• Nenhum resultado encontrado

Os efeitos da política de valorização do salário mínimo sobre o emprego e a distribuição de renda: simulações computacionais para análise de resultados teóricos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Os efeitos da política de valorização do salário mínimo sobre o emprego e a distribuição de renda: simulações computacionais para análise de resultados teóricos"

Copied!
528
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ECONOMIA – PPECO

MESTRADO EM ECONOMIA REGIONAL

OS EFEITOS DA POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO SOBRE O EMPREGO E A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS

PARA ANÁLISE DE RESULTADOS TEÓRICOS.

MARILIA MEDEIROS DE ARAÚJO

NATAL/RN

(2)

MARILIA MEDEIROS DE ARAÚJO

OS EFEITOS DA POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO SOBRE O EMPREGO E A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS

PARA ANÁLISE DE RESULTADOS TEÓRICOS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Regional.

Orientador: Dr. Fabrício Pitombo Leite.

Co-orientador: Dr. Paulo Fernando M. B. Cavalcanti Filho.

NATAL/RN

(3)
(4)
(5)
(6)

AGRADECIMENTOS

Fecha-se um ciclo. Representou tanto para mim que me sinto perdida agora que acabou. Mas outros ciclos se iniciarão, e só poderão iniciar porque me permiti ser forjada neste. Portanto, importa lembrar e dar a devida honra a cada um que tornou possível este ciclo começar e findar, as pessoas que proporcionaram tudo o que dele guardarei.

Guardarei as lições de amor ao duro esforço diário, ao preço alto da superação. Na

verdade, ninguém ama o esforço e a abnegação, ama-se os frutos do trabalho, que só florescem com suor. Mas as noites em claro e dias afobados só foram possíveis porque alguém assumiu minhas responsabilidades como mãe e dona de casa, e porque as minhas ausências foram compreendidas e apoiadas com todo amor. Assim, antes de todos, obrigada ao meu anjo na terra Raimunda Batista (Rai) e ao meu filho Luan Araújo. Sem vocês eu sequer teria ousado.

Guardarei marcados na alma os risos e as lágrimas, os pés de tropeço de uns, vencidos pela mão de suporte de tantos outros. Por isso, seguirei grata aos donos de cada uma dessas mãos: Vinícius Santos, Francisco Danilo, Camila Mirella, Ana Cristina, Matheus Diniz, Leo Melgaço, Ray Rabelo, Calisto pimenta, Severino Félix, Amélio Pilon. Vinícius, obrigada por tão boa companhia e pelas vezes que se importou com a minha segurança, bem estar e sucesso. Danilo, obrigada por existir! Você salva a fé na humanidade, sou grata por tê-lo conhecido. Camila, morar com você e Danilo foi um presente impagável, obrigada aos dois pela convivência harmônica, a ajuda mútua e as risadas de rolar no chão!

Guardarei o dia incrível que foi a defesa da dissertação, a impagável sensação de estar diante de uma banca satisfeita. Guardarei a voz do prof. Fabrício, meu orientador, ao comunicar que a banca decidiu por minha aprovação, com conceito A. Só eu terei a exata dimensão do que ouvir isso representou para mim, do tapa na minha cara que isso foi, por cada vez que duvidei. Ecoará em meus ouvidos cada vez que eu pensar em me abandonar. Para isso, contei com a sorte de que enquanto boa parte dos mestrandos é prejudicada com o descaso de seus orientadores, eu tive logo dois, e que empenharam muito além de perícia e competência ímpares: empenharam amor durante todo o processo.

(7)

nascido forte e bonito. Ao Professor Paulo é justo agradecer por permitir as alterações no seu modelo, e a dedicação exaustiva que isso implicou também a ele. Agradeço por ter não somente aceito o desafio, mas por ter se envolvido nele com tamanho entusiasmo, por não me deixar esmorecer nas tentativas frustradas, e por vibrar a cada etapa exitosa até que o modelo “funcionasse”, o que, depois disso, viria a exigir uma verdadeira maratona que não corri sozinha. Serei eternamente grata a ambos pelo compromisso e amor tão raros.

Guardarei a generosidade de quem me fez o bem gratuitamente. Assim, agradeço fortemente a:

Carolina Matos, por ter abrigado uma estranha, eu, em minha primeira semana na cidade; Joel Araújo e Tatiana Bicudo, pela guarida, conselhos, favores e suporte que sempre pude contar; Ana Carolina Bastos, pela solicitude, sua marca registrada; Leo Melgaço, pelos socorros com o computador; Matheus Diniz, pelas Caronas; Ana Cristina, pelas informações que ajudavam sempre a todos;

Meu pai Mário Araújo, pela ajuda para que esse sonho deixasse de ser impossível. À minha mãe, pelas vezes que se disponibilizou a resolver problemas meus enquanto eu estava fora do estado. Meu irmão Mário Henrique, pela ajuda com a revisão na reta final. À minha irmã Marina Araújo pela torcida sincera, e à minha vó Mercês por se preocupar.

Por fim, agradeço:

À Secretaria de Estado do Turismo e do Desenvolvimento Econômico - SETDE, representada pelo Secretário Laplace Guedes, e ao Núcleo estadual de Apoio aos Arranjos

Produtivos Locais – NEAPL-PB na pessoa de Dêlma Aquino, pela flexibilidade e apoio até a

(8)

“A esperança dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha pode se machucar... Azar! A esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista tem que continuar Tem que continuar Tem que continuar”

(9)

ARAÚJO, Marilia Medeiros de.Os Efeitos da Política de Valorização do Salário Mínimo sobre o Emprego e a Distribuição de Renda: Simulações Computacionais para Análise de Resultados Teóricos. Natal, 2016. Dissertação (Mestrado). Programa de pós-graduação em Economia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

RESUMO

Esta dissertação consistiu em avaliar os efeitos da Política de Valorização do Salário Mínimo sobre o emprego e a distribuição de renda no longo prazo. Com base nas teorias de Keynes e Kalecki foram discutidos os efeitos de um aumento do salário sobre o nível de emprego e sobre a distribuição de renda, e os prováveis canais e fatores a partir dos quais esses efeitos podem incidir sobre as variáveis em questão. A metodologia da dissertação consistiu em gerar simulações computacionais, com base no modelo macroeconômico multissetorial MKS, desenvolvido por Cavalcanti Filho (2002), para testar os efeitos da PVSM e identificar se foram válidos os canais e fatores keynesianos e kaleckianos. Para um conjunto de combinações de parâmetros de políticas econômicas (alíquotas tributárias e regras para a expansão dos gastos públicos e de determinação das taxas de juros pelo Banco Central), a análise das simulações gerou resultados que correspondem aos apontados pelos fundamentos teóricos. Conclui-se que, para as diferentes combinações de políticas fiscal e monetária simuladas, a Política de Valorização do Salário Mínimo se mostrou eficaz para expandir o emprego e melhorar a distribuição de renda em favor dos trabalhadores.

(10)

ABSTRACT

This research aimed at evaluating the effects of Minimum Wage Enhancement Policy of employment and long-term income distribution. Based on the theories of Keynes and Kalecki, the effects of salary raise on employment and on income distribution were discussed as well as the channels and factors from which these effects may relate to the variables involved. The methodology of this dissertation consisted of generation of computer simulations based on the multisectorial macroeconomic MKS model developed by Cavalcanti Filho (2002) to test the effects of Minimum Wage Enhancement Policy and check whether the keynesian and kaleckian channels and factors and were valid. For a set of economic policy parameter combinations (tax rates, rules for the expansion of public spending and the determination of interest rates by the Central Bank), the analysis of the simulations generated results that correspond to the ones mentioned by the theoretical basis. The conclusion is that for different combinations of fiscal and monetary simulated policies, the Minimum Wage Enhancement Policy is effective to expand employment and improve income distribution in workers favor.

