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FUNDAMENTOS DE

ECONOMIA

FUNDAMENTOS DE

ECONOMIA

FUNDAMENTOS DE

ECONOMIA

LUCAS LAUTErT DEzOrDI

Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3175-7

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Lucas Lautert Dezordi

Fundamentos de Economia

IESDE Brasil S.A. Curitiba Edição revisada

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

__________________________________________________________________________________ D519f

Dezordi, Lucas Lautert

Fundamentos de economia / Lucas Lautert Dezordi. - [1.ed. rev.]. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012.

172p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3175-7

1. Economia - História. 2. Economia - História - Brasil. I. Título. 12-7194. CDD: 330

CDU: 330

03.10.12 18.10.12 039636

__________________________________________________________________________________

Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Shutterstock

IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200

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Sumário

A escola mercantilista | 7

Introdução | 7

Cenário histórico do mercantilismo | 8 Os principais dogmas | 10

O colonialismo no Brasil | 11

O quadro social: do mercantilismo ao capitalismo nascente | 12

A Primeira Revolução Industrial e o pensamento de Adam Smith | 19

Introdução | 19

A grande potência mundial | 20 O sistema capitalista | 21 Os impactos sociais | 23 Conclusão | 24

A Segunda Revolução Industrial e a Escola Clássica | 31

Introdução | 31

A expansão da Revolução Industrial no mundo | 31 Escola Clássica | 34

Conclusão | 36

Do Imperialismo à Primeira Guerra Mundial | 43

Introdução | 43

O Imperialismo (1870-1914) | 44

A economia brasileira no século XIX | 47 A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) | 49 Conclusão | 52

A Grande Depressão e o pensamento keynesiano | 59

Introdução | 59

A economia na década de 1920 | 59 Grande Depressão da década de 1930 | 61 A economia keynesiana | 66

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O processo de industrialização da economia brasileira entre 1930 a 1945 | 75

Introdução | 75

O Brasil no período da Grande Depressão | 76 A industrialização nacional na década de 1940 | 80 Conclusão | 82

A Segunda Guerra Mundial e suas consequências | 89

Introdução | 89

A economia mundial antes e durante a Segunda Guerra | 89 A economia após a Segunda Guerra: um mundo polarizado | 94 Conclusão | 97

A Guerra Fria e os choques do petróleo | 103

Introdução | 103

A Guerra Fria no período de 1950 a 1980 | 103 Choque do petróleo | 107

Conclusão | 110

A economia brasileira nas décadas de 1950 e 1960 | 117

Introdução | 117

O Plano de Metas (PM) e o caminho para a industrialização | 117 O Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg) | 119

Pensamento econômico brasileiro | 122 Conclusão | 123

O milagre econômico brasileiro e a crise dos anos 1980 | 129

O milagre econômico e os choques do petróleo | 129 A crise dos anos 1980 | 133

Conclusão | 135

O Plano Real e a estabilidade da economia brasileira | 143

Introdução | 143

A implementação do Plano Real | 143 Âncora cambial | 145

Conclusão | 148

O desempenho recente da economia brasileira e seus principais desafios | 155

Introdução | 155

O regime de metas de inflação | 155 Principais desafios da economia | 160 Conclusão | 161

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Apresentação

Este livro tem como propósito fundamental destacar o desenvolvimento das Ciências Econômicas e do capitalismo. Descreve as duas revoluções industriais e como o imperialismo levou as superpotências à Primeira Guerra Mundial. Apresenta o maior desafio do sistema liberal com uma visão consistente da Grande Depressão e, em seguida, a Segunda Guerra Mundial. A partir desse ponto, o rumo central do livro passa a ser direcionado à industrialização da economia brasileira e suas fases estruturais.

Analisa com detalhes o período da Guerra Fria e a divisão política e econômica do mundo nessa conturbada fase. Descreve as dificuldades enfrentadas pelas economias capitalistas com os choques do petróleo, vivendo uma inflação combinada com recessão econômica. O livro também descreve a melhor fase da economia brasileira: o milagre econômico, com taxas de crescimento espetaculares. Em seguida, é apresentada a crise dos anos 1980, com o problema da hiperinflação e os insucessos dos planos de estabilização da economia.

Por fim, busca-se analisar o Plano Real e seu sucesso em combater a inflação. E, com isso, destacam-se as duas fases do plano. Inicialmente a âncora cambial e as crises internacionais. Posteriormente, o regime de metas de inflação, seu sucesso operacional no controle inflacionário e uma apresentação dos principais desafios da economia brasileira.

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A escola mercantilista

Lucas Lautert Dezordi*

Introdução

O pensamento mercantil desenvolveu-se entre a Idade Média e o período do liberalismo econômico. Nesse sentido, o mercantilismo pode ser datado, aproximadamente, entre os anos de 1500 a 1776, variando em diferentes países e regiões.

Este texto abordará quatro tópicos importantes dessa escola de pensamento. Inicialmente, com o objetivo de contextualizar a leitura, apresenta-se o cenário histórico vivido por esse sistema. Em seguida, os principais dogmas são destacados, focando no pensamento dominante e explicando a visão geral do mercantilismo. Na sequência, discorre-se sobre o colonialismo no Brasil, desde o descobrimento até o ciclo do ouro. E, por último, são descritos o quadro social vivido no mercantilismo e o início do sistema capitalista.

É importante destacar que o mercantilismo em algumas regiões, principalmente na Europa Oci-dental, pode ser interpretado como uma prática econômica de transição entre um feudalismo avançado nas atividades comerciais, mas com uma base forte na agricultura, para um sistema capitalista voltado para o crescimento da indústria e do livre funcionamento dos mercados. Com isso, o mercantilismo pode ser considerado um período de transição do capital comercial para o capital industrial. É comum clas-sificá-lo como um sistema pré-capitalista, ou simplesmente capitalismo mercantil, no sentido de que o crescimento da prática comercial possibilitou o financiamento das atividades industriais e financeiras.

As principais potências nesse período foram Portugal, Espanha, Inglaterra e França, que dominavam as principais rotas de comércio e as técnicas marítimas. Holanda e as regiões da Itália e Alemanha também tiveram forte expansão do comércio. Esses estados-nações se beneficiaram do sistema mercantil

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8 | A escola mercantilista

e ampliaram suas riquezas ao longo desse período. As guerras entre as metrópoles eram frequentes e tinham como objetivo, em geral, ampliar ou proteger importantes rotas comerciais, sendo que a acumulação de metais e territórios era fundamental.

Contudo, alguns países, que atualmente dominam o cenário econômico, não se beneficiaram totalmente das práticas mercantis. Por exemplo, os Estados Unidos, devido à sua dependência política com a Inglaterra, eram divididos em duas grandes partes:

um norte com uma agricultura diversificada e produção manufatureira, representado por uma

::::

colônia de povoamento;

o sul agrário, monocultor, escravista e exportador de matérias-primas, claramente uma colônia

::::

de exploração.

Como consequência, a industrialização norte-americana ocorreu efetivamente sob uma guerra civil, conhecida como a Guerra da Secessão (1861-1865). No caso do Japão, com seu isolamento desde

o século XVII e um sistema econômico próprio baseado numa espécie de campesinato1 e na existência

de oficinas e manufaturas estatais, realiza a partir de 1868 um processo intensivo de industrialização conhecido como a Revolução Meiji, modificando significativamente a estrutura produtiva dessa ilha asiática. No caso do Brasil, colônia de Portugal, foi extremamente explorado pela Coroa portuguesa, através do corte predatório do pau-brasil, do ciclo do açúcar e do ouro.

Cenário histórico do mercantilismo

A expansão crescente do comércio nas comunidades feudais, advinda do excedente agrícola, possibilitou o desenvolvimento das cidades e a consolidação da classe social burguesa. Esta, enraizada no comércio, ampliou suas atividades mercantis de acordo com as necessidades cada vez mais complexas nas cidades.

