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MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA

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Academic year: 2018

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MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA

SENTA A PUA !

RESILIÊNCIA EM AMBIENTE DE AVIAÇÃO: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE AVIAÇÃO DE CAÇA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

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MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA

SENTA A PUA !

RESILIÊNCIA EM AMBIENTE DE AVIAÇÃO: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE AVIAÇÃO DE CAÇA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Psicologia: Psicologia Clínica, sob a orientação da Prof. Doutora Mathilde Neder.

(3)

_____________________________________________

_____________________________________________

_____________________________________________

_____________________________________________

(4)

era transformada,

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O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos. Livro de Provérbios, Capítulo 16, verso 9.

Agradeço a Deus porque nada me faltou. E não poderia ser diferente, pois Ele é o meu Pastor.

Ele me deu uma família, que esteve comigo neste trajeto, apesar das minhas ausências. Minha mãe, Maria, meus irmãos, Wagner e Neuci, minha cunhada, Lina, meus queridos sobrinhos, Vinícius, Augusto e César, e a filha que Deus me deu, Camilla. O interesse, a crença e o incentivo que deles vieram, confortaram-me inúmeras vezes. O Heitorzinho, em particular, um dia vai saber que todas as vezes que reclamou minha atenção e presença, aqueceu meu coração, e me animou, com seu amor explícito de criança.

Deus também me deu outra família, a Aeronáutica. Quem conhece minha história sabe que fazer parte da Instituição e servir no Hospital de Aeronáutica de São Paulo foram presente d’Ele. Lá eu tenho companheiros que foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. Sem ter a pretensão de citar todos, começo pelas queridas amigas da Seção de Psicologia, Márcia Fajer, Ana de Fátima N. Godoy, Roselisa Martins Hage, Maria Luiza Costa Nery (filha de veterano), Rita de Cássia B. Oliveira, Eliza da Costa e Luely de Lourdes Casella. Minha equipe não só minimizou o impacto das minhas inevitáveis ausências como, ao me ouvir e comentar, me ajudaram a pensar. Assim também foi na Divisão de Ensino e Pesquisa, onde Maria Clélia Borro e Rafael Martins Ronqui tantas vezes me ofereceram palavras e atitudes de tranquilização nos momentos mais tensos de conflito de compromissos.

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a motivação para este trabalho. Somando sua motivação à minha, não se pôs o sol sem que eu fosse apresentada, através dele, à pessoa fantástica do Comandante Fernando Corrêa Rocha, Jambock com 75 missões de guerra, que me introduziu no universo do Senta a Pua! Nesse contato, descobri que o Comandante Rocha e meu querido Edier haviam trabalhado juntos. Vi, naquela ‘coincidência’, um mote para ir em frente com meu projeto.

Nesse cinco anos, ganhei também um apoio espiritual mais próximo, proporcionado pelo Capelão Marcelo Coelho Almeida que, mais do que pastor, hoje é meu amigo. Ao término desta jornada de mais de cinco anos, ao lembrar do Hospital, lembro também de outros queridos amigos, que tantas vezes me abraçaram.

A PUC também me abraçou, mesmo que ainda não me conhecesse direito, e eu nunca mais vou esquecer daquele abraço. O que ali recebi também foi fruto do cuidado de Deus para comigo. A começar pela Orientadora, nada mais nada menos do que a Prof. Dra. Mathilde Neder. Forte, experiente, entusiasmada, agüentou firme quando eu propus mudar meu projeto de pesquisa. Mais do que isso, me incentivou e valorizou meus objetivos. Esse desejo de mudança, por sua vez, deve ser tributado à Profa. Dra. Ceres Alves de Araújo, que, em seu curso sobre Resiliência, me apresentou as interessantes perspectivas desse conceito. Durante uma de suas aulas, tive a oportunidade de assistir à apresentação do Prof. Dr. José Roberto Pretel Job, baseada em sua tese de Doutorado, sob o título “A Escritura da Resiliência”. Ao término daquela apresentação vários elementos se harmonizaram, dando-me a firme convicção de que, sob a perspectiva da Resiliência, minhas questões acadêmicas encontrariam respaldo. Foi também a Profa. Ceres que, na ausência da Profa. Mathilde, supriu a orientação de que eu necessitava.

Seguindo em frente, a Profa. Dra. Edna M. S. Peters Kahhale me ajudou a consolidar motivação em ação, com suas instigantes questões sobre o sentido da produção do conhecimento. Mais recentemente, enfim, descobri que a Profa. Dra. Denise Gimenez Ramos é filha de piloto militar veterano, que cumpriu missões de patrulha durante a Segunda Guerra Mundial. Com essa intimidade com a aviação militar, repercutiu comigo assuntos ligados à minha área de interesse. O mundo é pequeno? Acho que a aviação ajuda a torná-lo.

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documentário. A mesma receptividade obtive do Sr. Luis Gustavo Gabriel, administrador do portal www.sentandoapua.com.br e filho do veterano David Rosal Gabriel, que amavelmente me autorizou a utilização do material constante de seu acervo. Igualmente do Sr. Carlos Lorch, Editor da Action Editora, que fez publicar o livro iconográfico Heróis dos Céus e gentilmente autorizou a inserção de algumas das imagens que ilustram esse trabalho. Do Major Brigadeiro Rui Barbosa Moreira Lima tive o incentivo para a utilização do precioso material reunido em seu livro, Senta a Pua! autografado para mim com um ‘vibrante Adelphi’, honraria que muito me enche de orgulho. Do Major John Buyers, simpático e jovial, consegui não só a autorização para a utilização do material publicado em seus livros como também fui brindada com exemplares dedicados. Uma honra. E não é que Sérgio Carlos Stéfano é também um entusiasta da aviação e dos Jambocks e, ainda por cima, faz aniversário no Dia do Aviador? Sérgio, tinha que ser você a me acompanhar por boa parte dessa trajetória.

E quanto aos veteranos? Como poderia suficientemente agradecer? Só mesmo remetendo a Deus essa gratidão. Compartilhei suas histórias, aventuras, reflexões. Minhas emoções se alternaram entre admiração, surpresa, espanto, riso e choro. Fui agraciada com sua atenção e tempo, quando tive contato com os Majores Brigadeiros Rui Barbosa Moreira Lima e José Rebelo Meira de Vasconcelos, com o Coronel Manoel dos Santos Nery, Major João Rodrigues Filho e Capitão Osias Machado da Silva. Foram generosos em tudo o que compartilharam comigo e me ajudaram a conhecer melhor não só suas histórias, mas a própria História da Força Aérea Brasileira e um pouco mais do povo brasileiro e da História do Brasil.

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A prática da atividade aérea é vista como naturalmente adversa ao ser humano, sendo, assim considerada uma atividade de risco. Não obstante, representa uma área de atuação das mais preponderantes na sociedade moderna. A despeito das adversidades que lhe são características e, por essa mesma razão, apesar de suscitar um sistema altamente complexo, regulamentado e controlado, insere profissionais que se mantêm altamente motivados. A complexidade do sistema aeronáutico, por sua vez, procura responder à expectativa de que, apesar dos riscos envolvidos, a prática da atividade aérea se efetive de maneira segura e eficaz. Para abordar algumas dessas contradições, o presente trabalho defende a tese da aplicabilidade do conceito de Resiliência, como um processo do desenvolvimento das pessoas, na área de fatores humanos, em ambiente de aviação. Para testar sua viabilidade, esse modelo conceitual foi utilizado na análise do desempenho bem-sucedido apresentado pelo Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil (1º GAvCa) em sua participação na Segunda Guerra Mundial. Essa análise foi viabilizada através de uma pesquisa, sob abordagem qualitativa e quantitativa, a partir de testemunhos de vida de um total de 95 ex-combatentes, publicados em diversos meios de comunicação ou obtidos pela aplicação de um questionário aos indivíduos acessíveis. Esses testemunhos, apresentados em forma de discursos, foram tratados sob o Método do Discurso do Sujeito Coletivo. Contextualizados a partir de uma pesquisa histórica e do estudo da simbólica do 1º GAvCa, os dados encontrados permitiram o desvelamento das variáveis pressupostas no conceito de Resiliência, quais sejam, contexto de adversidade, fatores de proteção, fatores de resiliência e resultado positivo em termos de adaptação. Diante desse resultado, a autora demonstra a viabilidade da abordagem das vicissitudes da interação homem-meio-máquina em ambiente de aviação, sob o enfoque da Resiliência. Além disso aponta as vantagens de sua utilização, permitindo uma maior amplitude na análise e melhoria de processos no sistema aeronáutico, haja vista essa abordagem incluir a contemplação de fatores de proteção e de resiliência, e por também valorizar os resultados positivos a despeito dos fatores de risco ou adversidade.

