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competências específicas: habilidades sociais, habilidades educacionais, memória acima da média, atratividade física (p 4).

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 50-53)

Falando especificamente sobre resiliência psicológica e relacionando-a à experimentação de emoções positivas – gratidão, interesse, amor, Tugade, Fredrickson e Barret (2004), anotam várias pesquisas, com diferentes abordagens, que se referem às seguintes características individuais:

Indivíduos que reportam resiliência, como forma de enfrentamento, abordam a vida com energia e bastante entusiasmo, são curiosos e abertos para novas experiências, usam emoções positivas para obter resultados efetivos de enfrentamento através do humor, apresentam exploração criativa, são mais relaxados e têm pensamento otimista. Além disso, são hábeis em eliciar emoções positivas nos demais, criando uma rede de apoio em auxílio ao seu enfrentamento e são capazes de compreender a complexidade de suas emoções, valendo-se desse entendimento para adaptar-se com flexibilidade e mais recursos em resposta às circunstâncias negativas (p. 1169).

À medida que avançam, as pesquisas sobre resiliência provocam a constatação de que os estudos sobre características individuais são necessários mas não suficientes para ajudar a compreender o seu caráter complexo, dinâmico e contextual. Luthar, Cichetti e Becker (2000), por exemplo, enfatizam a necessidade de que o foco das pesquisas avance do interesse descritivo para a elucidação de questões ligadas ao processo de desenvolvimento.

Assim, como se pode depreender de uma segunda tendência nas conceituações anteriormente citadas, resiliência pode também ser vista como um processo, por depender da interação de diversos fatores, de origem endógena, ambientais e relacionais.

Esse tipo de abordagem é bem explicitado por Grotberg (2005), para quem, como processo, fala- se de fatores de resiliência, comportamentos resilientes e resultados resilientes. Essa autora propõe a organização dos fatores de resiliência em quatro categorias, quais sejam:

2. Eu sou, e

3. Eu estou (relativo ao desenvolvimento da força intrapsíquica)

4. Eu posso (aquisição de habilidades interpessoais e resolução de conflitos). (p. 16- 17).

Quanto a condutas resilientes, a autora postula que estas requerem fatores de resiliência e ações, supondo a interação dinâmica de fatores, os quais vão mudando ao longo das etapas de desenvolvimento. A conduta resiliente exige se preparar, viver e aprender com as experiências adversas (p.17).

Além disso, abordar resiliência como processo envolveria: 1. A promoção de fatores de resiliência acima descritos.

2. O compromisso com o comportamento resiliente, que pressupõe a interação dinâmica dos fatores de resiliência, atuando na seguinte seqüência:

(1) Identificação da adversidade, e

(2) seleção do nível e do tipo de resposta adequados,. 3. Avaliação dos resultados da resiliência, através:

(1) do aprendizado com a experiência;

(2) da estimativa do impacto sobre os outros, e

(3) do incremento do sentido de bem-estar e melhoria da qualidade de vida.

A respeito da estimativa do impacto sobre os outros, é muito oportuna a observação de Araújo (2006), sobre as questões éticas na avaliação do comportamento resiliente, lembrando que, a despeito da forte vontade de viver evocada em situações extremas, a astúcia, o logro, a esperteza e a mentira não podem ser admitidas, pois tal processo não se manteria em longo prazo.

Fala-se de Resiliência considerando-se também dois outros conceitos: adversidade e fatores de proteção.