O fortalecimento da relação entre o rei e a burguesia em detrimento do enfraquecimento do poder do senhor feudal foi fundamental para a expansão do comércio com segurança entre os conti-nentes, por meio das Grandes Navegações.

No final do século XV são realizados grandes e expressivos progressos na arte de navegação de longa distância, com a invenção do telescópio e as descobertas astronômicas. Rotas comerciais, até então não exploradas, ganham novas perspectivas e desafios. No lado espanhol, a possibilidade de chegar às Índias, pela confirmação da tese de que a Terra não era plana, mas sim circular. E, do lado português, a visão de contornar o continente africano para, finalmente, estabelecer novos caminhos comerciais com o Oriente.

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9 | A escola mercantilista

Principais rotas comerciais do mercantilismo.

M ar ilu S ou za .

Em 1487, Bartolomeu Dias contorna, finalmente, o Cabo da Boa Esperança, abrindo caminho para as Índias. A partir desse período, dois fatos históricos foram de extrema relevância para o surgimento e desenvolvimento do pensamento mercantil, conforme a visão destacada inicialmente.

O primeiro acontecimento

:::: : Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando

consideravelmente o fluxo de metais preciosos (o ouro e, principalmente, a prata para a Europa). Denis (1987, p. 90) destaca que “a Espanha conquista rapidamente o México e o Peru: os tesouros artísticos e as minas fornecem grandes quantidades de ouro e prata, que asseguram a supremacia espanhola na Europa durante um século.”

O segundo fato relevante

:::: : Vasco da Gama chega à Índia em 1498, contornando a África e

abrindo uma nova rota comercial. Estima-se que só nessa viagem a embarcação portuguesa tenha lucrado mais de 6 000% com os produtos vendidos na Europa.

A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a expansão de mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade, isto é, a integração comercial entre a América a Europa e a Ásia.

O comércio mundial introduziu mercadorias inteiramente novas na Europa: o chá, trazido pelos holandeses em 1606; o café, o cacau e o tabaco, incorporados pela Espanha em 1558. Em seguida, a comercialização do tomate, do milho, da batata e da baunilha foi amplamente intensificada.

O comércio das outras mercadorias expande-se sem precedentes: o açúcar, os melaços e o rum são comercializados em larga escala com as Índias Ocidentais, tais como os escravos negros, cujo comércio, a partir de 1510, desenvolve-se rapidamente.

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10 | A escola mercantilista

Os principais dogmas

As doutrinas do sistema mercantil não se baseavam na necessidade de se explicar teoricamente o funcionamento da economia. Essa ciência só se desenvolve efetivamente no século XVIII, concomi-tantemente com a Revolução Inglesa e com o pensamento de Adam Smith. Com isso, os principais pen-samentos mercantis são apresentados na forma de dogmas pertencentes à escola mercantilista. Pode-se descrever quatro grandes princípios básicos (metalismo, nacionalismo, colonialismo e população numerosa) e analisar suas inter-relações.

Metalismo ou bulionismo

O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais preciosos, gerando, com isso, mais riqueza para a sociedade. O ouro e a prata, em algumas regiões, eram considerados a única forma de poder e riqueza.

Galbraith (1989, p. 33) descreve um pensamento de Cristóvão Colombo: “O ouro é uma coisa maravilhosa! Quem o possui, é senhor de tudo o que desejar. Com o ouro, é até possível abrir às almas o paraíso”.

Assim, era fundamental que o governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu ter-ritório. Nesse sentido, as exportações de um país eram mais incentivadas que as importações. Era prática comum a proibição de importações de alguns produtos não essenciais. O metalismo estava focado em uma visão primitiva baseada na ideia de que um ganhador necessariamente gera um perdedor, isto é, o lucro de um país é a desgraça do outro.

Nacionalismo

A formação do estado-nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos ampliar as rotas comerciais, obter novos mercados consumidores, expandir as colônias, assegurar a segurança no comércio internacional, manter o monopólio comercial e controlar rigorosamente as importações. O nacionalismo mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Galbraith (1989, p. 31) argumenta que o grande cientista social alemão, Max Weber (1864-1920), estimou que cerca de 70% das receitas públicas da Espanha e cerca de dois terços das receitas dos outros países europeus eram empregados em guerras para manter os monopólios comerciais que geravam lucros fenomenais para as nações.

A guerra era, realmente, um estado comum. De 1494 a 1559, ocorreram conflitos na Europa em praticamente todos esses anos. A Inglaterra, durante o período de 1656 a 1815, conviveu com 84 anos de guerras.

Colonialismo

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11 | A escola mercantilista

colônias era bem simples. Estas deviam abastecer a metrópole com matéria-prima e metais preciosos. Além disso, as colônias eram fontes de mão de obra escrava e sua sociedade mercantil um grande mercado consumidor. Com isso, as colônias só podiam comprar produtos de suas metrópoles. Brue descreve bem essa subordinação:

Os atos de navegação britânicos de 1651 e 1660 são bons exemplos dessa política. Os bens importados para a Grã--Bretanha e para as colônias tinham de ser transportados em navios ingleses ou coloniais [...]. Certos produtos das colônias tinham de ser vendidos somente para a Inglaterra e outros tinham de chegar à Inglaterra antes de serem enviados para países estrangeiros. As importações estrangeiras para as colônias eram restritas ou proibidas. A fabrica-ção colonial era restrita ou ilegal, em alguns casos, de modo que os territórios dependentes permanecessem fornece-dores de matérias-primas de baixo custo e importafornece-dores de bens manufaturados. (BRUE, 2005, p. 15)

O Brasil, como colônia de exploração da Coroa portuguesa, viveu intensamente esse processo, inicialmente com o ciclo do açúcar e do tabaco e, posteriormente, com a atividade de mineração.

População numerosa

Uma população numerosa e focada para o trabalho era imprescindível para a formação de exér-citos numerosos a serviço das nações e também na expansão da oferta de trabalho com o objetivo de redução dos salários. Esse era um ponto importante pois, com salários muito baixos, o custo de produção era reduzido, possibilitando um preço competitivo para as exportações.

Brue (2005) ressalta que durante o reinado de Henrique VIII na Inglaterra (1509-1547), foi decre-tado que os “vagabundos” deveriam ter suas orelhas decepadas, e a morte era a pena para o terceiro delito da vagabundagem. Consequentemente, durante o período mercantil, nenhuma teoria sobre o salário e o trabalho foi desenvolvida.

O colonialismo no Brasil

O descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500, ocorre em um contexto vivido pelas grandes navegações e pela expansão das rotas comerciais da Coroa portuguesa no mundo. Cabe destacar que, no início do século XVI, a preocupação principal de Portugal era expandir o comércio com a Índia e não colonizar as terras brasileiras. Portanto, os primeiros anos da ocupação portuguesa foram preponderantemente focados na exploração da madeira conhecida como pau-brasil – que influenciou na origem do nome do nosso país.

O historiador econômico Prado Jr. (1976) comenta que portugueses e franceses comercializaram ativamente, durante a primeira metade do século XVI, a madeira encontrada na costa brasileira. A exploração foi predatória, argumenta o historiador, devido à importância econômica da madeira como matéria-prima da indústria têxtil, pois dela era extraído um corante muito útil na tinturaria. Além da uti-lização da mão de obra indígena no corte e transporte dessa grande árvore (um metro de diâmetro e 10 a 15m de altura) os portugueses não se preocuparam em criar bases fixas de povoamento no território brasileiro. A comercialização do pau-brasil era monopólio de Portugal, que cobrava o direito de explo-ração. A primeira concessão referente ao pau-brasil data de 1501, autorizando Fernando de Noronha a

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12 | A escola mercantilista

A partir de 1530, a Coroa portuguesa, por meio de uma divisão política da costa brasileira em capi-tanias hereditárias, organiza alguns núcleos de produção de cana-de-açúcar. Inicialmente, a mão de obra utilizada nas fazendas era a indígena, criando assim uma estrutura agrícola escravista e de monocultura.

