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Evitamos uma guerra nuclear por um triz, diz McNamara

(HEREDIA, 2008)

Secretário de Defesa dos Estados Unidos entre 1961 a 1967, Robert McNamara enfrentou com o presidente John F. Kennedy os 13 dias da crise dos mísseis de Cuba.

O ex-homem forte do Pentágono trabalha agora em um escritório a poucas quadras da Casa Branca.

Ele só concede entrevistas se forem transcritas, porque não gosta que editem o que diz.

“De outro modo seria uma perda de tempo”, acredita. BBC – Como foi a condução da crise?

Robert McNamara – Durante 30 destes 40 anos eu achei que esta foi uma das crises mais bem conduzidas dos últimos 50 anos. Mas

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um triz. Foi pura sorte. Deixe-me explicar: o presidente Kennedy tomou medidas imediatas depois de receber fotos de um voo tiradas de um avião U-2. As fotos mostravam que os soviéticos tinham colocado mísseis em Cuba. Isso ocorreu por debaixo dos panos, porque haviam treinado dois dos embaixadores do Ministério das Relações Exteriores para negar que havia mísseis em Cuba. Quando soubemos da verdade, ficou claro que os mísseis não poderiam continuar em Cuba. A pergunta era: como retirá-los? O presidente Kennedy disse a seu comitê executivo e ao Departamento de Defesa: “Não digam nada a ninguém, a não ser a dois ou três assessores. Discutam sobre como deveríamos responder [...] não vou estar presente às discussões e só espero que me tragam recomendações unânimes sobre o que devemos fazer. Se não houver unanimidade, quero uma alternativa”. Demo-ramos quase uma semana para chegar a esse plano. É certo que, se ele não tivesse nos dado essas instruções haveríamos entrado em guerra. Porque quando o comitê executivo se reuniu sem o pre-sidente Kennedy na terça-feira pela manhã (16 de outubro), a maioria queria atacar imediatamente. Se tivéssemos feito isso, uma guerra nuclear teria ocorrido. Apresentamos uma recomendação divi-dida ao final da semana. Um grupo recomendou um bloqueio, outro um ataque imediato. Ele esco-lheu o bloqueio, que começou, acho, na quarta-feira, 23 de outubro. De toda forma, o sábado 27 foi um dia crítico. Khrushchev não havia respondido retirando os mísseis ou declarando que o faria. A pergunta era: o que vamos fazer? Neste momento, a CIA não acreditava que as ogivas nucleares dos mísseis tivessem chegado a Cuba. Acreditavam que os primeiros 20 chegariam em três ou quatro dias. E os voos de reconhecimento demonstraram que os mísseis precisariam de três ou quatro dias para estarem prontos para uso. Às 4h da tarde do sábado, 27, recomendamos de forma unânime que o presidente atacasse em 48 horas – na segunda-feira, dia 29. O ataque aéreo para o primeiro dia foi planejado e iria ser um ataque gigantesco, maior que qualquer ataque aéreo realizado du-rante a guerra de Kosovo. Em janeiro de 1992, 29 anos mais tarde, soubemos em uma reunião em Havana, presidida por Castro, que no momento em que recomendávamos o ataque, havia 162 ogi-vas nucleares em solo cubano! Nós não sabíamos que as ogiogi-vas nucleares estavam lá e Khrushchev sabia. Por isso, quando ele tomou a decisão de retirar os mísseis no dia 28 de outubro em lugar de usar os canais diplomáticos normais (o que teria demorado mais umas seis horas), ele usou uma rá-dio pública para anunciar a retirada. Por canais diplomáticos demoraria muito mais, porque é preci-so escrever a mensagem, traduzi-la, codificá-la, decodificá-la e mandá-la à Casa Branca. Khrushchev temia que poderíamos atacar antes da mensagem chegar e enviou um assessor à estação pública de rádio que disse: “mantenha o canal aberto que eu quero fazer um pronunciamento”. Inteiramo-nos de sua decisão de retirar os mísseis, o que impediu uma guerra nuclear, pela transmissão da rádio pública.

BBC – Qual é a lição que fica da crise dos mísseis de Cuba?

McNamara – A lição é que os seres humanos não são infalíveis. Erros foram cometidos em ambos os lados, no americano e no soviético. Isso é previsível. As operações militares são muito mais complexas que as civis e qualquer comandante militar que seja sincero dirá que cometeu erros. Dê uma olhada no que aconteceu no Afeganistão nas últimas semanas: nós, os Estados Unidos, dispa-ramos em forças amigas e matamos os canadenses. Matamos afegãos em uma festa de casamento. Operações militares são muito complexas, as variáveis são muitas, as causas e relações são incertas, comete-se erros e mata-se gente, milhares, às vezes milhões. Mas não se destroem nações como [sic] armas convencionais. Com armas nucleares não pode haver um processo de aprendizagem. Com armas nucleares se um erro for cometido, nações são destruídas. Portanto, o que precisa ser aprendido é que o mundo deve atuar para eliminar – ou quase eliminar – as armas nucleares, para

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BBC – O que o senhor sentiu pessoalmente durante a crise?

