heilbroner (1974)14 que consideraram inevitáveis as restrições

econômicas em condições de escassez de recursos. Para Ophuls, por exemplo, é necessário estabelecer um equilíbrio de longo prazo entre as demandas da população e o meio ambiente, somente atingido por meio das forças coercitivas do Estado. Diante da inexistência de maturidade da população para se impor auto-restrições, somente um governo forte pode garantir o interesse comum da ecologia.

Nota-se que a abordagem manifesta deficiências facilmente combatíveis. Se as estratégias tecnocratas e centralizadas podem gerenciar o emprego eficiente de recursos à disposição do meio ambiente, a sua aplicação em sistemas democráticos gera situações embaraçosas.

13 Concepção filosófica conhecida como Ecológica Profunda (

deep ecology). A ecologia

profunda não separa os homens da natureza mas como um fio particular da teia da vida. Em contraposição, a ecologia rasa é antropocêntrica (centralizada no ser humano) e atribui valor instrumental à natureza (CAPRA, 2003).

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A meta principal do planejamento, segundo Frey (2001) é a harmonização dos interesses sócio-econômicos, ecológicos e culturais. Nesse aspecto, Sachs (1993) pontuou cinco dimensões de sustentabilidade que devem ser levadas em conta no planejamento. Essas cinco dimensões – sustentabilidade social, sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade espacial e sustentabilidade cultural – trazidas à discussão mais adiante, consideram a participação da comunidade no processo de planejamento.

2.2.3. Abordagem política de participação democrática

Frey (2001) revela-nos que o Estado contemporâneo vem perdendo a sua capacidade de conduzir a política na medida em que existem diferentes atores com capacidade de negociação e pressão.

Em contraposição à abordagem ecológico-tecnocrata de planejamento, na abordagem política de participação democrática, a participação popular torna-se peça fundamental da política ambiental, indispensável para uma mudança substancial do atual quadro de políticas públicas. O planejamento deve ser compreendido não apenas como orientado pelas necessidades da população, mas também como conduzido por ela. Uma vez que as condições de poder político são vistas como responsáveis para os atuais problemas ambientais, afetando em primeiro lugar os mais pobres, é fácil compreender a reivindicação em favor da alteração dessas condições de poder, o que significaria dar um peso mais forte aos interesses anteriormente marginalizados nos processos políticos de decisão (FREY, 2001; p.13).

Nessa acepção, a população passa a ser a base das diretrizes políticas em lugar das elites oligárquicas. Os cidadãos se transformam nos principais atores do processo de planejamento. Nesse aspecto, convém ouvir Tenório (2000):

O desenvolvimento local que visa a ser integrado e sustentável é um processo de mobilização comunitária. Esse processo deve promover a sinergia entre os diversos atores sociais na utilização de potencialidades e recursos locais, para a realização de mudanças na socioeconomia municipal que ampliem as oportunidades sociais, aumentem a renda e melhorem a qualidade de vida da população (TENÓRIO, 2000; 0.261).

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estruturas de riqueza desigual e por uma aliança de classe hostil” (Friedmann

apud Frey, 2001; p.15). Por essa razão, é ressaltada a importância de um

planejamento que vise tornar mais amplo o espaço da economia baseada em relações verdadeiras, reciprocidade e diálogo, além de multiplicar a participação ativa em decisões que afetem as condições de vida e bem estar.

Além disso, e considerando a desigual distribuição do poder onde vige o regime liberal, a dominação por parte do capital revela o risco dos valores ambientais perderem sua primazia para a necessidade de produzir lucro imediato. Ou, como resumiram Zouain e Cruz (2004; p.40), “o bônus continua sendo do capital, e o ônus, da classe trabalhadora e da sociedade civil”.

Talvez por tais razões é que Oliveira (2004) considere essencial o papel do setor público em disciplinar o desenvolvimento turístico. O sua maneira de ver a situação foi descrita da seguinte forma:

Agências do governo, com a ajuda da sociedade civil, devem determinar e fiscalizar regras para o uso de recursos ambientais por meio de mecanismos de planejamento e gestão ambiental, como regras para licenciamento de projetos, diretrizes legais para o uso sustentável da terra, leis e projetos de conservação da fauna e da flora. Porém, os governos também têm de atender às demandas por serviços públicos [...], como estradas, aeroportos, sistemas de tratamento de esgoto, eletrificação e projetos de telecomunicação (OLIVEIRA, 2004; p.26).