Os engenhos, fazendas especializadas na manipulação da cana e no preparo do açúcar, desen-volveram-se rapidamente, agora com a mão de obra africana, com o objetivo de vender esse valorizado produto para a metrópole portuguesa. Além do açúcar, o tabaco também foi amplamente produzido no Brasil, seguindo as doutrinas mercantilistas impostas por Portugal.

Entretanto a descoberta de grandes jazidas de ouro, no início do século XVIII, impulsionou a ativi-dade de mineração no Brasil. A Coroa portuguesa despende uma atenção quase que exclusiva para a exploração dos metais preciosos, gerando uma grande decadência nas atividades agrícolas, inclusive da cana.

A exploração do ouro, apesar de ser livre, era submetida a um regime rigoroso de produção. A fiscalização era estreita e a Coroa reservava-se o direito, como tributo, à quinta parte de todo o ouro extraído. As principais jazidas encontravam-se em Ouro Preto, Minas Gerais.

A estrutura social vivida no Brasil Colônia tinha no topo da pirâmide os senhores da terra, autori-dades civis, militares e eclesiásticas, todas elas provenientes da classe dominante da metrópole.

A população que administrava a vida na colônia vinha logo abaixo. Eram funcionários, sacerdotes, administradores dos engenhos, comerciantes e pequenos proprietários de terra. Em seguida, apresen-tava-se em grande escala a população trabalhadora livre, com remuneração muito baixa e sem poder de compra. E, na base da pirâmide, encontravam-se os escravos, grande força de mão de obra, mesmo com péssimas condições de trabalho.

O quadro social: do mercantilismo ao capitalismo nascente

O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. O tráfego e o comércio de mercadorias eram monopolizados pelo Estado, beneficiando a corte e os comerciantes ligados ao rei.

Com isso, o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte controle central, nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopólios a empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para limitar a concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social. Nas cidades mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, como eram o próprio go verno. A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes com um salário baixo e em péssimas condições. Como consequência, observou-se uma atividade econômica altamente concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.

Entretanto, podem-se citar algumas exceções. Por exemplo, no século XVII, como descrito por Denis (1987), um capitalismo particular se desenvolveu na República das Províncias Unidas (atuais Países Baixos). Após uma revolta vitoriosa da burguesia local contra o rei da Espanha, algumas cidades holan-desas passam a colocar em prática uma igualdade absoluta entre a burguesia local e os mercadores estrangeiros, ampliando a concorrência entre eles. Na primeira metade do século XVIII, o

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desenvolvi-13 | A escola mercantilista

criação das sociedades anônimas por ações, o mercado acionário e o consequente financiamento das indústrias.

Em 1733, John Kay inventou a lançadeira volante, que permitia um tecelão trabalhar duas vezes mais depressa. A indústria de hulha desenvolve-se junto com a metalurgia e a bomba a vapor é inserida na Europa em 1710. A agricultura e a pecuária também sofrem grandes transformações pela

substi-tuição de pousios2 pela cultura de forragens, permitindo alimentar o gado durante o inverno.

Gradativamente, o capital comercial foi perdendo importância em relação ao capital industrial, devido à ampliação da produtividade advinda das novas invenções e do crescente ambiente concor-rencial.

Pode-se argumentar que no início do século XVIII, o mercantilismo estava perdendo espaço para o capitalismo nascente, reduzindo o poder do rei absolutista e ampliando a participação do mercado na economia.

Texto complementar

Mercantilismo

(BRASIL, 2008)

A doutrina e a política mercantilista situam-se numa fase histórica precisa: a do capitalismo mercantil, etapa intermediária entre o esfacelamento da estrutura feudal, de um lado, e o surgimento do capitalismo industrial, de outro. [...]

Numa perspectiva global, a desintegração do regime feudal de produção derivou dos abalos sofridos pelo sistema, em decorrência do ressurgimento do comércio a longa distância no conti-nente europeu. Efetivamente, a ampliação do raio geográfico das atividades mercantis provocou transformações relevantes na estrutura feudal.

A abertura do Mediterrâneo à presença ocidental, possibilitando o comércio com o Oriente, e o consequente aumento do volume das trocas entre regiões europeias, até então comercialmente isoladas, geraram um universo econômico complexo, diante do qual o feudalismo reagiu de modos diversos. [...]

As monarquias absolutistas foram instrumento político empregado na superação das crises determinadas pela desintegração do feudalismo. Efetivamente, a unificação territorial e a centralização política dos Estados nacionais europeus, rompendo o isolacionismo dos feudos, possibilitaram o disciplinamento das tensões resultantes da expansão do setor mercantil. A primeira função da monarquia absolutista foi a manutenção da ordem social interna dos Estados nacionais, mediante a sujeição de todas as forças sociais – do plebeu ao nobre – ao poder real.

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14 | A escola mercantilista

Em breve, o Estado nacional centralizado desempenharia um segundo papel: o de estimular a expansão das atividades comerciais. No fim da Idade Média, o comércio europeu chegara a um impasse: a economia do Velho Mundo, além de abalada pelas tensões sociais provenientes da crise do feudalismo, sofria uma severa depressão monetária. A Europa, possuidora de pequenas reservas de ouro, contava basicamente com linhas externas de abastecimento do precioso minério. [...]

O mercantilismo inglês era fundamentalmente industrial e agrícola. A política econômica inglesa era sempre bem planejada. O governo incentivava a produção manufatureira, protegendo-a da concorrência estrangeira por meio de uma rígida política alfandegária. Houve a formação de uma burguesia industrial, que empregava o trabalho assalariado e era dona dos meios de produção (máquinas, galpões, equipamentos).

O absolutismo atingiu sua maior força na França, onde o Estado intervinha na economia de forma autoritária. O desenvolvimento da marinha, das companhias de comércio e das manufaturas mantinha a balança comercial favorável. O mercantilismo francês atingiu seu ápice com o rei Luís XIV. Era um país essencialmente agrícola, com o preço de seus produtos mantidos baixos para que os trabalhadores pudessem se alimentar e não reclamar dos baixos salários, o que era favorável para os manufatureiros. Mesmo com o incentivo e intervenção estatais, a França enfrentava uma forte concorrência com a Inglaterra e a Holanda.

O exemplar mercantilismo holandês atraiu muitos estrangeiros, que abandonavam seus países devido às perseguições, e com seus capitais favoreceram o crescimento da Holanda, modelo de país capitalista no começo do século XVII. Este era dominado pelas grandes companhias comerciais, tendo o poder central muito fraco, e desenvolvendo as manufaturas e o comércio interno e externo.

Além disso, o intervencionismo estatal não existia nesse país. Nele foram organizadas duas grandes companhias monopolistas holandesas, com o objetivo de colonizar e explorar as possessões espanholas na Ásia e luso-espanholas na América: a Companhia das Índias Orientais (Ásia) e a Companhia das Índias Ocidentais (América). Através do desenvolvimento das manufaturas e do poderio dessas companhias, durante o século XVII, a Holanda conseguiu acumular um grande capital. [...]

Dessa forma, percebe-se que Estados absolutistas e capitalistas comerciais são dois polos interagentes de uma mesma realidade: a superação do modo de produção feudal e o surgimento do capitalismo moderno. Em resumo, foi o desenvolvimento do Estado nacional absolutista que garantiu a ascensão da burguesia mercantil. [...]

O mercantilismo não foi um sistema econômico e, portanto, não pode ser considerado um modo de produção, terminologia que se aplica ao feudalismo. O mercantilismo é a lógica econômica da transição do feudalismo para o capitalismo.

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15 | A escola mercantilista

Atividades

1. Descreva a importância da atividade mercantil entre a transição do feudalismo para o capitalismo.

2. Destaque e explique os dois principais fatores históricos que contribuíram para o

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16 | A escola mercantilista

3. Descreva as relações entre o metalismo e o nacionalismo.

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17 | A escola mercantilista

Gabarito

1. O mercantilismo possibilitou a ascensão e a consolidação da classe burguesa na Europa Ocidental.

Com isso, a acumulação de riqueza via expansão do comércio e a exploração das colônias possibilitaram o financiamento das indústrias, inicialmente, na Inglaterra e na França.