(11)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12

2. A DETERMINAÇÃO DO EMPREGO E OS EFEITOS DA VARIAÇÃO DOS SALÁRIOS: A TEORIA GERAL DE KEYNES ... 17

2.1 A DETERMINAÇÃO DO EMPREGO: O PAPEL DA DEMANDA EFETIVA ... 19

2.2 FATORES QUE INFLUENCIAM A DEMANDA AGREGADA. ... 32

2.3 A INCERTEZA E A INSTABILIDADE NO NÍVEL DE EMPREGO. ... 38

3. A DINÂMICA DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA EM KALECKI ... 47

3.1 A EQUAÇÃO DE PREÇOS DE KALECKI ... 47

3.2 A DETERMINAÇÃO DOS LUCROS E SALÁRIOS EM KALECKI ... 49

3.3 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: A PARTICIPAÇÃO DOS SALÁRIOS NA RENDA. ... 55

4. O MODELO MKS ... 61

4.1 ESTRUTURA SETORIAL DO MODELO MKS ... 63

4.2 A FIXAÇÃO DOS PREÇOS PELA FIRMA... 67

4.3 O SALÁRIO DOS TRABALHADORES ... 69

4.4 OS PRINCÍPIOS TEÓRICOS PÓS-KEYNESIANOS DO MODELO MKS ... 71

4.5 A INSTABILIDADE ESTRUTURAL: MACROINSTABILIDADE RESULTANTE DOS MICROPROCESSOS. ... 76

5. METODOLOGIA ... 79

5.1 O MÉTODO DE ANÁLISE POR SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS ... 79

5.2 O MODELO DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL MKS: PARÂMETROS E CONDIÇÕES INICIAIS ... 82

5.3 A POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO: AS ALTERAÇÕES NO MODELO MKS ... 84

5.4 AS SIMULAÇÕES ... 91

5.5 O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO DO MKS À PVSM ... 98

6. RESULTADOS ... 101

6.1 EFEITOS DA PVMS SOBRE O EMPREGO E A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ... 102

6.2 ANÁLISE DOS EFEITOS COLATERAIS DA PVSM: PIB, INFLAÇÃO, SALÁRIO REAL, DÍVIDA PÚBLICA. ... 144

6.3 PVSM E REAÇÃO DO BANCO CENTRAL ... 156

7. CONCLUSÕES ... 162

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 169

9. APÊNDICES ... 171

(12)

1. INTRODUÇÃO

Segundo o Dieese (2016), a Política de Valorização do Salário Mínimo (PVSM) se estabelece depois de uma série de negociações anuais resultantes de um movimento das centrais sindicais em campanha pela valorização do salário mínimo. A campanha teve início em 2004, e motivou três marchas conjuntas em Brasília que visavam pressionar medidas que promovessem a valorização do salário mínimo, e também fortalecer a posição dos poderes Executivo e Legislativo sobre sua importância social e econômica. O movimento resultou em reajustes nos anos consecutivos que incorporavam aos salários ganhos reais, além da correção inflacionária. As negociações resultaram também em um acordo firmado em 2007 para uma política permanente de valorização do salário mínimo até 2023, tendo como critérios o repasse da inflação do período entre as correções e o aumento real pela variação do PIB.

O sistema de reajuste mostrou eficiência na recuperação do valor do salário mínimo, que referencia o rendimento de 48,3 milhões de pessoas, segundo a nota técnica publicada pelo Dieese no ano passado. Assim, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica – IBGE, e do Boletim Estatístico da Previdência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social, o Dieese estima que, como impactos da PVSM sobre a economia: o incremento de renda esperado em 2016 seria de R$ 57,042 bilhões, e R$ 30,7 bilhões corresponderiam ao incremento na arrecadação tributária sobre o consumo.

Para o ano de 2016, a Lei Nº 13.152 de Julho de 2015 estabelece que “Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário-mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulada nos 12 (doze) meses anteriores ao mês do reajuste(...) A título de aumento real (...) será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), apurada pelo IBGE, para o ano de 2014” (BRASIL, 2015).

(13)

Segundo os modelos econômicos de tradição ortodoxa, um aumento do salário real acima da produtividade marginal do trabalho levaria à contração do emprego, porém, em sua Teoria Geral Keynes explicou que vários seriam os canais pelos quais um aumento salarial poderia afetar o emprego em sentidos diferentes. Keynes se opôs à Lei de Say, e à determinação do emprego pelo confronto de oferta e demanda no mercado de trabalho. Para Keynes o emprego é essencialmente determinado pela demanda efetiva no mercado de bens, e com isso o desemprego é um fenômeno guiado pela demanda.

Ao perceber os salários pelo lado da demanda, como renda que financia o consumo, os efeitos de variações salariais em Keynes admitem possibilidades que o automatismo neoclássico não contempla. Ao exemplificar alguns dos possíveis canais pelos quais uma elevação salarial poderia afetar o nível de emprego, ele explica que no longo prazo os efeitos líquidos do crescimento dos salários sobre as curvas de oferta e demanda agregadas podem concorrer tanto para reduzir o emprego quanto para expandi-lo. Contanto que os aumentos salariais afetem as expectativas dos empresários nos períodos subsequentes, ou/e a propensão marginal a consumir (positivamente), ou/e a taxa de juros (negativamente) efeitos expansivos sobre o nível de emprego serão possíveis.

Diferente do que prega a tradição ortodoxa quanto à existência de um mecanismo de ajuste por meio do qual desequilíbrios entre oferta e demanda por trabalho seriam corrigidos estabelecendo o pleno emprego no longo prazo, Keynes defende que o nível de emprego tende a flutuar, pois sua variável determinante, o investimento, está sujeita à instabilidade estrutural inerente ao modus operandi capitalista. A queda dos investimentos, ao retrair a demanda agregada, reduz o nível de emprego. Uma queda no emprego, ao reduzir o consumo, poderá afetar as expectativas de longo prazo dos empresários, que, desestimulados, poderão reduzir a produção para a qual se necessitará de menos empregados, agravando o quadro.

Caso o agravamento do cenário econômico seja tal que piorem as expectativas de longo prazo dos empresários, estes reduzirão os investimentos retroalimentando os efeitos, podendo encadear um processo de queda do nível de emprego e chegar a níveis de difícil ou lenta recuperação. Nessa perspectiva, a intervenção por meio de políticas que estimulem a demanda é benéfica e não raro necessária para a manutenção do emprego em níveis adequados ao bem-estar econômico e social.

(14)

empresários, e por isso, têm uma maior propensão marginal a consumir. Assim, a partir da dinâmica da distribuição de renda de Kalecki procurou-se compreender como se dá a determinação da parcela dos salários na renda. Kalecki também é propositor do princípio da demanda efetiva, chegando a conclusões semelhantes às de Keynes. No modelo simples de Kalecki, a renda nacional é determinada unicamente pelo dispêndio capitalista, e esta determinação será demonstrada em um modelo simples, no qual os agentes estão divididos em classes econômicas (capitalistas e trabalhadores), na ausência de governo e do comércio exterior, e supondo-se que a propensão marginal a consumir dos trabalhadores é igual a um (1) e que o investimento é autônomo.

O circuito de suas rendas (lucros e salários) se relaciona numa dinâmica intersetorial em três departamentos que integram a economia. A conclusão a partir desse modelo é que a renda, para uma economia fechada e sem governo, equivale ao investimento mais o consumo, e sendo o consumo dos trabalhadores determinado pelos gastos dos capitalistas, e sendo o consumo destes últimos, função de seus lucros, o investimento tem papel central na determinação da demanda efetiva.

A abordagem de Kalecki trata também da importância dos efeitos macroeconômicos da distribuição funcional de renda. A dinâmica interderpartamental admite que aumentos da participação dos salários na renda podem levar a repercussões no consumo que impactam no crescimento do emprego, produto e renda da economia, contanto que as variações da parcela dos salários na renda afetem as decisões de gastos dos capitalistas. Dessa forma, fatores que afetam a distribuição funcional de renda, como o grau de monopólio, assumem grande importância uma vez que é a parcela de renda dos trabalhadores que será afetada por esses fatores, já que os lucros são determinados pelo consumo e investimento dos capitalistas.

Segundo Kalecki, como não há como prever como todos os fatores de distribuição irão se comportar, não é possível apontar se a tendência da parcela dos salários na renda no longo prazo é de queda ou crescimento. Inexistindo relações endógenas que garantam o aumento da participação dos salários na renda, políticas que promovam a distribuição de renda em favor dos trabalhadores são necessárias, e serão benéficas enquanto não desestimulem os investimentos.

