• Nenhum resultado encontrado

Que circunstâncias antes, durante e depois da Campanha da Itália o senhor apontaria como mais desgastantes na participação do 1º GAvCa?

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 166-169)

Distribuição do Efetivo por Área Funcional

CONTROLE DAS EMOÇÕES CONTRAFOBIA

1) Que circunstâncias antes, durante e depois da Campanha da Itália o senhor apontaria como mais desgastantes na participação do 1º GAvCa?

Saudade Expectativas Falta de apoio e compreensão Sobrecarga Perdas Desconforto Outra A - SAUDADE

Antes da Campanha, isto é, durante o treinamento e transporte, o desgaste foi o normal em tais circunstâncias. O fato de se estar longe de casa, dos amigos e da família tem uma grande importância, mas nada que impeça o trabalho contínuo e necessário.

Durante o combate elas variavam, em cada caso. Havia pessoas solteiras, casadas, com ou sem filhos, cada uma com seu sentimento próprio. Como solteiro, o sentimento é menos desgastante, principalmente pelo voluntariado.

No meu caso pessoal, eu tinha muita saudade da família, do conjunto onde estava. Fui voluntário em 16/10/43. Casei 10 dias depois. Deixei minha esposa grávida. Conheci minha filha no regresso - 7 meses de idade. Eu tinha muita saudade. De maneira que isso fazia com que a gente até chorasse de saudade, e tudo. Isso causava, assim, tristeza, até lágrimas, de saudades, de saudades de casa.

No caso presente, como estávamos em Grupo, essas circunstâncias foram menos importantes. Ao mesmo tempo, a gente trabalhava com um ardor muito grande, querendo

conquistar o término de uma guerra que já durava muito tempo, naquela ocasião já tinha mais de cinco anos de duração. PARA MIM TUDO FOI DESGASTANTE.

(AAP140, PIL379, PIL389)

B – EXPECTATIVAS

Antes, o que mais desgastava antes era a expectativa da guerra. O que se via no jornal, o que se falava. Durante, nós temíamos muito pela grandeza do americano, que nós não pudéssemos acompanhar a cultura, tanto acadêmica quanto profissional. Depois, como nos seríamos recebidos no Brasil? O que nos esperava? O que faríamos depois do que fizemos, que foi grande demais? E eu, o que faria para recuperar o tempo perdido? A continuidade ... vou recomeçar, como?

(AAP81)

C – FALTA DE APOIO E COMPREENSÃO

A campanha da Itália foi muito mal planejada, mais pela falta de experiência em operações de guerra desse tipo e muito, muito mesmo, pela má vontade do Alto Comando da Aeronáutica.

A Aeronáutica, recém-formada por elementos do Exército e da Marinha, ainda não tinha o espírito de corpo necessário para o empreendimento.

Foi principalmente pelo esforço comum de dois oficiais, na época Major Aviador Nero Moura e Major Aviador José Vicente Faria Lima que, obedecendo a vontade do Ministro Salgado Filho, conseguiram organizar a formação do 1º Grupo de Caça.

Esse foi o primeiro desgaste. O julgamento de muitos e muitos oficiais da Aeronáutica era ora de descrença maldosa, ora de referências até ofensivas. "Era o Grupo de Caça Níqueis." Essa talvez tenha sido a circunstância mais desgastante antes da campanha.

Meu maior problema e desgaste dentro da família foi convencer meus pais a aceitarem a minha participação na guerra. Houve muitas tentativas por parte do meu pai para evitar que eu fosse para a guerra. Depois de várias frustrações, consegui convencê-los de que eu deveria seguir o meu destino e assim o fiz.

Teve um problema que nós sentimos depois da guerra que foi a saída do Comandante. O Comandante, como já lhe disse era o Coronel Nero Moura. Com a queda do Presidente, foi destituído o Comandante, mas de uma maneira, assim, que ele não mereceu.