2. Primeiro acontecimento, Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando

consideravelmente o fluxo de metais preciosos, ouro e prata, para a Europa. Segundo fato relevante, Vasco da Gama atinge a Índia em 1498, contornando a África e abrindo uma nova rota comercial. A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a expansão de mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade. Isto é, a integração comercial entre América, Europa e Ásia.

3. O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina

sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais preciosos, gerando, com isso, mais riqueza para a sociedade. Era fundamental, assim, que o governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu território. A formação do estado--nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos: ampliar rotas comerciais; obter novos mercados consumidores; expandir as colônias; assegurar a segurança no comércio internacional; manter o monopólio comercial e controlar rigorosamente as importações. O nacionalismo mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Com isso, a acumulação de ouro e prata – metalismo – era financiada diretamente pela nação.

4. O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. Com isso,

o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte controle central, nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopólios a empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para limitar a concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social. Nas cidades mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, com eram o próprio governo. A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes com um salário baixo e com péssimas condições. Como consequência, observou-se uma atividade econômica altamente concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.

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A Primeira Revolução

Industrial e o pensamento

de Adam Smith

Introdução

A Primeira Revolução Industrial, datada no final do século XVIII, foi marcada por uma grande

trans-formação nos processos de produção artesanal e manufatureiro para a produção fabril1. Ela também é

conhecida como a Revolução Industrial Inglesa, e as mudanças das atividades comerciais para o capital industrial, neste período, só ocorrram em grande escala na Inglaterra e no sul da Escócia, tornando essa região a maior potência mundial. O crescimento da produtividade e das novas técnicas fabris, aliado às grandes inovações tecnológicas, foi um fator sem precedentes na história econômica.

Este texto busca discutir o funcionamento do sistema capitalista através do ilustre filósofo Adam Smith, relacionando os fatores históricos mais relevantes da economia. Com isso, divide-se o capítulo em três partes. Primeiramente, apresenta-se a origem da Revolução Industrial Inglesa, destacando os fatores que contribuíram para o desenvolvimento industrial e para o pioneirismo inglês. Em seguida, procura-se descrever o influente pensador econômico e grande filósofo do sistema capitalista. E, por último, os impactos sociais são apresentados em um contexto de significativas transformações.

1 No processo de produção artesanal, o artesão faz praticamente tudo. O tecelão, por exemplo, fazia o fio e o tecia; o sapateiro preparava o couro, cortava-o e o costurava, produzindo o sapato. Já na indústria manufatureira, havia um grande número de trabalhadores reunidos

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20 | A Primeira Revolução Industrial e o pensamento de Adam Smith

A grande potência mundial

A Inglaterra, como grande economia mercantil, foi o primeiro Estado-nação a transformar seu capital comercial em capital industrial. Descrever todos os fatores e suas relações que impulsionaram a economia inglesa para um atividade fabril é uma tarefa complexa e que foge ao objetivo do texto. Entretanto, cabe destacar os principais elementos de ordem econômica e política que possibilitaram o pioneirismo inglês.

A máquina a vapor de James Watt, desenvolvida entre os anos de 1769 e 1782, contribuiu consideravel-mente na geração de energia para a indústria têxtil. Apesar do vapor já ter sido utilizado como fonte de energia ante-riormente, a máquina de Watt permitiu um ganho de pro-dutividade na atividade mineral e no transporte.

Na política, destacam-se a Revolução Inglesa do século XVII, com a Revolução Puritana de 1640, que cul-minou com a Revolução Gloriosa de 1688. As duas fazem

parte de um mesmo processo revolucionário, daí a denominação de Revolução Inglesa do século XVII, limpando terreno para o avanço do capitalismo. Depois de vencer a monarquia, a burguesia conquistou os mercados mundiais e transformou a estrutura agrária, gerando uma grande liberdade econômica para os burgueses ingleses.

Até a segunda metade do século XVIII, na industrialização, a Inglaterra se destacava na tecelagem de lã e com o desenvolvimento de novas máquinas o algodão foi ganhando espaço na indústria têxtil. As colônias contribuíam com matéria-prima, capitais e consumo desses produtos.

A expansão do comércio manufatureiro garantiu, em grande medida, a acumulação de capital

necessário para financiar, através de um sistema financeiro desenvolvido2, a expansão industrial. Por

exemplo, os ganhos comerciais da Inglaterra em relação à Portugal garantiram que praticamente a metade do ouro brasileiro engordasse o Banco da Inglaterra.

A expressiva produção de lã, antes da Revolução Industrial, estimulou os nobres a investirem neste segmento. Isso os levou a ampliar as áreas de pastagem de ovelhas e, para garantir uma maior área, invadiram territórios utilizados pelos camponeses para suas atividades agrícolas e pastoris. É claro que essa apropriação indevida trouxe problemas para os camponeses, que ficaram sem seu local de trabalho. Para os camponeses não retornarem às suas terras, os nobres passaram a cercá-las. Como consequência, o crescimento populacional das cidades foi expressivo, expandindo, assim, a oferta de trabalho nas indústrias e desse modo reduzindo seus salários.

Em relação aos recursos naturais, o pioneirismo inglês se destaca pelas grandes reservas de carvão mineral e minério de ferro. O primeiro foi essencial para a geração de energia a vapor e o segundo utilizado na confecção de equipamentos e máquinas.

Condições políticas favoráveis, crédito barato e em grande volume, oferta de mão de obra abundante e recursos naturais favoráveis garantiram em certa medida o pioneirismo da Inglaterra na Revolução

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21 | A Primeira Revolução Industrial e o pensamento de Adam Smith

Industrial. Contudo, o elemento essencial foi o desenvolvimento tecnológico. A seguir destacamos quatro grandes invenções interligadas.

Com o objetivo de aumentar a capacidade de tecer, John Kay desenvolveu, em 1733, a lançadeira volante. O tear mecânico inventado por Edmund Cartwright, em 1785, revolucionou a fabricação de tecidos, pois para mover o tear mecânico era necessária uma energia motriz mais constante que a hidráulica, à base de rodas d’água. James Watt, em 1769, aperfeiçoando a máquina a vapor, chegou à máquina de movimento duplo, com biela e manivela, que transformava o movimento linear do pistão em movimento circular, adaptando-se ao tear. Nos Estados Unidos, Eli Whitney inventou o descaroçador de algodão. Com esse avanço tecnológico, a indústria têxtil algodoeira, como destacado por Rezende (2005), inaugurou a fase de produção capitalista, focada no emprego da máquina – regular, rápida, pre-cisa e incansável –, e permitiu um enorme crescimento da produção com custos baixos.

A siderurgia, importante setor da Revolução Industrial, também se beneficiou do desenvolvimento tecnológico. Rezende (2005, p. 142) descreve a importância do ferro para melhorar as máquinas, equipamentos, pontes de ferro, utensílios domésticos, materiais de construção, fazendo sua produção elevar de 250 mil toneladas anuais, em 1806, para 500 mil, em 1820, e 700 mil, em 1828. Contudo, a produção de ferrovias foi a atividade principal do setor siderúrgico. Como relembra o autor, as primeiras estradas de ferro comerciais ligaram Stockton-Darlington (1825) e Liverpool-Manchester (1830).

A mineração do carvão, matéria-prima para a máquina a vapor, foi ampliada, aproveitando as jazidas no subsolo britânico, passando de 16 milhões de toneladas em 1830 para 50 milhões de tonela-das em 1850. A energia a vapor foi alimentada pela utilização intensiva dessa matéria-prima. Concomi-tantemente, o navio a vapor substituiu a escuna e a locomotiva a vapor substituiu os vagões puxados a cavalo, melhorando significativamente o processo de transporte do sistema produtivo.