(15)

objeto desta pesquisa, será aqui analisada não somente como política de geração/sustentação do emprego pelo crescimento da demanda agregada, mas também como política de redução das desigualdades entre capitalistas e trabalhadores por meio do aumento da participação dos salários na renda, o que também concorre para a elevação do emprego.

Com as bases teóricas estabelecidas nas teorias de Keynes e Kalecki, o objetivo dessa dissertação consistiu em avaliar os efeitos da PVSM sobre o emprego e a distribuição de renda no longo prazo. Para avaliar o impacto da PVSM sobre essas duas variáveis, foi utilizado o método de análise por simulação computacional, que permite uma análise teórica qualitativa a partir de resultados numéricos obtidos das simulações.

A ferramenta adotada foi o simulador LSD1, que permite a simulação de economias hipotéticas, e os resultados foram gerados dentro das condições dinâmicas e estruturais do MKS, um modelo macrodinâmico, multisetorial e de instabilidade estrutural2. Para um conjunto de combinações de parâmetros de políticas econômicas, a análise das simulações gerou resultados, coerentes com os fundamentos teóricos, que mostram que a PVSM afeta positivamente o nível de emprego e a participação dos salários na renda.

No capítulo seguinte será visto em Keynes as possibilidades do efeito de um aumento do salário sobre o nível de emprego, a partir da perspectiva da Teoria Geral3 acerca da determinação do emprego dentro do princípio da demanda efetiva. Será visto ainda os fatores que influenciam a demanda agregada e a instabilidade estrutural à qual está sujeito o nível de emprego. O capítulo três faz uma exposição da dinâmica da distribuição de renda em Kalecki, discorrendo sobre o agente determinante da determinação da renda nacional e estabelecendo os determinantes da parcela dos salários na renda.

Na sequência, o quarto capítulo apresenta o modelo sobre o qual se apoiaram as simulações, o MKS, discorrendo sobre os aspectos relevantes da sua estrutura e dinâmica. No capítulo cinco segue a descrição da metodologia, explicando o procedimento de inserção da regra de salário mínimo no MKS, o processo de adaptação do modelo, o conjunto de combinações de parâmetros de políticas econômicas utilizado, bem como das principais variáveis e equações utilizadas para a análise.

1Versão 5.9, disponível gratuitamente no endereço: www.business.aau.dk/revolution/lds

2 CAVALCANTI FILHO (2002).

(16)

Por fim, o capítulo seis mostra os resultados para o nível de emprego e a distribuição de renda, bem como para outras variáveis que explicam os resultados sobre estas variáveis (o investimento, o grau de monopólio, a composição setorial do emprego, e a razão entre o custo com matérias-primas e o custo com trabalho). O capítulo mostra ainda como foram impactas outras variáveis importantes da economia, permitindo verificar que, em decorrência da PVSM, a aceleração inflacionária observada não impede um também mais rápido e duradouro crescimento do salário real, bem como, uma significativa melhoria do desempenho fiscal acompanhado por reduções nos níveis da dívida pública.

O capítulo também testou como os efeitos da PVSM sobre o emprego e distribuição de renda são afetados por uma regra de fixação de taxas de juros em que, além do desemprego, as preocupações do Banco Central também se dirigem à aceleração inflacionária. Os resultados das simulações mostraram que a regra do Banco Central não altera a eficácia e nem a eficiência da PVSM em expandir o emprego e melhorar a distribuição de renda.

(17)

2. A DETERMINAÇÃO DO EMPREGO E OS EFEITOS DA VARIAÇÃO DOS SALÁRIOS: A TEORIA GERAL DE KEYNES

Antes da “Teoria Geral”, as análises convencionais acerca do impacto no emprego decorrente de variações salariais, não conseguiam explicar a falta de resposta da economia ao receituário neoclássico para a queda sistemática do nível de emprego. Em geral, essas análises baseavam-se em modelos que partiam do âmbito individual, portanto, uma análise limitada à esfera microeconômica, o que fornecia resultados que nem sempre refletiam da mesma forma quando considerados todos os agentes, isto é, no nível macroeconômico.

Na falta de uma teoria da demanda efetiva, os impactos se restringiam à curva de custos marginais, havendo, portanto, a necessidade de uma teoria do agregado, que explicasse os efeitos que incidem sobre o outro lado, o lado da demanda, e consideradas as decisões conjuntas de todos os agentes. Ambos Keynes e Kalecki constroem teorias baseadas na ideia de demanda efetiva que implica repercussões diferentes das apontadas pelo modelo neoclássico para o nível de emprego em consequência de reduções salariais como “remédio” contra o desemprego. (JOBIM, 1984).

Quando tratado apenas como custo de produção, o efeito final de aumentos nominais no nível salarial seria o repasse desse aumento para os preços. Na Teoria econômica é a escola ortodoxa que adota o salário por essa ótica, de modo que variações nominais nos salários (ou qualquer variação nominal) não seriam capazes de afetar variáveis reais como o nível de emprego e renda.

(18)

Os pós-Keynesianos rejeitam a ideia do nível de emprego determinado no mercado de oferta e demanda por trabalho com curvas bem comportadas, de cuja intersecção resulta o salário de equilíbrio: o preço da mercadoria “trabalho” que equilibra a oferta e a procura por mão-de-obra. Nos modelos ortodoxos, a dinâmica de deslocamento das curvas implica para a redução do desemprego a seguinte solução: uma redução nos salários nominais, dado o preço da firma, aumentaria a demanda por trabalho, ao reduzir o salário real, expandindo o emprego. (LAVOIE, 2014)

Se pensado para uma firma individualmente, o raciocínio pode ser perfeitamente plausível: se o salário nominal se reduz, o custo de produção fica mais baixo, logo, o preço também pode ser reduzido. Nessas condições, faz sentido que a firma aumente o volume de produção e a quantidade de trabalhadores necessários para tal. Contudo, ao estender este raciocínio ao conjunto de firmas, a lógica esbarra num elemento que não estava presente (ao menos explicitamente) no raciocínio para a firma como unidade: a demanda agregada, que sofre impacto da redução generalizada dos salários. Desta forma, não apenas os custos de produção do empresário são reduzidos, mas também a curva de demanda pelo seu produto, podendo anular ou até mesmo mais que compensar a queda dos preços.

O reducionismo do pensamento ortodoxo na compreensão do agregado como soma dos comportamentos individuais negligencia desdobramentos que as outras variáveis assumem quando pensadas no coletivo, a exemplo dos efeitos de uma redução salarial que, segundo a escola ortodoxa elevaria inexoravelmente o nível de emprego ao mitigar os custos de produção, ao que Keynes comenta:

For, whilst no one would wish to deny the proposition that a reduction in money-wages accompanied by the same aggregate effective demand as before will be associated with an increase in employment, the precise question at issue is whether the reduction in money-wages will or will not be accompanied by the same aggregate effective demand as before measured in money, or, at any rate, by an aggregate effective demand which is not reduced in full proportion to the reduction in money-wages (i.e. which is somewhat greater measured in wage-units). (KEYNES, 1936, p.202-203)

(19)

pós-keynesiana, assim como a oposição à determinação do emprego pelo confronto de oferta e demanda no mercado de trabalho. (LAVOIE, 2014)

Para Keynes o mercado de trabalho sequer existe. Em contraponto, para Keynes e seus seguidores o emprego é essencialmente determinado pela demanda efetiva no mercado de bens, e com isso o desemprego é um fenômeno guiado pela demanda. Assim, o desemprego não guarda, nem em suas causas, nem para a sua correção, nenhuma relação com rigidez ou crescimento excessivo dos salários.4

Já no longo prazo os efeitos líquidos do crescimento dos salários sobre as curvas de oferta e demanda agregadas podem concorrer tanto para corrigir o desemprego quanto para agravá-lo, como tratado no capítulo 19 da “Teoria Geral”. Ao compreender os salários como componente de demanda, através da renda disponível que financia o consumo, o tratamento do salário e os efeitos de suas variações em Keynes assume uma perspectiva complexa, admitindo possibilidades que transcendem o automatismo neoclássico, segundo o qual um aumento do salário real resultaria na contração do emprego, admitindo inclusive o efeito oposto: uma expansão do nível de emprego e produto.