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The practice of airborne activity is seen as naturally adverse to the human being, this way it is considered a risky activity. Nonetheless, it represents one the most outstanding areas of performance in modern society. Despite the adversities that are characteristic to it and, for this same reason, despite involving a highly complex system, regulated and controlled, it includes professionals that are always highly motivated. The complexity of the aeronautical system, in turn, seeks to answer the expectation that, regardless the risks involved, the practice of the airborne activity is performed in an effective and safe way. To approach some of these contradictions, the present study defends the thesis of applicability of the Resilience concept, as a process of human development, in the area of human factors, in airborne environment. To test its feasibility, this conceptual model was used in the analysis of the well-succeeded performance presented by the Brazilian First Fighter Squadron (1º GAvCa) in its role during World War II. This analysis was feasible by means of a research, under a qualiquantitative approach, from life experiences of a total of 95 veterans, published in the media or obtained by applying a questionnaire to the accessible subjects. These experiences, presented in the form of speeches, were treated under the Collective Subject Speech Method. Contextualized from a historical research and the study of the symbolic of the 1o. GAvCa, the data collected permitted the unveiling of the presumed variables in the concept of Resilience, that is, context of adversity, protective factors, resilience mechanisms and positive outcome on adaptation. Facing this result, the author shows the feasibility of the approach of the unpredictable changes of the interaction man-environment-machine in the airborne environment, under Resilience approach. Moreover, it points out the advantages of its usage, allowing a higher amplitude in the analysis and improvement in the aeronautical system processes, since this approach includes the contemplation of both the risk and resilience factors, as well as enriching the positive outcome regardless the risk factors or adversity.

(10)

INTRODUÇÃO

__________________________________________________ 27

1 - ESTRESSE E RESILIÊNCIA

___________________________________ 33

1.1

ESTRESSE

________________________________________________ 34

1.1.1 O ESTRESSE E A ATIVIDADE AÉREA

____________________________ 35

1.1.2 EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PARTICIPAÇÃO EM OPERAÇÕES BÉLICAS

_ 39

1.1.3 O TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

_________________ 45

1.2

RESILIÊNCIA

______________________________________________ 48

1.2.1 RESILIÊNCIA E ATIVIDADE AÉREA

______________________________ 59

2 - CONTEXTO HISTÓRICO

______________________________________ 61

2.1

A AVIAÇÃO MILITAR NO BRASIL ATÉ A SEGUNDA GUERRA

MUNDIAL

______________________________________________________ 61

2.2

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

_____________________________ 68

2.3

O 1º GRUPO DE AVIAÇÃO DE CAÇA DO BRASIL DURANTE A

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

____________________________________ 80

2.3.1 A PRESIDENTIAL UNIT CITATION

______________________________ 88

3.2

O EMBLEMA

______________________________________________ 98

3.2.1 O AVESTRUZ

______________________________________________ 99

3.3

O GRITO DE GUERRA: SENTA A PUA!

_______________________ 101

3.4

O NOME DE CÓDIGO – JAMBOCK

__________________________ 102

3.5

A SAUDAÇÃO – ADELFI

____________________________________ 104

3.6

A BANDEIRA NACIONAL

___________________________________ 105

3.7

O CANCIONEIRO

_________________________________________ 108

3.7.1 A CANÇÃO DA JARDINEIRA

__________________________________ 109

3.7.2 CARNAVAL EM VENEZA

____________________________________ 109

3.7.3 CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO

_______________________________ 111

3.7.4 LILLI MARLENE

___________________________________________ 112

3.7.5 PEQUENAS TROVAS

_______________________________________ 113

3.7.6 A ÓPERA DO DANILO

______________________________________ 114

3.8

OS MITOS

_______________________________________________ 120

3.8.1 O SENTIDO MÍTICO DO VÔO

_________________________________ 121

3.8.2 O MITO DO HERÓI

________________________________________ 123

3.8.3 MITOS DE GUERRA – MARTE E MINERVA

_______________________ 125

4 - MÉTODO

___________________________________________________ 127

4.1

ABORDAGEM

____________________________________________ 127

(11)

4.3.2 AMOSTRA

_______________________________________________ 128

4.3.3 COLETA DE DADOS

________________________________________ 128

4.3.4 TRATAMENTO DOS DADOS

__________________________________ 130

5 - RESULTADOS

______________________________________________ 135

5.1

RESULTADOS RELATIVOS ÀS PESSOAS

____________________ 135

5.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

____________________________ 135

5.1.2. CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS

___________________________ 139

5.1.3. TIPICIDADE DAS AMOSTRAS

_________________________________ 142

5.2.

RESULTADOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS

____________ 149

5.2.1. ORGANIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

_____________ 149

5.2.2. RESULTADOS OBTIDOS NOS DEPOIMENTOS

_____________________ 150

5.2.3. RESULTADOS OBTIDOS DO QUESTIONÁRIO

_____________________ 170

5.2.4. MARCAS DA GUERRA – RESULTADOS OBTIDOS

__________________ 184

6 - DISCUSSÃO

________________________________________________ 187

CONCLUSÕES

_________________________________________________ 227

BIBLIOGRAFIA

_____________________________

Erro! Indicador não definido.

GLOSSÁRIO

_______________________________

Erro! Indicador não definido.

ANEXO A - Navios Brasileiros Afundados Durante a Segunda Guerra

Mundial

______________________________

Erro! Indicador não definido.

ANEXO B - Modelo do Questionário AplicadoErro! Indicador não

definido.

ANEXO C - Distribuição de Missões por PilotoErro! Indicador não

definido.

ANEXO D - Relação dos Temas delos Quais Foram Classificados os

Depoimentos e Entrevistas dos Membros do 1º GAvCaErro! Indicador não

definido.

ANEXO E - Depoimentos: Quantidade e Proporção de Indivíduos por

Tema

________________________________

Erro! Indicador não definido.

ANEXO F - Resultados Quantitativos dos DepoimentosErro! Indicador

não definido.

ANEXO G - Depoimentos: Percentual de Indivíduos por TemaErro!

Indicador não definido.

ANEXO H - Depoimentos: Percentual de Expressões-Chave por Tema

_____________________________________

Erro! Indicador não definido.

ANEXO I - Depoimentos: Proporção de Expressões-Chave Entre Apoio e

Pilotos por Tema

______________________

Erro! Indicador não definido.

ANEXO J - Discursos do Sujeito Coletivo dos DepoimentosErro!

(12)

FAB Força Aérea Brasileira

1º GavCa Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil

Grupo de Caça Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil

Grupo Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil

1º Grupo de Caça Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil

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Tabela 1 - Resultado de Busca em Bases de Dados para a palavra Chave Resiliência

Tabela 2 - Total de Operações Realizadas pelo 1º Grupo de Aviação de Caça do Brasil na Campanha da Itália

Tabela 3 - Resultados Obtidos pelo 1º Grupo de Aviação de Caça do Brasil na Campanha da Itália

Tabela 4 - Distribuição do Efetivo do 1º GAvCa por Nível Hierárquico

Tabela 5 - Distribuição do Efetivo do 1º GAvCa por Área de Atuação

Tabela 6 - Causalidades no 1º GAvCa em Campanha Distribuição por Tipo de Causalidade e Tipo de Impacto

Tabela 7 - Distribuição das Amostras por Nível Hierárquico

Tabela 8 - Distribuição das Amostras por Função

Tabela 9 - Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 1ª Questão

Tabela 10 - Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 2ª Questão

Tabela 11 - Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 3ª Questão

Tabela 12 - Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 4ª Questão

Tabela 13 - Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 5ª Questão

Tabela 14 - Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 6ª Questão

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(16)

Gráfico 1 - Distribuição do Efetivo por Círculo Hierárquico

Gráfico 2 - Distribuição do Efetivo por Área Funcional

Gráfico 3 - Efetivo - Proporção entre funções de Apoio e Piloto

Gráfico 4 - Comparativo entre o Número de Causalidades em Pilotos por Número de Saídas

Gráfico 5 - Proporção Efetivo – Amostras

Gráfico 6 - Comparativo entre Efetivo e Amostras: Proporção por Nível Hierárquico