O sistema capitalista

O sistema capitalista descrito por Adam Smith, em seu célebre livro Uma Investigação da Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, publicado em 1776, deu origem às ciências econômicas e expôs com grande rigor científico o funcionamento de um sistema produtivo nascente: o capitalismo, fornecendo, com isso, uma base teórica e filosófica para as grandes transformações econômicas e sociais em curso.

Nascido na Escócia, em 1723, Adam Smith estudou em Glasgow. Como professor de Filosofia, publica, em 1756, a Teoria dos Sentimentos Morais, que o põe em evidência, devido ao sucesso da obra, possibilitando que ele morasse na França e na Suíça. A Riqueza das Nações, como ficou conhecida sua principal obra, ressaltou a importância do trabalho humano. Mais especificamente, abordou que a divisão social do trabalho era fundamental para o ganho de produtividade e,

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um homem, explica Smith, tivesse de fabricar sozinho um alfinete, indo ele próprio buscar a matéria-prima necessária, iria despender seguramente um mês na produção desse. Um artesão hábil, com um equipamento rudimentar, fabricaria certamente não mais do que 20 alfinetes por mês. Entretanto, em um processo de produção fabril, em que há a divisão do trabalho, o ganho de produtividade é significativo. Smith descreve detalhadamente uma fábrica de alfinetes. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia para colocar a ponta. Essas etapas são feitas por três ou quatro funcionários especializados. Após a produção do alfinete, é realizada a atividade de embalagem para, por fim, o alfinete ser comercializado. O filósofo destaca que para a fabricação de um simples alfinete são necessárias aproximadamente 18 operações distintas, divididas entre 10 funcionários. Apenas os mais habilidosos executam tarefas distintas, mas mesmo assim caracterizando uma grande divisão de trabalho. E, à medida que a especialização da mão de obra foi se espandindo pelos diversos ofícios, um aumento proporcional das forças produtivas foi observado.

Smith argumenta três benefícios da divisão social do trabalho. Em primei-ro lugar, a especialização melhora a des-treza do operário, ampliando, assim, a quantidade e a qualidade do produto. O segundo benefício consiste na economia de tempo. Passar de uma tarefa para ou-tra ao longo do processo produtivo gera perda de concentração e de tempo. Smi-th argumenta (1996, p. 69): “Geralmente, uma pessoa se desconcentra um pouco ao passar de um tipo de trabalho para outro. Ao começar o novo trabalho, rara-mente ela se dedica logo com entusias-mo; sua cabeça ‘está em outra’, como se

diz, e, durante algum tempo ela fica mais flana3 do que trabalho seriamente.” E, por último, a divisão

social do trabalho possibilita a invenção e o aprimoramento das máquinas que facilitam o trabalho humano. As grandes máquinas utilizadas nas indústrias manufatureiras, segundo Smith, foram inven-ções de operários comuns, os quais, naturalmente, preocuparam-se em dispensar uma atenção especial no aperfeiçoamento do processo produtivo. O filósofo considerava que os engenheiros e os cientistas eram fundamentais para as invenções, mas argumentava que mesmo nessa atividade a observação da produção, aliada à especialização dessas atividades, tornava as invenções bastante expressivas e cons-tantes na sociedade industrial.

Com isso, fica evidente que a organização social na divisão do trabalho consiste na riqueza de uma nação e não na quantidade de ouro e prata em seu território, como pregava a doutrina do mercantilismo. E, completando, a divisão do trabalho era limitada pelo tamanho do mercado.

Smith (1996, p. 74) argumentou como o mercado funcionava através de interesses pessoais. Sua célebre frase dizia: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm com seu próprio interesse.” Nesse caso, os produtores despendem seu trabalho para vender ao mercado seus produtos e, assim, obter uma renda, um salário

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para sua subsistência, visto que uma sociedade desenvolvida é uma grande cooperação. Isto é, a pro-dução de subsistência não é observada e não garante o desenvolvimento econômico. O ser humano necessita quase que constantemente da ajuda de seus semelhantes, e essa nem sempre vem da bene-volência das pessoas.

O mercado, nesse sentido, é formado por forças opostas, no momento em que os produtores procuram vender o máximo possível ao maior preço, os consumidores buscam adquirir o maior volume de bens ao menor preço possível. Essa contradição pode parecer, inicialmente, caótica, mas representa uma ordem natural do sistema econômico. Na verdade há uma “mão invisível” que organiza o com-portamento dos agentes econômicos, e a concorrência e a livre-iniciativa são fundamentais para sua existência.

O monopólio consistiria em uma situação de ineficiência, pois os lucros extraordinários não estimulariam novos investimentos. Caso o governo proibisse a concorrência, essa situação prejudicaria o desenvolvimento econômico. E, em situação inversa, de livre concorrência, o excesso de lucro da empresa monopolística atrairia novos produtores, expandindo a oferta e diminuindo os preços e os lucros. Nesse caso, a “mão invisível” levaria a uma situação de eficiência econômica, em que os produtores com melhores preços e produtos sobreviveriam. E, na visão de Smith, os governos são esbanjadores, corruptos, ineficientes e concessores de privilégios de monopólio em detrimento da concorrência.

Com relação ao comércio internacional, o ataque contra o governo foi frontal também, argumen-tando que este não deveria interferir, deixando assim a especialização do trabalho determinar as trocas

entre os países. Essa ideia ficou conhecida como vantagem absoluta de cada nação4 e condenou

seve-ramente as práticas do subsídio para as exportações, visto que os recursos saíam do bolso dos contri-buintes e, com a política de abastecer o setor externo, esses produtos internamente teriam seus preços elevados.

Smith (1996) considerou ideal uma atuação limitada do setor público. Esse deveria se preocupar basicamente em:

proteger a sociedade de ataques externos.

::::

estabelecer e criar leis de justiça.

::::

utilizar as instituições públicas como reguladoras do excesso de lucro, estimulando a

concor-::::

rência entre as empresas.

O governo deveria estimular o comércio e a educação, incluindo saneamento, rodovias, ferrovias, portos, correios, escolas e igrejas. A educação pública gratuita iria garantir à nação o crescimento da produtividade do trabalho ao longo do tempo.

Os impactos sociais

As transformações econômicas vividas na Primeira Revolução e descritas pelo filósofo e econo-mista Adam Smith causaram tremendos impactos na área social.

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Com relação ao movimento populacional, destacam-se o êxodo rural e o crescimento da vida urba-na. A cidade foi transformada em um centro de produção e consumo da economia, relegando ao campo uma posição economicamente secundária. Por exemplo, em 1760, Manchester registrava uma população de 17 mil habitantes e, em 1830, 180 mil habitantes. Por volta de 1850, várias cidades inglesas possuí-am uma população em torno de 300 mil habitantes – Bradfort, Liverpool, Leeds, Sheffield, Birminghpossuí-am, Bristol – e, em 1880, Londres contabilizava uma população acima de 4 milhões de habitantes. A Inglaterra, em 1851, possuía uma população rural de 52%, número que decaiu em 1881, chegando a 31% e, em 1911, a 22%.

Os custos sociais foram tremendos para a classe trabalhadora, que se viu como um acessório da produção. As máquinas e os modernos equipamentos eram os principais recursos valorizados no processo produtivo e representavam o capital. O excesso de trabalho, no início da Revolução Industrial, gerou jornadas de 14 a 16 horas por dia, seis dias por semana. A habitação precária, devido ao rápido crescimento das cidades, desenvolveu-se muitas vezes em cortiços.

Durante o século XIX, o fortalecimento do movimento sindical (Trade Union) ganha força. Algumas vantagens são adquiridas pelos trabalhadores, entre elas a redução da jornada de trabalho para 12 horas nas indústrias têxteis, em 1833, e a proibição do trabalho infantil e de mulheres nas minas de carvão, em 1842. Em 1847, o limite da jornada máxima de trabalho para mulheres e crianças baixou para 10 horas diárias.