Mas para isso é preciso contestar o mecanismo neoclássico de correção dos desequilíbrios, para o qual uma queda nos salários garante expansão do nível emprego, assim como aumentos salariais asseguram a sua contração. Isso será feito a partir do Princípio da Demanda Efetiva, na perspectiva pós-keynesiana das distintas temporalidades tratadas em Keynes (1936) e discutidas por Dequech (2006), Chick (1993) e Possas (1987) e das implicações decorrentes para a compreensão da natureza expectacional do processo produtivo, e do momento de determinação do emprego no curto prazo, e na consecução de curtos prazos. Na sequência, serão discutidos fatores que afetam a demanda agregada segundo Keynes, e por fim, a instabilidade estrutural a que está sujeito o nível de emprego.

2.1A DETERMINAÇÃO DO EMPREGO: O PAPEL DA DEMANDA EFETIVA

Conforme ressalta Chick (1993), a tradição marshalliana atribui horizontes temporais diferentes conforme diferentes condições de produção. Esses horizontes temporais sugerem

(20)

uma cisão no tempo, que não deve ser compreendida em termos cronológicos, mas que está relacionada à fixidez do equipamento de capital às seguintes condições de produção:

(...) a produção que utilizava o estoque de capital já de posse de alguém era chamada de curto prazo. As oportunidades de produzir utilizando uma fábrica ampliada ou mais eficiente, só disponível algum tempo no futuro, constituíam o longo prazo. (CHICK, 1993, p.19)

Ainda segundo Chick (1993), uma vez que o estoque de capital sofre alteração contínua em face de sua depreciação desde a realização das decisões iniciais de investimento, a distinção entre curto e longo prazo pode ser feita apenas como “um instrumento intelectual para evitar que tudo ocorra ao mesmo tempo” (CHICK, 1993, p.22), mas não empiricamente, pois, como dito em Davidson (1978, p. 12) “Time is said to be a device to prevent everything from happenig at once.”

A determinação do emprego em Keynes (1936) vai sugerir uma dupla cisão no tempo econômico. A primeira, divide o tempo em curto prazo e longo prazo, com base nos conceitos marshalianos. Acerca dessa primeira segmentação, o curto prazo, conforme Dequech (2006), será definido como sendo a unidade efetiva mínima de tempo econômico, isto é, “(...) o intervalo mais curto depois do qual a firma está livre para rever a sua decisão de quanto emprego oferecer.” (DEQUECH, 2006, p. 208).

Admitindo essa interpretação de Dequech (2006) da definição do curto prazo em Keynes, pode-se aceitar a concepção de Kalecki (1937) do longo prazo como sendo uma sucessão de vários curtos prazos. Os capítulos 3 e 5 da “Teoria Geral” apresentam o princípio da demanda efetiva, através da determinação do produto, do emprego e da renda, no horizonte de curto prazo.

Contudo, a exposição do princípio da demanda efetiva só se completa no capítulo 19, quando Keynes trata das repercussões que o princípio da demanda efetiva pode admitir mediante variações nos salários na consecução de curtos prazos. Portanto, na interpretação dos pós-keynesianos o princípio da demanda efetiva é admitido por Keynes tanto para o curto quanto para o longo prazo, ao contrário do que afirmam interpretações ortodoxas que ao validarem a efetividade da demanda apenas no curto prazo, reduzem a teoria de Keynes a um caso particular de rigidez de preços e salários5

. No curto prazo estão contemplados o tempo

(21)

necessário para tomar as decisões de produção, para o processo produtivo em si, e para a venda da produção finalizada. Conforme Davidson (1978) e Dequech (2006) a determinação do produto, emprego e renda sugere uma segmentação temporal também para curto prazo. Essa bipartição segmenta o curto prazo em dois momentos, descritos aqui conforme a exposição feita por Dequech (2006):

 O primeiro se refere ao período de produção: vai do momento no qual a empresa decide o quanto produzir, até o momento em que a produção está pronta para ser levada ao mercado;

 O segundo momento é o período de mercado: acabado o período de produção, inicia-se o período de mercado, quando a produção acabada é levada ao mercado para possível venda.

Essa divisão do tempo macroeconômico é amplamente aceita pela corrente pós-keynesiana, e tomando por base Dequech (2006), Possas (1987) e Lima (1992) serão apresentadas algumas importantes implicações dessa segmentação do curto prazo. No primeiro momento - o período de produção - os empresários decidem quantidade a ser produzida, e a esse nível de produção corresponde um determinado nível de emprego. No segundo momento - o período de mercado - será efetivada a venda dos volumes produzidos, mediante um determinado nível de preços, ao qual corresponderá um nível de renda. Ou seja, no período de produção são determinados o produto e o emprego. Os preços e a renda só são determinados no período de mercado.

Quanto à renda, vale ressaltar o que diz Possas (1987):

(...) parte da renda é gerada ex ante, associada à decisão de quanto produzir: basicamente os salários, embora em seu todo a renda só seja determinada ex post pela realização da produção – quer a nível de cada unidade produtiva ou no agregado - onde o lucro é o componente residual. (POSSAS, 1987, p.75)

Ou seja, o total de rendas da economia está composto pelos lucros totais mais os salários totais, esses últimos sendo determinados no período de produção, com o emprego.

(22)

Contudo, os lucros são determinados apenas após concretizadas as vendas. Assim, o total de rendas da economia só se completa no período de mercado.

O que decorre a partir dessa cisão no tempo macroeconômico é que produção e emprego são determinados em momentos diferentes dos preços e da renda global. A determinação dessas variáveis em períodos distintos traz uma consequência crucial: entre a decisão da empresa de iniciar a produção e a efetivação da venda do produto, haverá um período de tempo lógico que será inevitável e irrevogável. (POSSAS, 1987)

Essa implicação remete a consequências que forjam o comportamento dos agentes em virtude de ser unidirecional o fluxo do tempo histórico (LIMA, 1992), cujo conceito será discutido ainda neste capítulo para abordar a natureza da incerteza em Keynes. Por hora, nos importa o que está implicação tem a dizer, em termos de tempo lógico, sobre o momento de decisão dos agentes dentro do processo produtivo.

A consequência que essa implicação traz forçosamente é a de que não há outra forma pela qual o processo de decisão da produção ocorra, senão a partir de expectativas. Ou seja, inevitavelmente, a determinação do nível de emprego estará sujeita a expectativas sobre os custos e sobre a demanda que permeiam a decisão de produção. Sob essa prerrogativa Keynes constrói as curvas de oferta e demanda agregadas “(...) em termos de renda (ou valor

adicionado) agregada esperada para cada nível de emprego agregado (...)” (Possas, 1987,

p.77). Ambas as curvas são, portanto, de caráter expectacional, pois:

Em uma economia de mercado, as decisões de produção, na medida em que são governadas pelo cálculo capitalista em termos de sua rentabilidade esperada, são especulativas por natureza. (LIMA, 1992, p. 36 e 37)

(23)

Assim, dados a tecnologia e o estoque de capital, a oferta agregada (Z) será a receita que os empresários consideram necessária para justificar/absorver determinado nível de emprego, isto é, a receita necessária para maximizar os lucros para cada nível de emprego (N) possível, dados os custos esperados. Keynes deduz os custos de uso, portanto, “os custos primários consistem exclusivamente em trabalho. Consequentemente, a curva de oferta agregada embute as estimativas de custo de mão-de-obra mais o lucro para cada nível de emprego.” (LIMA, 1992, p.37) Portanto, esta receita deve cobrir os custos previstos com mão-de-obra e assegurar “um “lucro normal” para cada nível de emprego.” (POSSAS, 1987, p.77). Estimada a oferta agregada, Keynes explica que:

(...) da ótica do empresário, é conveniente chamar a renda agregada (isto é, custo de fatores mais lucro) resultante de certo volume de emprego de

produto deste nível de emprego. Por outro lado, o preço da oferta agregada da produção resultante de determinado volume de emprego é o produto esperado, que é exatamente suficiente para que os empresários considerem vantajoso oferecer o emprego em questão. Disso se deduz que (...) o volume de emprego depende do nível de receita que os empresários esperam receber da correspondente produção. (KEYNES, 1936, p.37, grifo meu)

Assim, demanda agregada (D) pode ser definida como sendo a receita que os empresários esperam obter de certo nível de emprego, isto é, a receita esperada agregada em termos de renda, resultante da venda dos bens de consumo e investimento produzidos, correspondente a cada nível de emprego [Keynes (1936, p.37 e 38), Lima (1992, p. 37 e 38)]. As definições para Z e D implicam para ambas, oferta e demanda agregadas, funções que refletem uma relação positiva com N, uma vez que quanto maior a quantidade de trabalhadores empregados na economia, maiores serão as receitas necessária (para absorvê-los) e esperada deste volume, sugerindo assim curvas positivamente inclinadas6, como demonstrado na figura 1.