Gráfico 7 - Comparativo entre Efetivo e Amostras: Proporção por Área de Atuação

Gráfico 8 - Comparação Quantitativa entre Efetivo e Amostras

Gráfico 9 - Comparativo entre População e Amostras: Tendência de Contribuição por Nível Hierárquico

Gráfico 10 - Comparativo entre Efetivo e Amostras: Distribuição por Função

Gráfico 11 - Comparativo entre Efetivo e Amostras: Tendência de Contribuição por Função

Gráfico 12 - Comparativo entre População e Amostras Consolidadas: Distribuição por nível hierárquico

Gráfico 13 - Comparativo entre População e Amostras Consolidadas: Tendência de Contribuição por Nível Hierárquico

Gráfico 14 - Comparativo entre População e Amostras Consolidadas: Distribuição por Área Funcional

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Gráfico 17 - Clima Pré Guerra

Gráfico 18 - Experiência Anterior

Gráfico 19 - Voluntariado

Gráfico 20 - Os Homens-Chave

Gráfico 21 - Treinamento

Gráfico 22 - Viagem à Itália

Gráfico 23 - Os Símbolos

Gráfico 24 - O Desembarque na Itália

Gráfico 25 - A Chegada a Tarquínia

Gráfico 26 - A Primeira Base

Gráfico 27 - O Início das Atividades

Gráfico 28 - Fatalidades

Gráfico 29 - Abatidos em Combate

Gráfico 30 - O P-47

Gráfico 31 - O Líder

Gráfico 32 - Relacionamento no Grupo

Gráfico 33 - Relacionamento com a População Italiana

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Gráfico 35 - A Base de Pisa

Gráfico 36 - Diversão

Gráfico 37 - Álcool

Gráfico 38 - Música

Gráfico 39 - Família

Gráfico 40 - Rotina

Gráfico 41 - Esforço

Gráfico 42 - Esgotamento

Gráfico 43 - Estratégias de Enfrentamento

Gráfico 44 - A Ofensiva da Primavera

Gráfico 45 - Eficiência

Gráfico 46 - O Fim da Guerra

Gráfico 47 - A Volta ao Brasil

Gráfico 48 - Reflexões

Gráfico 49

1) Que circunstâncias antes, durante e depois da Campanha da Itália o senhor apontaria como mais desgastantes na participação do 1º GAvCa?

Gráfico 50

2) E as circunstâncias mais gratificantes? Gráfico 51

Agora, com relação às experiências do 1º GAvCa:

3) Que tipo de experiências o senhor apontaria como mais sofridas para o 1º GAvCa na Segunda Gerra Mundial?

Gráfico 52

(19)

Gráfico 54 - Marcas da Guerra: Comparativo entre Resultados Positivos e Negativos por Nº de Respostas

Gráfico 55 - Marcas Positivas da Guerra: Proporção de Respostas por Grupo

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Figura 1 - Um piloto de caça do Brasil na Campanha da Itália, pronto para decolar, com máscara de oxigênio. Fonte: Heróis dos Céus ..., (2004).

Figura 2: Guernica, de Pablo Picasso, disponível em:

http//upload.wikimedia.org/wikipedia/em/thumb/7/74/PicassoGuernica.jpg/300px-PicassoGuernica.jpg

Figura 3 – O Grupo de Caça Brasileiro no Âmbito da Força Aérea Aliada no Mediterrâneo.

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(22)

O trabalho que se apresenta defende a introdução do conceito de Resiliência, como processo relacionado ao desenvolvimento humano, em ambiente de aviação. Entende-se tratar de um modelo conceitual viável e altamente operacional, para fins de abordagem de algumas questões relativas ao Fator Humano, especialmente afetas às áreas da saúde e da prevenção de acidentes aeronáuticos.

Sintetiza uma trajetória de reflexões da autora, acerca do desempenho humano em ambiente de aviação e se materializa, dentre outros requisitos, como sua Tese para obtenção do título de Doutora em Psicologia Clínica.

Essa trajetória teve início com sua inserção nesse ambiente, há 25 anos atrás, compondo a equipe do Hospital de Aeronáutica de São Paulo. Nessa Organização Militar de Saúde do Comando da Aeronáutica, como especialista em Fator Humano, tem tido a oportunidade de participar de algumas das diversas atividades organizadas para que o sistema aeronáutico no País se processe de maneira segura e eficiente, tais como o controle e acompanhamento das condições de saúde e de trabalho de um de seus principais protagonistas – os aeronavegantes.

A eficiência do sistema aeronáutico está diretamente relacionada a dois aspectos do bem comum, por favorecer a liberdade e efetividade de deslocamento das pessoas – através da aviação civil - e também, mais especificamente, por ser um dos meios através do qual se apóia um sistema mais amplo, relativo à segurança e à defesa da soberania nacional – através da aviação militar.

Esse sistema se sustenta primordialmente nas atividades humanas, levadas a cabo em um ambiente nem sempre propício à confortável evolução dos homens que as conduzem, em especial os aeronavegantes.

Já em sua dissertação de mestrado, a autora se deparava com uma das mais importantes demandas impostas ao homem em ambiente de aviação, representada pelo estresse, em seu mais amplo sentido bio-psicossocial, ao qual o mesmo está continuamente exposto.

A aeronavegação eleva os homens às alturas, e atende a um dos anseios primordiais de sua alma: a superação de limites. Por outro lado, entretanto, insere-os em um ambiente de risco, para o qual não estão naturalmente adaptados.

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especializadas, algumas delas fora do repertório natural humano, e terminam com uma série de ações de regulamentação e controle de sua inserção nessa atividade.

Mesmo que se tente garantir o mais possível a adaptação do homem à sua condição de trabalho, ela não deixa de estar isenta de demandas para as quais a sua melhor resposta tem sido, ancestralmente, o estresse.

A questão é que, mesmo que a resposta representada pelo estresse seja, a priori, inteiramente necessária, por favorecer o acionamento de reações psicofisiológicas que garantam ao homem a possibilidade de adaptação flexível às variações ambientais (num sentido amplo) que possam vir a comprometer seu equilíbrio, a exposição inadequada ao estresse e/ou seu gerenciamento ineficaz, estão associados ao esgotamento e à exaustão, assim como à predisposição a uma ampla gama de patologias, trazendo diferentes graus de incapacitação.

Em razão disso, a presença do estresse em ambiente de aviação se mantém como um assunto de contínuo interesse por parte dos profissionais da área dos fatores humanos. Sua principal razão remete ao risco implícito de que a manifestação mais intensa do estresse possa vir a influenciar negativamente o sistema aeronáutico, tanto por afetar a saúde psicofísica dos aeronavegantes, comprometendo assim sua prontidão operacional, quanto por representar um fator de predisposição a acidentes, ao afetar também a eficiência de seu desempenho. Falhas custam caro, concreta e metaforicamente, pois significam elevados prejuízos financeiros e risco ao bem-estar e à vida das pessoas.

Na pesquisa que resultou em sua dissertação de Mestrado, a autora comprovou essa realidade mas, ao mesmo tempo, se viu diante de novas questões, que passaram a direcionar sua atenção a partir de então, principalmente pela aparente contradição à realidade que então estudara:

- Por que aeronavegantes, apesar de sua contínua e intensa exposição ao risco e à diversidade de estressores que compõem seu ambiente típico de trabalho, e apesar das expectativas a esse respeito, preservam condições de saúde e de disponibilidade operacional bastante satisfatórias? Por que eles, apesar desses estressores, e a despeito de operarem em um ambiente fortemente estabelecido em uma série de controles e regulamentações, evidenciam preservar uma elevada motivação profissional?

Tentativas de abordagem desses questionamentos remetem imediatamente à necessária consideração de um complexo cenário, que inclui elementos outros que não somente aspectos especificamente relacionados à individualidade desses profissionais.

(24)

Dada sua importância, muito já se pesquisou sobre as implicações psicofisiológicas, sociais e institucionais do estresse nesse ambiente. Isso trouxe repercussões na evolução de conceitos tecnológicos e ergonômicos em busca da minimização do impacto que o meio adverso exerce sobre esses profissionais. Influiu também no estabelecimento de processos de seleção, treinamento e acompanhamento de pessoal, objetivando o desenvolvimento de habilidades que melhor interajam com as especificidades dessa atividade.

Acredita-se, entretanto, que a contínua e inevitável exposição ao risco, potencializada no caso da aviação militar, impõe às diversas áreas da ciência uma atenção para a atividade aérea que não contemple apenas o mapeamento e a minimização das fontes de demanda negativa.