O crescimento da classe burguesa sufocou o poder absolutista do mercantilismo e o Estado passa a perder força na articulação política. Com o fortalecimento do liberalismo econômico, os mer-cados passam a determinar o funcionamento da economia. O desenvolvimento da divisão social do trabalho, como descrito por Adam Smith, revolucionou o processo de produção. Galbraith (1989, p. 53) descreve com grande propriedade: “O que atraiu sua atenção [Smith] não foram as máquinas que caracterizariam a Revolução Industrial, mas a maneira como as tarefas estavam divididas, tornan-do cada trabalhatornan-dor um especialista numa parte ínfima da tarefa.”

Nesse sentido, podemos entender que a forma de organização social foi muito mais importante para os pensadores da época do que as invenções e os tamanhos das fábricas em si. Na indústria, a espe-cialização ampliou a produtividade, gerando riquezas para a sociedade. Contudo, esta se dividiu em duas grandes classes: os empresários capitalistas detentores dos fatores produtivos, isto é, máquinas, equipa-mentos, prédios, terrenos, e o proletariado, que vendia sua força de trabalho para os capitalistas.

Como destacado anteriormente, a exploração realizada pelos capitalistas industriais para com os trabalhadores gerou inevitavelmente grandes conflitos. Com o tempo, as revoltas com as péssimas condi-ções de trabalho, excessiva jornada de trabalho e baixos salários levaram à organização dos sindicatos.

Conclusão

Durante a Primeira Revolução Industrial, o mundo observou uma transformação única e po-derosa na Inglaterra. O fenômeno de desenvolvimento tecnológico, a ampliação dos mercados e a industrialização alteraram a relação capital-trabalho. Mesmo com os conflitos sociais vividos pelos in-gleses, as nações não tinham como negar a superioridade de sua rival, a Inglaterra, e logo perceberam

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Texto complementar

A Revolução Industrial

Máquinas-ferramentas a pleno vapor

(TAUILE, 2008)

Em geral, a Revolução Industrial é associada à invenção da máquina a vapor aparentemente porque ela permitiu maior mobilidade e flexibilidade à disposição física do capital produtivo, isto é, ao layout das fábricas em si, assim como viabilizou a ampliação das escalas de produção. No entanto, sem se desprezar a importância que a máquina a vapor possa ter tido para a Revolução Industrial, sob certo ângulo de análise, essa percepção generalizada, se não é completamente equivocada, deve ser devidamente qualificada.

Em uma carta de Marx a Engels, de 28 de janeiro de 1863, os fundamentos da revolução indus-trial são enfocados de maneira distinta (MARX; ENGELS, 2001 e MARX, 1998). Na carta, bem como no capítulo sobre maquinaria e indústria moderna de O Capital, Marx enfatiza a importância do

surgimento da working machine1, para caracterizar a Revolução Industrial do ponto de vista das

relações sociais de produção. Segundo essa óptica, o fundamental não é o desenvolvimento de um mecanismo como a máquina a vapor, que dispensa ou potencializa o exercício da força motriz humana (como para fazer girar uma roda), mas sim de um mecanismo que concretiza a capacidade de transferência do conhecimento sobre o processo de trabalho, que passa da esfera do trabalho para a esfera do capital. A possibilidade real para que isso acontecesse estava materializada nos movimentos repetitivos – e já extremamente simplificados pela divisão do trabalho – que o traba-lhador fazia com a ferramenta ao atuar diretamente sobre a peça a ser produzida.

Não é difícil entender. O fato de uma máquina de costura ser movida a eletricidade ou por movimentos regulares do pé da costureira atuando sobre o pedal mecânico por si só não altera a extraordinária importância que esse equipamento tem como amplificador da capacidade de trabalho humano; no caso, a capacidade de costurar. Novamente segundo Marx (1998), a máquina a vapor em si, tal como ela existia na época de sua invenção, durante o período manufatureiro, ao final do século XVII, e tal como continuou a ser até 1780, não fez surgir qualquer revolução industrial. Ao contrário, foi a invenção das máquinas-ferramentas que tornou necessária a revolução da forma das máquinas a vapor necessárias.

Marx acentua que, de fato, Watt aperfeiçoou aquela linhagem de mecanismos anteriores, criando a máquina de autopropulsão. No entanto, ainda naquela forma, ela continuava a ser meramente uma máquina para puxar água e outros líquidos das minas de sal.

1 A máquina propriamente dita é um mecanismo que, após ser colocado em movimento, desempenha com suas ferramentas as mesmas operações que anteriormente eram executadas pelo trabalhador com ferramentas similares. O fato de a força motriz ser derivada do homem ou de alguma outra máquina não faz diferença nesse caso (MARX, 1998).

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Em sintonia com esse argumento, a percepção aqui defendida é a de que a Revolução Indus-trial foi deflagrada no momento em que, concreta e sistematicamente, começaram a se transferir as ferramentas das mãos dos trabalhadores – e, consequentemente, suas habilidades, informações e conhecimentos sobre o processo de trabalho – para mecanismos móveis que cristalizavam tais habilidades, informações e conhecimentos sob a forma social de capital fixo, ou seja, começava a concretizar-se, aí, de maneira real, um longo e incessante processo de transferência objetiva de conhecimento produtivo, que passava do âmbito do trabalho para a esfera do capital.

Atividades

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2. Quais foram as grandes invenções da Primeira Revolução Industrial? Como elas contribuíram para

a industrialização?

3. Descreva os três benefícios da divisão social do trabalho para o sistema econômico, destacados

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4. Com relação aos impactos sociais, descreva os principais benefícios que os movimentos sociais

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Gabarito

1. Na base política está a Revolução Inglesa do século XVII com a Revolução Gloriosa de 1688. As

duas fazem parte de um mesmo processo revolucionário, daí a denominação de Revolução Inglesa do século XVII, limpando terreno para o avanço do capitalismo. Depois de vencer a monarquia, a burguesia conquistou os mercados mundiais e transformou a estrutura agrária, gerando uma grande liberdade econômica para os burgueses ingleses.

2. A máquina a vapor de James Watt, desenvolvida entre 1769 e 1782, contribuiu consideravelmente

na geração de energia para a indústria têxtil. Apesar do vapor já ter sido utilizado como fonte de energia anteriormente, a máquina de Watt possibilitou um ganho de produtividade na atividade mineral e no transporte. Com o objetivo de aumentar a capacidade de tecer, John Kay desenvolveu em 1733 a lançadeira volante. O tear mecânico inventado por Edmund Cartwright, em 1785, revolucionou a fabricação de tecidos. Para mover o tear mecânico, era necessária uma energia motriz mais constante que a hidráulica, à base de rodas d’água. James Watt, em 1769, aperfeiçoando a máquina a vapor, chegou à máquina de movimento duplo, com biela e manivela, que transformava o movimento linear do pistão em movimento circular, adaptando-se ao tear. Nos Estados Unidos, Eli Whitney inventou o descaroçador de algodão. Nesse sentido, com esse avanço tecnológico, a indústria têxtil algodoeira, como destacado por Rezende (2005), inaugurou a fase de produção capitalista, focada no emprego da máquina – regular, rápida, precisa e incansável –, permitiu um enorme crescimento da produção com custos baixos.

3. Em primeiro lugar, a especialização melhora a destreza do operário, ampliando assim a

quanti-dade e a qualiquanti-dade do produto. O segundo benefício consiste na economia de tempo. Passar de uma tarefa para outra, ao longo do processo produtivo, gera perda de concentração e de tempo. Por último, a divisão social do trabalho possibilita a invenção e o aprimoramento das máquinas que facilitam o trabalho humano. As grandes máquinas utilizadas nas indústrias manufatureiras, segundo Smith, foram invenções de operários comuns, os quais, naturalmente, preocuparam-se em dispensar uma atenção especial no aperfeiçoamento do processo produtivo.