(24)

Fonte: Elaboração própria.

Porque o nível de emprego e as quantidades produzidas são definidos em temporalidades distintas dos preços e quantidades vendidas, Keynes conduz a determinação da produção e do emprego no plano Z (oferta agregada), D(demanda agregada) x N (nível de emprego), ao invés do mais tradicional Preço (P) x Quantidade (Q), optando por medir oferta e demanda por valores nominais deflacionados pela taxa de salários (unidades de salários), ao invés dos conceitos de índice geral de preços (P) e de PIB real (Y). Uma vez que o nível de emprego/produto é determinado no período de produção pela intersecção de Z e D, que são curvas expectacionais de receitas, o plano Z, D x N é o arcabouço adequado a este processo de determinação porque ele ocorre ex-ante, enquanto que o plano P x Q se remete às variáveis determinadas ex-post, no período de mercado, não podendo, portanto, ser usado como plano para demonstrar a determinação de variáveis que ocorre antes deste período.

Assim, quando a oferta agregada é maior que a demanda agregada (Z > D) haverá tendência à redução do nível de emprego (N), pois a insuficiência de demanda levará os empresários a demitirem os empregados cuja produção representa uma receita esperada menor que a necessária para este nível de emprego. Já quando a demanda agregada supera a oferta agregada (Z < D), o nível de emprego tende a aumentar, pois o excesso de demanda surtirá como um incentivo aos empresários a contratar mais empregados, já que a receita esperada de sua produção supera a necessária. O nível de emprego de equilíbrio, aquele que iguala oferta e demanda agregadas (Z = D), será determinado quando a receita que os empresários necessitam para manter aquele determinado nível de emprego for igual à receita que eles esperam receber, e nessa situação não haverá incentivos para contratar ou demitir. A demanda efetiva então será:

N N0

Z Z,D

D Z0 = D0

(25)

(..) simplesmente a renda agregada (ou produto) que os empresários esperam receber, incluídas as rendas que fazem passar às mãos dos outros fatores de produção, por meio do volume de emprego corrente que resolvem conceder. A função demanda agregada relaciona várias quantidades hipotéticas de emprego com os rendimentos que se espera obter do volume de sua produção; e a procura efetiva é um ponto na função da demanda agregada que se torna realidade porque, levando em conta as condições de oferta, ela corresponde ao nível de emprego que maximiza as expectativas de lucro dos empresários. (Keynes, 1936, p. 59)

Qualquer ponto de intersecção entre Z e D caracteriza um equilíbrio, contudo, nada garante que o nível de emprego que resulte da intercessão entre as receitas necessária e esperada pelos empresários absorva todos os trabalhadores, isto é, o equilíbrio pode ocorrer com desemprego. O equilíbrio de pleno emprego seria apenas um dos pontos de equilíbrio possíveis, alcançado somente por uma coincidência:

(...) quando, por acidente ou desígno, o investimento corrente proporciona um volume de demanda justamente igual ao excedente do preço da oferta agregada da produção resultante do pleno emprego sobre o que a comunidade decida gastar em consumo quando se encontre em estado de pleno emprego. (Keynes, 1936, p. 40)

Por não haver garantias de que no equilíbrio representado pela intersecção entre Z e D toda a força de trabalho esteja absorvida, Keynes argumenta sobre o título de sua teoria de determinação do emprego como sendo “geral” tanto no sentido teórico, já que o equilíbrio com pleno emprego e com desemprego são ambas possibilidades teóricas endógenas de seu modelo, quanto no sentido empírico, já que nas economias capitalistas o caso geral é o desemprego por regra, e pleno emprego por exceção, de modo que equilíbrio de pleno emprego neoclássico se reduz a um caso particular, possível teoricamente, raro empiricamente:

Argumentei que os postulados da teoria clássica se aplicam apenas a um caso especial e não ao caso geral, pois a situação que ela supõe acha-se no limite das possíveis situações de equilíbrio. Ademais, as características deste caso especial não são as da sociedade econômica em que realmente vivemos (...) (Keynes, 1936, p.23)

(26)

renda referente aos salários são determinados ex-ante no período de produção, enquanto que os lucros serão dados apenas no período de mercado com a efetivação da venda por certo preço, em função dos gastos ex-post, torna-se descabido supor um mecanismo de ajuste dos desequilíbrios pela variação dos preços e salários. Por mais flexíveis que sejam os preços e salários, os seus efeitos não podem retroagir no tempo lógico de forma a afetar as decisões tomadas no período de produção. [Dequech, (2006), Possas (1987), Klagsbrunn (1996)]

Dessa forma, a natureza do equilíbrio em Keynes, segundo Possas (1987) é apenas “nocional”, pois não diz respeito a um “equilíbrio de mercado”, porque não há mercado quando na determinação da produção e emprego. Trata-se um tipo de “equilíbrio ex-ante”,

que ocorre sob forças expectacionais no período de produção, quando não pode haver operação de forças de mercado. Ou seja, sendo as decisões ex-ante de produção que determinarão o nível de emprego, não há nenhum mecanismo ex-post que possa desfazer as decisões já tomadas, portanto, nenhum processo que possa ajustar o nível de produto decidido, e o nível de emprego que a ele corresponde, assim:

(...) esse “equilíbrio” para Keynes também envolve uma determinação ex post da demanda agregada, mas não no sentido convencional em que o equilíbrio seria sempre tendencialmente realizado, qualquer que viesse a ser a demanda. Trata-se de um equilíbrio apenas virtual(...) sem “atrair” para si o sistema econômico e, portanto, sem impor qualquer mecanismo ou processo de ajustamento. (POSSAS, 1987, p.80)

Ainda,

Tudo o que importava a Keynes, já tendo rejeitado a determinação do

emprego pelo “mercado de trabalho” no capítulo 2 da Teoria Geral, era

demonstrar a possibilidade de que essa situação de equilíbrio fosse alcançada, ainda que por simples acaso – o que equivale a supor que as expectativas sejam sempre (não importa como) satisfeitas; isto posto, estava demonstrada a possibilidade de equilíbrio abaixo do pleno emprego e negada a implicação da Lei de Say mais importante para Keynes. (POSSAS, 1987, p.80 - 81)

Portanto, apesar de que nada garante que os empresários acertem as suas expectativas, mas supondo que acertem, não há nada que assegure que toda a força de trabalho foi empregada para aquele nível de emprego, isto é, nenhuma garantia de que equilíbrio macroeconômico ocorra no nível de pleno emprego.