Para além disso, julga-se interessante seguir a pista dada pelos próprios pilotos em sua história de interação com todas as adversidades tão objetivamente mapeadas da qual, ainda assim, retiram prazer, satisfação e sentido para a vida.

Recentes constatações científicas acerca do enfrentamento humano bem-sucedido a despeito de um contexto de adversidade, levaram à formulação do conceito de Resiliência. Estas apresentam-se naturalmente como um caminho promissor para a busca de uma compreensão mais abrangente sobre todas as vicissitudes da aventura humana para além do ecúmeno.

Seu enfoque inicial esteve mais centrado nas características individuais dos assim chamados

resilientes, como sinônimo de pessoas invulneráveis ou, mais tarde, competentes, diante de enfrentamentos. O avanço das pesquisas, entretanto, foi cada vez mais revelando o aspecto multifatorial e processual, com respeito à resiliência.

Isso se deveu ao fato de que, ao analisar os mecanismos dessa competência, mais e mais passaram a ser considerados não somente seus aspectos intrapsíquicos, como também fatores ambientais mais amplos, e seu dinamismo. Caminha-se atualmente na busca do melhor entendimento de sua complexidade.

Resiliência pode ser vista como uma capacidade, na medida em que se refere à possibilidade responsiva do sujeito. Resiliência pode também ser vista como um processo, por depender da interação de diversos fatores, de origem endógena, ambientais e relacionais.

Acima, de tudo, porém, o conceito de Resiliência possibilita uma abordagem teórica que revela uma mudança de paradigma na contemplação do ser humano e seus enfrentamentos, a partir de uma perspectiva mais positiva.

Essa mudança paradigmática vem trazendo também novas perspectivas para programas de prevenção e promoção, em razão da bidimensionalidade do conceito. Fala-se de resiliência como a capacidade humana que se manifesta em um contexto de risco ou adversidade, mediada pelos assim chamados fatores de proteção.

(25)

Essa realidade, ainda hoje, não é diferente daquela encontrada por Neder e Pereira, M. (2005) em seu artigo de revisão de literatura. Não obstante o volume de pesquisas em Resiliência venha aumentando a cada ano, extrapolando, inclusive, sua circunscrição inicial à infância e adolescência, o assunto continua praticamente ausente em pesquisas na área da aviação.

Como problema de pesquisa, portanto, coloca-se: o conceito de resiliência pode ser adequadamente aplicado ao ambiente profissional relativo à aviação? Para tal questão central norteadora da pesquisa, e diante dos questionamentos já colocados como moto principal deste trabalho, a hipótese que se coloca é: o conceito de resiliência, como processo, apresenta-se como uma abordagem aplicável à compreensão dos complexos fenômenos envolvidos nos processos que levam a resultados positivos, cuja natureza se busca entender.

Como natural extensão da hipótese enunciada, busca-se demonstrar ainda que há fatores de resiliência favorecendo a interação homem-meio-máquina, em ambiente de aviação em um processo bem-sucedido, e estes poderão ser identificados através da abordagem apropriada. Para tanto, a pesquisadora se vale do pressuposto de que um exemplo poderoso de resiliência em ambiente de aviação poderá ser retirado da experiência do 1º GAvCa na Segunda Guerra Mundial.

Esse Grupo, contra todas as expectativas para seu desempenho, e a despeito de todas as adversidades, típicas da situação de combate ou decorrentes das características da sua missão, teve um desempenho considerado excepcional, oficialmente reconhecido através da concessão da Presidential Unit Citation:

[...] condecoração exclusiva das Forças Armadas dos EUA, criada para homenagear coletivamente suas unidades de combate, [que] acabou sendo também outorgada a apenas duas Unidades estrangeiras – o 1º Grupo de Aviação de Caça da FAB e um esquadrão da RAF. (HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA, vol. 3, p. 564).

O estudo da experiência do 1º GAvCa na Campanha da Itália certamente trará novos elementos para a melhor compreensão do processo de resiliência ocorrendo em um ambiente típico de aviação. Definiu-se, assim, como o objetivo da presente pesquisa, desvelar os fatores de resiliência pressupostos no desempenho do 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro na Campanha da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Esse desvelamento se deu a partir do acesso metodológico, com abordagem qualitativa, a testemunhos de vida obtidos de ex-combatentes do 1º GavCa.

(26)

Os testemunhos de vida, veiculados nesses depoimentos, e que se apresentaram na forma de discursos, foram tratados através da Técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. O objetivo encetado foi a homogeneização do material verbal em idéias centrais compartilhadas entre os ex-combatentes, as quais revelaram as representações sociais, ou seja, as idéias, pensamentos e crenças compartilhados, presentes no conjunto de discursos.

Em face dos muitos pormenores necessários à explicitação do procedimento adotado, estes serão descritos no capítulo destinado ao Método. Buscou-se atender a todos os detalhes da complexidade sob a qual se conduziu a análise dos dados nesta pesquisa. Buscou-se atender, inclusive, as recomendações metodológicas propostas para uma abordagem processual da resiliência, que implicam em contemplar seus múltiplos fatores, que “podem ser familiares, bioquímicos, fisiológicos, cognitivos afetivos, biográficos, sócio-econômicos, sociais e/ou culturais” (INFANTE, 2005, p. 30). Para tanto, os discursos foram contextualizados no cenário no qual as experiências relatadas foram vividas.

Assim, para o melhor entendimento dos nexos sociais, políticos, profissionais e institucionais a dar sentido ao que contam os ex-combatentes, realizou-se uma pesquisa histórica pormenorizada. Tal pesquisa focalizou a evolução da aviação militar no Brasil até a criação do 1º GAvCa, os principais eventos da Segunda Guerra Mundial, que culminaram com a decisão do envio do Grupo ao combate, assim como a própria história dessa participação. Enfatiza-se, no capítulo sobre esse assunto, a documentação da Presidential Unit Citation, conquistada pelo 1º GavCa, que foi considerada como evidência de resultado positivo.

Ao mesmo tempo, um estudo específico da Simbólica do 1º GavCa, que emergiu ao longo de suas vivências em combate, buscou incluir elementos de análise que, transcendendo o relato verbal das experiências vividas, mas corporificando-as em expressões indiretas de seus enfrentamentos, complementaram o entendimento das estratégias psicológicas ocultas nos símbolos suscitados.

Dando suporte teórico à pesquisa, está incluído também um capítulo específico, detalhando a teoria do estresse e suas relações tanto com a atividade aérea de um modo geral quanto com relação às implicações do seu emprego em atividades de combate. Estabelece-se, a partir da discussão sobre estresse em ambiente de aviação, um nexo com o conceito de Resiliência, este também detalhado com relação à sua evolução e propostas atualmente formuladas.

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A ênfase foi dada ao desempenho do Grupo, perfeitamente viável, principalmente se considerada sob a definição de resiliência destacada por Araújo: “a capacidade universal, que permite à pessoa, grupo ou comunidade prevenir, minimizar ou superar os efeitos danosos da adversidade“ (2006, p. 11).

Para além da demonstração da hipótese aqui defendida, o resultado da presente pesquisa também suscitará a viabilidade da utilização do conceito de resiliência na orientação de ações que visam à eficácia do sistema aeronáutico, medida por sua efetividade e prática segura.

No Brasil, o modelo de análise dos fatores humanos em aviação adotado pelo Sistema de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), considera o trinômio homem – meio – máquina, e suas inter-relações, como abordagem apropriada para contemplar de maneira plena o desempenho humano nesse tipo de realização. Essa mentalidade se alinha ao atual desafio das pesquisas em resiliência, propondo alcançar sua essência processual, apresentando-se como um dos argumentos para a viabilidade desse conceito no âmbito da aeronáutica civil e militar.

Além disso, essa visão integrativa, permitida pela concepção da Resiliência, alinha-se ainda com a mentalidade e as demandas da pós-modernidade. Isso em função de seu enfoque bastante positivo (Yunes, 2003), que contempla muito mais os recursos do ser humano do que o efeito patológico das inevitáveis adversidades proporcionadas pela vida, assim como por seu estilo processual, multifatorial, holístico.

Alinha-se, também, aos pressupostos teóricos da Concepção Psicossomática que, num sentido mais amplo, orientam a abordagem conceitual da pesquisadora. Essa abordagem remete à inseparabilidade e interdependência dos aspectos psicossociais e biológicos nos seres humanos, caracterizando-os pelo seu complexo mente-corpo inserido num ambiente social. Sob esse enfoque, segundo Lipowski (1977) a Psicossomática preocupa-se com o estudo científico da relação entre fatores psicológicos, sociais e biológicos na determinação da saúde e da doença.

