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A industrialização nacional na década de 1940

Desde a crise de 1929 e, sobretudo, durante a Grande Depressão, a economia brasileira iniciou gradativamente um Processo de Substituição das Importações (PSI), caracterizando um avanço impor-tante para a industrialização nacional. Sua lógica consistia em estimular a produção industrial para o abastecimento do mercado interno, utilizando tarifas de importação e câmbio controlado. A crise de 1929 criou uma oportunidade única para a necessidade do desenvolvimento industrial brasileiro.

O PSI foi intensificado com a ocorrência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), situação na qual o Brasil enfrentou uma grande dificuldade de abastecer o mercado interno com produtos importados. A dependência de produtos manufaturados gerou uma restrição ao crescimento e, nesse período, a economia brasileira sentiu necessidade de se tornar menos subordinada à indústria da Europa e dos EUA, buscando assim um PSI fechado nas necessidades do mercado interno.

Entre 1930 e 1945, observa-se a primeira fase do PSI com foco no desenvolvimento das indústrias de bens de consumo não duráveis ou semiduráveis, tais como a indústria têxtil, calçados e bebidas que, durante esse período, cresceram em termos reais: 265%, 316% e 128%, respectivamente. A necessidade de expansão e instalações de novas unidades produtivas levou o país a incentivar a importação de bens de capitais e intermediários dos países industrializados, possibilitando uma transferência de tecnologia para o Brasil. Entre 1940 a 1945, as importações em valores correntes cresceram 61%.

Cabe observar que o foco do desenvolvimento industrial no mercado interno foi planejado pelo Estado, pelo fato de que o mercado por si só não iria criar condições espontâneas para o processo de industrialização. Nesse caso, argumenta-se que o Estado passou a ter um papel fundamental para o PSI. Entre os anos 1940-1947, o gasto do governo em termos reais cresceu 13,4% em virtude da necessidade de expansão dos investimentos públicos.

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Gráfico 4 – Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB em %) no Brasil durante 1920-1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 1947 1948 1949 Ano Cr escimen to do PIB em % –4,0% –2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% –1,0% –2,7% 4,9% 8,5% 7,6% 3,2% 2,4% 11,6% 9,7% 7,7%

Na área política, o Governo Provisório (1930-1934) instituiu o voto secreto e os direitos políticos das mulheres, bem como a criação do Código Eleitoral e a Justiça Eleitoral com a finalidade de reduzir drasticamente a fraude eleitoral. Criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o Ministério da Educação e Saúde, possibilitando o desenvolvimento das instituições ligadas ao processo produtivo.

Na área social destaca-se o desenvolvimento das leis trabalhistas ao longo da década de 1930 e, especificamente, em primeiro de maio de 1943, a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que representa a regulamentação das relações entre empregadores e funcionários, que eram extrema-mente maltratados.

O Estado Novo (1937-1945), comandado por Getúlio Vargas, foi um período político conturbado, mas voltado para a industrialização brasileira. No início da década de 1940 foi instituído o salário mínimo com o objetivo de garantir uma qualidade de vida digna aos trabalhadores e estimular o nível de consumo dessa classe que, assim, poderia sustentar a industrialização voltada para o mercado interno.

Entre os anos de 1940 a 1942, a economia não apresenta resultados expressivos no crescimento do PIB. Contudo, a partir de 1943 e com os investimentos externos, a economia volta a apresentar taxas de crescimento do PIB acima de 7%, com destaque para os anos de 1943, 1946 e 1948. Em 1946, já no final da primeira fase do PSI, começa a operar o primeiro alto forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda – RJ. Produzindo aço plano, a CSN criou condições favoráveis para o cresci-mento e implementação das indústrias de base no Brasil. Por representar um passo importante para o PSI desse segmento, argumenta-se que a criação dessa empresa representa um marco para a industria-lização nacional.

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A indústria siderúrgica brasileira cresceu 144% entre os anos 1940 e 1947, sendo que a produção de aço expandiu 174% nesse período. A produção de laminados, a geração de energia e a indústria geral cresceram 119%, 75% e 64%, respectivamente. E grande parte do recurso destinado para a indústria de base era originária dos recursos do Estado na economia.

A iniciativa privada passa a expandir seus investimentos somente a partir da segunda metade da década de 1940, com o crescimento do crédito real do Banco do Brasil. Em 1947, essa variável se expandiu em 38%, no ano seguinte 19% e em 1949 registrou um crescimento de 28%. Em 1948, foi fundada no Rio de Janeiro a Fábrica Nacional de Motores e a indústria automobilística cresceu mais de 236% entre 1939 e 1949.

