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PERDAS VIOLÊNCIA

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 181-200)

Distribuição do Efetivo por Área Funcional

PERDAS VIOLÊNCIA

MEDO OUTRAS

Assim apresentados, os resultados qualitativos e quantitativos gerados pelo tratamento dos dados obtidos apoiarão, a seguir, a discussão que se fará sobre os fatores que compõem o processo de resiliência que emergem da experiência do 1º GAvCa na campanha da Itália.

Porcentagem de indivíduos que manifestaram idéias sobre cada categoria, num total de 32 indivíduos que se manifestaram sobre o tema.

6 - DISCUSSÃO

Primeiro, alguma considerações. O que se busca aqui é explorar a qualidade de uma experiência de vida, vivida por um grupo de caça brasileiro, em um momento na história de sua Instituição, deste país e do mundo.

Esta qualidade está sendo acessada através de uma metodologia apropriada, que não depende necessariamente de uma escolha a priori da amostra de estudo. É o caso do material aqui coletado. As pessoas que compõem as amostras foram alcançadas por sua acessibilidade, tanto através dos depoimentos que tornaram público, quanto com relação aos que foram localizados e contatados diretamente pela pesquisadora.

Apesar disso, os resultados relativos às pessoas demonstram que os grupos que compõem as diferentes amostras, mesmo que em diferentes proporções, as compõem de uma maneira típica, ou seja, estão nelas proporcionalmente representados postos, graduações e funções, que, de forma mais específica ou abrangente, remetem à composição hierárquica e funcional do 1º GAvCa, cuja população representam.

A observação de que, quanto mais recentemente constituída a amostra, mais se acentuam as curvas relativas a níveis hierárquicos ou funções, típicos de faixas etárias menores, demonstra que a maior tendência de contribuição corresponde à parcela do efetivo que era, na ocasião, mais jovem.

Aqui, o Grupo fala pela voz dos mais jovens, mas eles falam como bons representantes, principalmente tomando-se o conjunto de depoimentos.

Ao serem apresentados como grupo, ou, mais apropriadamente, Unidade, mostram-se em sua característica mais marcante, sua coesão, já que se entende que foi esta a condição necessária, mesmo que não suficiente, para que obtivessem o êxito pressuposto na superação exitosa dos óbices que enfrentaram.

Todo o nosso pessoal teve sucesso, todos sem exceção. Nós sabíamos que não havia mais aquela grandeza da 1a. Guerra, de 1914, onde havia os 'ases', pilotos lendários que saíam desafiando os inimigos. Nessa outra guerra a coisa era bem diferente: se de um lado vinha um 'ás', de outro vinham sessenta aviões, e se você não fosse abatido por um, seria pelo outro. A guerra na qual estávamos, era uma guerra de conjunto, do cozinheiro ao piloto, e a necessidade era idêntica porque, se não tivéssemos um mecânico, um avião, um rádio, um cozinheiro, divertimento, saúde, de nada adiantaria.

Agora então, sua jovem e uníssona voz, permitirá que sejam exploradas algumas facetas de suas experiências, sob a perspectiva da Resiliência, a fim de se desvelar seus fatores.

Ao longo da apresentação dos diversos fatores, inserções oriundas dos DC’s das três amostras elucidarão sua presença e seu papel.

Como ponto de partida, propõe-se a análise da variável Adversidade, uma vez se considerando que, para haver um processo resiliente, é necessário estar configurada uma circunstância de adversidade ou risco.

Infante (2005) apresenta, como uma das alternativas de medição da adversidade, a constelação de múltiplos riscos, envolvendo aspectos culturais, sociais, comunitários familiares e individuais contextualizados.

Objetivamente, pode-se invocar, com base na pesquisa realizada e na bibliografia consultada, a circunstância de risco pressuposta na prática da atividade aérea, de forma geral, e na aviação de combate, em particular.

Mesmo se considerando a enorme evolução aeronáutica observada a partir da Primeira Guerra Mundial e mesmo ao longo da Segunda, encontrando-se altamente enfatizada naquela altura do conflito, a atividade era, como ainda é, uma situação humanamente adversa, para cuja adaptação se impõe a utilização de equipamentos e meios de proteção, além de intenso treinamento, visando principalmente a desenvolver reações comportamentais automáticas, algumas delas contrárias a impulsos alimentados pelo instinto de sobrevivência.