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Da mente para o corpo. Polêmico e contraditório, o termo psicossomática, antes de ser condenado por aludir à idéia superada da dualidade mente-corpo e da psicogênese, deve aqui ser visto como a designação consagrada de um movimento que pretendeu reunir o que, de fato, nunca esteve separado.

O esforço para a compreensão e abordagem das doenças acompanha a trajetória do desenvolvimento da civilização e do conhecimento científico. Desde seus primórdios, que remetem às religiões primitivas de leste a oeste e às correntes filosóficas, o enfrentamento das doenças e o acolhimento dos doentes sempre considerou os seus aspectos mentais, principalmente relacionados ao mundo de representações e significados.

Da mesma forma, questões sociais e ambientais também sempre foram consideradas, quer com respeito ao seu papel na etiologia das doenças, quer através de sua inclusão no arsenal terapêutico proposto.

O desenvolvimento científico das ciências naturais, entretanto, traçou, a partir do renascimento, um rumo que culminou, no século dezenove, com as superespecializações. Para a Medicina em particular, essa mentalidade se refletiu em explicações causais e atomizadas sobre a doença e o adoecer.

Essa forte mentalidade da época não impediu, entretanto, que Heinroth, em 1818, inaugurasse o termo “psicossomático” para explicitar a idéia de conflitos internos como base de doenças (STEINBERG, 2007). Historicamente, porém, o início do movimento psicossomático é localizado no limiar do século XX.

A partir de então, pôde-se considerar o inconsciente, como o princípio dinâmico da causalidade psicológica, em sua relação com as manifestações somáticas.

Concomitantemente, a neuroanatomia e a neurofisiologia foram dando suporte a essas questões. Pesquisas nessa área foram demonstrando que reações viscerais ocorrem como respostas adaptativas a ameaças reais ou simbólicas, moduladas pelas emoções. Demonstraram também que o organismo possui mecanismos para adaptar-se frente a um ambiente em constante mutação, a oferecer uma diversidade de estímulos. A busca da manutenção da homeostase move o organismo nesse contínuo esforço à adaptação.

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dimensão social. Seria essa instância tanto a fonte de estímulos específicos quanto a instigadora e modeladora de ações e percepções (p. 11).

Hoje, a Psicossomática pode ser vista como uma atitude que define uma abordagem holística, multifatorial e multidisciplinar (com aspirações interdisciplinares) do doente e da doença, mas também da saúde.

Para o conjunto de conhecimentos que hoje compõe o saber psicossomático, muito importantes foram as contribuições das pesquisas sobre Estresse, a revelar que a adaptação humana a um ambiente em constante mutação se dá na intimidade de sua realidade psicofísica, modulada por suas interações sociais, como se verá mais detalhadamente a seguir.

1.1

ESTRESSE

Formalmente desenvolvida pelo fisiologista Hans Selye, a partir de 1936, ganhando força nos meados do século XX, a Teoria do Estresse descreve a possibilidade dos organismos vivos enfrentarem, ativa e dinamicamente, situações que exijam esforço para adaptação, através do acionamento de reações fisiológicas específicas a estímulos inespecíficos que lhe perturbem o equilíbrio: homeostase.

Esse conjunto de reações, desencadeadas por uma coordenação neuroendócrina, invade o organismo como um todo, preparando-o para agir de acordo com o padrão luta-fuga, associado às emoções básicas de raiva-medo, anteriormente identificado através dos estudos de Pavlov e Cannon, que lhe garantem sua condição de vida livre. A esse conjunto de sinais e sintomas Selye denominou Síndrome Geral de Adaptação (SGA).

O termo estresse, tomado da física, encontrou nos organismos vivos, um padrão de resposta mais plástico e pró-ativo, composto de ações e contra-reações, estabelecidas, segundo Selye, em três etapas: reação de alarme, resistência e exaustão.

Com relação aos seres humanos, a categoria estímulos inespecíficos que perturbam sua

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Em princípio responsável pelo incremento da capacidade de resposta do indivíduo, habilitando-o a empreender esforços, resistir à dor e reagir a ferimentos ou doenças, tornando ainda seu raciocínio, pensamento, percepção e memória mais fluentes e eficazes, o estresse cobra seu preço através de um processo catabólico o qual, se não devidamente compensado pelo restabelecimento do equilíbrio homeostático, induz o organismo da fase de resistência à fase de exaustão. Esta, por carregar o risco de falência gradual da resposta adaptativa do indivíduo, tornando-o agora incapaz e incompetente para o enfrentamento das situações em mudança, recrudesce o risco de instalação das doenças de adaptação (Selye, 1984).

Por doenças de adaptação Selye entende aquelas decorrentes da sujeição excessiva ou inadequada à SGA, citando entre elas a hipertensão arterial, a úlcera péptica, a artrite e, em especial, patologias cardiovasculares, extensamente estudadas por ele e seu grupo.

Além de Selye, vários autores associam doenças orgânicas e mentais ao gerenciamento inadequado do estresse (BASTIAANS, 1961; LIPP, 1996).

Para a determinação de quanto estresse suporta um indivíduo, há que se considerar três fatores: Suas características de personalidade, a força ou natureza do estímulo (estressor), bem como a relação de tempo entre o estressor (ou estressores) atuando sobre esse indivíduo.

A diminuição da capacidade de enfrentamento, além de, como visto a pouco, abrir a possibilidade da instalação de doenças de adaptação, traz ainda conseqüências negativas para o desempenho de pessoas e grupos, em conseqüência da queda na capacidade de concentração da atenção, fadiga, tremores musculares, falhas de memória e da capacidade de julgamento, instabilidade emocional, entre outros sintomas.

Por essa razão, níveis elevados ou constantes de estresse têm sido associados à predisposição a acidentes, o que, por sua vez, tem levado um número crescente de organizações a adotar programas de gerenciamento do estresse como medida de prevenção, em especial aquelas que operam em ambiente aeronáutico.

1.1.1 O ESTRESSE E A ATIVIDADE AÉREA

Tendo em vista que a prática aviatória se desenvolve em um ambiente extremo para o ser humano, essa atividade é consensualmente considerada estressante pelos profissionais especializados em medicina aeroespacial e em psicologia da aviação.

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sua fisiologia, impacto esse que, para ser minimizado, depende da contínua evolução ergonômica das aeronaves, equipamentos e vestes, além do treinamento fisiológico dos tripulantes a tais condições.

Quanto ao aspecto psicológico, há que se considerar que a inserção na prática aviatória, para ser efetiva, precisa ser re-significada, evoluindo de sua condição de fonte natural de perigo para a de risco assumido, através da constante consideração e respeito aos óbices a serem, sempre que possível, superados ou, ao menos, contornados.

A despeito dessa evolução, a prática, em si, continua sendo intrinsecamente percebida pelo indivíduo como perigosa, o que leva ao estabelecimento do conflito interno “medo versus desejo de voar” (CIEAR, 1975). O medo, acionado pelo instinto de sobrevivência, para ser superado, depende de que a força do desejo o sobreponha.

Avaliando-se a força desse desejo pode-se considerar também a força da motivação que ele aciona. Tem-se daí que profissionais ligados ao vôo apresentam, em sua quase totalidade, grande nível de motivação profissional (PEREIRA, M., 2005).

A solução assim conseguida, remete o conflito intrapsíquico medo versus desejo a um plano subconsciente, cobrando, entretanto, o preço do sacrifício emocional. Há concordância entre vários autores sobre um certo grau de empobrecimento emocional, que acompanha o aeronavegante.

Acerca desse assunto, e ilustrativamente, Ursano (1980), consolida o seguinte quadro, com respeito a dados de pesquisa sobre características emocionais em pilotos militares:

[...] o piloto tende a evitar e negar sua vida emocional interior. Sensações íntimas tendem a ser percebidas como externas e motivadoras de modificações no ambiente mais do que a introspecção. Prefere manter os pensamentos concretos e evitar ambigüidades [...] O quadro geral é de um indivíduo com uma vida ativa e orientada para aquisições, que tende a ignorar seus estados emocionais internos [...] podendo-se esperar que tenha dificuldades quando confrontado com fracassos ou com uma situação ambígua, particularmente em termos sociais, tendo poucos mecanismos disponíveis para lidar com essa parte de sua personalidade altamente negada (p. 1246).

Por outro lado, a forte motivação, que inclui componentes emocionais e cognitivos, por se configurar como um contraponto à noção de perigo, tem importante papel na atenuação do impacto das vicissitudes do vôo, e, portanto, de seu potencial estressógeno.