A maioria dos autores reconhece a necessidade de uma participação mais ampla da sociedade na definição do planejamento turístico de forma a garantir o desenvolvimento sustentável. Como esse tipo de desenvolvimento está relacionado com a melhoria das condições de vida da população (atual e futura), a sua ligação não se restringe apenas ao bem-estar social mas também ao entendimento do mundo em que se vive (Barbosa e Zamot, 2004).

Entretanto, o conceito de desenvolvimento sustentável não é partilhado de forma uniforme entre acadêmicos e pensadores. Existem aqueles que entendem que o termo, em si, é contraditório (oximoro). “A palavra

desenvolvimento evoca idéias de crescimento econômico, mudança de padrão

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desigual. Outros acreditam que a sustentabilidade só pode ocorrer quando for possível atingir um nível de exploração permanente em que esta exploração se limite ao incremento do período, de forma a manter a base inicial de recursos.

Para Sachs (1993), existem três pontos onde há convergência de opinião: necessidade de reduzir o consumo excessivo, especialmente dos países industrializados; os sistemas econômicos dependem, para sobreviver, dos sistemas ecológicos; é preciso subestimar (e não superestimar) o poder do “remédio tecnológico”.

Diversas tentativas foram empregadas para delimitar o conceito de desenvolvimento sustentável. Barbosa e Zamot (2004) discutem a opinião de McIntyre, para quem o desenvolvimento sustentável deve englobar três áreas: sustentabilidade econômica, sustentabilidade social e cultural e sustentabilidade ambiental. De forma bastante aproximada, encontramos em Swarbrooke (2000) três dimensões empregadas ao turismo sustentável, que são: o meio ambiente, tanto natural quanto construído; a vida econômica de comunidades e empresas; os aspectos sociais do turismo, em termos dos seus impactos sobre culturas locais e turistas.

Sachs (1993) amplia essas áreas, visualizando cinco dimensões de sustentabilidade que devem ser consideradas em qualquer processo de planejamento de desenvolvimento: sustentabilidade social, sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade espacial e sustentabilidade cultural. Cada uma dessas dimensões será tratada a seguir. 2.2.3.1. Sustentabilidade social

A dimensão social se justifica com a ampliação do espaço público para atuação protagonista da comunidade na defesa dos seus interesses e definição das suas prioridades. Sachs (1993; p.37) especifica que “a meta é construir uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres”.

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central do processo de democracia, onde as pessoas têm os mesmos direitos e deveres, apesar do aparente paradoxo de que o status político vem em

conjunção com o sistema econômico baseado em desigualdades econômicas. Em Fleury (2004a), encontramos que a igualdade não está baseada na natureza humana, onde as diferenças sempre existirão. Entretanto, a identidade comum é uma construção política e jurídica necessária para assegurar a coesão natural entre indivíduos integrados na comunidade e que torna legítimo o exercício político do poder.

Ainda assim, as experiências de gestão municipal que envolvem a participação das comunidades têm sido incipientes no Brasil. Para Jacobi (2002; p.11), “existe um déficit de participação e de constituição de atores relevantes, o que pode redundar em fator de crise de governabilidade e de legitimidade”. Fleury (2004b) comenta explicações para esse aspecto, tiradas da obra de Hannah Arendt (1993), onde os fundamentos da condição humana são vistos na relação entre discurso e ação. Quando o indivíduo não encontra espaço para o discurso, ele torna-se despojado da sua condição de ator e impossibilitado de se ver inserido no processo de cidadania.

A participação cidadã começou a ganhar importância no final dos anos de 1960. Até então, os países da América Latina encontravam-se mergulhados em um processo de desenvolvimento baseado no planejamento e na forte presença do Estado, em que se imaginava que as diferentes tensões sociais seriam absorvidas pelo progresso industrial. As peculiaridades do corporativismo estatal colocaram as classes populares sob controle das classes dominantes, fazendo com que os benefícios sociais viessem a se tornar meros privilégios (Fleury, 2004a).