4. A redução da jornada de trabalho para 12 horas nas indústrias têxteis em 1833; a proibição do

trabalho infantil e de mulheres nas minas de carvão em 1842; o limite da jornada máxima de trabalho para mulheres e crianças de 10 horas diárias em 1847.

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A Segunda Revolução

Industrial e a Escola Clássica

Introdução

A Segunda Revolução Industrial foi determinada por um conjunto de inovações técnicas que sur-giram a partir da segunda metade do século XIX, com a expansão da atividade industrial na Europa (França, Bélgica, Alemanha e Itália), nos Estados Unidos e no Japão até a Primeira Guerra Mundial.

A estrada de ferro continuou a receber investimentos, por meio do aço, e têm início, nesse pe-ríodo, a criação da indústria automobilística e a expansão da produção petrolífera. Novos processos produtivos são desenvolvidos com ênfase no ganho de escala, padronização dos produtos, diminuição do custo e margens de lucros excepcionais. Nos países industrializados, observa-se em grande medida a formação de grandes blocos econômicos, incentivados pelo próprio Estado, concentrando a riqueza e expandindo seus mercados no exterior.

Este capítulo tem como propósito fundamental apresentar a segunda fase da Revolução Indus-trial, associada ao pensamento dos economistas clássicos, e discutir que, em alguns casos, as práticas de política industrial não corroboravam com o pensamento liberal. Nesse sentido, a aula organiza-se em duas partes. Na primeira seção, as principais invenções e seus impactos nos países são apresentadas. Em seguida, discute-se a Escola Clássica, apresentando os principais pensadores após Adam Smith.

A expansão da Revolução Industrial no mundo

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ferro em estado de fusão. Logo (a siderurgia) substitui o ferro pelo aço. Em 1831, o dínamo de Faraday transformava energia mecânica em elétrica e, em 1879, Thomas Edison cria sua famosa lâmpada incan-descente. O uso do petróleo como fonte de energia foi inaugurado pela invenção do motor de com-bustão interna, em 1876, por Nikolaus Otto. Posteriormente, Karl Benz, em 1880, substitui combustível inflamado por faísca elétrica e Gottfried Daimler (1884) utilizou a gasolina como combustível. Rudolf Diesel (1897) substituiu a gasolina pelo óleo cru, na combustão. Em 1885, os primeiros automóveis são produzidos: Daimler – Maybach e Benz sendo que, em 1908, Henry Ford fabrica os primeiros automó-veis de produção em massa, nos EUA.

A Segunda Revolução Industrial tam-bém foi marcada pelos novos processos produtivos. Com o surgimento e o aper-feiçoamento da eletricidade, Henry Ford desenvolveu uma linha de produção em série, massificando o trabalho para obten-ção de rendimentos de escala. O fordismo, como ficou conhecido, diminuiu signifi-cativamente os custos de produção e os preços dos produtos, popularizando o au-tomóvel nos países industriais. Suas fábri-cas eram verticalizadas, possuindo desde fábrica de vidros à produção de autopeças. Aliado ao método da administração

cientí-fica de Frederick W. Taylor, o fordismo/taylorismo mostrou-se uma inovadora e altamente produtiva téc-nica administrativa, racionalizando a utilização da mão de obra e, assim, evitando desperdícios de tem-po na produção. Taylor também se preocutem-pou com o planejamento e com a organização empresarial. Rezende (2005) destaca que a adoção de uma linha de produção permitiu uma extrema especialização do trabalho, barateando o custo unitário de produção. E, a exemplo, o famoso automóvel Ford T sofreu, em 1808 uma redução de preço de US$950,00 para US$250,00 a unidade.

O desenvolvimento das linhas de montagem e das novas técnicas administrativas aliadas à cres-cente necessidade de ampliação dos lucros fizeram surgir um capitalismo concentrador de riquezas. Era

comum, assim, o aparecimento de trustes, monopólios e cartéis1. E naturalmente as grandes empresas

iam minando as fábricas menores. Rezende (2005, p. 147-148) esclarece: “Esse capital concentrado, por sua vez, pelo domínio que ele exerce no mercado, dada a ausência de concorrência, faz com que ele possa maximizar seus lucros, estabelecendo, nesse sentido, os preços e controlando a oferta.”

A Segunda Revolução Industrial se expandiu na Europa, EUA e Japão, ampliando a produção e a concorrência de grandes blocos econômicos entre os países.

Na Alemanha, em 1870, a industrialização ganha fôlego a partir da unificação nacional, e uma vitória bélica contra a França garantiu ao país, pelo Tratado de Frankfurt, as regiões da Alsácia e o norte da Lorena, ricas em minérios. Antes os estados alemães eram basicamente agrários, sendo que apro-ximadamente 60% da população residia no campo. Com o desenvolvimento do setor bancário, das ferrovias, da indústria química e dos equipamentos elétricos no vale do Rio Reno, a Alemanha, em 1913, torna-se a maior nação europeia industrializada.

1 Truste: estrutura empresarial na qual várias empresas, já controlando a maior parte do mercado, fundem-se para assegurar esse controle

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O Estado incentivou a concentração de capital com a formação de conglomerados com foco nas exportações. Os principais grupos econômicos formados na época e que de certa forma prevalecem no cenário mundial são: Krupp (aço, materiais bélicos); Daimler-Benz (motores e veículos); Maybach-Diesel (motores); Farben (produtos químicos); e Siemens (materiais elétricos).

Com o intuito de estimular as exportações e o ganho de mercado internacional, o governo alemão manteve boas relações comerciais com a Áustria, Hungria e Rússia e incentivou também o dumping2, que consiste em manter duas escalas de preços para um mesmo produto, uma mais alta para o mercado interno, e outra mais baixa para o mercado externo.

A Itália ingressa em um grande processo de industrialização a partir de sua Unificação Nacional, também em 1870. Em termos econômicos e culturais a Itália poderia ser dividida em duas regiões: a Itália do Norte apresentava uma agricultura progressista com um sistema bancário avançado e indús-trias centradas nas cidades de Milão (têxtil e metalúrgica), Turim (mecânica e têxtil), Gênova (construção naval e têxtil) e Veneza (têxtil), ligados a uma razoável ferrovia; a Itália do Sul era relativamente atrasada, com uma economia essencialmente rural, com apenas uma cidade comercial expressiva – Nápoles.

Em termos econômicos, a unificação das duas regiões possibilitou uma troca de interesses, pois o Sul passou a ofertar mão de obra barata e matéria-prima para as indústrias do Norte e os grandes proprietários do Sul passaram a aplicar seus recursos nos bancos e indústrias do Norte, aumentando suas riquezas com a expansão industrial.

Os Estados Unidos declaram independência dos ingleses em 1781 e somente a partir da década de 1840 iniciaram sua expansão para o Oeste. Em 1845, o Texas se torna independente do México e se une aos EUA e, em 1848, os norte-americanos anexam os estados do Novo México, Nevada, Califórnia, Utah e Arizona – que era dos mexicanos. Os EUA passam a ser um país continental e com um enorme crescimento populacional. Em 1820 registravam em torno de 9,6 milhões de habitantes e, em 1860, 31,3 milhões.

Os crescimentos geográficos e demográficos permitiram uma enorme expansão do mercado interno. Esse, por sua vez, impulsionou a industrialização do norte do país que, para sustentar a indus-trialização, necessitava de proteção da indústria e mão de obra assalariada e barata. O sul, com

predo-minância da produção agrícola (plantation)3, exportadora de algodão, seria o fornecedor dessa mão de

obra e uma boa expansão de mercado. A Guerra da Secessão (1861-1865) ocorreu entre 11 estados do Sul latifundiário e aristocrata, que não apoiavam a abolição da escravatura, e os Estados do Norte indus-trializado. Após a vitória do Norte, os EUA passam a se industrializar rapidamente com foco no mercado doméstico.

