Estradas e trilhas em áreas naturais

Na visão do Ibama, esse tema se constitui em um dos grandes problemas dos Lençóis Maranhenses. O acesso de veículos tipo Toyota Bandeirante que os turistas pegam para chegar à Lagoa Azul, nos Grandes Lençóis, passa por “uma avenida que está fragmentando a vegetação em

quinhentas mil estradas”, informa Érika. Embora vedado o acesso de veículo às dunas, o impacto ocorre nas trilhas de acesso.

Fotografia nº 07: Veículos transportando turistas até as dunas

Observa-se que o turismo ainda é uma atividade recente nos Lençóis Maranhenses, de forma que os danos ambientais ainda não são tão evidentes. É notória a preocupação do Ibama e do Ministério Público com relação ao cumprimento da legislação ambiental. A construção desordenada nas margens dos rios, em flagrante desrespeito à legislação ambiental, tem sido objeto de pressão, autuação e aplicação de multa, sem prejuízo dos processos judiciais de natureza criminal. Outras mazelas começam a mostrar seus efeitos, como a produção de lixo sem tratamento ou destino, a coleta da vida selvagem e o uso excessivo de trilhas em áreas frágeis. Todos esses aspectos poderão comprometer a sustentabilidade em médio e longo prazo, caso não se adotem medidas corretivas no presente.

Na tabela seguinte, encontra-se uma síntese ou balanço dos aspectos positivos e negativos do turismo sobre cada uma das dimensões da sustentabilidade abordadas nesta pesquisa. Procura-se evidenciar, a partir dos depoimentos coletados, quais aspectos estão afetando a sustentabilidade sob as óticas estudadas.

Tabela 04: Aspectos positivos e negativos do turismo sobre o desenvolvimento sustentável nos Lençóis Maranhenses.

Dimensão da

Sustentabilidade Vantagens Desvantagens Econômica

• Turismo como negócio • Circulação de recursos na região

• Valorização dos imóveis • Perspectivas de pequenos

investimentos pelos nativos

• Maior parte das compras fora da região

• Especulação imobiliária • Grandes negócios restritos aos

investidores externos • Retenção local dos

recursos • Nenhuma • • Baixa retenção dos recursos Pouca arrecadação de tributos decorrente da inexistência de um sistema municipal de arrecadação.

• Turismo como

monoproduto • Nova fonte de receitas para a região • Efeito multiplicador da

economia

• Dependência do turismo • Não há articulação política no

sentido de dinamizar atividades que possam ser exploradas por nativos

Espacial

• Sobrecarga da infra-

estrutura • Nenhuma • Crescimento desordenado e mais rápido que a capacidade de resposta da região

• Oferta deficiente de energia, telefone e Internet

• Assentamentos

humanos • Nenhuma • Afastamento dos nativos das suas áreas de origem • Ocupação ilegal de áreas • Criação de favelas

• Uso do problema para fins políticos

• Promoção da

paisagem • • Divulgação da região Atração de novos investimentos

• Elevação do fluxo de turistas

• Despreparo da região para receber o turismo de massa • Deficiência na infra-estrutura • Ocupação irregular, destruição

da paisagem e degradação ambiental

• Superprodução de lixo e esgoto

• Quebra do padrão das construções tradicionais Cultural

• Aculturação e

corrupção de valores • Nenhuma • • Perda dos valores tradicionais Assimilação da cultura urbana • Reprodução do modo de vida

dos turistas

• Racismo e xenofobia • Nenhuma • Isolamento do turista (guetos) • Atrações turísticas • Oportunidade de mostrar as

manifestações culturais • Manifestações locais segregadas ao interior e vistas como exóticas

Social

• Participação cidadã no

planejamento • Nenhuma • Falta de espaço político para discussão dos problemas locais • Conselhos existentes funcionam precariamente • Geração de empregos e precariedade dos postos de trabalho • Geração de empregos e ocupação para a população local

• Oportunidades para capacitação

• Empregos em desacordo com as leis trabalhistas

• Baixa capacitação • Funções de menor

remuneração

• Baixo comprometimento do nativo com os empregos • Sazonalidade • Oferta de emprego na alta

estação • Desemprego na baixa estação • Prostituição, turismo

sexual e violência • Nenhuma • • Pedofilia Agenciamento de menores • Surgimento de casos de

violência • Declínio da auto-

estima, segregação e exclusão social

• Nenhuma • Locais fora da sede dos municípios enfrentam problemas com saúde, educação

• Aumento do êxodo rural • Ocupação desordenada e

criação de favelas

• Elevação geral dos preços Ambiental

• Consciência ecológica • Nativos empregados como guias e pilotos de voadeira demonstram preocupação com o meio ambiente

• Nenhuma

• Uso adequado do solo • Nenhuma • Falta de respeito à legislação ambiental

• Desarticulação dos órgãos na aplicação da lei

• Falta de recursos humanos e materiais para coibir

irregularidades

• Expansão de pólos agrícolas próximos eleva as

possibilidades de ocorrer problemas ambientais • Superprodução de lixo

e esgoto • Nenhuma • • Lixo e esgoto a céu aberto Poluição do rio • Ocorrência de epidemias • Uso excessivo dos

recursos naturais • Nenhuma • Supervisitação do Parque próxima à capacidade de carga • Coleta da vida

selvagem • Nenhuma • • Aprisionamento de animais Pesca predatória • Uso da vegetação para

artesanato e para a construção civil

• Estradas e trilhas

naturais • Nenhuma • Trânsito excessivo de veículos nas dunas e trilhas Fonte: Autor

Este capítulo mostrou o resultado da pesquisa empreendida nos Lençóis Maranhenses. Evidenciou-se a fragilidade do desenvolvimento sustentável a partir do turismo, analisado em cinco dimensões: econômica, espacial, social, cultural e ambiental. Viu-se que a região não conta com um planejamento adequado, incorrendo em erros graves que podem comprometer o futuro.

No próximo capítulo, apresentaremos as Conclusões. Nele estarão evidenciadas as contribuições desta pesquisa para reforçar o conhecimento sobre o reflexo do turismo sobre o desenvolvimento sustentável e, ainda, a sugestão de ações que possam auxiliar nas políticas públicas e estratégias que visem minimizar os efeitos negativos da atividade em regiões frágeis como os Lençóis Maranhenses.