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Encontramos em Tenório (2002) a explicação apoiada na teoria de Habermas15 para uma sociedade democrática. Segundo ele, ainda no século

XIX, a razão firma-se como força produtiva de uma sociedade industrializada. A razão particularizada é remetida ao estágio de consciência subjetiva [...]. A espontaneidade da esperança, os atos da tomada de posição e sobretudo a experiência da relevância ou da indiferença, a sensibilidade em relação ao sofrimento e à opressão, a paixão pela autonomia, a vontade de emancipação e a felicidade da identidade encontrada são agora desligados para sempre do interesse vinculante da razão (HABERMAS apud TENÓRIO, 2002; p.51).

A razão, portanto, não consegue emancipar o homem uma vez que, conforme especifica Tenório (2002), utiliza critérios positivistas para analisar questões práticas. Nesse aspecto, o próprio Habermas adverte para a inconveniência de restringir a análise da racionalidade à sua fundamentação ou mesmo à sua suscetibilidade à crítica. Para ele, alguns aspectos importantes são deixados de lado e, para evitar tais situações, propõe uma discussão em torno de cinco ações.

Ação teleológica: “o ator realiza um fim ou faz com que se produza um estado de coisas desejado elegendo, em uma situação dada, os meios congruentes e aplicando-os de maneira adequada [...]”.

Ação estratégica: “a ação teleológica se amplia e se converte em ação estratégica quando, no cálculo que o ator faz de seu êxito, intervém a expectativa de decisões de ao menos outro ator que também atua com vistas à realização de seus próprios propósitos [...]”.

Ação normativa: é o comportamento não de um ator solitário em face de outros atores, mas perante os “membros de um grupo social que orientam sua ação por valores comuns [...]”.

Ação dramatúrgica: “não faz referência primariamente nem a um ator solitário nem ao membro de um grupo social, mas sim a participantes de uma interação que constituem uns para os outros um público ante o qual se põem a si mesmo em cena [...]”.

Ação comunicativa: “se refere à interação de ao menos dois sujeitos capazes de linguagem e de ação que (seja com meios verbais ou com meios extraverbais) entabulam uma relação interpessoal [...]. Aqui o conceito central é o de interpretação, referindo-se primordialmente à negociação de definições da situação suscetível de consenso” (HABERMAS apud TENÓRIO, 2002; p.71-72).

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Interessa-nos a ação comunicativa, por ser dialógica e, como tal, permitir que os diversos atores possam exercer, através de suas falas, o que pretendem. No âmbito da cidadania, a organização das sociedades se estrutura em dois princípios distintos: “lógica do sistema, que organizaria o mercado e o Estado, e a lógica da racionalidade comunicativa, que leva à organização da solidariedade e da identidade do interior da vida” (JACOBI, 2002; p.14). Esse autor registra que o problema reside em abrir espaços públicos no Estado sem fazer com que este perca a sua capacidade reguladora e defende que a sociedade só poderá conseguir algum tipo de influência na esfera pública na medida em que elevar a pressão por meio de suas demandas.

Fleury (2004a) cita que o cidadão é visto como um ser autônomo, razoável e responsável, com dois tipos de direitos: os chamados direitos libertadores, entre os quais o de associação, expressão, acesso à informação; e os direitos de participação, como o direito de eleger e, eventualmente, de ser eleito para posições no governo. Fleury adverte, porém, que o exercício da cidadania pressupõe o princípio da inclusão e, em conseqüência, o da exclusão, este último envolvendo todos aqueles que foram tutelados ou protegidos. A história da América Latina, onde a exclusão impossibilitou alguns grupos de participar das relações econômicas de mercado, mostra-nos uma trajetória onde a cidadania é de baixa densidade.

Em termos de Brasil, o período desenvolvimentista foi extremamente autoritário e vinculado aos interesses sócio-políticos, razão por que não foi capaz de desfazer-se da rigidez protecionista e de sua excludente organização social (Fleury, 2004a). Com a normalização política do País, surgiram atores com uma nova identidade democrática e poder de pressão capazes de criar espaços e formas de participação e relacionamento com o poder público (Jacobi, 2002).

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Tabela nº 01: Entrevistas realizadas
Tabela nº 02: Análise das entrevistas
Tabela 03: População Residente, por situação de domicílio, no Maranhão,  1950 – 2002.
Figura  01: Estrutura do produto Interno Bruto (PIB), segundo atividades  econômicas, 1996
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Referências

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