Por adversidade ou risco entendem-se as circunstâncias negativas da vida, estatisticamente associadas com dificuldades de ajustamento (ARAÚJO, 2006). A adversidade é vista como uma condição que aumenta a vulnerabilidade do indivíduo para o desenvolvimento de variadas formas de psicopatologias ou comportamentos não eficazes, ou suscetibilidades para um resultado negativo no desenvolvimento (PESCE et al., 2004). Adversidade pode designar uma constelação de múltiplos fatores de risco ou uma situação de vida específica (INFANTE, 2005). Fatores de proteção, ou mecanismos de proteção, como mais apropriadamente preferem autores como Rutter (1993), caracterizam-se por:

a) reduzirem o impacto do risco por seu efeito sobre o mesmo ou por alterar grau de exposição ou envolvimento com o risco;

b) reduzirem a probabilidade de reações em cadeia negativas que conduzem ao risco; c) promoverem a auto-estima e a auto-eficácia através da presença de relacionamentos

pessoais seguros e suportivos ou pelo sucesso na boa realização da tarefa, e d) criarem oportunidades positivas (p. 630).

Referem-se, enfim, a aspectos do processo de enfrentamento que representam mudanças na trajetória de vida do risco para a adaptação (RUTTER,1992, p. 189) e contrapõem-se ao risco, atenuando ou minimizando seus efeitos.

Apesar de alguns elementos e características individuais serem considerados como fatores de proteção, pela probabilidade sustentada por pesquisas científicas – como saúde, inteligência, suporte social entre outros já vistos - é o estudo particularizado e detalhado de cada situação de enfrentamento bem-sucedido que irá determinar qual o papel, de risco ou proteção, que cada elemento presente no processo teve na dinâmica e no resultado final. Reforçando essa idéia, tem-se que alguns componentes específicos podem se apresentar como fator de proteção em um contexto ou fator de risco em outro.

Enfatizando o aspecto promissor de se trabalhar com o conceito de resiliência de forma processual, Infante (2005) aponta que a correta definição de cada um dos componentes desse conceito – adversidade, adaptação positiva e resiliência, permite também a sua respectiva medição.

A autora propõe três formas de medição dos fatores de risco ou adversidade:

a) Por meio de múltiplos fatores, para o que se pode recorrer a escalas de eventos negativos de vida, desde que devidamente validadas.

b) Pela constatação de situações de vida específicas, cuja natureza de risco seja determinada pela sociedade, pelos indivíduos ou por pesquisadores.

c) através da constelação de múltiplos riscos, através do mapeamento das fontes de adversidade, que deve levar em conta a base de valores e crenças da própria comunidade.

Com relação à medição da adaptação positiva, a mesma autora aponta as seguintes estratégias: a) Adaptação segundo fatores múltiplos, com base na obtenção de metas, sendo

importante sua relação com a definição de risco.

b) Ausência de desajuste, que fica restrita aos casos de extremo risco relacionados à área clínica.

c) Constelação de adaptação, que se baseia em diferentes condutas ou tipos de adaptação, incorporando provas e escalas, além da opinião de outras pessoas.

Para a medição do processo de resiliência, remetendo à união crítica entre adversidade e adaptação positiva, propõe dois modelos:

a) Modelo baseado em variáveis, a partir da análise estatística das conexões entre variáveis de risco ou adversidade, resultados esperados e fatores de proteção que possam compensar ou proteger os efeitos do risco a partir de um marco conceitual.

b) Modelo baseado em indivíduos, que utiliza a comparação de indivíduos ao longo do tempo, elaborando hipóteses sobre as causas da diferença no resultado de adaptação. Ojeda (2005) propõe a transposição do conceito de Resiliência, assim como do enfoque do observador, para a abordagem dos processos de enfrentamento e adaptação positiva em comunidades.

Defendendo que um paradigma para o coletivo e comunitário permitiria estimar o grau de resiliência de um grupo diante de eventos catastróficos, tanto para fins de prognóstico quanto para o planejamento de ações orientadas para o seu fortalecimento.

Para essa transposição, Ojeda propõe a noção de pilares de resiliência comunitária, aos moldes do que Wolin estabelece para os indivíduos (OJEDA, 2005, p. 50). Seriam eles:

1. Auto-estima coletiva: Entendida como uma atitude de orgulho pelo lugar onde se vive.

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 50-53)