Conclusão

O fim da República Velha representou, do ponto de vista econômico, o esgotamento do mode-lo de desenvolvimento brasileiro primário-exportador baseado na indústria cafeeira, a qual estava su-bordinada ao preço dessa commodity no mercado internacional que, aliado à crise de 1929, estimu-lou o processo industrial voltado para o crescimento do mercado interno. Inicialmente, o país buscou uma substituição de importação de bens de consumo não duráveis e de consumo nas indústrias têxtil, calçados, bebidas, por exemplo.

A economia brasileira rapidamente se diversificou e se tornou menos subordinada ao preço inter-nacional do petróleo. Dois fatores justificaram essa mudança. Primeiro, a crise de 1929, que inviabilizou financeiramente o crescimento da indústria cafeeira e, em seguida, a Segunda Guerra Mundial, que demonstrou claramente a necessidade de se criar no país uma matriz industrial relativamente autossu-ficiente.

Considerando a Grande Depressão e seus efeitos na economia brasileira, pode-se argumentar que o país pouco sofreu. A rápida recuperação do PIB se justifica por três fatores: primeiramente, a compra do excedente do café pelo governo no sentido de manter o preço desse produto, em segundo lugar, a atua-ção do setor público com expansão dos gastos e criaatua-ção de déficits orçamentários, e, por último, o cresci-mento industrial voltado para o mercado interno, fortalecendo o consumo e os investicresci-mentos privados.

Texto complementar

(BIELSCHOWSKY, 2000, p. 81-85)

Roberto Simonsen, o maior líder industrial brasileiro, foi o grande ideólogo do desenvolvi-mentismo. Empresário, engenheiro e economista, Simonsen inseriu-se na vida política nacional por meio dos postos de comando que assumiu nas entidades representativas do empresariado indus-trial. Foi vice-presidente do Centro Industrial de São Paulo logo após sua inauguração, em 1928.

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Foi presidente, em 1935 e 1936, da Conferência Industrial do Brasil (transformada, posteriormente, na Confederação Nacional da Indústria) e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, entre 1937 e 1945. Em 1937, fora membro provisório do Conselho Federal do Comércio Exte-rior, como representante do empresariado industrial e, em 1944, foi membro do Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial. Foi deputado “classista” na Assembleia Constituinte de 1934 e, eleito senador pelo PSD em 1945, participou também da Constituinte de 1946. [...]

No nível de ideologia econômica, porém, a obra de Simonsen contém os elementos básicos do ideário desenvolvimentista, presentes no pensamento de todas as correntes favoráveis, no ano 1950, à implementação de um capitalismo industrial moderno no país. São os seguintes os elementos que estruturaram e deram unidade ao pensamento desenvolvimentista do autor:

A industrialização, para Simonsen, era a forma de superar a pobreza brasileira. Num texto de

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1943, por exemplo, afirmava:

O índice de progresso da civilização é o constante aumento de toda sorte de produtos e serviços. Essa multiplici-dade de produtos tem que ser criada pela indústria [...]

A industrialização de um país como o Brasil é indispensável para que ele possa atingir um estágio de alta civilização. (SIMONSEN, 1973, p. 288)

Simonsen concebia uma industrialização integrada, até os setores de base. É de sua autoria a passagem das conclusões do I Congresso Brasileiro da Indústria, em que se diz:

“O desenvolvimento industrial de um país depende, sobretudo, da instalação de indústrias de base, constituídas, principalmente, pela metalurgia de primeira fusão e pela grande indústria química”. (SIMONSEN, 1973, p. 107) [...]

Para Simonsen, o sucesso do projeto de industrialização dependia de um decidido

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apoio governamental, porque os mecanismos de mercado seriam insuficientes e, muitas vezes, nocivos aos objetivos pretendidos. Protecionismo e planejamento foram os dois instrumentos de intervenção estatal a que o autor deu mais importância [...] Simonsen alegava que, com exceção da Inglaterra, todos os demais países industriais haviam realizado sua industrialização com base em forte protecionismo [...]

Simonsen era também de opinião que a intervenção estatal no sistema econômico

brasilei-::::

ro deveria ir além das formas indiretas de direcionamento de recursos para determinadas atividades, de modo a incluir investimentos diretos nos setores básicos em que a iniciativa privada não se fizesse presente.