Dejours (1992) enfatiza o “lugar excepcional da motivação no desempenho dos pilotos de caça: Pois, nesta profissão, é preciso estar motivado a todo instante sem o que o afrontamento do perigo corre o risco de terminar em catástrofe” (p. 88). Segundo esse autor, o desejo de voar condensa as aspirações de superpotência, de ultrapassagem e de libertação aos limites do homem.

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O nível consciente incluiria aspectos como prazer ou alegria de voar, a sensação de ser livre, a busca de novas sensações e a utilidade social do vôo, chance de controlar-se a si próprio e de performance psicofisiológica especializada para uma atividade que não abrange muitos erros.

Em nível pré-consciente, motivação envolveria o prestígio ligado à profissão, a identificação com as características heróicas da aviação e seus benefícios secundários como suposto sucesso sexual, a necessidade de expressar a afetividade extrapunitivamente mas inibida por padrões sociais e do Superego. Em nível inconsciente os conteúdos poderiam apenas ser levantados através de uma abordagem interpretativa, levando em conta o desenvolvimento da motivação nas profundezas da mente do indivíduo e possíveis distúrbios psicopatológicos (p. 955-6)

Jones (2002) assinala que a motivação para o vôo pode representar o equilíbrio entre fatores positivos, como satisfação, significado emocional e habilidades de enfrentamento, e fatores negativos, como medo, ansiedade, e perigo experimentado ou antecipado (p. 404).

A questão da motivação, se revela tão importante para a prática aviatória que seu contraponto, o medo do vôo, em aeronavegantes profissionais, sinaliza mudanças ligadas a problemas de adaptação, e podem se manifestar em diferentes níveis, desde reações de ajustamento até através de sintomas fóbicos e reações psicofisiológicas mais intensas, sempre valorizadas pelos profissionais de saúde.

Na medida em que o desejo de voar estimula a motivação aviatória, se estrutura como vocação e se organiza como opção profissional, a etapa seguinte diz respeito à inserção sócio-organizacional do indivíduo no meio aviatório.

Por um lado, a inserção nesse ambiente é necessária para que a prática aviatória se efetive. É nesse foro que o piloto é selecionado, treinado, examinado, acompanhado e contratado como profissional. É nesse ambiente que ele compartilha suas experiências e ideais relacionados à aviação. Por outro lado, tendo em vista que o ambiente aviatório se mostra pouco receptivo ao compartilhamento de temores, dúvidas e à ocorrência de falhas, tende a ser percebido pelo piloto como pouco adequado para apoiá-lo nesse aspecto(JOHNSTON, 1985).

Processos seletivos, treinamento contínuo e exames periódicos contribuem para a minimização de fatores de risco, porém não protegem completamente os profissionais da exposição ao estresse, e nem poderiam, além de serem, em si, estressógenos. A inevitável exposição do piloto aos eventos de vida, tem sido apontada como um importante aspecto a ser considerado com respeito à manutenção de sua capacidade de enfrentamento dos impactos inerentes à atividade aérea (ALKOV, 1974,1985; JONES, 2002).

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Mesmo considerado um grupo ocupacional dos mais saudáveis, a carreira e os controles previstos não protegem os aeronavegantes da exposição ao estresse. Estudos sobre causas de afastamento em aeronavegantes encontram a prevalência de doenças classicamente relacionadas ao estresse, como doenças coronarianas, distúrbios neurológicos e doenças psiquiátricas (CAMPOS JR et al., 1984; DeHART, Rufus, 1980; JOHNSTON, 1985; MAXWELL; DAVIES, 1982; MOHLER, 1984, 1986).

Pigini (1988), estudando o prontuário de 511 pilotos civis e militares, encontrou, como diagnósticos mais prevalentes, pelo número de indivíduos afetados, Hipercolesterolemia (44,2%), Perda Auditiva (32,5%), Excesso de Peso (19,8%), Hipertensão (11,9), Hipergliceridemia (7,4) e Diabetes Mellitus (2,9), e como principais causas de afastamento as relacionadas a transtornos cardio-circulatórios, fatores de risco cardíaco e transtornos otorrinolaringológicos.

A realidade dessas condições de trabalho vem justificando a atenção que os especialistas têm dado às condições de estresse sobre os aeronavegantes, não só pelo risco, pequeno mas inerente, da súbita incapacidade em vôo provocada por distúrbios cardio-circulatórios, mas antes disso, e com maior probabilidade, de quedas de desempenho induzidas por sobrecargas, com previsível comprometimento da segurança da operação.

Dada sua importância, muito já se pesquisou sobre as implicações psicofisiológicas, sociais e institucionais do estresse nesse ambiente, repercutindo na evolução de conceitos tecnológicos e ergonômicos, buscando a minimização do impacto que o meio adverso exerce sobre esses profissionais, e no estabelecimento de processos de seleção, treinamento e acompanhamento de pessoal, buscando o desenvolvimento de profissionais que melhor interajam com as especificidades dessa atividade (HAWKINS, 2005).

Especificamente quanto à seleção psiquiátrica, além da apreciação da saúde mental, outras características são buscadas. Dentre elas, como arrola Jones (2002), “motivação, habilidade, estabilidade, maturidade, atenção, percepção, antecipação e julgamento para tomar boas decisões antes e durante o vôo, e força e resiliência para resistir a prolongados estressores” (p. 406).

No Brasil, assim como em vários países do mundo, os aeronavegantes estão sujeitos a uma rotina de exames e avaliações de desempenho e capacidade, que incluem inspeções de saúde periódicas, estas últimas reguladas pelo estabelecimento de padrões de condição psicofísica,

Figura 1 - Um piloto de caça do Brasil na Campanha da Itália, pronto para decolar,

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buscando apreciar a manutenção das condições inicialmente selecionadas, além de prevenir que algum processo mórbido comprometa esse perfil.

Com relação a questões militares, entretanto, a especificidade das missões aéreas pressupõe a exposição a estressores típicos, os quais nem sempre podem ser contornados ou evitados.

Kearney et al. (2003) lembram que os riscos e as ameaças implícitas na aviação militar decorrem de sua natureza mesma e de sua razão de ser. Seu mapeamento abrange desde questões ligadas ao enfrentamento de condições especialmente adversas atinentes ao ambiente físico, para cuja adaptação o aeronavegante depende de trajes e equipamentos especiais, e de treinamento fisiológico específico, passando pelo treinamento e preparo para as operações militares propriamente ditas, culminando no emprego em operações reais, mas se estendendo para além da desmobilização, no retorno à rotina.

Teixeira (2005) registra que a evolução da aviação de combate fez elevar, a partir da Primeira Guerra Mundial, em seis vezes o teto máximo de vôo e em dezesseis vezes as velocidades alcançadas, o que, acrescidas as forças de aceleração (forças ‘G’), deixa evidente suas implicações no combate de caça ou nas manobras evasivas, com tremendas conseqüências sobre o organismo humano.

O preparo para a guerra e a participação efetiva em operações bélicas, entretanto trazem, per

se, uma série de estressores amplamente estudados e documentados ao longo da história, como se verá a seguir.

1.1.2 EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PARTICIPAÇÃO EM OPERAÇÕES BÉLICAS

Marlowe (2006), discorrendo sobre as conseqüências psicológicas e psicossociais do combate, faz consistentes considerações a esse respeito, sendo a seguinte a síntese de seus argumentos.

Esse pesquisador começa pela inquestionável constatação de que poucos eventos são tão estressantes quanto a guerra.

O atual reconhecimento de que o estresse pode de causar sintomas tanto psicológicos quanto fisiológicos, leva à produção de uma rica literatura sobre o estresse induzido pelo combate e pelas operações de guerra a partir dos vários sintomas manifestados pelos militares das diversas forças, salientando que parte desses sintomas pode ser atribuída ao trauma do combate.

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Lembrando que o envolvimento em guerras e combates faz parte da trajetória humana no curso de sua evolução de cerca de seis mil anos, ‘mais recentemente’ aqui diz respeito ao momento histórico a partir da Revolução Francesa. Desde então, segundo Marlowe (2006), o envolvimento de soldados oriundos da sociedade-estado – e não mais de uma classe alienada, às margens das demais, como até então se constituíam os guerreiros, trouxe a preocupação do ônus imposto aos veteranos, soldados-cidadãos, para o centro das atenções.