Um homem que teve um destaque muito grande na guerra, comandou uma unidade que mereceu um conceito muito favorável dos americanos, uma unidade que se destacou, depois ele foi destituído assim de uma maneira... como um João Ninguém qualquer, sei lá, como um nada.

E isso abalou muito todo o grupo. Tanto que teve como exemplo o Capitão que imediatamente pediu transferência pra reserva. Mas foi uma coisa que chocou muito o Grupo, todo mundo lamentou, coisa que, isso foi, pouco tempo depois, um mês, dois meses,não sei pouco tempo depois.

Sofremos muito ao chegarmos ao Brasil. Éramos vistos como estranhos e invejados por muitos, lamentavelmente!

Foram grandes as decepções e maiores ainda os prazeres e alegrias por haver superado todas as dificuldades e, obtidos os melhores e mais importantes objetivos de minha participação na guerra, servindo no 1o. Grupo de Aviação de Caça. Foi a vitória Final contra o "Nazi-Fascismo", nosso principal objetivo.

(AAP140, AAP276, PIL393)

D - SOBRECARGA

A circunstância mais desgastante, para todos, foi a falta de reposição de pilotos. Inicialmente o efetivo era de 49 pilotos. A perda mensal (entre mortos, prisioneiros, fadiga operacional e saúde) era de 3 a 4 pilotos. Sem recompletamento, erro crasso de planejamento do Ministério da Aeronáutica, nossas esquadrilhas iam-se minguando, e cada piloto tendo que voar mais para responder ao número de missões que tinham que ser executadas.

Alem disso, era evidente que a guerra estava em seu fim, a gente tinha conhecimento que a coisa estava, assim, apertando muito. Os alemães iam se retirando e os

bombardeios iam se intensificando, etc. Então as missões se sucediam, muitos pilotos foram sucateando porque um ficava doente, outro, o médico achava que não tava em condições físicas e não voava. E o número foi se apertando e os pilotos foram dobrando o número de missões, enquanto que, em conseqüência, a turma de terra também dobrava as atividades.

Como o fim da guerra era iminente e a luta cada vez mais feroz, o desgaste do piloto era imenso, pois a presença da possibilidade da morte nos últimos dias da guerra era extremamente inconfortante. Foi o que aconteceu ao 1º Tenente Luiz Lopes Dorneles, que morreu em combate três dias antes do final da guerra.

O que ajudava, e muito, é que cada piloto disputava com os outros quem fazia o maior número de missões, as quais eram gravadas em forma de bombas em seu avião. Era uma forma de satisfazer o ego, muito machucado por outras coisas.

Com essa falha, chegamos ao mês final da guerra. Esse desgaste atingiu o seu auge na ultima semana de Abril, com apenas 22 pilotos. Isto obrigava a cada piloto realizar pelo menos duas missões por dia, alguns até três, o que era muito além do realizável. A ofensiva da Primavera teve inicio em dia 9 de Abril e a ultima missão do Grupo foi no dia 2 de Maio de 1945.

É claro que a pessoa fica entre dois limites. A resistência própria e a necessidade do cumprimento do dever. A pressão é diferente entre cada um, mas, no caso especifico, contava muito o resultado do Grupo.

Por essa razão, o Comandante do Grupo Americano, desejou retirar o 1º Grupo de Caça das operações de combate. Foi rechaçado de pronto, pelo Comandante e pelos pilotos. Este fato seria marcado, para sempre, como um fracasso de cada um, do Grupo e da Força Aérea Brasileira.

Mas aquilo todo mundo fazia com um espírito de cooperação e boa vontade difícil de ver, viu? Ah! o esforço, todo mundo tinha um esforço enorme para que a coisa tudo se cumprisse a contento, corretamente, né?

E assim a coisa apertava e a turma tinha mais entusiasmo ainda em trabalhar, porque exigia preparar tudo aquilo, bomba durante a noite.