Subjetivamente, isso pode ser apreendido do discurso dos pilotos, quando comentam sobre aspectos da pilotagem.

Íamos o tempo todo no lado inimigo, mudando a direção, a altitude e a velocidade para dificultar o tiro direto do '88', que não tinha altura para ele. Precisávamos variar a altitude e isso 'machucava' muito o piloto, além de aumentar a tensão nesse momento...

Aí você recuperava e essa recuperação era cruel para o físico porque não tínhamos esse equipamento que os pilotos têm hoje...o momento em que você puxava o avião era chamado de "chupar laranja", porque o rosto se transformava, ficava mais comprido e você tinha um ligeiro 'blackout' - perda de consciência -, então a pessoa demorava um segundo, ou décimo de segundo, e você apagava, a cabeça caía...

Agora, tinha problemas de saúde, sinusite, tinha que ir pro hospital, ... se bem que eu sabia que o vôo, era aquilo que tava me causando a sinusite, né?

Compondo a necessária estrutura para que a atividade aérea possa ocorrer, esse mesmo peso da responsabilidade evocada pelo risco é compartilhado pelo pessoal de apoio:

A guerra é feita por equipes em que muitos funcionam, cada qual no seu setor. Qualquer falha num desses setores compromete o caminho da vitória, podendo até levar à derrota, se for um erro de grandes proporções...

Os homens em terra vivem muito mais tempo e o seu trabalho é de uma exigência sem fim, e não se podem enganar uma só vez apenas; é possível que morra o piloto...

A manutenção em si era contínua: recebíamos o avião de combate, inspecionávamos de ponta a ponta e no escurecer, de lanterna, fiscalizávamos todo o avião para ver se tinha sido atingido...

Acho que fiz muito pouco mas, pensando bem, alguém teria que guardar os bens e proteger a vida dos companheiros enquanto trabalhavam e dormiam. Eu era um deles...

O Grupo nasceu e operou sob a circunstância de uma guerra mundial a qual, por si só, sabidamente, impõe suas demandas típicas.

O Brasil, mesmo que só mais tardiamente tenha se envolvido diretamente no conflito, foi sendo cada vez mais mobilizado ao longo de seu desenvolvimento, especialmente quando a costa brasileira se revelou estrategicamente importante para as partes envolvidas, trazendo um clima de apreensão e expectativa, denunciado pelas reuniões de chanceleres americanos, que se sucediam a cada novo movimento no jogo das forças em conflito.

... o que mais desgastava ... era a expectativa da guerra. O que se via no jornal, o que se falava...

Quando a guerra estourou em 1939, eu já tinha posição tomada contra o nazi- facismo. Já tinha mesmo respondido a inquérito policial militar, na Escola Militar do Realengo, por ter me posicionado contra o Integralismo, então dominante na mentalidade e formação militar da época...

...havia uma corrente grande pró-nazismo, pró-Alemanha, pró-germânica e outra grande parte contra a Alemanha... Essa era a característica da fase pré-guerra e do início da guerra que ainda não havia atingido o Brasil, mas que tinha as suas conseqüências...

...se vivia o dia-a-dia da guerra...

Ao mesmo tempo, tentava superar seus próprios desafios de desenvolvimento, sob a influência de um cenário internacional cada vez mais complexo e incerto. Começa-se a desenvolver no âmbito interno uma atitude defensiva, visualizada principalmente com a mobilização da Aviação de Patrulha para a defesa territorial marítima.

... e aí passamos a fazer regularmente os vôos de patrulha, que eram divididos em dois tipos de vôo: uns eram de varredura de locais em que se sabia haver submarinos, e outro era o de cobertura, propriamente dito, acompanhando os comboios.

Quando voltei para o Brasil (depois do curso nos Estados Unidos) já entrei na nossa Patrulha, ... com um avião 'Catalina'. Dizem que eu fiquei com o olho verde de tanto olhar para o mar...

O ataque a navios brasileiros aumentou esse clima de apreensão e foi conduzindo o país, inexoravelmente, para sua mobilização bélica.