(27)

macroeconômico, e não como decorrência da rigidez de preços e salários. Apesar de que uma elevação salarial afetaria tanto as expectativas de custo quanto de demanda, o gap de tempo entre os períodos de produção e de mercado implica que o nível dos salários não pode afetar as decisões de produção e emprego, já que:

(...) as empresas decidem no início do período quantos empregos oferecerão ao salário corrente, e nenhuma oportunidade de recontratação é dada ao trabalhador se por tal salário há menos empregados do que elas gostariam. (CHICK, 1993, p.24)

Estando comprometido o suposto mecanismo de mercado que, para garantir o equilíbrio de pleno emprego, responderia através da contração/expansão da produção a eventuais elevações/redução dos salários, apontar a queda do nível de emprego como resultado de um aumento salarial se torna um equívoco. Para os pós-keynesianos tal equívoco subsiste na ortodoxia e na associação da dinâmica de Keynes à rigidez de preços e salários por causa do “congelamento do tempo” (CHICK, 1993), porque a diferença entre o tempo de produção e o tempo de mercado se perdeu, colapsando o tempo macroeconômico num único momento, no qual as decisões de emprego, vendas e preços tornaram-se simultâneas, e portanto:

Há um distinto fluxo temporal de eventos em nítido contraste com o equilíbrio geral, onde tudo acontece simultaneamente, ou com o equilíbrio parcial, onde tudo acontece no mercado que está sendo analisado e nada é permitido acontecer nos outros mercados, enquanto o economista está de costas para eles. (CHICK, 1993, p.17)

Assim, o princípio da demanda efetiva emerge do seguinte insight:

No ponto de interseção das duas curvas o empresário espera maximizar o seu lucro. Como este é o seu objetivo principal, ele escolherá o ponto correspondente para dimensionar seu investimento e sua produção. Todas as demais grandezas macroeconômicas, tanto do lado da oferta quanto da demanda, decorrentes desta decisão, são também determinadas ex-ante (KLAGSBRUNN, 1996, p. 185)

(28)

completa no período de mercado, quando o outro componente da renda, os lucros, são determinados, no momento em que as vendas são concretizadas.

Vimos então que variações nos salários não podem alterar as decisões de produção e emprego já tomadas, o que assegura a ausência de um mecanismo de correção ex-ante. Contudo, uma variação nos salários hoje, findado o período de mercado com a realização das vendas, poderá afetar o nível de emprego do período seguinte, satisfeita a condição mencionada por Keynes:

The actually realised results of the production and sale of output will only be relevant to employment in so far as they cause a modification of subsequente expectations. (KEYNES, 1973, p. 47)

Assim, na sequência de períodos de produção e de mercado, isto é, na consecução dos curtos prazos, as variações salariais irão afetar o nível de emprego futuro conforme afetarem as expectativas futuras dos empresários. Mas, apesar de negado a existência de um mecanismo de correção ex-ante, o impacto da variação dos salários sobre o emprego nos períodos subsequentes poderia suscitar a existência de um mecanismo de correção ex-post, segundo o qual um aumento dos salários seria corrigido na consecução dos curtos prazos com a queda do nível de emprego.

Para discutir essa possibilidade, pode-se supor de início que certa taxa de desemprego provoque uma queda nos salários, e essa queda de salário, por sua vez, possa induzir uma expectativa de salários mais baixos no período de produção subsequente, provocando uma ampliação da oferta agregada, e essa ampliação, em tese, poderá expandir o nível de emprego. Persistindo a queda de salários no período seguinte esse processo poderá se repetir, e poderá repetir-se sucessivas vezes até que todo o desemprego seja corrigido e a economia atinja o pleno emprego.

(29)

Assim, variações nos salários podem impactar a demanda tanto ou mais que a oferta agregada, dependendo da medida em que afetem as expectativas de custo e de demanda. Ou seja, os impactos de variações nos salários na economia, nos períodos subsequentes a essa variação, são complexos: de um lado uma queda nos salários reduz os custos, o que pode concorrer para na sequência de períodos conduzir a um aumento do emprego por meio da expansão da curva de oferta; do outro induz a uma contração da curva de demanda, pressionando uma redução do nível de emprego. (CHICK, 1983)

Desta forma, além dos efeitos sobre os custos que afetam a oferta, há de se considerar também os efeitos que incidem sobre a demanda, uma vez que um menor salário significará uma queda no consumo, reduzindo as expectativas de receita dos empresários. Ou seja, de um lado a redução salarial pode provocar uma tendência de queda dos custos que, se for traduzida numa expectativa de que os custos caiam nos períodos de produção subsequentes, provocará um deslocamento sucessivo de expansão da curva de oferta agregada (Z). Na situação oposta, o aumento dos salários eleva as expectativas de demanda deslocando para cima a função demanda agregada (D) e, portanto, podendo impactar a demanda efetiva nos períodos subsequentes.

Vários poderão ser os canais através dos quais a oferta e a demanda agregadas poderão ser afetadas, de modo que o efeito resultante dependerá de qual curva foi afetada de forma mais expressiva de forma a prevalecerem os seus efeitos sobre emprego e produto (CHICK, 1993). Keynes afirma que os impactos duradouros no emprego, decorrente de variações no salário nominal, dependem dos efeitos sobre três fatores: a propensão a consumir, a curva da eficiência marginal do capital e a taxa de juros. (KEYNES, 1936).

Dentre as repercussões que Keynes discute sobre esses três fatores no capítulo 19 da “Teoria Geral”, importa destacar7:

 Os efeitos de redistribuição de renda entre trabalhadores e empresários, entre empresários e rentistas, afetando a propensão marginal a consumir média da economia8;

(30)

 Os efeitos sobre a eficiência marginal do capital afetando os investimentos;  Os efeitos sobre a taxa de juros afetando o investimento (efeito Keynes);

 Os efeitos sobre o estado de confiança das expectativas de longo prazo (logo, sobre a eficiência marginal do capital) em função do grau de endividamento empresarial.

Keynes analisa os efeitos listados acima sobre o nível de emprego para uma redução no salário nominal, mas para os objetivos propostos nesta dissertação, importa saber os efeitos esperados para um aumento nos salários.

Em relação ao primeiro efeito, Keynes argumenta que:

“Uma redução dos salários nominais diminuirá, em certa medida, os preços. Acarretará, portanto, certa redistribuição da renda real (a) dos assalariados para outros fatores que entrem no custo primário marginal e cuja remuneração não tenha sido reduzida, e (b) dos empresários para os rendeiros aos quais se garantiu certo rendimento fixo em termos monetários. Qual será o efeito dessa redistribuição sobre a propensão a consumir da comunidade em conjunto? A transferência de rendimento dos que recebem salários para outros fatores de produção tenderá, provavelmente, a reduzir a propensão a consumir” (Keynes, TG, 1936, pp. 250 e 251)

Os “outros fatores” que entram no “custo primário marginal” correspondem aos gastos com as aquisições de matérias-primas9. Desta forma, o que Keynes está argumentando é que ocorrerá um ganho real de renda para os empresários do setor produtor de matérias-primas, que, além da redução dos salários de seus próprios trabalhadores, usufruirão de menores preços que prevalecerão na economia.

Nos termos desta dissertação, é possível fazer a argumentação no sentido de que um aumento nos salários nominais melhoraria a distribuição de renda entre trabalhadores e empresários produtores do setor de matérias-primas, em favor dos primeiros (que não tenha sido reduzida a remuneração dos outros elementos do custo de produção). O impacto dessa redistribuição eleva a propensão a consumir da comunidade, pela hipótese de que a magnitude

8 O modelo MKS possui uma organização econômica específica, com classes de atores econômicos e comportamentos que são consistentes com a teoria de Keynes, mas que apresentam particularidades. No MKS os agentes privados incluem trabalhadores, empresas industriais, sistema bancário e rentistas. A relação entre esses agentes será detalhada no capítulo quando na apresentação do modelo MKS.

(31)

da propensão a consumir dos trabalhadores é superior à dos empresários. Dessa forma, elevações de salário nominal tendem a expandir a demanda agregada, logo, o emprego.

Ainda nesse primeiro efeito, a redistribuição de renda dos rentistas para os empresários, em decorrência da redução do peso das dívidas já estabelecidas por causa do aumento dos preços, tem efeito duvidoso para Keynes, mas tenderia a ser mais favorável do que adverso se suposto que os rentistas pertencem à parte mais rica da comunidade, pois esses últimos teriam uma menor propensão a consumir.

Para o segundo efeito podemos tomar o inverso do exemplo de Keynes. Fazendo a suposição de que os empresários estariam num círculo virtuoso de expectativas otimistas, um aumento nos salários “corrigiria” esse otimismo equivocado, fazendo cair a eficiência marginal do capital. A consequência seria a queda dos investimentos e uma redução no nível do emprego.