Paradoxalmente, mesmo antes desse momento, o reconhecimento do impacto psicológico e social da guerra sempre foi considerado, fazendo parte da estratégia militar de várias sociedades a utilização da intimidação e da aterrorização, assim como da humilhação, como táticas na busca de abater o moral do inimigo e, conseqüentemente, sua força de resistência.

Um bom exemplo desse efeito é o que era produzido pelas falanges gregas, ou pelas coortes romanas, cujo movimento, compactado, compassado e ruidoso, buscava evocar o temor a partir da idéia de que se tratava de um exército organizado e poderoso em ação. Era a exploração do efeito psicológico do medo e do pânico sobre o comportamento humano.

Baseado em revisão histórica, Marlowe (2006) aponta que esse tipo de organização fez surgir a idéia da interdependência entre os diversos membros da Unidade, para que a forma da linha, compactada e coesa, fosse mantida ou, pior do que isso, não fosse rompida, trazendo o caos e a desorganização, e o conseqüente enfraquecimento do poder de luta da unidade de combate. Assim, as penas para as fugas e deserções sempre foram extremamente severas, pretendendo controlar esse tipo de impulso.

Por outro lado, entretanto, a Unidade passa a ser a principal fonte primária de suporte, segurança e fortalecimento do soldado. Sua própria sobrevivência dependeria da manutenção da coesão da linha.

Dessa época também decorre a valorização da liderança no sentido de despertar, sustentar e orientar o comportamento dos liderados. O líder militar ideal deve agregar conhecimento e aptidão de combate à habilidade para cuidar de sua tropa. Com isso, torna-se capaz de obter o melhor possível da capacidade de combate de seus homens.

Outro conceito que permanece atual é a prática de cerimônias e rituais pré-combate como forma de ‘sacralizar’ a batalha, sendo oferecidos os esforços aos deuses, ou à polis, ou a uma outra nobre causa.

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A respeito do ‘espírito de corpo’ e do papel que a unidade militar representaria para o indivíduo, Lebigot et al (1991), discutindo sobre tratamento das neuroses de guerra em veteranos franceses, sob uma perspectiva psicanalítica, apontam o papel que o Exército, como uma ‘multidão organizada’ que sabe manter a imago do pai ideal, reconfortante e benéfica, na forma de chefe infalível que ama seus subordinados e os protege da morte. Estaria na capacidade de ‘bem trilhar o caminho do pai morto’, a capacidade da superação dos traumas de guerra que, segundo esses autores, evocam conflitos de culpa e fascínio, de orgulho e vergonha, pelas experiências desagradáveis vividas na guerra.

Segundo Wessely (2005) os homens lutam por seus amigos e os melhores protetores contra o colapso em batalha são a coesão e a união do grupo, além de questões como moral, liderança e bons equipamentos.

Desde a antiguidade, como hoje, soldados que lutam por uma boa causa, apoiando e apoiado por seus companheiros e exortados por um líder a ser seguido, refletem isso em seu comportamento aguerrido e contam com esse contexto para a amenização do impacto das ameaças e dos ataques pressupostos.

As conseqüências nefastas das batalhas, por outro lado, manifestas pelo colapso do soldado, apesar de observadas, tiveram tratamento diferente ao longo da história.

Marlowe (2006) acredita que o tratamento dado a essa questão ao longo do tempo sofreu influência direta das expectativas culturais, ou seja, o entendimento que determinada sociedade teria sobre violência, trauma e convicções sobre a morte. As expectativas assim modeladas, projetadas nos soldados ao longo das eras, trariam forte determinação sobre o tipo de ruptura ao qual ele estaria sujeito. Da mesma forma, as manifestações psíquicas e fisiológicas dos soldados também seriam modeladas por essa expectativa.

Helman (2003), falando especificamente sobre os aspectos culturais do estresse, compartilha dessa posição, afirmando que os fatores culturais e, mais ainda, os valores culturais, desempenham um papel complexo na reação ao estresse, papel que pode ser considerado ora protetor, ora patogênico. Assim, o pertencimento a um grupo com um sistema conceitual de mundo, ao tornar significativa e coerente com as experiências do dia-a-dia, reduziria o estresse causado pela incerteza. Da mesma forma, crenças compartilhadas sobre o que seja sucesso e prestígio, e seus contrapontos, poderiam ter efeitos tanto positivos quanto negativos sobre a saúde do indivíduo. Além disso, a cultura contribuiria para dar forma a essa reação através de uma linguagem de sofrimento reconhecível (p. 267).

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De qualquer maneira, mesmo se considerando o impacto das experiências de guerra sobre o comportamento humano, e também a possibilidade de colapso dos guerreiros, as baixas sempre fora consideradas uma questão mais determinada por contingências individuais do que pela influência do contexto.

Em que pese a ‘bruta, desagradável e breve’ vida dos soldados até o final da Idade Média, brevidade essa determinada pela grande probabilidade de morrer em batalhas ou em conseqüência de ferimentos delas decorrentes, o ponto de ruptura sempre foi considerado em termos da ausência, ou perda, de traços necessários como honra, heroísmo, coragem e força. Se o guerreiro viesse a sucumbir, ele não teria sido suficientemente honrado, ou heróico, ou, corajoso, ou forte.

Essa noção de força e coragem, de uma certa maneira, mantém-se até hoje, mesmo que, a partir do século XIX, o desenvolvimento científico tenha tornado disponível um arsenal diagnóstico e terapêutico mais extenso.

A partir desse momento, relatos que hoje se sabe relacionados ao estresse começaram a ser feitos, levando a formulações como ‘coração do soldado’, para explicar a presença de sintomas como a elevada taxa de batimentos cardíacos que acompanhava a fadiga de batalha.

A tendência da época em se dicotomizar processos psíquicos dos fisiológicos, restringiu a compreensão dessas constatações.

Além disso, como constataram Kearney et al. (2003), a despeito das reações típicas de estresse traumático em guerreiros terem sido observadas por séculos, historicamente sempre houve uma forte tendência, dentro do militarismo e da sociedade em geral, em negar o impacto psicológico da guerra entre os militares, e que

[...] comandantes e oficiais médicos, que assumem um papel primário no gerenciamento das baixas relacionadas ao estresse, sempre alimentaram a expectativa de que os militares são imunes ao impacto da exposição a experiências traumáticas e rotulam aqueles que experienciam reações significativas ao estresse como fracos, covardes ou simuladores (p. 6).

Já a Primeira Guerra Mundial encontra as idéias de Freud estabelecidas na Psicanálise, e a dos fisiologistas sustentando a interdependência de processos mentais e fisiológicos. Com isso, o impacto das experiências de guerra sobre a psique dos combatentes pôde ser considerado de forma mais complexa.

A noção de trauma foi crucial para as primeiras formulações de Freud que, refletindo sobre o impacto da guerra sobre os combatentes, ampliou suas idéias sobre o assunto, abarcando a importância do impacto das experiências ambientais na produção de neuroses, e cunhando a expressão de ‘neurose de guerra’, a partir do ‘trauma de guerra’ (MELLO; FIKS, 2006).

Segundo Schetatsky et al. (2003),

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estressores traumáticos, da ausência de descargas apropriadas verbais ou motoras para aliviá-las e do despreparo dos indivíduos para o seu enfrentamento, causando o rompimento do que chamou de ‘barreira de estímulos’, que protegeriam o ego das estimulações excessivas do ambiente externo. Assim, o organismo, incapaz de lidar com a intensidade da estimulação, veria seu aparelho mental inundado por ela, causando paralisia mental e intensas tempestades emocionais (p. 10).

Outras figuras diagnósticas importantes a partir de então passaram a ser a fadiga de guerra, que se seguia ao ‘choque de artilharia’ (shell shock), a síndrome do esforço e a neurastenia.

Afastamentos decorrentes de sofrimento psíquico incapacitante, e não apenas de ferimentos físicos, passaram a ser documentados (STETZ et al., 2005), produzindo um acervo importante, e de tal ordem, que a experiência daí decorrente pôde ser ampliada para a melhor compreensão de formas de sofrimento psíquico e doenças mentais não necessariamente relacionadas a militares ou a vítimas de guerra.

O fato de que as experiências bélicas do final do século dezenove e do século vinte levaram à evolução de várias áreas da ciência também se confirmou com relação ao avanço da Psiquiatria e da Psicologia.

Não obstante, mesmo que, a partir de então, a força das experiências externas passasse a ser integrada na compreensão e tratamento das baixas militares, continuava prevalecendo a idéia de que os quadros apresentados pelas vítimas de combate eram predominantemente influenciados por condições intrínsecas ao indivíduo, ou seja, por vulnerabilidades decorrentes de suas experiências precoces de vida, ou por predisposições orgânicas.