McNamara – Durante 13 dias não saí do Pentágono, a não ser para ir a reuniões na Casa Branca ou do comitê executivo. Foi um período de muita tensão e mais de uma vez eu dormi lá para ajudar o presidente a manter os eventos sob controle e assegurar que não iríamos entrar em guerra. À tarde do sábado, dia 27 de outubro, foi uma tarde maravilhosa e eu pensei que talvez não fosse desfrutar da noite daquele sábado. Achávamos que talvez eles atacariam Berlim, ou a Turquia ou Cabo Norte (Noruega) e teríamos entrado em guerra. E quem pode controlar uma guerra? Como disse Khrushchev, as guerras só terminam depois que povos e cidades foram devastados.

BBC – E naquele momento vocês mediram as consequências no caso de atacarem primeiro? McNamara – Não tínhamos a intenção de atacar primeiro com armas nucleares. Não acre-ditávamos que os soviéticos tivessem armas nucleares em Cuba. Mas podíamos ter usado forças convencionais. Pensávamos que havia 10 mil soldados soviéticos em Cuba, quando, na realidade, eram 40 mil e o nosso ataque teria matado muitos deles com armas convencionais. Os cubanos também nos contaram que tinham mobilizado 270 mil dos seus soldados. Mas não queríamos uma guerra. Queríamos salvar nossas vidas, não queríamos guerra.

BBC – E vocês pensaram em Khrushchev?

McNamara – O presidente Kennedy nos disse claramente: “Não o encurralem, mas ajudem-no a tomar uma decisão apropriada.” Sabemos e sabíamos naquele momento que ele teria de pagar um custo político muito alto por retirar os mísseis.

Atividades

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2. Explique como foi a Guerra da Coreia. Como a ONU participou dela?

3. Explique como o setor público pode ampliar seus gastos significativamente e a taxa de

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Gabarito

1. Em termos de política externa, a URSS avança com o Cominform, um instrumento oficial da

política externa desse país. O Plano Marshall de 1947 a 1951, lançado pelos Estados Unidos, visou conter o avanço do socialismo na Europa. Com isso, emprestou mais de US$13 bilhões aos países destruídos pela guerra. Em resposta, a URSS criou o Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua) com a finalidade de ampliar as interligações econômicas entre os países de blocos socialistas e, assim, fortalecer a economia da União Soviética.

2. A Guerra da Coreia (1950-1953) começou com o avanço da Coreia do Norte, com o apoio da China

comunista, sobre a Coreia do Sul. Os norte-coreanos avançam até conquistar Seul, a capital da Coreia do Sul, em 1950. Como contra-ataque, a Organização das Nações Unidas (ONU) lança uma força tarefa com soldados norte-americanos enviando mais de 2 milhões de soldados. Avançam sobre a capital da Coreia do Norte, Pyongyang, ameaçando a China em novembro de 1950. A China entra efetivamente no conflito, com o envio de 300 mil soldados na fronteira. Após a morte de mais de 3 milhões de pessoas, um acordo de paz é realizado em 1953.

3. A resposta consiste, em grande medida, na análise da eficiência econômica. Os gastos

governamentais não estavam sendo mais eficientes para estimular o crescimento do PIB que em 1968 apresentou um crescimento de 4,8%; 1969 de 3,1%; 1970 de 0,2% e em 1971 uma expansão de 3,4%. Ou seja, uma média de crescimento anual do produto de apenas 2,86%, entre 1968 a 1971, muito baixa para um país que ampliava consideravelmente seus gastos públicos.

O gasto público exagerado gerou também outro problema na economia, o aumento na taxa de inflação. Em 1967, a inflação anual nos Estados Unidos era de 3,0%, isto é, baixa e bem controlada para a época. Contudo, com o excesso na expansão dos gastos públicos, a inflação começou a subir. Em 1969, o Índice de Preço a Consumidor (IPC) tinha dobrado passado para uma inflação de 6,2%, e sua origem estava no forte crescimento da demanda agregada.

4. Como consequência, a inflação norte-americana chegou a ser de 12,3% e o PIB entrou em recessão.

O país vivia uma estagflação, termo inventado pelos economistas, que significa estagnação econômica (recessão) com inflação (aumento nos preços). Além disso, a taxa de desemprego se elevou para patamares acima de 10% da força de trabalho.

A economia brasileira nas