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Sobrecarga da infra-estrutura existente

3. METODOLOGIA

4.3. Desenvolvimento e sustentabilidade nos Lençóis Maranhenses

4.3.2. Sustentabilidade espacial e o desenvolvimento

4.3.2.1. Sobrecarga da infra-estrutura existente

A falta de estrutura nos municípios dos Lençóis Maranhenses para receber o turismo é uma realidade. Francisco Neves, do Sebrae, acredita que o turismo é mais rápido que a capacidade de resposta dos municípios. A sua opinião é a seguinte.

O turismo se desenvolveu em uma velocidade muito maior do que a do próprio município. Barreirinhas não estava preparada, não teve nem como [...] acompanhar, porque a divulgação desse potencial dos Lençóis e dessas maravilhas que tem aqui, como o rio Preguiças, [...] foi divulgado numa velocidade muito grande no mundo inteiro e Barreirinhas não estava pronta para isso. Tanto é que essas dificuldades se manifestaram depois dessa disseminação dessas informações. Houve aquela correria para Barreirinhas, vamos construir casas, fazer aquelas coisas e acabou gerando uma certa desorganização. E o próprio município não teve como acompanhar isso.

A maioria dos entrevistados na pesquisa reconhece o problema. A queda constante de energia elétrica parece ser o problema mais grave. O número de pousadas e hotéis cresceu de tal ordem que, na alta estação e no horário de pique, quando todos ligam as lâmpadas e ar-condicionado, é comum

acontecer problemas de tensão e até black-out. Franchesco, da Pousada Boa Vista, resume o problema nos seguintes termos.

A energia é um problema sério. A Companhia Elétrica do Maranhão não tem como sustentar a cidade de Barreirinhas. Quando a cidade está superlotada, cheia de turistas, a energia elétrica apaga. Falta de noite e só volta pela manhã. Não tem como com esta estrutura elétrica suportar a cidade. A cidade tem que pensar num plano, fazer uma nova linha.

O mesmo acontece com a telefonia. Gilson Oliveira, Secretário de Turismo em Barreirinhas, acha que as melhorias virão em breve. Segundo ele “na semana passada foram três dias sem telefone. Nem o fixo funcionava. [...] logo logo não vai acontecer mais”. Francisco Neves, do Sebrae, não tão otimista, opina que “a gente vê dificuldades de turistas aqui em relação à questão da comunicação, do telefone, de e-mails, [...] de outras formas de comunicação. Hoje, por exemplo [era dia 19/08/2005], aqui estamos sem comunicação de espécie nenhuma. Nem celular, nem telefone, nem e-mail”.

Existem aqueles que enxergam problemas além da falta de energia e telefone no município. Para eles, a deficiência na infra-estrutura é generalizada, incluindo até mesmo a falta de pousadas para um público mais seletivo. Wellington Freire, gerente do Banco do Brasil em Barreirinhas é uma dessas pessoas. Para ele “hoje, Barreirinhas não tem pousadas para atendimento a diversos setores do segmento da sociedade. Tem aquelas pequenas pousadas, pousadas medianas, falta a grande pousada”.

Antônio Ramos, piloto de voadeira, vai além. Ele considera a cidade de Barreirinhas desorganizada e entende que o turista vem com uma impressão melhor e sai decepcionado com o município. Vejamos sua opinião.

A cidade não tem estrutura, no caso, para receber o turismo. É que você não vê a melhora das coisas para receber o turismo. Então, é preciso uma cidade mais bem organizada, um atendimento melhor ao turista, para poder ter concorrência, porque tudo aqui é uma promessa, para poder receber o turismo aqui. [...] Na verdade, o turista diz: “a gente vem para cá, não pra ver a cidade, porque a cidade mesmo não tem estrutura para receber, mas para conhecer o Caburé, conhecer os Grandes Lençóis”. E na verdade, é que mais eles têm interesse de conhecer. Na cidade mesmo, até pouco fica.

José Carlos, pesquisador da Embrapa, também manifestou a sua opinião a esse respeito.

O turismo é uma excelente alternativa para o desenvolvimento da região. Entretanto, apesar do grande potencial turístico, por ser o portão de entrada para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o Município de Barreirinhas não conta com uma estrutura que suporte o grande fluxo de visitantes. Não está preparado para receber os turistas; não só pela inexistência de infra- estrutura como também pela falta de preparo da comunidade e do poder público local.

Fernando Azevedo, do Banco do Brasil, segue a mesma opinião.

Desde que cheguei, eu tenho um ano e três meses em Barreirinhas, me assustei logo de início com a precariedade de calçamento da cidade. [...] Há muito tempo já se vinha falando em turismo em Barreirinhas e eu pensava em uma cidade mais bem estruturada, infra-estrutura adequada para a população, para o turismo, e não foi isso o que eu encontrei, o que me deixou bastante surpreso. Com relação à pousada, uma boa infra-estrutura para acolher o turista, mas só que a cidade em si não oferece nada para o turista, se não for o passeio nas dunas, nos Grandes Lençóis, o passeio na praia dos Pequenos Lençóis. O turista na cidade tem somente o artesanato, alguns doces que são feitos, produtos caseiros, mas para a infra-estrutura da cidade, para o que Barreirinhas tem de potencial e a quantidade de turistas que recebe, deveria ter uma infra-estrutura muito melhor

Érika Pinto, do Ibama, resume o assunto da seguinte forma:

[...] toda a questão de Barreirinhas, de infra-estrutura da cidade, de ordenamento de construção, porque lá virou um caos. Especulação imobiliária a mil por hora. A cidade não tem uma área de lazer Na área pública você tem a praça do trabalhador, a duna, que é proibido construir porque a Prefeitura não tem mais nenhuma área dentro do Município. Se quiser fazer uma escola, a prefeitura não tem mais onde fazer. Fica tudo loteado, vendido, detonado.

O crescimento desordenado das cidades em função do turismo vem ao encontro do problema da falta de estrutura. Esse é um problema mais evidente em Barreirinhas, onde os investimentos estão sendo priorizados. Puppim de Oliveira, da FGV, identificou bem a situação.

O crescimento do turismo foi muito grande. A cidade cresceu um pouco de forma desordenada, principalmente a parte urbanística ali perto da margem do rio, que cresceu muito, com muitos empreendimentos onde existem até edifícios que eu cheguei a ver. Eu não sei se seriam compatíveis com a legislação que exige uma certa distância do leito do rio para fazer qualquer tipo de construção.

Efetivamente, a construção de pousadas e casas nas margens dos rios é um problema que vem sendo combatido pelo Ibama, como veremos mais à frente neste trabalho. Além de degradar a vegetação, desrespeitar a legislação das Áreas de Proteção Permanente, a ocupação das margens dos rios afasta os nativos das áreas de lazer que antes eram utilizadas livremente, tornando- as privativas de elites. Segregados em favelas e ocupações ilegais (invasões), os nativos passam a conviver com problemas de criminalidade e prostituição, agravados pelo maior fluxo de pessoas na região.

Fotografia nº 01: Casa construída na margem do rio Preguiças.