A industrialização do Japão foi interessante. Esse país vivia isolado desde o século XVII e em 1854 foi obrigado, pelos EUA, a abrir seus portos para o comércio externo (frota do Comodoro Perry). A pas-sagem de uma economia feudal para a industrialização japonesa é conhecida como a Revolução Meiji (1868), trazendo grandes mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais.

O Estado japonês incentiva a criação de grandes blocos econômicos familiares. Quatro famílias – Sumitomo, Mitsubishi, Yasuda e Mitsui – controlavam grande parte do setor bancário, a indústria têxtil, empresas de energia elétrica, construção naval e a indústria de papel. Além da geração de monopólios

2 Dumping, em geral, pode ser considerado em uma situação na qual o governo forneça subsídios para o incremento das exportações, possibilitando uma discriminação de preços entre o mercado doméstico e o externo.

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34 | A Segunda Revolução Industrial e a Escola Clássica

setoriais, o Estado investe em uma política externa militar expansionista, conquistando mercados consumidores na China, na Coreia e na Europa, com práticas de dumping.

As transformações socioeconômicas foram profundas no mundo ocidental e no Japão. A melhora nas condições sanitárias, o crescimento populacional nas cidades, a acumulação de capital mundial, a geração de renda e a ampliação da produtividade possibilitaram o desenvolvimento, no século XIX, do pensamento clássico pós Adam Smith.

Escola Clássica

Quatro grandes economistas surgiram após a morte de Adam Smith para sustentar e ampliar o pensamento clássico. São eles: Jean-Baptiste Say (1767-1832), Thomas Malthus (1766-1834), David Ricardo (1772-1823) e John Stuart Mill (1806-1873).

Jean-Baptiste Say nasceu em Lyon, no ano de 1767, e cresceu em um período de ideias ilumi-nistas. Foi um homem de negócios, defensor do liberalismo econômico e do individualismo, e um dos pioneiros na atividade dos seguros de vida. Sua principal contribuição para a economia foi sua lei dos mercados, conhecida até hoje como a Lei de Say. Essa análise sustenta que da própria produção de bens e serviços provém uma demanda efetiva agregada suficiente para adquirir toda a oferta gerada pelo sis-tema econômico, durante um determinado período. Nesse sentido, sua teoria pode ser resumida com a seguinte frase: ‘‘a oferta cria sua própria demanda’’ e, assim, não poderia ocorrer um período prolongado de superprodução geral no aparelho produtivo. Galbraith (1989, p. 68) explica:

Em termos mais modernos, do preço de cada produto vendido provém um retorno em salários, juros, lucros e aluguel suficiente para permitir a compra deste produto. Alguém, em algum lugar, o recebe. E tendo recebido-o, gasta-o até o valor daquilo que é produzido. Conseqüentemente, jamais pode haver uma escassez de demanda, a contrapartida óbvia da superprodução.

Se alguns agentes financeiros mantêm uma parte do recurso em poupança, acabarão emprestando o dinheiro para outros gastarem em consumo e/ou investimentos para receber juros, portanto, gerando demanda efetiva. E se, em algum momento, os agentes econômicos decidem guardar o dinheiro debaixo do colchão, então os níveis de preços devem cair e manter o consumo agregado.

O economista Thomas Malthus busca desenvolver teorias a respeito do crescimento populacional e seus impactos na qualidade de vida. Hugon (1980) esclarece que Malthus estuda e discute a diferença existente entre a taxa de crescimento populacional e a dos meios de produção, e argumenta que se a população não parar de dobrar de 25 em 25 anos ou continuar crescendo em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32, 64,...) e a produção agrícola, em virtude da escassez de terras férteis, continuar crescendo em progressão aritmética (1, 2, 3, 4,...) a fome iria ser inevitável. Com isso, Malthus era a favor de um controle do crescimento da taxa de natalidade, argumentando que uma família só deve ter filhos se tiver a priori recursos suficientes para sustentá-los. Brue (2005) identificou que esse argumento de Malthus era um controle preventivo do crescimento da taxa de natalidade. Os controles positivos da população representavam, de acordo com Malthus, movimentos da própria lei da natureza. E em muitos casos eram expressos pelo surgimento de fome, pragas e a própria guerra. Brue (2005, p. 91) destaca que, para esse autor: “a pobreza e a miséria são o castigo natural para o fracasso das ‘classes inferiores’ na tentativa de restringir sua produção. Desse ponto de vista seguiu-se uma conclusão política altamente significativa:

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35 | A Segunda Revolução Industrial e a Escola Clássica

populacional, adota em 1834 uma dura lei que eliminou os auxílios às pessoas que não viviam nos abrigos. Assim, o indivíduo que necessitasse de ajuda, inicialmente deveria vender todos os seus recursos e, em seguida, entrar em um abrigo. A ideia do governo era dificultar ao máximo a vida da população.

Felizmente, a teoria de Malthus em relação ao crescimento demográfico e suas implicações na qualidade de vida estavam superestimadas, pois nos últimos 255 anos a população mundial cresceu de 791 milhões habitantes, em 1750, para 1,6 bilhões, em 1900, 2,5 bilhões em 1950 e 6,4 bilhões em 2005 e a produção agrícola expandiu com mais vigor, sendo que as condições de vida melhoraram significa-tivamente, ao longo desse período.

David Ricardo, economista inglês, desenvolve duas teorias importantes: a da renda e a do comércio internacional. Para Ricardo, a principal questão da economia política não era identificar os fatores de geração de riqueza de uma nação, assim como apontados por Smith, mas sim a análise da distribuição funcional da renda. Provavelmente, a desigualdade social observada na Revolução Industrial intrigou o economista britânico. Segundo ele, os lucros e os salários variam inversamente. Um aumento nos salários reduz os lucros, e como este é fundamental para o desenvolvimento das empresas, a produção industrial decresce. Com isso, os salários baixos em detrimento de lucros elevados e crescimento indus-trial eram inerentes ao próprio sistema capitalista.

A teoria das vantagens comparativas argumenta que os países devem se especializar no comércio internacional, mesmo que uma nação seja menos eficiente na produção de todos os tipos de bens do que o seu parceiro comercial. Ricardo levou em consideração o comércio de vinho e tecido entre Portugal e Inglaterra. A tabela 1 ilustra, hipoteticamente, o volume produzido de vinho ou tecido por hora trabalhada. Perceba que cada país deve decidir se a hora de trabalho deve ser alocada na produção de vinho ou de tecidos. É nítido observar que Portugal é mais eficiente na produção de ambos os bens. Então, a pergunta fundamental é saber se esses dois países devem manter relações comerciais, mesmo um sendo menos eficiente em ambos os processos produtivos do que o outro.

Tabela 1 – Vantagens comparativas:: unidades produzidas por hora de trabalho

País

Vinho

Tecido

Portugal 4 8

Inglaterra 1 7

Para entendermos o raciocínio de Ricardo devemos analisar o custo de oportunidade que cada nação tem na produção de um determinado bem. Por exemplo, o custo de oportunidade de se produzir quatro unidades de vinho, em Portugal, é deixar de produzir oito unidades de tecido, isto é, uma razão (8/4) igual a dois. Ou seja, para cada hora de trabalho utilizada na produção de uma unidade de vinho deixa-se de produzir 2 unidades de tecido. No caso inglês teríamos o seguinte: para cada hora de traba-lho utilizada na produção de uma unidade de vinho, a Inglaterra iria deixar de produzir sete unidades de tecido, gerando um custo de oportunidade igual a sete – (7/1). Como o custo de oportunidade na produção de vinho é menor em Portugal, essa nação deve se especializar na produção de vinho.

Seguindo o mesmo raciocínio temos o custo de oportunidade de Portugal na produção de tecido igual à razão (4/8), isto é, 0,5 unidades de vinho e da Inglaterra igual à razão (1/7), isto é, 0,14. E, nesse caso, a Inglaterra deveria se especializar na produção de tecido. Caso Portugal e Inglaterra utilizassem essa uma hora de trabalho na produção de vinho e tecido ao mesmo tempo, então a

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