Quanto ao terceiro efeito, a elevação nos preços decorrente do aumento salarial fará aumentar a demanda por moeda pelo motivo transacional, reduzindo a disponibilidade de moeda para atender aos demais motivos, o que eleva a taxa de juros, provocando uma queda dos investimentos. A queda nos investimentos impacta negativamente a demanda agregada, reduzindo o nível de emprego.10

No quarto efeito, teríamos uma elevação do estado de confiança das expectativas de longo prazo em função da queda no grau de endividamento empresarial, esta decorrente da elevação nos preços que o aumento salarial induziria. O estado de confiança também seria impactado positivamente pela redução dos impostos decorrente da queda na carga real da dívida pública em função do crescimento dos preços.

Como mostram os efeitos listados, um aumento nos salários, poderá incidir tanto sobre a curva de oferta quanto sobre a curva de demanda, concorrendo hora para a contração do

(32)

emprego, hora para a sua expansão. Caso o movimento de retração da oferta superar o de expansão da demanda, teremos como efeito resultante de um aumento salarial um menor nível de produto e emprego. Ou seja, se o impacto na oferta em decorrência de elevações de salário continuadas acompanhadas de aumentos de preços continuados excedesse sucessivamente os impactos na demanda, poderíamos admitir que o efeito de uma elevação nos salários impacta negativamente o nível de emprego, valendo o pressuposto neoclássico. Todavia, esta sequência continuada no movimento da oferta apesar de possível teoricamente é empiricamente improvável, uma vez que o movimento de expansão da demanda pode superar o de retração da oferta, gerando maiores níveis de produto e emprego.

O MKS, modelo utilizado para simular e analisar quais os efeitos resultantes da PVSM sobre o nível de emprego e a distribuição de renda, opera dentro do conceito pós-keynesiano de tempo macroeconômico e está fundamentado em conformidade com o princípio da demanda efetiva, bem como incorpora parte dos efeitos das variações de salários discutidas por Keynes, especificamente as que foram apresentadas nesta seção. Assim, as simulações realizadas pretenderam observar o impacto final no nível de emprego em decorrência dos efeitos da PVSM, cuja regra de reajuste anual pressupõe o crescimento real e nominal dos salários.

2.2FATORES QUE INFLUENCIAM A DEMANDA AGREGADA.

Como visto na seção anterior, através da função demanda agregada Keynes relaciona cada nível de emprego ao produto das vendas que se espera obter desse volume de emprego. Quanto ao produto das vendas, Keynes diz que ele será formado “(...) pela soma de duas quantidades – a soma que será despendida em consumo quando o emprego está a certo nível e a soma que se destinará ao investimento. ” (KEYNES, 1936, p.83)

(33)

O tamanho do multiplicador na Teoria Geral de Keynes é o inverso da propensão a poupar, assim, o efeito multiplicador será maior conforme maior for a propensão marginal a consumir.11 Dada a importância da propensão a consumir para a magnitude do efeito multiplicador, serão discutidos a seguir, com base nos capítulos 8 e 9 da “Teoria Geral”, os fatores objetivos e subjetivos, respectivamente, que influenciam a propensão a consumir. Entre os motivos subjetivos, Keynes lista 4 motivos relacionados a decisões empresariais e governamentais, que não dizem respeito aos trabalhadores que recebem salário mínimo. Para os trabalhadores são listados oito fatores, contudo, o modelo utilizado nesta dissertação não trata desses fatores.

Quanto aos fatores objetivos, serão seis os que Keynes explica afetar a propensão a consumir. Porém, dado que objetivo dessa dissertação é avaliar o impacto de variações salariais sobre o emprego, se faz importante discutir entre os fatores que afetam a propensão a consumir, aqueles que se relacionam com a PVSM.

Antes de apresentar os seis fatores, Keynes descarta os efeitos de mudanças na composição setorial do emprego sobre a renda medida em unidades de salário, logo, sobre o consumo medido em unidades de salário. Keynes chama atenção de que ao medir o consumo em unidades de salário, também se utiliza a renda em unidades de salário, e que a renda em unidades de salário não tem uma relação unívoca com o emprego, porque mudanças na composição setorial do emprego determinarão níveis diferentes de renda, e logo, de consumo. Keynes considera uma boa aproximação supor a ausência desses efeitos, mas para a metodologia desta dissertação importa considera-los.12

O primeiro dos fatores considerados trata de uma variação na unidade de salário. Keynes afirma que se aumentos na unidade de salários forem integralmente repassados aos preços, não haverá alteração no consumo real (consumo medido em unidade de salário), exceto se considerado um possível efeito redistributivo entre empresários e rentistas em

11Como esta dissertação se propõe a analisar os efeitos da distribuição de renda sobre o nível de emprego, uma vez que a redistribuição de renda afeta a propensão marginal a consumir média, o multiplicador terá um papel importante na explicação dos resultados analisados no capítulo 6.

(34)

função da elevação dos preços, como já tratado neste capítulo. Assim, se a hipótese de Keynes não for válida no MKS e a PVSM for capaz de gerar efeitos redistributivos, o impacto no consumo será positivo.13

Há outro fator que importa no âmbito desta dissertação, que são as variações imprevistas no valor nominal da riqueza, como por exemplo uma variação do valor dos títulos de dívida ou no valor das ações na bolsa de valores. Por serem imprevistas, essas variações não têm uma relação regular com o montante de renda, tendo grande potencial para alterar a função consumo, pois o consumo das classes proprietárias de riqueza é sensível à variação nominal do seu patrimônio.

As variações na política fiscal são outro fator citado. Keynes explica que uma variação dos tributos afetará a decisão dos agentes de quanto consumir a partir dessa renda disponível, porque os agentes podem adiar consumo, ou adiantá-lo, dependendo do quanto a sua percepção de disponibilidade de renda seja afetada. A variação de política de gastos também afetará a propensão a consumir da comunidade diante de uma reversão de déficit para superávit fiscal (ou o contrário). Se o governo tornar a política de gastos de deficitária para superavitária, por exemplo, o consumo tende a cair, contraindo a demanda efetiva e vice-versa14.

O investimento será a demanda por bens de capital, que não sendo determinado pelo nível de emprego corrente, de acordo com Keynes, é a variável que pode determina-lo e explicar as suas variações. O investimento é função da eficiência marginal do capital e da taxa de juros. Para decidir sobre a realização de investimentos os empresários comparam a eficiência marginal do capital com a taxa de juros. Cada empresário decide por investir em bens de capital quando espera que o rendimento auferido com a compra dos bens de capital será superior ao rendimento que alternativamente obteria com títulos à determinada taxa de juros, e com isso, no agregado:

13

Como será discutido no capítulo de análise, de fato, não há o repasse integral dos reajustes da PVSM para os preços, permitindo a elevação do salário real, os efeitos redistributivos entre empresários e trabalhadores, e uma consequente elevação do consumo que expande o emprego.

(35)

(...) o volume de investimento depende da relação entre a taxa de juros e a curva da eficiência marginal do capital correspondente aos diferentes volumes de investimento corrente. (KEYNES, 1936, 123)

Assim, a determinação do investimento estará sujeita aos fatores que forem capazes de exercer influência sobre a taxa de juros e sobre a eficiência marginal do capital.

A taxa de juros Keynes explica como sendo um fenômeno monetário. Isso porque ela não é formada no “mercado de fundos emprestáveis” neoclássico, no qual a oferta de fundos, sujeita às preferências intertemporais dos indivíduos em confronto com a produtividade marginal do capital, determina a taxa de juros que regulará a demanda por fundos, isto é, o nível de investimentos. Em Keynes, a taxa de juros é determinada no mercado monetário, que é explicada por meio da Teoria da preferência pela liquidez.