(AAP140, PIL379, PIL393)

E - PERDAS

Ainda durante a campanha, posso indicar como principais desgastes as perdas iniciais que tivemos em pouco mais de uma semana: 03 pilotos morreram em acidentes e 01 morreu na primeira missão de combate, é o que se chama começar com o pé esquerdo.

Mas esse desgaste foi superado rapidamente e, em 2 meses de ação, já éramos considerados no mesmo nível dos americanos.

Outra coisa que contribuía durante a guerra era quando não voltava um piloto. Vinha aquela esquadrilha voando e depois havia o que eles chamam de "peel off", então vai pro pouso. Quando a gente via somente três já sabia que alguém tinha ficado e aí a tristeza era comum viu. Não era parente, não era nada, mas parece que na guerra todo mundo se irmana, e não interessava que eles eram oficiais e nós éramos praças, não interessava isso, o que interessava é que um companheiro não voltou.

Havia muita tristeza quando não voltava um piloto, então os pilotos contavam: “foi abatido”, outros contavam: “olha, ele foi abatido mas ele saltou de pára-quedas”. Quando saltou de pára-quedas havia esperança, agora, não se sabia. Muitos, depois a gente soube, contaram que foram prisioneiros. Alguns morreram e alguns voltaram. Como eu dizia, houve muita tristeza.

Inclusive teve um que era irmão do Comandante. Foi o único que voltou. Ele fez tudo errado. “Não, você não pode fazer isso porque os americanos ...” Chamava-se Danilo Moura. E os outros, só depois da guerra. Teve um, por exemplo, que até casou né, quando ele ficou escondido.

(AAP140, PIL393)

F – DESCONFORTO

Durante a campanha, o desgaste inicial foi causado pelo ambiente que nos foi designado para a nossa base de operações, era uma região plana, ao lado de Tarquínia, constituída por um terreno semi-alagado, onde a única coisa firme que existia era uma pista de malha de ferro, com cerca de oitocentos a mil metros de extensão.

Os nossos aviões estavam espalhados pela área entre um alagadiço e outro. Transformar aquilo que vimos na manhã de 06 de outubro de 1944 numa base operacional para iniciarmos as operações de guerra, poderia parecer uma missão impossível, mas não foi.

Os cerca de 350 homens, inclusive os pilotos, começaram imediatamente a fazer a locação das barracas operacionais, a drenagem do terreno, a reposição dos aviões, tudo num afã e entusiasmo contagiante, não se importando com o frio e a chuva do outono europeu.

A alimentação, a gente estranhava muito. O dia todo, cedinho, já de madrugada, já todo mundo tava se aprontando, um frio tremendo. Eu me lembro que eu, eu tenho , eu sofro de um problema de deficiente circulação nas extremidades das mãos, eu fico em condições que eu não posso fazer nada, e naquela ocasião, com aquele frio eu tava, às vezes eu chorava do dedo doer, e não sabia porque tava chorando, sabe, porque a dor era...ardendo, né? Eu sofri muito com o frio, mas, graças a Deus, deu pra atravessar o inverno.

Uma semana depois as barracas estavam todas em ordem, os aviões já agrupados em esquadrilha e já tendo acesso à pista! Em suma, aquilo fora transformado numa base operacional dentro dos padrões de guerra.

Posso considerar a primeira volta por cima do 1º Grupo de Caça. O desgaste foi vencido e serviu como um elemento aglutinador sob o comando de Nero Moura.

(AAP140, PIL393)

G - OUTRA

Por coincidência eu e meu ala fomos os únicos e realizar a ultima missão, já com ordem de não atirar a menos que fossemos atacados. Na realidade a população, de um modo geral, já estava toda nas ruas agitando seus lenços brancos. Entendi perfeitamente, pois se para nós, com seis meses de guerra já era uma alegria total imagina a sensação deles de mais de 4 anos de guerra.

(PIL379)

5.2.3.2. E as circunstâncias mais gratificantes ?

Tabela 10

Resultados Quantitativos Relativos às Respostas da 2ª Questão

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 166-169)