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O objetivo desta dissertação foi investigar os possíveis efeitos da PVSM sobre o nível de Emprego e a Distribuição de Renda da economia, para o qual utilizou-se uma estratégia metodológica a partir de simulações computacionais em um modelo macroeconômico para testar esses efeitos. A teoria econômica base dessa dissertação utilizou-se de Keynes e Kalecki para a análise dos efeitos sobre as variáveis investigadas.

A análise dos resultados das simulações realizadas para o modelo com a PVSM, quando comparados com os resultados obtidos para o modelo original, permitiu pontualmente as seguintes conclusões:

 A Política de Valorização do Salário Mínimo eleva tanto o Nível de Emprego, quanto a Distribuição de Renda em favor dos trabalhadores, independentemente das políticas fiscal e monetária;

 Para a Distribuição de Renda a PVSM não apenas melhora os níveis da participação dos salários na renda, como também altera a tendência da trajetória de queda ao longo do tempo;

 O nível de investimentos é maior com a PVSM ainda que os juros se elevem, corroborando com a observação feita por Keynes acerca da maior importância da eficiência marginal do capital em relação à taxa de juros para explicar as variações no investimento. Assim, diante uma piora na eficiência marginal do capital, reduzir as taxas de juros, apesar de correta, poderia não ser uma medida suficiente para compensar o efeito das expectativas pessimistas;  A PVSM provoca mudanças na composição setorial do emprego que permitem

concluir que há um aumento no peso relativo do setor de bens consumo básico correspondente a uma redução do peso relativo do setor de supérfluos, refletindo a distribuição de renda dos capitalistas para os trabalhadores. Assim, a redistribuição de renda corresponde à recomposição do perfil produtivo, tendo em vista que sociedades mais igualitárias possuem no PIB peso maior do setor de bens de consumo básico que do setor de bens supérfluos;

 Como há redução no peso relativo do consumo supérfluo, mas há expansão dos investimentos, conclui-se também que a PVSM provoca uma melhora no perfil do gasto capitalista;

 A PVSM gera um maior salário real, pois, apesar de os preços crescerem no modelo com a PVSM enquanto caem no modelo original, esse crescimento dos preços é menor que o crescimento dos salários, e o salário nominal no modelo com a PVSM é maior que no modelo original;

 O aumento do salário real no curto prazo se deve ao efeito da PVSM sobre o grau de monopólio (reduzindo-o) e no longo prazo pela aceleração da produtividade do trabalho (decorrente dos maiores níveis de investimento que a PVSM gera.)

 A PVSM induz um maior salário mercado, embora este permaneça sempre abaixo do salário mínimo. Ou seja, a presença de um salário mínimo nos moldes da PVSM atua como “farol”, reduzindo a distância entre o salário estabelecido pelo mercado e a remuneração considerada mínima ao bem-estar do trabalhador

Em consonância com os aspectos da teoria keynesiana discutidos no segundo capítulo da presente dissertação, confirmam-se os efeitos positivos de uma elevação dos salários sobre o emprego, na economia simulada pelo MKS, a partir dos canais que provocam:

 Uma expansão no Consumo, pelo aumento da propensão a consumir média da comunidade, em decorrência de uma maior distribuição de renda em favor dos trabalhadores;

 Uma expansão dos investimentos, como efeito de uma melhoria na Eficiência Marginal do Capital.

O efeito da PVSM, ao promover um reajuste maior e repor integralmente a inflação, inicia elevando o salário nominal quando ocorre o reajuste. O aumento nominal dos salários exerce uma pressão sobre os custos, elevando o nível de preços, mas no MKS, dadas as condições impostas pela dinâmica concorrencial (baseada na equação de preços kaleckiana), os empresários não repassam, instantânea e integralmente aos preços, o aumento dos seus custos com mão-de-obra.

Dessa forma, o crescimento dos preços é menor que o crescimento do salário, aumentando o salário real. Com um salário real maior que no modelo original, a PVSM impacta positivamente a distribuição de renda em favor dos trabalhadores, o que aumenta a

propensão a consumir média da comunidade, elevando o consumo, expandindo a Demanda Agregada e elevando o nível de empregona economia do MKS.

Tem-se, portanto, o mecanismo de transmissão descrito por Keynes para os efeitos de um aumento dos salários sobre o emprego, que são positivos quando geram uma distribuição de renda em favor dos trabalhadores, canal discutido no segundo capítulo desta dissertação (seção 2.1) .

Quanto aos investimentos, o outro canal keynesiano analisado que incidiu sobre os resultados de expansão do emprego em decorrência da PVSM, segue-se no MKS a seguinte dinâmica:

Os trabalhadores favorecidos com distribuição de renda demandam bens de consumo básico, o que estimula a maior produção, do setor produtor desse tipo de bem, para atender o acréscimo de demanda que o aumento real do salário dos trabalhadores de todos os setores fomentou.