Atividades

1. Descreva as principais características da economia brasileira na década de 1920, bem como o

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2. Destaque os efeitos iniciais da crise de 1929 na economia brasileira.

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4. Analise o impacto na economia do modelo de substituição de importação que a indústria

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Gabarito

1. O Brasil apresentava uma economia focada na produção de café, principalmente pelos estados

do Rio de Janeiro e São Paulo. Estima-se que as exportações brasileiras desse produto eram de aproximadamente 70% do valor total vendido ao mundo e a participação do café brasileiro na produção mundial, durante a década de 1920, também representava em torno de 70%. Valores elevados que tornavam o país extremamente subordinado ao desempenho dessa cultura. O governo e o desempenho do aparelho produtivo pouco diversificado estavam voltados para a indústria cafeeira. A produção industrial era baseada na indústria têxtil e produtos de bens de consumo não duráveis (alimentos), mas sem dependência do setor externo. O modelo de desenvolvimento era baseado na economia primária-exportadora.

2. Com as dificuldades financeiras em 1929 e a redução drástica do crédito internacional, o Brasil

sofreu uma forte retração do PIB no primeiro ano da Grande Depressão, com queda de 2,1%, liderados pela redução de mais de 37,7% na produção de café. A indústria em geral também retrai em 6,7%, assim como o setor têxtil com queda de 3,8%. O comércio exterior também foi severamente afetado. As exportações caíram em aproximadamente 30,6% em 1930, 23,6% em 1931 e 26,5% em 1932.

A crise do café iniciada em 1929 e a atitude do presidente Washington Luís em apoiar para as eleições presidenciais de 1930 o paulista Júlio Prestes levaram o país a uma revolução política profunda, a queda da República Velha. Com o golpe de Estado imposta pela Aliança Liberal, Getúlio Vargas chega ao poder, governando o país entre 1930 a 1934 pelo Governo Provisório. Com o intuito de manter a ordem política e econômica Getúlio cria em 1931 o Conselho Nacional do Café que, em 1933, foi transformado em Departamento Nacional do Café. Ambos com o objetivo de comprar e queimar os estoques excessivos de café, mantendo assim o nível de preços e a renda dos cafeicultores. Em 1930, o Índice de Custo de Vida no Rio de Janeiro caiu 9,0% e no ano seguinte deflação de 3,7%. Os efeitos iniciais da Grande Depressão mundial no Brasil seguiram a lógica dos outros países: queda no PIB e deflação dos índices de preços.

3. Nos anos 1932 e 1933, como descritos nos gráficos 1 e 2, o PIB brasileiro volta a crescer, tanto

na produção do café como na indústria. A rápida e importante recuperação da economia foi analisada e interpretada por Furtado (1980), nos capítulos 30 a 33. Segundo Furtado, a política de defesa do setor cafeeiro nos período da Grande Depressão constitui-se em um amplo programa de sustentação da renda nacional, mantendo o preço em patamares maiores. Completa Furtado (1980, p. 192): “Praticou-se no Brasil, inconscientemente, uma política anticíclica de maior amplitude que a que se tenha sequer preconizado em qualquer dos países industrializados.” O setor público também teve participação relevante na recuperação econômica no período da Grande Depressão. Entre 1933 a 1939 o gasto do governo em termos reais aumentou em mais de 53,0% e o governo federal apresentou sucessivos déficits orçamentários e a dívida pública federal se expandiu, nesse período, de 8,8 para 10,8 em relação ao PIB. Nesse sentido, o Brasil adotava políticas econômicas pré-keynesianas de controle de preços do café, comprando

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4. A economia brasileira na década de 1930 iniciou gradativamente um Processo de Substituição

das Importações (PSI), caracterizando um avanço importante para a industrialização nacional. Sua lógica consistia em estimular a produção industrial para o abastecimento do mercado interno, utilizando tarifas de importação e câmbio controlado. A crise de 1929 criou uma oportunidade única para a necessidade do desenvolvimento industrial brasileiro.

O PSI foi intensificado com a ocorrência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), situação na qual o Brasil enfrentou uma grande dificuldade de abastecer o mercado interno com produtos importados. A dependência de produtos manufaturados gerou uma restrição ao crescimento e nesse período, então, a economia brasileira sentiu necessidade de se tornar menos subordinada à indústria da Europa e dos EUA, buscando assim um PSI fechado nas necessidades do mercado interno.

A Segunda Guerra Mundial