Como diria Wessely (2005), “se você entrou em colapso e nunca se recuperou, então a causa real não foi a guerra, mas sua herança genética ou sua criação. A guerra foi meramente o gatilho” (p. 460, trad. da autora).

Da Primeira para a Segunda Guerra Mundial, esse conceito desdobrou-se em medidas com intenção preventiva, baseadas principalmente na seleção em massa. De acordo com a mentalidade da época, a possibilidade de identificar previamente, dentre os indivíduos alistados, aqueles com maiores probabilidades de sofrerem um colapso futuro, contribuiria para a diminuição das baixas por razões psiquiátricas e conseqüentemente para o esforço de guerra, além de garantir um contingente menor a ser assistido no pós-guerra.

Esse pensamento predominante teve seu mais ilustre representante em Harry Stack Sullivan. Nos Estados Unidos, psiquiatras e psicólogos, com base em testes desenvolvidos para esse fim, conduziam seleções por exclusão as quais, segundo Wessely (2005) chegaram a remover cerca de 2 milhões de homens do alistamento, a despeito do efeito secundário altamente estigmatizante desse tipo de prática.

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Com o desenrolar dos acontecimentos, a necessidade de mobilização dos contingentes para as diversas frentes de batalha levou a uma revisão da prática da seleção por exclusão, que resultou na incorporação de homens inicialmente avaliados como vulneráveis, o que permitiu a constatação de que, em que pese dentro desse grupo as baixas por razões psiquiátricas tenham sido em maior proporção, estas ficaram bem abaixo da expectativa inicialmente proposta (WESSELY, 2005).

Ao mesmo tempo, a constatação de que o volume de baixas psiquiátricas variava de acordo com o rigor da frente de batalha, tendo seus marcos mais contundentes em batalhas como a do Pacífico e do Norte da África, e também de acordo com o grau de coesão da unidade operacional, novamente as considerações se voltam para a força dos determinantes ambientais.

Tais constatações levam ao estabelecimento da máxima segundo a qual todo homem tem seu ponto de ruptura, ou seja, não importa quão bravo ou corajoso, todo homem é vulnerável.

Levaram também à reafirmação da importância do grupo de combate e de sua liderança mais próxima, como estrutura mediadora primária que habilita o soldado a enfrentar o estresse e a prevenir o colapso, bem como os danos psicológicos mais duradouros.

Guerreiros de ontem e de hoje enfrentam o mesmo tipo de demandas negativas:

− Exposição a ameaças, reais ou antecipadas, à sua integridade e à sua vida. − Exposição a cenas de violência.

− Luto pelos companheiros abatidos. − Exposição a doenças e acidentes.

− Períodos de medo e ansiedade intensos, alternados com períodos de monotonia e insatisfação.

− Campanhas levadas a cabo longe de seu ambiente de origem ou seu país. − Preocupações com sua família e seu grupo, e saudades de casa.

− Condições de vida inadequadas, ou seja, de acampamento ou acantonamento e de satisfação de necessidades fisiológicas.

− Alimentação baseada em rações.

Mesmo que a presença de ameaças seja inquestionavelmente uma importante fonte de estresse, é necessário se ressaltar alguns aspectos ligados à realidade de acampamento ou acantonamento dos soldados, que transcendem o mero desconforto físico.

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noção de ‘tempo vivido’. Na visão da autora a moradia assume, assim, um papel importante de intermediação entre a subjetividade e o mundo objetivo.

A inclusão de todos esses aspectos foi consolidando a aceitação de que o resultado de certas demandas só pode ser compreendido na complexa interação da pessoa, seu grupo social e o evento ou eventos específicos.

Não obstante a permanência da noção de vulnerabilidade e da tentativa de prevenção através de seleções exclusivas, passou-se a observar a coexistência com esforços de uma abordagem mais integrativa dos efeitos das experiências de combate no comportamento humano.

Abram Kardiner é apontado por Schetatsky et al. (2003) como uma figura importante nessa mudança de paradigma, através de sua obra “As Neuroses Traumáticas de Guerra” a qual, segundo os pesquisadores, levaram à definição mais recente de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, que será agora abordado.

1.1.3 O TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

Segundo Schetatsky et al. (2003), inspirados por Kardiner, dois psiquiatras americanos, Chaim Shatan e Robert J. Lifton, no curso do atendimento clínico a veteranos da Guerra do Vietnã, formularam uma lista de 27 sinais e sintomas comuns às neuroses traumáticas, as quais levaram à formulação de critérios de inclusão para Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) na terceira edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III), da American

Psychiatric Association, em 1980.

Para Mello e Fiks (2006), o diagnóstico de TEPT é uma extensão sobre o entendimento da experiência traumática de guerra, a ‘neurose de guerra’ (p.13).

Apesar de seu percurso histórico ligado ao estudo dos transtornos psiquiátricos sofridos pelos combatentes das duas grandes guerras, e, mais modernamente, pela demanda representada pela necessidade assistencial aos veteranos da guerra do Vietnam, dentro dessa categoria foram, depois, inseridas outras síndromes traumáticas, não necessariamente relacionadas a vítimas de guerra, mas a pessoas confrontadas com outras situações de violência, inclusive de natureza criminal, ou desastres, estes naturais ou não (FULLERTON; URSANO, 1997).

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O TEPT pressupõe a presença de um ou mais eventos traumáticos, os quais, segundo Ursano; McCaughey e Fullerton (2001),

são reconhecidos por sua natureza, pelos efeitos do trauma em indivíduos ou grupos e pelas respostas individuais ou grupais ao evento [...] são perigosos, esmagadores e repentinos [...] marcados por sua extrema ou repentina força, tipicamente causando medo, ansiedade, recuo e evitação [...] têm alta intensidade, são inesperados, raros e variam em duração de agudos a crônicos...podem afetar um único indivíduo ou uma comunidade inteira (p.5). Além disso, sobrepujam a capacidade de enfrentamento do indivíduo ou da comunidade.

Apesar dos cuidados dos pesquisadores e especialistas com relação a pacientes com TEPT ter extrapolado a esfera dos veteranos de guerra, essa população ainda continua sendo alvo de interesse de vários estudos (BREWIN; ANDREWS e VALENTINE, 2000).

Não é para menos. A guerra é sabidamente uma situação de extrema adversidade. Vários elementos atinentes à definição de trauma, para fins de diagnóstico da TEPT, são encontrados em estados de guerra:

− Situação ou evento estressante, de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica e que provocaria sintomas evidentes de perturbação na maioria das pessoas (CID-10, p.336).

− Um ou mais eventos que envolveram morte ou grave ferimento, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de outros (DSM-IV-TR, p. 209-210).

Interessantemente, e de forma consistente com as observações feitas durante a Segunda Guerra, um estudo metanalítico, conduzido por Brewing, Andrews e Valentine (2000), sobre fatores de risco para TEPT, apontou que, apesar das limitações devidas à heterogeneidade das pesquisas incluídas, este foi bem-sucedido em identificar os fracos efeitos dos fatores de risco pré-trauma, junto com os efeitos ligeiramente mais acentuados para os fatores de risco ligados à intensidade do trauma e outros pós-trauma, alertando contra tentativas de se construir um modelo geral de vulnerabilidade para todos os casos de TEPT.

Em uma meta-análise subseqüente, Ozer, Best e Lipsey (2003), chegam a conclusão semelhante, apontando que os mais fortes preditores de TEPT são os processos psicológicos peritraumáticos e não as características prévias.

É importante frisar que os trabalhos revisados nessas meta-análises consideraram fatores pré-trauma (experiências prévias, recursos pessoais etc.) e pós-pré-trauma (rede de apoio, condição de retorno ao lar, etc.), os quais tiveram, em cada situação, seu papel devidamente mapeado. O que se destaca aqui é a força da experiência traumática em si, como mais forte preditora para o desencadeamento da TEPT.

Isso é mais relevante ainda quando se considera a experiência de ex-combatentes que foram prisioneiros de guerra.

Imagem

Figura 1 - Um piloto de caça do Brasil na Campanha da Itália, pronto para decolar,
Figura 2: Guernica, de Pablo Picasso, disponível em:
Figura 4  - Um dos P-47 do 1º GavCa, já com a pintura personalizada na carenagem.
Figura 4: Emblema do 1º GAvCa, com todos os seus elementos.
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Referências

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