Depois houve uma sucessão de torpedeamentos de navios nossos, e o povo nas ruas exigia uma reparação a essa agressão, totalmente descabida, com perdas de inúmeras vidas valiosas, vidas brasileiras... Havia uma grande reação do povo pela entrada do Brasil na guerra, que aumentou depois que eles atacaram e afundaram vinte navios nossos. Antes de o Brasil entrar na guerra, nós fomos agredidos vinte vezes, mas a gota d'água foram cinco navios afundados em apenas uma noite.

Então, nós poderíamos dizer que, no Brasil, a situação era de aflição. O clamor público era dominante, justamente compatível com a agressão alemã. Os alemães foram demasiadamente perversos contra a Nação brasileira, então fomos à praça pública... . Participei, a partir de 1942, com 22 anos de idade, de todos os movimentos que tinham como linha mestra levar o nosso país à guerra, para liquidar o nazi-fascismo e transformar o Brasil em nação verdadeiramente democrática. Nós bradávamos aquele grito de guerra...

Há unanimidade na afirmação de que poucos eventos são tão estressantes quanto a participação ou envolvimento em uma guerra. Os combatentes estão expostos a uma série de violências para as quais, conforme já se viu, nem sempre o preparo e treinamento promovem a adequada proteção.

Mesmo que a aviação de combate mantenha-se, de uma certa maneira, mais ‘protegida’ do que as tropas da linha de frente...

Uma vez, um oficial de infantaria me disse: "Mas vocês pelo menos morrem limpos", e era verdade. A grande diferença era essa: enquanto eles ficavam enterrados na lama ou na neve, nós corríamos aquele risco de duas horas e quarenta e cinco, mas voltávamos e estávamos numa situação praticamente normal a essa altura dos acontecimentos...

O sofrimento moral das misérias da guerra para o piloto, ressalvados os abatidos, é bastante atenuado pela distância que mantém dos seus efeitos...

...essa proteção é relativizada pela exposição ao perigo e pela grande capacidade de provocar destruição que abatem os pilotos envolvidos.

Todos nós fomos atingidos várias vezes... Somente um oficial nosso nunca foi atingido, não que ele não se expusesse, muito pelo contrário, era um dos que mais se expunha. Agora, todos nós fomos atingidos uma ou mais vezes, eu fui cinco vezes, em cinco missões eu voltei furado, inclusive com balas até no pára-brisa. Eu estava atacando e alguém estava se defendendo, e desse jeito, uma rajada pegou no pára-brisa. Levei tiro de todo o jeito, todos nós levamos, não é vantagem nem desvantagem.. São ossos do ofício, entende?

... a missão que mais me sensibilizou: O quadro da antiaérea dizimando aqueles B-25 a quem dávamos escolta nunca se apagou de minha memória. Guardo-o até hoje..

Contou-me o Tenente: “assisti dezenas de soldados saindo de seus abrigos (trincheiras), correndo como verdadeiras tochas humanas! Incendiadas que foram por bombas com gasolina gelatinosa, altamente inflamáveis, lançadas por mim e outros companheiros, durante uma missão, em Monte Castelo!"

Missões como esta eram comuns e afetavam, certamente, a todos, uns com maior ou menor intensidade estressante, mas afetavam. Com certeza, todos, pilotos e pessoal de apoio, sofriam diante de tais acontecimentos....morte e destruição eram a mensagem que levávamos diariamente sob as asas.

Pressuposta a situação de adversidade que envolve uma unidade aérea de combate, é necessário que os próprios combatentes avaliem especificidades dessa adversidade. Há duas razões para que se faça isso, a primeira determinada por razões ligadas à abordagem processual em Resiliência, que, como visto, recomenda que essa visão subjetiva complemente a constatação objetiva. A segunda decorre do fato de que militares, e pilotos em particular, são preparados para o enfrentamento das demandas através de doutrinamento e treinamento específicos, que influenciam na apreciação dos riscos aos quais estarão expostos.

Para isso, as respostas ao questionário se apresentam como excelentes pontos de partida, uma vez que as perguntas foram formuladas em contraponto, um deles buscando a exploração do que os depoentes avaliaram como adversidade, ou seja, as circunstâncias, experiências e aspectos associados a prejuízos, sofrimento ou insucesso.