A esse alargamento da produção, corresponde um número maior de trabalhadores, cujos salários somam para a massa de salários reforçando a melhoria da parcela dos salários na renda total, retroalimentando os efeitos sobre o consumo. Ao aumentar a produção para atender ao crescimento da demanda, ocorre a redução da capacidade ociosa instalada, e os empresários desse setor são estimulados a investir, expandindo o emprego e retroalimentando os efeitos.

A recorrência dos efeitos sobre a Demanda Agregada melhora a eficiência marginal do capital levando outros setores a investir e manter o nível de emprego elevado, cuja duração conta com o reforço da PVSM, que mantém o crescimento dos salários acima do crescimento dos preços. Assim, conclui-se que os canais apontados por Keynes de fato operam, na economia simulada pelo MKS, para uma expansão do nível de emprego mediante uma elevação dos salários. Todadvia, se faz importante frisar que a perda da força dos efeitos iniciais da PVSM sobre a expansão da Demanda Agregada se dá pelo o esgotamento do processo de distribuição de renda que aumenta o consumo dos trabalhadores, reduzindo assim o impacto sobre as expectativas dos empresários. Assim, os efeitos descritos estão condicionados ao efeito acelerador do multiplicador, que funciona enquanto a distribuição de renda melhora, e cessa depois que ela se estabiliza.

Semelhantemente, confirmam-se os fatores kaleckianos de determinação da participação dos salários na renda, discutidos no terceiro capítulo desta dissertação, que com a PVSM no modelo MKS teve um expressivo crescimento mediante:

 Uma queda da razão entre custos com matérias-primas e custos com mão-de- obra (razão “j”);

 Uma redução no grau do monopólio (“k”);

O impacto da PVSM gerou variações de magnitudes semelhantes na razão “j” e no grau de monopólio, contudo, devido à própria elaboração do cálculo de Kalecki para a participação dos salários na renda, para iguais variações percentuais em “k” e “j”, a redução no grau de monopólio contribuiu mais do que a razão “j” para o aumento da parcela de salários na renda.

Comparado com o modelo original, no modelo com a PVSM o custo com mão-de-obra cresce frente ao custo com matérias-primas, melhorando a distribuição de renda para os trabalhadores. Se o aumento dos custos com salário fosse repassado integralmente aos preços, as firmas do setor de matérias-primas reajustariam seus preços, e o custo com matérias primas subiria na mesma proporção do aumento dos salários, ficando constante a razão “j”. A PVSM se encarrega, então, de a cada reajuste manter o custo com salários (que remunera trabalhadores) crescendo mais que os custos com matérias-primas (que remunera capitalistas). A PVSM, ao elevar o custo para todas as empresas61, reduz o lucro de todas elas, independentemente do grau de monopólio individual de cada uma, o que provoca uma redução do grau de monopólio agregado, aumentado a parcela de salários na renda. Sujeitos à dinâmica concorrencial, os empresários repassam aos preços apenas a parte do aumento de custo que o grau de monopólio lhes permite repassar.

No Mks, os reajustes periódicos do salário mínimo repõem aos trabalhadores a perda ocasionada pelo aumento de preços, assegurando que os ganhos de salário não sejam apropriados pelos capitalistas através do aumento dos preços, o que mantém a elevação sobre os custos. Como o maior custo com mão-de-obra implica em queda da margem de lucro das

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Importa frisar que, tendo apenas o salário mínimo operando, como visto no gráfico 59, o custo de produção pesa demasiadamente sobre a economia, e com isso os impactos da PVSM são potencializados porque todos os trabalhadores recebem salário mínimo, o que não acontece numa economia real. Assim, os efeitos sobre os custos seriam mais amenos se os salários fossem diferentes como numa economia real.

empresas, o grau de monopólio se reduz fazendo com que as empresas não consigam recuperar, por meio da elevação dos preços, o total do aumento dos custos. Dessa forma, ao diminuir o poder dos capitalistas no processo de distribuição de renda, a PVSM, portanto, protege os ganhos do trabalhador.

Embora a equação de preços de Kalecki tenha uma papel importante nos mecanismos que geram o aumento do emprego e distribuição de renda a partir de um maior salário real, este processo de precificação é incapaz de isoladamente garantir esses resultados. Se esse fosse suficiente, o modelo original geraria os mesmos resultados da PVSM, pois nele opera o mesmo mecanismo de preços. No modelo original é a ausência de uma política pública de protenção e ganhos do salário real que faz com que não sejam observados os mecanismos keynesianos e kaleckianos.

Secundariamente, a análise dos resultados das simulações para o modelo com a PVSM, em confronto com os do modelo original, permitiu as seguintes conclusões:

Política Fiscal e Situação Financeira do Governo

 A política fiscal do modelo MKS não influencia a eficácia da PVSM para elevar o emprego e melhorar a distribuição de renda, mas afeta sua eficiência nestes objetivos, tanto em termos de seus níveis quanto do comportamento dinâmico da trajetória.