Acerca desta teoria, Keynes afirma:

Chamaremos prêmio de liquidez l de certo montante de bem (medido em termos de si mesmo) que as pessoas estão dispostas a pagar pela conveniência ou segurança potenciais proporcionadas pelo poder de dispor dele. (KEYNES, 1936, p.178)

Assim, taxa de juros pode ser compreendida como sendo o retorno que se ganha por renunciar ao prêmio de liquidez da moeda, ou como o preço que se paga para obter essa liquidez, pois:

(...) a taxa de juros não é, em si, outra coisa senão o inverso da relação existente entre uma soma de dinheiro e o que se pode ter desistindo, por um período determinado, do poder de comando da moeda em troca de uma dívida. (KEYNES, 1936, p. 137)

É a preferência pela liquidez que determina a taxa de juros. Será a taxa de juros, portanto, determinada no mercado monetário, representado pelas curvas de oferta e demanda por moeda. A primeira, está sujeita à política monetária, enquanto a segunda tem quatro motivos:

(36)

portanto, do emprego, logo o nível de emprego determinará a magnitude de moeda que será demandada para estes fins;

 Motivo precaucional - que está sujeito à incerteza (quanto maior a incerteza mais moeda se demandará por motivo de precaução) e da renda (quanto maior a renda de um agente econômico mais motivos ele tem para se precaver e em proporções maiores), e portanto do emprego;

 Motivo especulativo - que é função da variação esperada na taxa de juros. Devido à relação inversa entre o preço dos títulos e a taxa de juros, se há expectativa de uma queda na taxa de juros isso significa que os títulos irão tender a apreciação. Isso irá diminuir a demanda por moeda porque diante da elevação esperada dos preços dos seus títulos, os especuladores irão preferir retê-los. De modo contrário, uma expectativa de que a taxa de juros se eleve fará com que as pessoas se desfaçam dos títulos antes de sua futura desvalorização, demandando moeda em lugar dos títulos. Assim, é esta expectativa de variação na taxa de juros que influencia a demanda de moeda para especulação;

 Há ainda um quarto motivo de demanda por moeda, também para a realização de financiamentos, e esta será função do volume de investimentos planejados, os quais podem ser impactados pela taxa de juros caso o sistema bancário não atenda integralmente aos aumentos na demanda por financiamento. (Oreiro, 1999, p.240)15 .

Conhecendo estes quatro motivos, compreende-se que é esta demanda por moeda, ou mais especificamente, a demanda por liquidez o fator determinante da taxa de juros, dada a oferta de moeda.

Por sua vez, a eficiência marginal do capital está sujeita à relação entre o preço de oferta de um ativo de capital e a renda esperada desse ativo. Dos fatores segundo os quais os

15

Referindo-se a uma economia “(...) na qual o investimento estivesse aumentando ao longo do tempo (..) a demanda por finance seria crescente ao longo do tempo, de forma que, se a oferta de moeda não acomodasse o aumento da demanda, a taxa de juros deveria se elevar de forma contínua, independente de qualquer variação prévia do nível de renda e emprego.” Oreiro (1999, p. 241). Portanto, a correção do desequilíbrio

entre oferta e demanda por moeda, neste caso, depende da redução na demanda por moeda para financiamento provocada pelo aumento da taxa de juros.

(37)

empresários formam as suas expectativas de rendas esperadas, Keynes explica que tais fatores:

(...) são, em parte, fatos existentes que se pode supor sejam conhecidos mais ou menos com certeza e, em parte, eventos futuros que podem ser previstos com um maior ou menor grau de confiança. (KEYNES, 1936, p. 123) Dos fatos que Keynes supõe “conhecidos mais ou menos com certeza”, ele destaca o volume dos bens de capital diversos e a procura dos consumidores por artigos que demandam maior assistência de capital para garantir eficiência produtiva. Já em relação aos “eventos futuros que podem ser previstos com um maior ou menor grau de confiança”, Keynes irá admitir fatores de alto grau de subjetividade (mudanças na preferências dos consumidores após formado o estoque, variações na demanda no decorrer da vida útil do equipamento e variações nominais na taxa de salários), que não podem ser previstos, no máximo, podem ser prospectados conforme um estado de expectativa psicológica acerca desses eventos futuros. A essas condições de prospecção futura Keynes chamou “estado da expectativa de longo

prazo”(Keynes, 1936, p. 123) e, dada a existência dessas condições, resulta que:

(...) a eficiência marginal do capital depende não apenas da abundância ou escassez existente de bens de capital, mas também das expectativas correntes relativas ao futuro rendimento dos bens de capital. Consequentemente, no caso de bens duráveis, é natural e razoável que as expectativas do futuro desempenhem um papel preponderante na determinação da escala em que se julguem recomendáveis novos investimentos. (KEYNES, 1936, p. 123) Assim, a eficiência marginal do capital oscila porque está sujeita às expectativas de longo prazo que são, por definição, incertas. Se por algum motivo as expectativas de longo prazo dos empresários ficam mais otimistas, de modo que acreditem que os seus rendimentos no futuro serão maiores, aumenta a eficiência marginal do capital, que se indicarem retornos superiores em relação à taxa de juros, levará os empresários a realizarem os investimentos em bens de capital.

Keynes considera o estado das expectativas de longo prazo estável na maioria das vezes, mas sujeito a bruscas e repentinas oscilações. E considera que estas abruptas oscilações não poderiam ser normalmente compensadas por variações similares nas taxas de juros, pois:

Considerando-se que, provavelmente as flutuações na estimativa do mercado na eficiência marginal dos diversos tipos de capital, calculadas na forma descrita antes, serão demasiado grandes para que se possa compensá-las por

(38)

Desse modo, as expectativas de longo prazo teriam maior poder de determinação sobre os investimentos do que a própria taxa de juros, sendo a sua inconstância o fator principal para explicar a variação nos investimentos que torna instável o nível de emprego, e assim, as variações na eficiência marginal do capital serão mais importantes que as variações na taxa de juros para explicar os investimentos, e por consequência, o nível de emprego.

Porém, as bases teóricas para explicar as expectativas de longo prazo e prevê-las são muito frágeis, dado o seu caráter subjetivo. As expectativas de longo prazo se reportam ao que cada empresário espera em relação às condições da economia no futuro, sendo, portanto, individuais. Estas estão sujeitas ao estado de confiança empresarial, que é uma expectativa coletiva quanto ao momento para investir, e sinalizam o grau de confiança que cada empresário pode ter nas próprias expectativas que fazem.

Este estado de confiança, por sua vez, estará sujeito à incerteza, sendo mais forte ou menos forte conforme a incerteza quanto ao futuro seja maior ou menor. Quanto maior a incerteza, menor será o estado de confiança, piorando as expectativas de longo prazo. Portanto a variação do investimento se dará conforme a significância da incerteza: quando a incerteza aumenta, pioram as expectativas de longo prazo, reduzindo os investimentos fazendo cair o nível de emprego. Uma redução da incerteza provocaria os efeitos contrários, expandindo o emprego. A instabilidade do nível de emprego, portanto, está intrinsicamente relacionada a presença da incerteza na economia. A próxima sessão tratará da natureza da incerteza, do porquê ela se faz presente no nosso sistema produtivo, e as implicações da sua presença.

2.3A INCERTEZA E A INSTABILIDADE NO NÍVEL DE EMPREGO.

Imagem

Gráfico 5: Participação dos Salários na Renda Total da Economia (wy):  Taxw30% PM 1,0
Gráfico 6: Participação dos Salários na Renda Total da Economia (wy):  Taxw 30% PM 0,125
Gráfico 8: Participação dos Salários na Renda Total da Economia (wy):  Taxw 50%, PM 0,125
Gráfico 19: Variável &#34;w&#34; de Kalecki: participação dos salários na renda como    função  dos fatores &#34;k&#34; e &#34;j&#34; - ORIGINAL E PVSM
+7

Referências

Documentos relacionados

This highly sensitive approach permits identification and quantification of a wide variety of amino acid misincorporations, but does not produce a comprehensive view of

Os dados referentes aos sentimentos dos acadêmicos de enfermagem durante a realização do banho de leito, a preparação destes para a realização, a atribuição

A identificação completa e inspecção da área de intervenção (ver figura 2) foram levadas a efeito por três equipas em domínios diferentes: Arquitectura, Sociologia e

Acrescenta que “a ‘fonte do direito’ é o próprio direito em sua passagem de um estado de fluidez e invisibilidade subterrânea ao estado de segurança e clareza” (Montoro, 2016,

A presente dissertação é desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação (PPGP) do Centro de Políticas Públicas e Avaliação

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

Na apropriação do PROEB em três anos consecutivos na Escola Estadual JF, foi possível notar que o trabalho ora realizado naquele local foi mais voltado à

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que