Assim, eles começam falando sobre a separação e a dificuldade de estar longe de casa, dos amigos e principalmente da família e da saudade que sentiam, especialmente os casados:

Para começar, posso dizer que a gente longe da Pátria, cheio de atribulações, sentindo saudades da família e dos amigos, não é mole...No meu caso pessoal, eu tinha muita saudade da família, do conjunto onde estava...Fui voluntário ... Casei 10 dias depois. Deixei minha esposa grávida. Conheci minha filha no regresso... Eu tinha muita saudade... De maneira que isso fazia com que a gente até

chorasse ... Isso causava, assim, tristeza, até lágrimas, de saudades, de saudades de casa...A saudade dos familiares aumentava e a tensão no acampamento era cada vez mais presente.

Falam também da falta de apoio, essencialmente institucional, atribuindo-o, por um lado, à pouca experiência que o Brasil, e o Ministério da Aeronáutica, recém-criado, tinham em operações militares de guerra...

A campanha da Itália foi muito mal planejada, mais pela falta de experiência em operações de guerra desse tipo... A Aeronáutica, recém-formada por elementos do Exército e da Marinha, ainda não tinha o espírito de corpo necessário para o empreendimento...

...mas por outro, à má-vontade, por parte de um segmento da Aeronáutica, que não via favoravelmente a decisão do envio do Grupo de Caça à Itália.

...muito, muito mesmo, pela má vontade do Alto Comando da Aeronáutica... Esse foi o primeiro desgaste. O julgamento de muitos e muitos oficiais da Aeronáutica era ora de descrença maldosa, ora de referências até ofensivas. "Era o Grupo de Caça Níqueis." Essa talvez tenha sido a circunstância mais desgastante antes da campanha...

Essa falta de apoio se fez sentir em alguns aspectos cruciais, como a uniformização apropriada para o inverno europeu e o recompletamento dos pilotos:

O maior sofrimento, para o pessoal de apoio, que participou desde o início das operações do 1o. Grupo de Aviação de Caça, foi a falta de apoio logístico da FAB ao pessoal envolvido....Geralmente davam para nós - brasileiros, que somos um tipo mediano - aqueles macacões feitos para os americanos, que são pessoas maiores, mais altas, e a gente tinha que dobrar as mangas, ficava folgado no corpo...

Certa vez, revoltei-me com aquela situação, ao saber que em nosso almoxarifado havia centenas de uniformes (agasalhos) completos para enfrentar o frio... Para espanto de todos nós, o Tenente distribuiu a todos nós, mecânicos e rádio- telegrafistas os uniformes (agasalhos americanos) completos para o frio, constantes de botas de couro de carneiro invertido, calças e casacos em couro com lã de carneiro na parte interna, boina e luvas de lã. Parecíamos esquimós...

Os principais fatores que prejudicaram, e por vezes dificultaram, nosso desempenho, foi a falta de apoio da FAB no quesito referente ao recompletamento do pessoal, principalmente no referente aos nossos pilotos. Sem recompletamento, erro crasso de planejamento do Ministério da Aeronáutica, nossas esquadrilhas iam-se minguando, e cada piloto tendo que voar mais para responder ao número de missões que tinham que ser executadas...

Quando começou a guerra e perdemos, no mês de novembro, 4 pilotos, um dos companheiros fez um testamento: "Bom, vai morrer todo mundo, então vou fazer um testamento", disse ele. Foi um testamento galhofeiro, gaiato, mas no fundo aquilo era um protesto, uma abertura para dizer que estava faltando recompletamento...

Essa falta no recompletamento do pessoal levou nossos pilotos quase ao ponto de uma "estafa" insuportável, devido à necessidade de efetuarem, diariamente, até mais de duas missões cada...

Outro aspecto que apontam é típico da ‘vida desagradável do soldado’ e dizia respeito ao desconforto das diversas condições de alojamento, acampamento ou acantonamento, ora expostos ao calor excessivo, ora ao frio também excessivo, a rações pouco apetitosas, a restrições à liberdade de ir e vir.

A alimentação, a gente estranhava muito...A comida era horrível! A comida americana pode ser saudável, mas de paladar horrível. Tínhamos que comer, em especial, a salada de feijão doce, o que chamávamos de 'carne de bode'..

.Como seus amigos americanos, eles não apreciavam muito a ração "C", nem as cenouras desidratadas... Havia sempre um arroz, um feijão para maquiar aquela comida de campanha, aquela comida de ração K...