A trajetória do nível de emprego, apesar de continuar mais elevada que no modelo original, se eleva fortemente no início da simulação (de forma similar ao observado na Taxw 30%) é progressivamente reduzida na alíquota de tributação mais elevada (Taxw 50%), pois os empregos gerados como efeito da política são parcialmente perdidos muito mais rapidamente, enquanto que na Taxw 30% esses empregos são mantidos.

Esta é uma conclusão que corrobora com a Teoria da Determinação do Emprego de Keynes, para a qual um aumento da tributação reduz a renda disponível, deslocando a curva de Demanda Agregada para a esquerda, e que significa que, para as condições simuladas pelo MKS, um governo que aplica uma regra de reajuste salarial nos moldes da PVSM e eleva a tributação sobre os ganhos reais de salários está implantando políticas contraditórias. Contudo, essa compensação pode ser pensada como estratégianuma contexto de alta inflação, pois esse aumento da tributação pode ser interessante para atenuar o crescimento na demanda;

 Já para a distribuição de renda, a tributação não altera a eficácia da PVSM, mas influencia a dinâmica da trajetória de “wy”, criando um trade-off entre um melhor resutado de curto prazo, caso da Taxw 30%, ou de longo prazo, caso da Taxw 50% ;

 Conclui-se, portanto, que a Taxw 30% gera os melhores resultados no curto prazo tanto para o emprego quanto para a distribuição de renda. Entretanto, em uma análise de longo prazo, permanece como melhor opção de política para o emprego, mas torna-se menos eficiente que a Taxw 50% quando se trata da Distribuição de Renda;

 A situação fiscal do governo é melhor com a PVSM, apresentando um maior nível de receita decorrente da maior arrecadação com a expansão do emprego. Como efeito dessa maior receita, o governo apresenta também uma menor Dívida Pública como proporção do PIB, e, em decorrência disso, o volume de gastos governamentais também é maior do que no modelo Original;

 A participação do emprego público no total do emprego é menor com a PVSM, o que permite concluir que, para as condições simuladas pelo MKS, uma política que promova a redistribuição da renda e estimule o emprego contribui para aumentar o peso do setor produtivo privado, portanto, promove uma economia menos dependente do setor público.

As duas últimas conclusões contrariam o senso ortodoxo ao demonstrar que uma política de redistribuição de renda pode resultar numa dívida pública menor, um déficit menor e uma participação do Estado menor na economia em termos do peso do setor público na geração de emprego.

Política Monetária

 Uma menor gradualidade da banda de variação da taxa de juros afeta o nível de investimento para uma tributação salarial baixa, enquanto que para uma tributação mais elevada a variação das bandas da taxa de juros não afeta significativamente o investimento. Assim, no MKS a potência da política monetária sobre os investimentos cresce quando a política tributária é mais fraca;

 Apesar de influenciar o investimento na Taxw 30%, a graduação das bandas de variação da taxa de juros analisadas (PM 1,0 e PM 0,125) não se mostraram importantes para alterar os efeitos da PVSM sobre o Emprego e a Distribuição de Renda, independentemente da alíquota de tributação sobre os salários. Essa conclusão parece indicar um resultado coerente com a argumentação keynesiana sobre a maior potência da política fiscal do que da política monetária para gerar efeitos que impactem o emprego.

 A mudança de regra utilizada para o cálculo da taxa de juros, que passou a incorporar a aceleração inflacionária, também se mostrou insignificante para afetar os resultados da PVSM sobre o Emprego e a Distribuição de Renda;

 As duas últimas conclusões permitem afirmar que a totalidade das forças indutoras pelas quais a PVSM melhora o Emprego e a Distribuição de Renda não são afetadas, no modelo MKS, por mudanças na política monetária, seja de intensidade de variação da taxa de juros, ou, uma mudança na própria natureza da regra.

Comparando a influência das políticas fiscal e monetária sobre os efeitos da PVSM no Emprego e na Distribuição de Renda, conclui-se que a política fiscal de tributação de salários é mais poderosa que a política monetária para influenciar o nível de emprego.

Como conclusão maior tem-se que, para as condições simuladas pelo modelo MKS, a Política de Valorização do Salário Mínimo é eficaz para elevar tanto o Nível de Emprego, quanto a Distribuição de Renda em favor dos trabalhadores, variáveis que, quando sujeitas apenas às forças de mercado, mostraram desempenho muito inferior. Por causa do seu mecanismo de atuação, as simulações do modelo MKS mostraram que uma PVSM torna-se uma política social de proteção ao trabalhador, agente que, por estar em desvantagem de poderes no conflito distributivo, depende de políticas que influam sobre os fatores que determinam a participação dos salários na renda, cuja elevação resulta em um maior nível de emprego.