Era um lugar chamado "Aguadulce", que não tinha 'água' nem era 'dulce': era muito seco e árido... Havia tanto inseto peçonhento, aranhas, lacraias, escorpiões e mesmo cobras, que os alojamentos de madeira eram construídos sobre pilares... ...Junte a isso a naturais limitações de liberdade impostas pelo regime militar, o impacto do intenso frio italiano a nos congelar os ossos e as constantes preocupações de um ataque de surpresa, tudo isso nos atingia a todos, sem exceção...

Sentiram a apreensão e a expectativa diante da eventualidade de não corresponderem ao que deles se esperava.

...nós temíamos muito pela grandeza do americano, que nós não pudéssemos acompanhar a cultura, tanto acadêmica quanto profissional... A gente tinha medo que não se igualasse ao americano...

O treinamento corria normalmente e naturalmente com muita ansiedade de todos, porque o critério adotado pelo americano era: 'ou a pessoa passava naquele curso de formação de pilotos de caça, ou ele teria que regressar ao Brasil'. Então havia uma relativa ansiedade e expectativa de todos naquele 'dia-a-dia' do vôo...

É o aspecto de treinar e passar aquela fase inicial, de conseguir chegar ao ponto que se queria, que era ser piloto de Caça.

Isso nós tínhamos que ter sempre em mente: nós estávamos sempre sendo o alvo da vista deles, eles estavam vendo como nós nos comportávamos, e isso era muito importante para nós. Era o bom nome da FAB...

Especialmente porque conseguiam avaliar que lhes faltava a experiência mais específica de combate e de vôo de caça.

...antes nossa Patrulha era uma brincadeira, era esporte puro, era amor pelo País, vontade de cumprir uma missão, de combater um submarino... Mas então o 1º GavCa foi formado sem muito preparo. Nós não tínhamos aqui no Brasil pilotos com treinamento de piloto de caça, treinamento, assim, de uma maneira sistêmica, mesmo, não tinha...

Então nós tínhamos uma consciência muito grande de como voar um avião, só não sabíamos voar apenas com instrumentos, não sabíamos dar tiro em avião, não sabíamos utilizar militarmente uma aeronave...

Expuseram-se à contemplação da miséria e destruição provocadas pela guerra e sofreram esse impacto em diferentes momentos:

... Porque a gente falar na guerra é uma coisa, a gente ver o sofrimento daquele povo, o sofrimento de um pai, por exemplo, assistir uma determinada cena da filha ... e tudo, e ele sabe que aquilo ela tá fazendo porque ela precisa levar subsistência pra todos, isso deve ser uma coisa de chorar... Agora, transporte a situação deles aqui para o Brasil: seus pais, seus filhos, seus netos, todos passando fome por necessidade, não por vagabundagem, porque não havia trabalho. O que eles iriam fazer? Não havia o que se fazer porque estava tudo destruído, as fábricas, o comércio, não existia nada... Vi soldados italianos voltando para casa e não a encontrando intacta ou vazia, que choravam como crianças... Tudo muito tenebroso e assustador...Vi obras de arte destruídas em segundos. Mas foi e é assim através de toda a História e ainda dizem, com toda empáfia, que o homem é Sapiens...

Expuseram-se a diversos tipos de ameaças:

...atacar uma posição de artilharia era muito mais perigoso, porque nesses ataques nós íamos bem baixo, bem baixo mesmo... a artilharia era tão forte que eu escutava o barulho da metralhadora...

Já levei um 'cacete pelos peitos' logo de saída, o avião balançando todo, aí joguei fora os tanques, os foguetes e colei o mais que pude no rasante. Achei que tinha chegado meu dia, eu ouvia aquele "tá-tá-tá”...

Foi tão violenta (a explosão) que o companheiro, não podendo mais sair , passou dentro do fogo... Do outro lado ele dizia: "Estou praticamente cego, não vejo nada

"... O que o salvou é que a explosão foi tão grande que os estilhaços passaram antes de ele entrar diretamente no fogo...

...fui até o Passo de Brenner, onde passei em cima de Overetto, que era um paliteiro de antiaérea muito grande. Voei muito próximo de um ninho de metralhadoras, me acertaram em cheio e acabei eu trazendo 57 furos na minha

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 181-200)